INFLUÊNCIA DAS ESTAÇÕES SECA E CHUVOSA NA CAPACIDADE DE DESENVOLVIMENTO DE OÓCITOS E PRODUÇÃO IN VITRO DE EMBRIÕES DA ESPÉCIE CAPRINA
Ricardo
de Macêdo Chaves1, Edivaldo Rosas dos
Santos Junior2, Jairo Pereira Neves3 Marcelo
Tigre Moura4,
José Carlos Ferreira da Silva4, Paulo Fernandes de Lima4,
Marcos Antônio Lemos de Oliveira4
RESUMO
ABSTRACT
This study aimed to determine the influence of dry and rainy seasons on oocyte maturation and in vitro production (IVP) of embryos in goats. The ovaries of does in dry (October to March) and rainy season (April-September) were collected at a slaughterhouse and transported to the Laboratory of Biotechnical Reproduction of UFRPE. The cumulus oophorus complexes (COCs) were collected by the technique of slicing of the follicles from 2 to 6 mm in diameter, and selected based on morphologic classification. We used 12 replicates, in which the COCs were submitted to maturation, fertilization and in vitro culture. The cleavage rate was determined on day 3 (D-3) and embryos that developed to 8-16 cells (D-4), morulae (D-5) and blastocyst (D-8) stages after fertilization. The number of blastomeres was assessed with DAPI staining, and the determination of apoptotic blastomeres was performed by TUNEL assay. In the dry season, D-3 embryos and morulae development was lower than that obtained in the rainy season (P<0.05). However, no differences (P>0.05) were observed on oocyte maturation, fertilization, D-4 embryo yield and blastocyst development. Embryos produced during the dry season had a higher incidence of apoptosis on D- 3 and at the morulae stage (P<0.05). Under the conditions described in this study, the results suggest that the early stages of embryonic development suffer greater negative impact during the dry season in IVP protocols in goats.
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KEYWORDS: Apoptosis; cumulus oophorus complexes; IVF; oocyte development; TUNEL test.
INTRODUÇÃO
A caprinocultura mundial vem
apresentando notório crescimento nos
aspectos qualitativos e quantitativos, devido, principalmente à
introdução
comercial de biotecnologias como a inseminação artificial,
transferências de
embriões e produção in vitro de
embriões, sobretudo nos países em desenvolvimento, que são os
detentores
dos maiores rebanhos (COGNIÉ
& BARIL, 2002).
De acordo com FONSECA (2005), estima-se
um crescimento da ordem de cinco
vezes o rebanho atual nos próximos 20 anos, multiplicando-o em mais de
50
milhões de cabeças. Todavia, em função das condições adversas próprias
do
ambiente com estresse térmico, a infertilidade causada é um problema de
ordem
multifatorial, pois afeta as funções fisiológicas e celulares. No que
diz
respeito à função reprodutiva, o estresse térmico compromete o
crescimento
folicular (WOLFENSON et al., 1995), a secreção hormonal (ROTH et al.,
2000), a
função do endométrio (MALAYER et al., 1988), o fluxo sanguíneo para o
útero
(FERRO et al., 2010) e a capacidade de desenvolvimento do oócito
(AL-KATANANI
et al., 2002) e do embrião (EALY et al., 1993).
O efeito deletério multifatorial
causado pelo estresse térmico compromete
a fertilidade em ovinos (OZAWA et al., 2005), suínos (WENTZ et al.,
2001),
coelhos (WOLFENSON & BLUM, 1988) e bovinos (EDWARDS & HANSEN,
1997;
ROCHA et al., 2012). O embrião bovino no período de pré-implantação tem
sido o
foco de estudos visando elucidar problemas reprodutivos associados ao
estresse
calórico, mas pouco se conhece quando se refere aos caprinos. Alguns
experimentos demonstraram que o embrião bovino no início do
desenvolvimento é
severamente afetado pelo estresse calórico e que o mesmo adquire
resistência à
temperatura elevada, à medida que progride no desenvolvimento (EALY et
al.,
1993).
