INTRODUÇÃO
Durante
décadas a cana-de-açúcar vem sendo estudada como volumoso na
alimentação dos ruminantes, em virtude da sua alta produtividade aliada
ao melhor valor nutritivo apresentado na época de seca no país,
favorecendo sua utilização na alimentação de várias categorias animais,
que apresentam bom desempenho na produção de carne e leite quando
alimentados com este volumoso.
PEDROSO
et al.
(2007) constataram que o valor nutritivo da cana-de-açúcar, quando
ensilada, sofre depreciação com o processo de fermentação, resultando
em produtos de baixa qualidade. Por isso, o uso da cana-de-açúcar em
seu estado
in natura vem
sendo cada vez mais utilizado, pois apresenta melhor valor nutritivo em
relação à silagem, sendo mais indicada para o fornecimento aos animais.
Segundo NUSSIO
et al. (2009),
o fornecimento da cana-de-açúcar na forma in natura tem possibilitado
alternativas de manejo com base na utilização de agentes hidrolíticos
imediatamente após a colheita da forragem no campo e posterior
armazenamento desse material tratado em ambiente protegido.
De acordo com EZEQUIEL
et al.
(2005), a utilização do tratamento químico de volumosos é bastante
antiga, sendo que a utilização de substâncias alcalinizantes é
realizada no intuito de melhorar a digestibilidade e o consumo de
alimentos fibrosos, sempre visando melhoria no valor nutricional dos
mesmos, como volumosos para ruminantes. A melhoria no valor nutritivo
se dá pelo rompimento das frações da parede celular por meio da
hidrólise alcalina (KLOPFENSTEIN, 1980), e aumento da estabilidade
aeróbia da cana-de-açúcar, potencializando a produção animal em virtude
dos microrganismos ruminais aproveitarem melhor a energia contida nas
células do alimento (OLIVEIRA
et al., 2008a).
Segundo OLIVEIRA
et al. (2008a); OLIVEIRA
et al.
(2008b), atualmente vem sendo divulgada a utilização da cal virgem e
cal hidratada no tratamento da cana-de-açúcar, objetivando aumentar a
estabilidade aeróbia e melhorar o aproveitamento das fibras pelos
ruminantes, devido à sua expansão pelo efeito da adição deste álcali.
Segundo GREENHILL (1964), a atividade de água corresponde ao percentual
de água livre disponível ao crescimento de microrganismos e, desta
forma, a aplicação de materiais com alto teor de matéria seca reduz a
atividade de água na forragem (BALSALOBRE
et al.,
2001), dificultando o desenvolvimento de microrganismos espoliadores e
por consequência diminui a produção de calor ao longo do período de
exposição aeróbia.
Buscando conhecer as alterações decorrentes da hidrólise, RIBEIRO
et al.
(2009) trabalharam com doses crescentes de óxido de cálcio (cal virgem)
em cana-de-açúcar tratada em montes e observaram que a utilização do
aditivo apresentou efeito benéfico para as variáveis de estabilidade
aeróbia, reduzindo o aquecimento da massa e os picos de temperatura.
No entanto, existem poucos trabalhos disponíveis na literatura que avaliam a estabilidade aeróbia de cana-de-açúcar
in natura,
e os resultados disponíveis apontam para a necessidade de novas
pesquisas por serem muitas vezes inconstantes. Desta forma,
objetivou-se com esta pesquisa avaliar o efeito da inclusão de cal
virgem sobre a estabilidade aeróbia da cana-de-açúcar
in natura.
MATERIAL E MÉTODOS
O
experimento foi conduzido em setembro de 2007 na Faculdade de Zootecnia
da Universidade José do Rosário Vellano (UNIFENAS), campus de Alfenas
(MG), no setor de Forragicultura. O cultivar utilizado foi SP81-3250
fornecido pela Usina Monte Alegre, localizada no município de Monte
Belo (MG).
O corte da cana-de-açúcar foi realizado em setembro de
2007 de forma manual, procedendo-se o corte a 10 cm da superfície do
solo, quando as plantas estavam com aproximadamente 12 meses de
crescimento vegetativo. O valor do grau Brix da forrageira foi
determinado utilizando-se um refratômetro de campo (marca Tokyo® modelo
032), indicando valor médio de 20º.
