RESUMO
Objetivou-se com este trabalho avaliar o efeito de diferentes rações
sobre os parâmetros eritrocitários (hemácias, hemoglobina e
hematócrito) e bioquímicos (glicose, albumina e proteína) de jundiás (
Rhamdia quelen).
Utilizaram-se 36 jundiás (comprimento médio = 32 ± 11 cm e peso médio =
442 ± 46 g), provenientes de tanques-rede localizados no município de
Santa Helena, PR. Foram testados seis tratamentos com diferentes níveis
proteicos – 25%, 30% e 35 % – e dois níveis de energia digestível 3.250
e 3.500 kcal. Os valores médios obtidos para hemácias (106/µL) foram de
1,98 ± 2,21, hemoglobina (g/dL) 8,33 ± 10,50 e hematócrito (%) 35,00 ±
47,00. Os parâmetros bioquímicos para glicose (mg/dL), proteína (mg/mL)
e albumina (g/dL) foram 75,92 ± 124,30; 5,78 ± 6,92 e 3,33
± 4,42, respectivamente. Os resultados obtidos neste trabalho
demonstraram que não houve diferença (P>0,05) entre os parâmetros
eritrocitários e bioquímicos em relação aos níveis de proteína e
energia analisados.
Palavras-chaves: Hematologia,
Rhamdia quelen, tanques-rede, dietas.
ABSTRACT
ERYTHROCITARY AND BIOCHEMICAL EVALUATION OF Ramdhia quelen SUBMITTED TO DIETS WITH DIFFERENT PROTEIC AND ENERGETIC LEVELS
The aim of the study was to evaluate the effect of different diets on
erythrocitary (erythrocytes, hemoglobin and hematrocit) and biochemical
(glucose, albumin and protein) parameters of
Rhamdia quelen
fish. A total for 36 Rhamdia quelen fish (mean length = 32 ± 11 cm and
mean weight = 442 ± 46g), from net cages located in Santa Helena,
Paraná, Brazil were used. Six treatments with different protein levels
(25, 30 and 35%) and two digestible energy levels (3250 and 3500 kcal)
were tested. The mean values obtained were 1.98 ± 2.21 for erythrocytes
(106/µL), 8.33 ± 10.50 for hemoglobin (g/dL), and 35.00 ± 47.00 for
hematrocit (%). The biochemical parameters for glucose (mg/dL), protein
(mg/mL) and albumin (g/dL) were 75.92 ± 124.30, 5.78 ± 6.92 and 3.33 ±
4.42, respectively. The results obtained showed no difference
(P>0.05) between erythrocitary and biochemical parameters regarding
the protein and energy levels analyzed.
Keywords: Cages, Hematology,
Rhamdia quelen, diets.
INTRODUÇÃO
Na criação de peixes, quanto maior for a quantidade de ração, melhores
serão o aproveitamento do alimento e a taxa de crescimento dos animais.
Para que isso ocorra, a dieta deve possuir energético e proteico,
conter os aminoácidos necessários e os níveis adequados, além de ter
boa digestibilidade (PASTORE, 1999).
A determinação das exigências de proteína e energia é essencial para o
cultivo de qualquer espécie, pois a proteína é o principal nutriente na
dieta dos peixes, representando o maior custo econômico no cultivo
intensivo. Já a energia é, quantativamente, o componente mais
importante da dieta, uma vez que geralmente animais monogástricos comem
para satisfazer primeiramente suas exigências energéticas, sendo que
quanto maior for a energia na dieta menor tenderá a ser seu consumo (NG
et al., 1998).
Ao se formular uma dieta, deve-se buscar o balanço nutricional dos
nutrientes para suprir o crescimento e a sanidade dos animais, mas,
também, deve-se processá-la para que tenha propriedades físicas
desejáveis (NRC, 1993).
O jundiá (
Rhamdia quelen) é um siluriforme de hábito onívoro, encontrado desde o sul do México até a Argentina (LAZZARI
et al., 2006). Também conhecido como bagre do sul americano (TAVARES-DIAS
et al.,
2002), esse teleósteo apresenta carne saborosa e bem aceita pelos
consumidores, o que leva à sua grande importância comercial .
A hematologia vem se tornando um precioso instrumento no conhecimento
das alterações fisiológicas que ocorrem nos peixes, Essas alterações
são causadas, principalmente, por fatores internos como sexo,
maturação gonodal, idade, modo de vida e pelas mudanças em fatores de
água, como teor de oxigênio dissolvido, temperatura, pH e condutividade
elétrica (RANZANI-PAIVA
et al., 2004).