O estresse térmico causa no oócito e no
embrião o processo de morte
celular programada conhecida como apoptose, em que ocorre autodigestão
controlada das células (ROTH & HANSEN, 2004). Morfologicamente, a
apoptose
caracteriza-se por agregação e condensação da cromatina (forma de
meia-lua ou
ferradura), condensação e fragmentação do núcleo, contração e
condensação do citoplasma,
protrusões na membrana plasmática, contração das organelas, formação de
vacúolos citoplasmáticos, colapso da estrutura da célula, fragmentação
celular
sem extravasamento do conteúdo intracelular e formação de corpos
apoptóticos
(BROKER et al., 2005).
A manipulação dos mecanismos envolvidos
na indução de apoptose
embrionária após o estresse térmico oferece alternativas para minimizar
os
efeitos negativos da temperatura elevada sobre a capacidade reprodutiva
das
fêmeas (PAULA-LOPES & HANSEN, 2002b).
Devido à necessidade de conhecer os
efeitos do estresse térmico calórico
no oócito e no embrião, objetivou-se como este estudo avaliar a
influência das
estações seca e chuvosa na capacidade de desenvolvimento de oócitos e
produção in vitro de embriões da espécie caprina.
MATERIAL
E MÉTODOS
Foram
utilizados ovários de cabras mestiças com idade variando de
12 a 46 meses, adquiridas na região do semiárido pernambucano e
abatidas no
abatedouro Suimax, localizado na cidade de Igarassu, Região
Metropolitana do
Recife-PE, (latitude 08° 03' 14'' S, longitude
34° 52' 52'' W). A temperatura ambiente mínima e máxima oscilou entre
de 23 a
33º C na estação seca (outubro/2007 a março/2008) e de 18 a 31° C na
chuvosa
(abril a setembro/2008). A umidade relativa média do ar foi de 71% no
período
seco e 85% no período chuvoso (INMET, 2009).
Imediatamente
após o abate, os ovários foram
acondicionados em garrafa térmica contendo solução
fisiológica aquecida a temperatura de 30º C acrescida de 30 mg/mL de sulfato de gentamicina (meio de transporte). Em
um período máximo
de uma hora foram transportados ao Laboratório de Biotécnicas da
Reprodução da
Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
Os
complexos cumulus oophorus (CCOs) foram colhidos de folículos
ovarianos
que mediam entre 2 a 6 mm de diâmetro pela técnica de fatiamento (slicing – produção de pequenas incisões
simultâneas múltiplas
na superfície do ovário com auxílio de um escarificador). O líquido folicular
foi depositado em placa de Petri contendo o meio
de colheita (MC) constituído por 8,0 mg de bicarbonato de sódio, 45,0
mg de glicose, 5,6 mg de piruvato
de sódio, 11,9 mg de HEPES, 2,5 mg de sulfato de
gentamicina e 20,0 mg de álcool polivinílico em 50 mL de TALP.
Os
CCOs depositados em placa de Petri foram recuperados e classificados
quanto a
qualidade conforme GONÇALVES et al. (2007). Os oócitos foram
lavados (três vezes) no meio MC, em seguida foram colocados em grupos
de 25
oócitos em gotas de 100 mL sob óleo de parafina esterilizada, em meio
básico de maturação (MBM) constituído por TCM-199 suplementado com 50 mg/mL de piruvato de sódio, 2,6 mg/mL de bicarbonato de
sódio, 10% de soro
fetal bovino (SFB), 50 mg/mL de sulfato de gentamicina, 20 μg/mL de
FSH/LH (Pluset®) e 1 mg/mL de álcool polivinílico.
Imediatamente depois, os oócitos foram
colocados em estufa a 39º C, com atmosfera úmida
contendo 5% de CO2, durante 24 horas.
Após
24 horas de maturação, os oócitos foram
submetidos ao processo de fecundação in vitro,
utilizando-se sêmen fresco, conforme LIMA et al. (2006). Cuidadosamente, 0,1 mL
de sêmen foi depositado em tubos cônicos de
centrífuga contendo 1,5 mL de meio definido modificado (mDM), de acordo
com
KESKINTEPE et al. (1998), o qual foi constituído de 125 mg de glicose, 155,2 mg de
bicarbonato de sódio, 6,9 mg de piruvato de sódio, 50,0
mg de álcool polivinílico, 50,0 mg de cafeína e 50 μg/mL de gentamicina
em 50
mL de mDM. Posteriormente, foram inclinados em ângulo de 45º com a
finalidade
de se obter a migração espermática ascendente. Decorridos 45 minutos do
“Swim-Up”, 0,8 mL da porção superior de
cada tubo foram aspirados e centrifugados a 350 G por 10 minutos.