Após o corte, a cana-de-açúcar
foi levada para o setor de Forragicultura da UNIFENAS para moagem,
procedendo-se a desintegração em picadeira estacionária, com intenção
de obter tamanhos de partículas entre 1,0 e 2,0 cm. Em seguida, foram
confeccionados os tratamentos, sendo a cana-de-açúcar imediatamente
tratada com óxido de cálcio (cal virgem) a seco, nas proporções 0,0;
0,5; 1,0 e 2,0 kg de cal para cada 100 kg de cana (massa verde),
buscando-se intensa homogeneização. A massa que não recebeu cal virgem
(0,0 kg) permaneceu no estado
in natura,
para utilização como parâmetro na avaliação da estabilidade aeróbia. De
acordo com análise realizada no Laboratório de Análises de Alimentos da
UNIFENAS, a cal microprocessada apresentava as seguintes composições:
teor máximo de óxido de cálcio (CaO) de 64,0%; teor mínimo de óxido de
magnésio (MgO) de 1,5%; e teor máximo de água de 1,0%, com
granulometria de 100 mesh. O experimento foi conduzido em galpão
coberto.
Após a mistura, foram confeccionados montes de 5 kg de
cana-de-açúcar, mantendo-se as proporções da mistura, que foram postos
em baldes com capacidade para 20 L sem compactação, a fim de facilitar
a penetração de ar na massa.
As temperaturas foram aferidas com uso
de um termômetro digital, inserido a uma profundidade de 10 cm no
centro da massa. As medições no primeiro dia foram tomadas logo no
momento da mistura da cal à cana (23:00 horas), e após 3, 6, 12 e 24
horas. No segundo e terceiro dias a temperatura foi tomada somente uma
vez (23:00 horas), pois geralmente as maiores alterações de pH e
temperatura para cana
in natura
ocorrem logo no primeiro dia, dentro de poucas horas. E por ocasião da
análise estatística foram considerados os resultados colhidos somente
os tempos 0, 12, 24, 48 e 72 horas após a mistura. A temperatura média
durante os três dias de condução experimental foi de 23,5ºC, enquanto
que durante a noite a média foi de 17,1ºC, já a umidade relativa (UR)
foi de 77,8 e 51,4% para a noite e dia, respectivamente. O pH foi
determinado seguindo as metodologias descritas por SILVA & QUEIROZ
(2002), retirando-se aproximadamente 15 g da massa para essa análise.
As
amostras colhidas nos diferentes tempos para determinação da matéria
seca (MS) foram acondicionadas em sacos plásticos, previamente
identificados e armazenadas em freezer a -10ºC, para posteriormente
serem analisadas. Durante o processamento das amostras, essas foram
secas em estufa de circulação forçada à 65ºC por 72 horas, conforme
SILVA (1981) e, posteriormente, moídas em moinhos tipo Wiley provido de
perfurações nas peneiras de 1 mm. O teor de MS da amostra moída foi
determinado em estufa a 105ºC, seguindo as metodologias da ASSOCIATION
OF OFFICIAL ANALYTICAL CHEMISTS (1970).
Os parâmetros para avaliação da instabilidade aeróbia constituíram-se no aumento em 2ºC da temperatura da cana-de-açúcar
in natura
em relação ao ambiente conforme descrito por RANJIT & KUNG JR.
(2000), número de horas para elevação da temperatura das massas em 2ºC
em relação à temperatura ambiente, número de horas para atingir a
temperatura máxima, temperatura máxima e soma das médias diárias de
temperatura nas massas nos diferentes tempos de coleta, conforme
proposto por SIQUEIRA
et al.
(2005). Também foi calculada a taxa de elevação de temperatura (em
ºC/h), usando o maior valor observado para temperatura (ºC) dividida
pelo tempo (em horas) necessário para alcançar esse valor (RUPPEL
et al.,
1995). Conforme CHERNEY & CHERNEY (2003), o pH representa um bom
indicador da qualidade dos alimentos, e por isso, também foi utilizado
como parâmetro na avaliação da estabilidade aeróbia da cana-de-açúcar
in natura.
