DOI:
10.5216/cab.v13i2.9011
Artemia sp. NA ALIMENTAÇÃO DE LARVAS DE JUNDIÁ
(Rhamdia quelen)
Odair
Diemer1, Dacley Hertes Neu2, Cesar Sary3,
Joana Karin Finkler3,
Wilson Rogério
Boscolo4, Aldi
Feiden4
1Doutorando da Universidade Estadual Paulista
Júlio de Mesquita Filho,
Centro de Aquicultura de Jaboticabal, Jaboticabal, SP, Brasil. -
odairdiemer@hotmail.com
2Doutorando da Universidade Estadual de
Maringá, Maringá, PR, Brasil.
3Mestrandos da Universidade Estadual do Oeste
do Paraná, Toledo, PR,
Brasil.
4Professores Doutores da Universidade Estadual
do Oeste do Paraná,
Toledo, PR, Brasil.
RESUMO
Uma das dificuldades na
larvicultura do jundiá está relacionada à primeira alimentação. Este
experimento teve como objetivo determinar o crescimento e a
sobrevivência de
larvas de jundiá submetidas à alimentação com Artemia
sp. em diferentes períodos de tempo. O estudo foi realizado
no Laboratório de Aquicultura da Universidade Estadual do Oeste do
Paraná, com
quatro tratamentos e cinco repetições, constituídos pela alimentação
com Artemia sp em 5, 10, 15 e 20 dias, e
após cada período, por sua substituição pela ração. Foram utilizadas
200 larvas
distribuídas em 20 aquários, logo após a eclosão dos ovos. As larvas
foram
alimentadas 4 vezes ao dia até a saciedade aparente por um período de
30 dias.
A alimentação com Artemia sp. durante
15 dias proporcionou os melhores resultados de ganho de peso,
comprimento final
e sobrevivência.
-----------------------
PALAVRAS-CHAVE:
Aquicultura; nutrição; peixe nativo; rio Iguaçu.
Artemia
sp IN
FEEDING LARVAE OF SILVER CATFISH (Rhamdia
quelen)
ABSTRACT
A
considerable problem in the catfish larvae rearing is related to the
first
feeding. This study aimed to determine the larvae growth and the
survival of
silver catfish submitted to feeding with Artemia sp. in
different time periods.
The study was conducted in the Aquaculture Laboratory of the Universidade Estadual do Oeste
do
Paraná, with four
treatments and
five replications, constituted by feeding with Artemia sp. in
5, 10, 15
and 20 days, and after each period of
time, by its replacement by ration. We used 200 larvae distributed into
20
aquariums, soon after the eggs hatched. The larvae were fed 4 times a
day until
apparent satiation for 30 days. The Artemia sp. feeding for 15
days
provided the best results on weight gain, final length and survival.
----------------------
KEYWORDS: Aquaculture; Iguaçu river;
native fish;
nutrition.
INTRODUÇÃO
O
jundiá é um peixe neotropical localizado desde o
sudeste do México até a região central da Argentina (BALDISSEROTTO
& RADÜNZ
NETO, 2005). Possui características favoráveis para piscicultura
(DIEMER et
al., 2011), principalmente devido à sua resistência ao manejo e ao
inverno,
crescimento acelerado, boa conversão alimentar e carne saborosa (CANTON
et al.,
2007; FEIDEN et al., 2010). Sua temperatura de conforto térmico varia
entre 18 a
20°C
(BALDISSEROTTO, 2002).
O Brasil possui um grande potencial para aquicultura,
principalmente em razão do clima tropical, grande diversidade de
espécies,
quantidade de recursos hídricos disponíveis e produção de insumos para
elaboração de ração. Nos últimos anos, a aquicultura brasileira
apresentou
crescimento considerável. No entanto, apesar do elevado
desenvolvimento, alguns
fatores ainda impedem um maior aproveitamento desse setor, sendo a
produção de
larvas um entrave para o incremento da piscicultura brasileira (LUZ
&
ZANIBONI-FILHO 2001).