Descartado o
sobrenadante, 200 mL do meio mDM contendo 10 mg/mL de heparina foi acrescentado a 200 mL do pellet resultante da centrifugação.
Antes
da exposição aos espermatozóides, os oócitos foram avaliados quanto à
morfologia e somente aqueles que apresentaram boa expansão das células
do cumulus foram lavados em mDM.
Posteriormente, 25 oócitos foram transferidos para as gotas de 100 mL do mesmo meio sob óleo de parafina esterilizada, local
onde foi
depositada a suspensão espermática na concentração final de 2 x 106 espermatozóides/mL. Os gametas foram
incubados em condições idênticas as de maturação
durante o período de 18 horas.
Os
zigotos foram mecanicamente desnudados no agitador mecânico Vortex®
em meio Synthetic oviduct fluid
modificado (SOFm) durante dois minutos a velocidade “7” (escala 1-10),
e 25
estruturas foram transferidas para as gotas de 100 mL do meio SOFm suplementados com 10% de SFB, sob óleo de
parafina
esterilizada. Essas estruturas foram incubadas a 39° C em atmosfera
úmida com
5% de CO2, 5% O2 e 90% N2.
Foram realizadas 12 repetições, sendo
utilizados 1249 oócitos na estação
na seca e 1235 na chuvosa. Em cada repetição, os CCOs foram submetidos
à
maturação in vitro (MIV),
fertilização in vitro (FIV) e cultivo
in vitro (CIV). A média e desvio
padrão da taxa de clivagem foi determinada no dia 3 (D-3) e dos
embriões que se
desenvolveram aos estádios de 8-16 células, mórula e blastocisto foi
determinada nos dias 4 (D-4), 5 (D-5) e 8 (D-8) após a fecundação,
respectivamente.
A fragmentação de DNA característica de
apoptose foi analisada com o
ensaio denominado terminal
deoxynucleotidyl transferase-mediated dUTP nick end labeling
(TUNEL). Nesse
ensaio, o grupo 3’-OH do DNA fragmentado foi marcado com fluoresceína
(FITC)
por meio da reação enzimática mediada pela enzima deoxinucleotidil
transferase
(Tdt), a qual catalisa a polimerização de nucleotídeos modificados no
terminal
3’-OH (ROTH & HANSEN, 2004).
Os blastocistos foram fixados em 100 µL
da solução de 4% de paraformaldeído
por uma hora em temperatura ambiente. Em seguida, as amostras foram
lavadas
três vezes em 100 µL da solução de 1 mg/mL de Polivinilpirrolidona
(PVP) + 100 µL de Phosphate-Buffered Saline (DPBS) e incubados em 100 µL de meio
de permeabilização (0,5% de Triton X-100 contendo 0,1% de citrato de
sódio) por
uma hora. Após a permeabilização, as amostras foram armazenadas a 4° C
em
solução de PBS-PVP até a realização do ensaio de TUNEL. No dia do
ensaio de
TUNEL, as amostras foram lavadas três vezes em gotas de 100 µL DPBS-PVP
e
incubadas em 15 μL da mistura de TUNEL por uma hora a 37° C. Em
seguida, as
amostras foram lavadas em PBS-PVP, incubadas com o corante de DNA 4’,6-diamidino-2-phenyindole dihydrochloride
(DAPI) por 15 minutos, lavadas em gotas de 100 μL de DPBS-PVP. A
identificação
de embriões positivos para apoptose e a morfologia nuclear embrionária
foi
realizada com auxílio de um microscópio de fluorescência, com aumento
de 1000x
por meio da contagem total de células por blastocisto com o corante
DAPI e da
determinação de blastômeros positivos para apoptose. Essas técnicas
foram
conduzidas de acordo com aquelas utilizadas por PAULA-LOPES &
HANSEN
(2002ab), bem como por ROTH & HANSEN (2004).