O
delineamento experimental utilizado foi o inteiramente casualizado, em
esquema fatorial 4x5, em que se avaliaram quatro doses de cal (0,0;
0,5; 1,0 e 2,0 % em relação à matéria natural) e cinco tempos de
repouso (0, 12, 24, 48 e 72 horas após o momento da hidrólise), com
quatro repetições. Os dados obtidos foram submetidos à análise de
regressão a 5% de significância por meio do programa estatístico
SISVAR® (FERREIRA, 2008), com posterior ajuste de equações.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O
teor de MS da cana-de-açúcar aumentou linearmente (P<0,05) com a
inclusão da cal virgem e, de acordo com a equação Y = 34,509 + 0,834x
(r² = 87,69%), para cada 1,0% de cal adicionada à massa, houve
acréscimo de 0,83 unidades percentuais. Desta forma, os teores de MS
verificados para as doses de cal 0,5; 1,0 e 2,0% foram respectivamente
34,92; 35,34 e 36,17%, e a cana-de-açúcar
in natura
apresentou 34,50%. O acréscimo observado para essa variável ocorreu em
virtude da cal virgem utilizada no experimento ter apresentado 99,0% de
MS, promovendo acréscimos nos teores de MS da cana-de-açúcar, e
consequentemente, decréscimo na quantidade de água livre do alimento.
Segundo GREENHILL (1964), a atividade de água corresponde ao percentual
de água livre disponível ao crescimento de microrganismos e, de acordo
com MCDONALD
et al. (1991) e BALSALOBRE
et al.
(2001), a redução da atividade de água, em decorrência do aumento da
pressão osmótica, ocorre em materiais que possuem acréscimo nos teores
de MS, o que dificulta a atuação de microrganismos e consequente
deterioração do alimento.
Houve acréscimo de 0,06 pontos percentuais
no teor de MS (Y = 33,230 + 0,064x; r² = 76,75%) da cana-de-açúcar para
cada hora de repouso (P<0,01), observando-se teores de MS após 12,
24, 48 e 72 horas do momento da mistura “cana-cal” respectivamente, de
34,00; 34,77; 36,32 e 37,86%. Esse resultado se deve à desidratação
natural que o material sofre, pois após o corte da cana-de-açúcar, a
planta ainda está em processo de respiração e com intenso metabolismo,
o que pode levar ao aumento da temperatura e, por conseguinte, promover
perda de água por evaporação.
Verificou-se interação entre dose de
cal e tempo de repouso para o teor de MS (P<0,05). Procedendo-se ao
desdobramento, foi notado que independente da dose utilizada, os teores
de MS aumentaram com o decorrer das horas, e os maiores teores foram
obtidos nas massas de cana-de-açúcar tratadas com maiores doses de cal (
Figura 1).
O acréscimo no teor de MS é um fator que pode aumentar a estabilidade aeróbia da cana-de-açúcar
in natura,
pois microrganismos necessitam de um ambiente úmido que favoreça seu
desenvolvimento, e a adição de cal promove aumento no teor de MS e, por
conseguinte, queda no teor de umidade do alimento, o que pode causar
uma barreira à reprodução dos mesmos. OLIVEIRA
et al.
(2008b) observaram aumento de 0,83 e 0,58 pontos percentuais no teor de
MS da cana-de-açúcar com a adição de 0,5 e 1,0% de cal hidratada (óxido
de cálcio = 87,3%), respectivamente. AMARAL
et al. (2009) encontraram valores de MS da ordem de 30,60; 32,20 e 37,50% para a cana-de-açúcar
in natura no primeiro dia do ensaio de estabilidade aeróbia, e após cinco e dez dias do início do experimento, respectivamente.
O
pH aumentou por meio do processamento com cal virgem (P<0,01), e
para cada 1,0% de cal adicionada à cana-de-açúcar, houve acréscimo de
1,70 unidades (Y = 4,454 + 1,708x; r² = 98,33%). Esse resultado está
intimamente associado à concentração de óxido de cálcio presente no
aditivo e a dose utilizada na aplicação e, o acréscimo do pH é fator
preponderante para que ocorra adequado processo hidrolítico. Esses
resultados corroboram outras pesquisas avaliando forragens (BALIEIRO
NETO
et al., 2009; OLIVEIRA
et al., 2008a; OLIVEIRA
et al.,
2008b) que trabalharam com concentrações de óxido de cálcio variáveis,
modos de aplicação diferentes e tempos diferentes ao deste trabalho. No
entanto, este resultado confirma a hipótese de aumento nos valores de
pH quando se utilizam aditivos alcalinos.
Com o decorrer das horas,
notou-se queda nos valores de pH (P<0,01), e de acordo com a equação
de regressão Y = 8,038 - 0,066x (r² = 70,10%), para cada hora de
exposição aeróbia em que as massas de cana-de-açúcar foram submetidas,
houve queda em 0,06 unidades. Apesar de esse fato ocorrer naturalmente,
ele não é interessante, pois a queda do pH ocorre pela ação de
microrganismos, que consomem carboidratos solúveis ocasionando a
acidificação da massa e, desta forma, a estabilidade aeróbia da
cana-de-açúcar diminui.