Entre os fatores que influenciam a larvicultura, a
alimentação é considerada como um dos mais importantes atuando
diretamente
sobre o desempenho, sobrevivência e crescimento dos peixes. Alimentação
deficiente é uma das principais causas de mortalidade nas fases inicias
de vida;
contudo, esse problema pode ser minimizado, quando tipos de alimento
apropriado
são fornecidos para cada espécie.
Dentre os organismos vivos empregados como
alimento, a Artemia sp tem se
destacado pela fácil produção laboratorial e método de cultivo
conhecido, podendo
ser uma alternativa viável, devido seu alto valor proteico (SILVA &
MENDES,
2006) e digestibilidade. A Artemia sp
é uma opção na alimentação de larvas, devido ao seu valor nutricional,
podendo
reduzir a incidência do canibalismo e elevar a sobrevivência (KESTEMONT
et al.,
2007).
Portanto, o presente experimento teve como objetivo
determinar o crescimento e a sobrevivência de larvas de jundiá (Rhamdia
quelen) submetidas à alimentação em diferentes períodos de tempo
com Artemia sp.
MATERIAL E
MÉTODOS
O trabalho foi realizado no Laboratório de
Aquicultura da Universidade Estadual do Oeste do Paraná em conjunto com
o Grupo
de Estudos de Manejo na Aquicultura - GEMAq.
Foram utilizadas 200 larvas de jundiá distribuídas
em 20 aquários com volume útil de 5 litros, cada
aquário com 10 larvas foi
considerado uma unidade experimental. O peso e comprimento inicial
foram
desconsiderados, devido ao trabalho ser realizado imediatamente após a
eclosão
dos ovos. O delineamento foi inteiramente casualizado, com quatro
tratamentos e
cinco repetições, e os tratamentos foram constituídos através do tempo
de
fornecimento de Artemia sp. As larvas
foram alimentadas durante 5, 10, 15 e 20 dias com Artemia
sp. E, após cada período, substituída por ração farelada
contendo 42% de proteína bruta, totalizando 30 dias de período
experimental. Os
náuplios de Artemia sp. eram
retirados das incubadoras, peneirados para retirada do excesso da água
salgada
e fornecidas com auxílio de uma pipeta de 33 mL. A alimentação foi
fornecida
quatro vezes ao dia (8h30min; 11h00; 14h00 e 17h00) até a saciedade
aparente.
Ao término do período experimental as larvas foram
pesadas em balança analítica com precisão de 0,1 mg e medidas com
auxílio de um
paquímetro. Os aquários possuíam sistema de aeração individual, ligados
a um
soprador de ar central. Uma vez por dia os aquários foram sifonados
para que
houvesse a remoção das sobras de alimentos e das fezes dos peixes. A
remoção da
água foi de 40% do volume do aquário por dia.
A eclosão de Artemia
sp. foi realizada em incubadoras com capacidade de 1 litro d’água,
usando-se
dois gramas de Artemia sp e 50 gramas de sal
(5%
salinidade) e temperatura de 28oC, verificando-se a eclosão
dos
náuplios após 30 horas.
As
variáveis químicas da água como pH, oxigênio
dissolvido (mg.L-1) e condutividade elétrica (μS.cm-1)
foram mensuradas semanalmente, enquanto a variável física temperatura (oC)
foi coletada diariamente pela manhã (8h00) e à tarde (17h30min),
utilizando-se
medidores portáteis. Ao final do período experimental, os peixes foram
mantidos
em jejum por 12 horas. Posteriormente, foram realizadas as medidas
individuais
de peso (g) e comprimento total (mm) de todos os peixes. Foram
avaliados o
comprimento final médio, o peso final médio e a sobrevivência. Os dados
foram
submetidos à análise de variância (ANOVA) com 5% de significância pelo
programa
estatístico SAS (Statistical Analysis System) (SAS, 2004) e, no caso de
diferenças, foi aplicado o Teste de Duncan com 5% de probabilidade.