Foi realizada análise de variância pelo
método dos quadrados mínimos
utilizando-se o procedimento PROC GLM (para variáveis fixas)
e PROC MIXED (para variáveis fixas e aleatórias) do pacote estatístico
SAS
(SAS, 1986). Os dados foram previamente avaliados quanto às premissas
para
análise de variância (homogeneidade das variáveis e normalidade dos
resíduos).
As variáveis dependentes e independentes foram estabelecidas de acordo
com o
delineamento de cada etapa do experimento. Os modelos estatísticos
usados
incluíram os efeitos principais e todas as possíveis interações.
RESULTADOS
No que concerne ao total
de estruturas recuperadas, os resultados demonstram que não existe
diferenças
(P > 0,05) entre as médias do número de oócitos recuperados nas
estações
seca e chuvosa. Quanto à média dos oócitos maturados e fertilização in vitro, também não houve diferença (P
> 0,05) em função da estação do ano, mantendo-se as mesmas condições
entre
os grupos estudados nas estações seca e chuvosa (Tabela 1).
Durante o processo de produção in vitro, foi observado que as médias dos embriões clivados no D-3 e dos embriões na fase de mórula (D-5) apresentaram diferenças significativas (P < 0,05) quando comparadas as estações seca e chuvosa. Já os embriões cultivados in vitro (CIV) no D-4 e os que chegaram à fase de blastocistos (D-8) não apresentaram diferenças significativas (P > 0,05) entre essas duas estações do ano (Tabela 2).
Foi encontrada diferença (P < 0,05) em blastocistos cultivados até o D-8 com relação as estações climáticas observadas neste estudo, em que a porcentagem de blastocistos com fragmentação no DNA positivos para apoptose na seca foi 12,28%, proporcionalmente superior à porcentagem encontrada na estação chuvosa (7,24%) (Figura 1).
DISCUSSÃO
Utilizando-se meio de
maturação composto de TCM-199 suplementado com cisteamina, fator
de crescimento epidermal e gentamicina, FREITAS et al. (2007) obtiveram uma
taxa
de maturação nuclear de 48,90% em caprinos, valores próximos aos
encontrados neste experimento nas estações seca e chuvosa. COGNIÉ & BARIL
(2002) verificaram que, após a fertilização e cultivo in vitro durante
uma semana, 60 a 70% dos oócitos maturados in vivo (ovulados) se
desenvolvem até o estádio de blastocisto; no entanto, a taxa de desenvolvimento
dos blastocistos varia de 35 a 50% para os oócitos maturados in vitro na espécie caprina. Esses resultados
são superiores aos obtidos neste experimento em ambas as estações. CHIAMENTI et
al. (2010), pesquisando a adição de retinol e ácido retinóico ao meio de
maturação e retinóides associados ao fator de crescimento IGF-I ao meio de
cultivo in vitro, obteve a média de
7,2 ± 0,7 blastocistos, resultados similares aos obtidos neste estudo.
Durante o desenvolvimento
embrionário, após a maturação e fecundação in
vitro, ocorrem alterações importantes que tornam essas estruturas mais
susceptíveis aos efeitos deletérios do estresse térmico calórico quando
comparada àquelas derivadas de oócitos maturados in vivo (KIM et al., 1996). AL-KATANANI et al. (2002) afirmaram que
isso ocorre por uma maturação citoplasmática incompleta. De acordo com
HENDRIKSEN et al. (2000), a quebra da vesícula germinativa (VG) in vitro ocorre mais rapidamente (5 a
6h) do que in vivo (7 a 10h),
sugerindo que, antes de continuar a maturação, é requerido um período de
pré-maturação, que ocorre naturalmente in
vivo durante o desenvolvimento pré-ovulatório, dificultando, assim, as
etapas de cultivo embrionário in vitro,
principalmente quando o embrião está submetido a estresse térmico calórico
(PAULA-LOPES & HANSEN, 2002b).
A estação de melhores taxas
de desenvolvimento embrionário, representado pela taxa de clivagem (D-3) e
mórula (D-5), foram aqueles em que as temperaturas estavam mais baixas, período
em que os animais estão menos sujeitos ao estresse calórico, conferindo-lhes
maior sucesso reprodutivo como referido na espécie bovina (WOLFESON et al.,
2001). No entanto, o período compreendido entre outubro a março é também a
época de maior estiagem do ano, sendo crítico na região Nordeste para o cultivo
de pastagens, resultando em menor oferta em volume e qualidade de alimento para
os animais criados na caatinga (YDOYAGA et al., 2010).