Procedendo-se ao desdobramento da
interação dose de cal virgem e tempo de repouso (P<0,01) para
valores de pH, notaram-se maiores valores e maior variação no decorrer
das horas (6,51 unidades) com adição de 2,0% de cal. A cana-de-açúcar
que permaneceu no estado
in natura apresentou menor variação no pH (2,43 unidades), o que era esperado, pois a cana-de-açúcar
in natura
por si não apresenta valores de pH elevados. No entanto, quando se
adiciona cal virgem, o pH se eleva substancialmente, e com o decorrer
das horas, a acidificação provoca maiores alterações nessa variável.
OLIVEIRA
et al. (2008a)
verificaram que a aplicação da cal hidratada (72,50% de óxido de
cálcio) resultou em valores mais elevados de pH e, ainda, que a
cana-de-açúcar
in natura
apresentou pequena variação no pH durante as 9 horas de estudo (0,11
unidades), entretanto, a aplicação da cal hidratada implicou maior
variação (0,77 e 0,51 unidades para cana hidrolisada com 0,5 e 0,6%,
respectivamente).
Independente da dose utilizada na hidrólise da
cana-de-açúcar, verificou-se decréscimo nos valores de pH com o
decorrer das horas (
Figura 2).
O acréscimo no teor de MS é um fator que pode aumentar a estabilidade aeróbia da cana-de-açúcar
in natura,
pois microrganismos necessitam de um ambiente úmido que favoreça seu
desenvolvimento, e a adição de cal promove aumento no teor de MS e, por
conseguinte, queda no teor de umidade do alimento, o que pode causar
uma barreira à reprodução dos mesmos. OLIVEIRA
et al.
(2008b) observaram aumento de 0,83 e 0,58 pontos percentuais no teor de
MS da cana-de-açúcar com a adição de 0,5 e 1,0% de cal hidratada (óxido
de cálcio = 87,3%), respectivamente. AMARAL
et al. (2009) encontraram valores de MS da ordem de 30,60; 32,20 e 37,50% para a cana-de-açúcar
in natura no primeiro dia do ensaio de estabilidade aeróbia, e após cinco e dez dias do início do experimento, respectivamente.
O
pH aumentou por meio do processamento com cal virgem (P<0,01), e
para cada 1,0% de cal adicionada à cana-de-açúcar, houve acréscimo de
1,70 unidades (Y = 4,454 + 1,708x; r² = 98,33%). Esse resultado está
intimamente associado à concentração de óxido de cálcio presente no
aditivo e a dose utilizada na aplicação e, o acréscimo do pH é fator
preponderante para que ocorra adequado processo hidrolítico. Esses
resultados corroboram outras pesquisas avaliando forragens (BALIEIRO
NETO
et al., 2009; OLIVEIRA
et al., 2008a; OLIVEIRA
et al.,
2008b) que trabalharam com concentrações de óxido de cálcio variáveis,
modos de aplicação diferentes e tempos diferentes ao deste trabalho. No
entanto, este resultado confirma a hipótese de aumento nos valores de
pH quando se utilizam aditivos alcalinos.
Com o decorrer das horas,
notou-se queda nos valores de pH (P<0,01), e de acordo com a equação
de regressão Y = 8,038 - 0,066x (r² = 70,10%), para cada hora de
exposição aeróbia em que as massas de cana-de-açúcar foram submetidas,
houve queda em 0,06 unidades. Apesar de esse fato ocorrer naturalmente,
ele não é interessante, pois a queda do pH ocorre pela ação de
microrganismos, que consomem carboidratos solúveis ocasionando a
acidificação da massa e, desta forma, a estabilidade aeróbia da
cana-de-açúcar diminui.
Procedendo-se ao desdobramento da
interação dose de cal virgem e tempo de repouso (P<0,01) para
valores de pH, notaram-se maiores valores e maior variação no decorrer
das horas (6,51 unidades) com adição de 2,0% de cal. A cana-de-açúcar
que permaneceu no estado
in natura apresentou menor variação no pH (2,43 unidades), o que era esperado, pois a cana-de-açúcar
in natura
por si não apresenta valores de pH elevados. No entanto, quando se
adiciona cal virgem, o pH se eleva substancialmente, e com o decorrer
das horas, a acidificação provoca maiores alterações nessa variável.