RESULTADOS
E DISCUSSÕES
As
médias das variáveis físicas e químicas da água
dos aquários obtidas durante o período foram: temperatura pela manhã
(25,03 ±
0,91 ºC) e à tarde (25,6 ± 2,47 ºC), oxigênio dissolvido (5,54 ± 0,72
mg.L
-1),
pH (7,60 ± 0,27) e condutividade elétrica (18,93 ± 8,88 μS.cm
-1),
permanecendo dentro da condição normal para peixes tropicais (ARANA,
2004).
Valores próximos aos observados por REIS et al. (2011) para larvas de
jundiá (
Rhamdia voulezi), parâmetros que não
causam interferência na criação das larvas.
As
larvas de jundiás alimentadas com
Artemia sp durante
15 e 20 dias
apresentaram maior peso final (p<0,05), quando comparadas aos peixes
alimentados por 5 e 10 dias. No entanto, para o comprimento final e
sobrevivência, as larvas alimentadas com
Artemia
sp. durante 10, 15 e 20 dias apresentaram os melhores resultados
(
Tabela 1).
Em
condições de larvicultura para produção
comercial, pode-se realizar a troca de
Artemia
sp por ração após 15 dias, pois os peixes apresentaram o maior peso
médio
final, comprimento médio final e sobrevivência. Segundo LUZ &
ZANIBONI-FILHO (2001), a
Artemia sp é
o melhor manejo alimentar para os primeiros dias de vida do
mandi-amarelo (
Pimelodus
maculatus). Os
resultados obtidos no presente trabalho corroboram essa afirmação, pois
a
alimentação com
Artemia sp durante um
período prolongado promoveu os melhores resultados de crescimento e
sobrevivência.
A
melhora no crescimento também foi evidenciada por
SCHÜTZ et al. (2008), ao avaliarem
o crescimento e sobrevivência das larvas de suruvi (
Steindachneridion
scriptum), com a utilização
de quatro tipos de alimento: larvas de
Prochilodus lineatus,
Artemia
sp.,
farinha de peixe e ração. Contudo, não registraram diferença com
relação à
sobrevivência e ao canibalismo entre os tratamentos, diferenças
evidenciadas no
atual trabalho.
A
utilização de um alimento cuja composição não
atenda as necessidades nutricionais das larvas pode influenciar na
ocorrência
de canibalismo. Entretanto, o uso de
Artemia sp. demonstrou
bom
resultado, sendo uma alternativa de alimento na larvicultura do jundiá,
devido à
facilidade de eclosão de cistos e por conter conteúdo altamente
nutritivo, com
enzimas que facilitam a digestão pelas larvas de peixes que ainda não
contém o
trato digestório completo.
Durante
o procedimento de sifonagem foi observada,
em todos os tratamentos, a presença de sobras de
Artemia sp.
mortas no
fundo dos aquários. O caso pode ser atribuído à utilização de água
dulcícola em
que os peixes estavam inseridos (BEUX & ZANIBONI-FILHO, 2006),
visto que a
Artemia
sp.
sobrevive por
poucos minutos neste ambiente e morre depositando-se no fundo dos
recipientes,
tornando-se, assim, indisponíveis para a alimentação das larvas (WEINGARTNER & ZANIBONI-FILHO, 2004). Outro
fator que pode ter contribuído para essas sobras é a alimentação
ad libitum.