A simplicidade da maioria das técnicas de amostragem de sangue é,
provavelmente, responsável pelo crescente aumento do uso da hematologia
como meio de se estabelecer o estado de saúde dos peixes. Esse tipo de
análise é importante tanto na avaliação da resistência quanto na
avaliação nutricional dos peixes (RANZANI-PAIVA, 2005).
Objetivou-se, neste trabalho, avaliar os parâmetros eritrocitários do jundiá (
Rhamdia quelen
– Pimelodidae), com diferentes rações, determinando-se o número de
hemácias, hematócrito, taxa de hemoglobina e parâmetros bioquímicos por
meio da dosagem de proteína, albumina e glicose.
MATERIAL E MÉTODOS
Peixes e características de criação
A coleta de sangue foi realizada na Unidade Demonstrativa de
Aquicultura: tanques-rede para cultivos experimentais e demonstrativos,
no Reservatório de Itaipu, município de Santa Helena, PR, Brasil. As
análises hematológicas e bioquímicas foram realizadas no Laboratório de
Microbiologia da Unioeste, Câmpus, Toledo, PR.
Esse experimento iniciou-se em janeiro de 2006. Os animais foram
acondicionados em tanques-redes (5m³), com estocagem em densidade de 80
indivíduos/m³, e alimentados duas vezes por dia. Os peixes foram
alimentados com seis rações experimentais com diferentes níveis de
proteína 25%, 30% e 35%, respectivamente, e dois níveis de energia
digestível 3.250 e 3.500kcal. (
Tabela 1).
Após sete meses de alimentação foi realizada a coleta de sangue para as
análises hematológicas e bioquímicas. Foram utilizados 36 jundiás
provenientes de tanques de cultivo, com comprimento padrão médio ±
desvio-padrão de 32 ± 11 cm e peso médio de 442 ± 46g.
Coleta de sangue
Os peixes foram capturados, anestesiados com benzocaína 75mg/L como preconizam GOMES
et al.
(2001), e, em seguida, foi coletado o sangue (2,0 mL) por punção caudal
com auxílio de seringa. As amostras destinaram-se à avaliação
hematológica utilizando-se sangue total colhido com anticoagulante EDTA
(10%) e análise bioquímica de soro e plasma.
Avaliação dos parâmetros hematológicos
O hematócrito foi determinado segundo o método de GOLDENFARB
et al.
(1971), a taxa de hemoglobina de acordo com, e a contagem do número de
eritrócitos em câmara de Neubauer sob microscópio óptico com objetiva
de quarenta vezes, após diluição do sangue total com líquido de Hayem
(COLLIER, 1944).
Avaliação dos parâmetros bioquímicos
Nas análises bioquímicas utilizaram-se soro, para dosagem de proteínas
totais e albumina, e plasma, para dosagem da glicose. Para se obterem o
plasma (colheu-se com fluoreto) e o soro (sem anticoagulante), as
amostras foram centrifugadas a 2.500 rpm, por cinco minutos, e
congeladas a -20º C, para determinação das análises.
As análises foram realizadas com o uso de kits específicos Gold Analisa
Diagnóstica® e conforme as instruções do fabricante, sendo feita
leitura em espectrofotômetro.
Análise estatística
Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância a 5% de
probabilidade, através do programa estatístico (SAEG) Sistema de
Análise Estatísticas e Genéticas, desenvolvido na Universidade Federal
de Viçosa (UNIVERSIDADE..., 1997).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na avaliação do desempenho dos jundiás observaram-se diferenças
significativas entre os tratamentos no ganho médio de peso final.
Quanto às variáveis eritrocitárias, os resultados demonstraram que não
houve diferenças significativas (P>0,05) em comparação com
diferentes níveis de proteínas e energia (
Tabela 2).
Os resultados para peso médio final (PMF) foram: 334,0 ± 31,8 bx ;
445,9 ± 37,8 ax ; 479,8 ± 26,7ax ; 334,8 ± 10,8 bx ; 470,1 ± 21,4ax ;
482,5 ± 18,7 ax, em que x e y diferem para o fator de ED e a e b para o
fator de proteína.
No presente estudo, os peixes alimentados com o nível 25% de PB
apresentaram menor peso em relação aos dos níveis de 30% e 35% de PB.
Já os níveis de ED não ocasionaram alterações no peso médio final dos
peixes. Salienta-se que as variáveis hematológicas são dados essenciais
para avaliar o estado de saúde dos animais, principalmente se existe
anemia, definida como a presença de eritrócitos, concentração de
hemoglobina e/ou hematócrito abaixo dos valores normais de referência
(LOPES
et al., 2007). Os
resultados deste estudo demonstraram que os níveis de proteína e de
energia utilizados na dieta não acarretaram alterações nas variáveis
eritrocitárias.