OLIVEIRA
et al. (2008a)
verificaram que a aplicação da cal hidratada (72,50% de óxido de
cálcio) resultou em valores mais elevados de pH e, ainda, que a
cana-de-açúcar
in natura
apresentou pequena variação no pH durante as 9 horas de estudo (0,11
unidades), entretanto, a aplicação da cal hidratada implicou maior
variação (0,77 e 0,51 unidades para cana hidrolisada com 0,5 e 0,6%,
respectivamente).
Independente da dose utilizada na hidrólise da
cana-de-açúcar, verificou-se decréscimo nos valores de pH com o
decorrer das horas (
Figura 2).
Os
maiores valores de pH foram obtidos logo no momento da mistura
“cana-cal”, independente da dose utilizada, o que se deve à reação
alcalina ocorrida no momento da hidrólise (
Tabela 1).
O
maior valor de pH observado para a massa tratada com 2,0% de cal é
decorrente da natureza alcalina do aditivo, como já explicado
anteriormente. Da mesma forma, notou-se que com o aumento das doses de
cal o pH acumulado aumentou também, devido aos maiores valores de pH
terem sido obtidos com a hidrólise da cana-de-açúcar a 2,0%,
independentemente do tempo avaliado. Esse fato está associado à
concentração de óxido de cálcio presente na cal; contudo, o fator
preponderante para que isso ocorra é a dosagem utilizada na hidrólise.
Os resultados verificados nesta pesquisa corroboram OLIVEIRA
et al. (2008b), que observaram maiores valores de pH quando se utilizou a maior dose de cal (1,0% com base na matéria verde).
A
temperatura das massas não foi influenciada pelas doses de cal
estudadas (P>0,05); entretanto, houve efeito do tempo em aerobiose
sobre essa variável (P<0,01). As médias observadas para o tratamento
controle (
in natura) e massas hidrolisadas com 0,5; 1,0 e 2,0% de cal foram, respectivamente, 32,30; 31,80; 32,35 e 31,55ºC.
De
maneira geral, verificou-se que a temperatura no decorrer do tempo
apresentou comportamento quadrático (Y = 23,216 + 0,630x - 0,006x²; r²
= 80,60%). No momento da mistura “cana-cal” a temperatura aferida foi
23,21ºC, enquanto que, nos tempos 12, 24, 48 e 72 horas após, as
temperaturas foram, respectivamente, 29,91; 34,88; 39,63 e 37,47ºC.
Nota-se que houve acréscimo da temperatura até 48 horas e, a partir
deste momento observou-se tendência de estabilização e queda, o que
possivelmente pode ser explicado pela ação de microrganismos, os quais
teoricamente consumiram os carboidratos solúveis, provocando reações
que elevaram a temperatura e, quando a ação desses microrganismos
estabilizou-se, houve queda da temperatura até entrar em equilíbrio com
a temperatura ambiente. O incremento de temperatura da forragem em
aerobiose, decorrente da respiração da planta e/ou do crescimento de
microrganismos aeróbicos, envolve utilização de nutrientes solúveis
como fonte de energia, resultando em perda de nutrientes (WOOLFORD,
1978).
Ao estudar o efeito da interação entre dose e tempo
(P<0,05), notou-se que todas as massas apresentaram comportamento
quadrático em função do tempo de repouso, com temperatura máxima por
volta de 48 horas, com exceção da massa tratada com 2,0% de cal virgem,
que apresentou máxima temperatura após 72 horas (
Figura 3).
Quando
se utilizou 2,0% de cal virgem na hidrólise da cana-de-açúcar foi
obtido o menor valor de temperatura acumulada (Tabela 2); no entanto,
ao adicionar 1,0% de cal notou-se maior acréscimo na temperatura. A
atividade de água corresponde ao percentual de água livre disponível ao
crescimento de microrganismos GREENHILL (1964) e, desta forma, a
aplicação de materiais com alto teor de matéria seca reduz a atividade
de água na forragem (BALSALOBRE
et al.,
2001), dificultando o desenvolvimento de microrganismos espoliadores e
por consequência diminui a produção de calor ao longo do período de
exposição aeróbia.
A cana-de-açúcar
in natura
apresentou maior temperatura após 51 horas de exposição aeróbia, já
para as massas hidrolisadas com 0,5 e 1,0% de cal, notaram-se maiores
temperaturas após 44 e 53 horas do momento da mistura “cana-cal”,
respectivamente. A hidrólise da cana-de-açúcar 2,0% retardou a
temperatura máxima, observada após 72 horas. Com base no somatório das
temperaturas nos três dias de avaliação, notou-se que as doses de 0,5 e
2,0% foram mais eficazes em controlar a temperatura (Tabela 2), o que
possibilita inferir que essas doses inibiram o crescimento de
microrganismos. Segundo MCDONALD
et al.