Vários
autores relatam a melhora no desenvolvimento
de larvas de peixes nativos alimentadas com
Artemia
sp nos primeiros dias de vida, principalmente as que possuem hábito
alimentar
carnívoro. LUZ (2007), ao estudar a resistência
ao estresse e crescimento de larvas de peixes neotropicais alimentadas
com
diferentes dietas, concluíram que alimentos vivos têm importante
atuação no
crescimento e na resistência ao estresse. FEIDEN et al. (2006),
ao
avaliarem o desenvolvimento de larvas de surubim-do-Iguaçu (
Steindachneridion
sp.) alimentadas com diferentes dietas, verificaram que a
Artemia sp. combinada à ração promoveu
melhor desempenho e sobrevivência. CAVERO et al. (2003), estudando o uso de alimento vivo como dieta inicial no
treinamento alimentar de juvenis de pirarucu (
Arapaima gigas), verificaram que o alimento vivo é
eficiente no treinamento alimentar de juvenis desta espécie. LUZ
&
PORTELLA (2002), analisando a larvicultura de trairão (
Hoplias
lacerdae) em água doce e água salinizada, confirmaram que a
Artemia é um alimento atrativo
durante essa fase de desenvolvimento e DIEMER et al. (2010) observaram
que
larvas de mandi pintado alimentados com
Artemia
sp. e ração apresentam os melhores resultados de crescimento e
sobrevivência.
O
emprego do alimento vivo durante a larvicultura
apresenta vários benefícios, como o menor grau de deterioração da
qualidade da
água, quando comparado a rações, melhor distribuição do alimento na
coluna de
água, maior resistência à infestação bacteriana e manutenção de suas
características por muitas horas, o que não ocorre com alimentos
preparados
(LUZ, 2007). Sobretudo, quando se utilizam alimentos vivos, há maior
atratividade pelos peixes devido à movimentação desses organismos na
coluna
d’água (TESSER & PORTELLA 2006).
A
larvicultura de peixes carnívoros pode ser
atrapalhada quando o alimento vivo é o único item alimentar (KUBITZA
&
LOVSHIN, 1999). Contudo, esses autores destacam a importância da
utilização da
Artemia sp. na alimentação inicial.
Provavelmente o emprego de alimento vivo seja a estratégia alimentar
mais
viável para facilitar a transição alimentar, uma vez que é um alimento
naturalmente consumido, podendo oferecer a vantagem de treinar as
larvas para
consumirem alimentação artificial.
Para
ocorrer a transição aos alimentos inertes, é
necessário que se faça uma adaptação, de preferência de maneira
gradativa, pois
o momento mais crítico de uma criação de peixes é a fase de mudança
entre
alimento endógeno (vitelo) para alimentos inertes (PIEDRAS & POUEY,
2004).
Todavia, no presente estudo, essa transição se deu apenas no último dia
da
alimentação com
Artemia sp., de toda
forma, os resultados de sobrevivência nos indicam que as larvas
alimentadas
apenas por cinco dias com os micro crustáceos, tornam-se mais frágeis
ao manejo
e, por consequência, acabam morrendo.
As
larvas de peixes aceitam alimento exógeno apenas
quando são fisiologicamente capazes de digeri-lo, o que acontece quando
a
atividade de protease ácida é detectada, indicando a funcionalidade do
estômago
(VEJA-ORELLANA et al., 2006). Os autores ainda destacam a importância
do
alimento vivo logo após a eclosão das larvas e sugerem que os alimentos
formulados poderiam ser oferecidos de forma gradual.
Neste
contexto, a
Artemia sp é de fundamental importância
durante a fase de
larvicultura da espécie estudada. Esse componente alimentar contribui
nessa
etapa de vida das larvas, sendo um alimento altamente aproveitado e,
quando
utilizado de forma adequada, pode contribuir para uma produção em larga
escala.
CONCLUSÕES
O
fornecimento primeiramente de náuplios de Artemia sp.
durante os primeiros 15 dias
e depois de ração proporciona os melhores resultados de desempenho na
larvicultura do jundiá.
AGRADECIMENTOS
À
Secretaria de Estado da Ciência, Tecnologia e
Ensino Superior (SETI) Fundo Paraná, pelo financiamento do trabalho e
ao Grupo
de Estudos de Manejo na Aquicultura pela disposição dos laboratórios e
equipamentos.
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