Os valores médios de eritrócitos oscilaram de 1,98 a 2,21 x 10/µL
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entre os diferentes tratamentos. Nos peixes, os eritrócitos são ovais e
têm núcleo central acompanhando o formato da célula, com cromatina
compactada e sem nucléolos. Os eritrócitos contêm o pigmento
respiratório, a hemoglobina que tem por função transportar o O
2 e parte do CO
2 no sangue. Qualquer deficiência no eritrócito será traduzida como uma falta de O
2 nos tecidos (RANZANI
et al., 2004).
O hematócrito corresponde ao volume ocupado pelos eritrócitos contidos
numa certa quantidade de sangue total, sendo que valores baixos podem
indicar anemia. Neste ensaio, os valores variaram de 35% a 47 %.
Valores superiores foram observados por TAVARES-DIAS
et al. (2002) para
Rhamdia quelen
(peso 44,0 g) quando encontraram 1,90; 6,7 e 26 % de eritrócitos,
hemoglobina e hematócrito, respectivamente. É possível que esse aumento
esteja relacionado com o tamanho do peixe, o que pode interferir no
quadro hematológico.
Os resultados evidenciaram que não houve diferença significativa (P>0,05) para parâmetros bioquímicos (
Tabela 3) entre diferentes rações testadas.
Para os parâmetros bioquímicos foram encontrados valores médios e
amplitude de variação, sendo para glicose 97,58 mg/dL e 75,92 a
124,30 mg/dL; para proteína total 6,37 mg/mL e 5,78 a 6,92; e
para albumina 3,81 g/dL e 3,33 a 4,42. A glicose está relacionada a uma
série de agentes estressores, entre eles, a variação de temperatura, o
manuseio e o transporte, segundo URBINATI
et al.
(2004). Dessa forma, ela é empregada como indicador de distúrbio
fisiológico, por ser a principal fonte de energia utilizada pelos
peixes para suportar situações adversas (MORGAN & IWAMA, 1997).
TAVARES-DIAS & MATAQUEIRO (2004) encontraram valores para a glicose de 63,0 ± 8,1 mg/dL em espécies da família
Characidae. Esses valores são similares aos apresentados neste trabalho e superiores aos obtidos para tambaquis (
Colossoma macropomum)
– 116,7 mg/dL – por TAVARES-DIAS & MATAQUEIRO (2004). Os
resultados evidenciaram que não houve diferença significativa
(P>0,05) para parâmetros bioquímicos (
Tabela 3) entre as diferentes rações testadas.
A concentração de proteína plasmática estárelacionada com o metabolismo
proteico e com as condições nutricionais (COLES, 1984), pois sua
deficiência na alimentação pode ocasionar anemias. Neste estudo, os
valores oscilaram entre 6,92 e 5,78 g/dL. Ao analisar juvenis de pacu (
Piaractus mesopotamicus)
submetidos a diferentes níveis de vitamina E, SADO (2008) observou
alterações significativas para os valores de proteínas plasmáticas, que
variaram de 4,6 a 5,5 g/dL.
A composição bioquímica do plasma sanguíneo demonstra a situação
metabólica dos tecidos animais. Por meio delas é possível detectar
alterações no funcionamento dos órgãos e a adaptação do animal diante
dos desafios nutricionais, fisiológicos e desequilíbrios metabólicos,
específicos ou de origem nutricional. Entretanto, para uma melhor
interpretação, são necessários valores de referência apropriados à
população e à região a serem analisadas (GONZÁLEZ & SCHEFFER, 2003).
Outros fatores como estado nutricional, sazonalidade, maturação
gonadal, sexo e variação genética também podem influenciar
significativamente as variáveis hematológicas (KORI-SIAKPERE, 1985).
Ainda podem-se considerar as diferenças entre as espécies, pois
indivíduos de tamanhos ditintos liberam energia em quantidades
variadas, de acordo com seu tamanho corporal, o que pode interferir no
quadro hematológico (TAVARES-DIAS
et al., 2002).
CONCLUSÕES
Os resultados obtidos neste trabalho demonstram que não houve
diferenças entre os parâmetros hematológicos e bioquímicos em relação
aos níveis de proteína e de energia.
Ainda são necessários mais estudos sobre nutrição animal, alimentação,
saúde (hematologia e bioquímica), fisiologia e comportamento
reprodutivo.
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