A baixa disponibilidade de
melhores pastagens em época seca proporciona um aporte nutricional inadequado,
refletindo na redução gradativa de peso, tendo influência negativa nas taxas de
crescimento e tamanho do folículo ovulatório, resultando em alterações na
viabilidade e maturação dos oócitos, conforme demonstrado por WEBB et al.
(2004). Os animais estavam provavelmente submetidos a essas condições de
pastagens; contudo, o efeito nutricional sobre a qualidade dos oócitos pode não
ser imediato. Tal efeito retardado deve-se, provavelmente, à capacidade
biológica de armazenar recursos durante a época de abundância de pastagens para
a manutenção das atividades fisiológicas em condições adversas. Com isso, o
efeito nutricional sobre o potencial de desenvolvimento dos oócitos surge
posteriormente, quando as reservas do animal se reduzem (WEBB et al., 2004).
Dessa maneira, a manutenção das taxas de cultivo in vitro no período da seca pode ser devida a essa capacidade do
animal de utilizar suas reservas, apesar da menor disponibilidade de pastagem
(GONZALES-BULNES et al., 2004).
Quanto à apoptose, uma de
suas funções é eliminar células que são danificadas por estresse. Segundo
MATSUMOTO et al. (1997) e FUSE et al. (1998), o choque térmico, por exemplo,
induz apoptose em muitos tipos de células. Embora vários estudos recentes
tenham demonstrado que a pré-implantação de embriões em uma fase específica pode
acarretar apoptose (MATWEE et al., 2000), poucos estudos têm avaliado o papel
do estresse na indução da apoptose em embriões (PAULA-LOPES & HANSEN,
2002a).
As altas temperaturas
ambientais podem produzir um estresse térmico celular associado a perdas embrionárias
in vitro (JU et al., 1999), podendo
induzir apoptose, conforme determinado por reação do teste de TUNEL
(PAULA-LOPES & HANSEN, 2002a). Neste estudo, possivelmente devido às
temperaturas ambientais encontradas e à reconhecida resistência da espécie
caprina às adversidades do ambiente, apenas 7,24% a 12,28% dos blastômeros nas
estações seca e chuvosa, respectivamente, foram positivos para marcação do
teste de TUNEL após exposição às condições ambientais, sendo possível que
apoptoses mais extensas comprometam o desenvolvimento embrionário após
estresses mais severos (JU et al., 1999; PAULA-LOPES & HANSEN, 2002b).
A exposição dos embriões em
um ambiente adverso na pré-implantação pode aumentar o número de células
apoptóticas (PAULA-LOPES & HANSEN, 2002a). Segundo PAULA-LOPES & HANSEN
(2002b), o efeito deletério do choque térmico em células embrionárias depende
da magnitude do choque térmico e do estágio de desenvolvimento. A apoptose é um
fenômeno adquirido que ocorre em embriões expostos à temperatura elevada e pode
ser prevenida pela indução de termotolerância. Neste estudo, a fase de clivagem
embrionária no D-3 apresentou diferença entre as estações. Assim, segundo
PAULA-LOPES & HANSEN (2002b) e BROKER et al. (2005), o choque térmico no
estádio de 2-4 célula resulta em um maior número de células embrionárias
apoptóticas do que o choque térmico em fases posteriores de cultivo in vitro.
Mais estudos avaliando outros
índices de desenvolvimento, bem como os efeitos das estações seca e chuvosa
deverão adicionar subsídios sobre as implicações da apoptose induzida por
estresse térmico ambiental na sobrevivência embrionária da espécie caprina.
CONCLUSÃO
Nas condições observadas neste
estudo, os resultados permitem concluir que as fases iniciais do cultivo e
desenvolvimento embrionário sofrem maior impacto negativo durante a estação
seca em protocolos de PIV na espécie caprina.
AGRADECIMENTOS
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Protocolado em: 29 mar. 2010. Aceito
em 12 dez. 2012.