(1991), em condições aeróbicas as leveduras crescem muito rapidamente e
produzem energia através da glicose pela via da glicólise e do ciclo do
ácido tricarboxilíco. A completa oxidação dos açúcares pelas leveduras
forma dióxido de carbono e água.
A menor taxa de aquecimento
(temperatura máxima dividida pelo tempo necessário para atingi-la) foi
verificada nas massas tratadas com 2,0% de cal (0,57), fato que se deve
à maior quantidade de aditivo aplicado à cana-de-açúcar, já que a cal
utilizada no presente trabalho apresentou baixa concentração de óxido
de cálcio (64,0%), requerendo maior quantidade para que ocorresse a
devida hidrólise do material. A cana-de-açúcar tratada com 0,5% de cal
provocou maior aquecimento da cana-de-açúcar (
Tabela 2).
Todas
as massas apresentaram mais de 2ºC acima da temperatura ambiente logo
no momento da mistura “cana-cal” (tempo 0), o que pode ser explicado
pelo momento da mistura ter ocorrido à noite (23:00 horas), quando as
temperaturas eram baixas e, com efeito, quando se adiciona cal virgem à
cana-de-açúcar, a reação hidrolítica promove aquecimento das massas.
Devido a isso, não se pode considerar que as massas de cana-de-açúcar
apresentaram deterioração logo no momento da mistura (
Figura 4).
A cana-de-açúcar que permaneceu
in natura
apresentou quebra da estabilidade aeróbia após 13 horas do momento da
mistura, a massa tratada com 0,5% de cal, apresentou estabilidade até
14 horas, o mesmo observado para a massa tratada com 1,0% de cal, e por
último, a massa tratada com 2,0% de cal apresentou estabilidade aeróbia
até 16 horas após o momento inicial da hidrólise. Conforme descrito por
AMARAL
et al. (2009), essa quebra de estabilidade aeróbia antecipada da cana-de-açúcar
in natura
era previsível, pois a maior concentração de carboidratos solúveis na
forragem provavelmente possibilita maior reprodução de microrganismos
(entre eles, leveduras e fungos filamentosos), possibilitando maior
atividade destes e, por conseguinte, quebra da estabilidade aeróbia.
O
fato de a hidrólise ter proporcionado 3 horas a mais de estabilidade
aeróbia (2,0% de cal virgem) está associado ao maior “tempo de cocho”
da cana-de-açúcar, consequentemente, o alimento poderá ser fornecido em
maiores quantidades por refeição, porém em menor frequência, reduzindo
desta forma custos operacionais envolvendo mão-de-obra. Contudo, esse
acréscimo na estabilidade aeróbia pode ser potencializado utilizando-se
cales com teor de óxido de cálcio mais elevado comparativamente a este
estudo, em que se utilizou a cal com 64% de CaO.
Os tempos de estabilidade aeróbia encontrados nesta pesquisa foram inferiores ao encontrado por AMARAL
et al. (2009), que observaram que a quebra de estabilidade aeróbia da cana-de-açúcar
in natura ocorreu após 33,7 horas de exposição ao ar. RIBEIRO
et al.
(2009) verificaram maior estabilidade da cana-de-açúcar quando tratada
com cal virgem, independente da dose utilizada, quando comparado ao
tratamento controle.
CONCLUSÕES
A
inclusão de 2,0% de cal virgem aumenta a estabilidade aeróbia da
cana-de-açúcar e proporciona menor taxa de aquecimento. Entretanto, há
a necessidade da aplicação de doses elevadas para que ocorra adequado
processo hidrolítico da forragem em virtude do baixo teor de óxido de
cálcio presente na cal.
REFERÊNCIAS
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BALIEIRO
NETO, G.; FERRARI JR., E.; NOGUEIRA, J.R.; POSSENTI, R.; PAULINO, V.T.;
BUENO, M.S. Perdas fermentativas, composição química, estabilidade
aeróbia e digestibilidade aparente de silagem de cana-de-açúcar com
aditivos químico e microbiano. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasíla, v. 44, n. 6, p. 621-630, 2009.
BALSALOBRE,
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Efeito sobre a digestibilidade, o consumo e a taxa de passagem. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 34, n. 5, p. 1704-1710, 2005.
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