DISTRIBUIÇÃO
DE CARACTERÍSTICAS PRODUTIVAS DE TOUROS LEITEIROS TESTADOS DAS RAÇAS HOLANDÊS E
JERSEY DISPONIBILIZADOS NO BRASIL
Valdirene Zabot1, Marcio Pereira Soares2,
Leila de Genova Gaya3, Leandro Homrich Lorentz4,
Quêti Di Domenico5, Simone Fernanda Nedel Pértile5
1. Acadêmica do curso de Zootecnia, Grupo de Pesquisa
em Estatística e Melhoramento Genético Aplicados à Produção Animal,
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), CEP 89802-200, Chapecó, Santa
Catarina, Brasil - E-mail: valdirene@zootecnista.com.br (autor correspondente)
2. Médico Veterinário, MSc, Professor do curso de
Zootecnia, Universidade do Estado de Santa Catarina
3. Médica Veterinária, MSc,
PhD, Professora do curso de Engenharia de Biossistemas, Universidade Federal de São João del-Rei
4. Engenheiro Agrônomo, MSc,
PhD, Professor do curso de Zootecnia, Universidade do
Estado de Santa Catarina
5. Acadêmica do curso de Zootecnia, Universidade do
Estado de Santa Catarina
PALAVRAS–CHAVE: Bovinos de leite, inseminação
artificial, melhoramento genético, provas de touros, teste de progênie
ABSTRACT
PRODUCTIVE TRAITS OF HOLSTEIN AND JERSEY PROGENY TEST
BULLS AVAILABLE IN BRAZIL
This study investigates the
distribution of milk, fat and protein production, and somatic cell scores of Holstein and Jersey dairy bulls provided by semen
companies in Brazil. Data from the animals were located
in the websites of these companies, and their proofs were found in the American
April 2008 database. A test of normality and descriptive statistics for all
traits were performed. Average values were favorable for all traits, except for
fat levels of Holstein bulls, and protein levels in both breeds. Therefore,
caution is needed when selecting bulls for reproduction as regards these
traits, especially if an increase of solid contents of milk is desired. The
bulls available during the research period generally attended the improved
requirements for cattle milk production in Brazil. However, monitoring of bull
proofs is necessary and the use of bulls lacking genetic superiority for the
desired traits should be avoided.
KEYWORDS:
Animal
breeding, artificial insemination, bull proofs, dairy cattle, progeny test
INTRODUÇÃO
O
melhoramento genético é um instrumento indispensável para a obtenção de animais
geneticamente superiores em um rebanho. Em bovinos leiteiros, programas de
seleção eficientes alicerçam-se na utilização de sêmen de touros provados, que
são aqueles submetidos a um teste de progênie (SANTOS & CORRÊA,
2000). Estas provas são realizadas pelo Comitê Internacional Interbull e são disponibilizadas no site Dairy
Bulls (DAIRY BULLS, 2008).
Dentre
as características que compõem estas provas, estão as relacionadas ao leite,
que têm como objetivo fornecer subsídios para a seleção de animais com
capacidade de elevar a produção de leite e sólidos (BOBE et al., 2007), bem
como reduzir o escore de células somáticas de suas filhas. A seleção para estas
características torna-se essencial para diminuir significativamente os
riscos relacionados à seleção pelo aspecto morfológico e possibilita a previsão
de ganhos produtivos.
Assim,
este estudo teve como objetivo a análise da distribuição das características
produção de leite, produção de gordura e de proteína, em libras, porcentagem de
gordura, porcentagem de proteína e escore de células somáticas dos touros
leiteiros das raças Holandês e Jersey disponibilizados pelas empresas
comercializadoras de sêmen no Brasil.
MATERIAL E MÉTODOS
Os
touros com sêmen disponível no Brasil foram localizados nos sites das empresas comercializadoras de
sêmen de touros leiteiros no país. Foram encontrados 484 touros, sendo 392 da
raça Holandês e 92 da raça Jersey, no mês de abril de 2008. As provas destes
touros foram localizadas no site Dairy
Bulls (DAIRY BULLS, 2008), usando como padrão a base genética americana de
abril de 2008, e tabuladas. As características avaliadas foram produção de
leite, de gordura e de proteína, em libras, porcentagem de gordura, porcentagem
de proteína e escore de células somáticas.
Os valores atribuídos para produção de leite, produção
de gordura e de proteína, em libras, porcentagem de gordura e porcentagem de
proteína aos touros avaliados correspondem às suas PTAs para estas
características, cujo termo vem das iniciais das palavras da língua inglesa Predicted Transmitting Ability, que
significam habilidade predita de transmissão e representa o mérito genético de
suas filhas em relação à média de todo o rebanho (BOBE et al., 2007).
Para o escore de células somáticas, atribuem-se
valores aos touros de acordo com o número de células somáticas por microlitro
de leite de suas filhas. Em uma contagem de 50 células por microlitro, por
exemplo, o escore será convertido para 2, enquanto que para uma contagem de 200
células por microlitro, o escore será convertido para 4 (SANTOS & CORRÊA,
2000). Valores de escore de células somáticas inferiores a 3,1 representam pouca
contagem de células somáticas
(ALTA GENETICS, 2008).
As estatísticas descritivas número de observações,
média, mediana, desvio-padrão, valores mínimo e máximo e assimetria, bem como o
teste de normalidade de Shapiro-Wilk (P-valor>0,05) para as características
estudadas foram calculados por intermédio do pacote estatístico SAS® (SAS INSTITUTE, 1999), utilizando-se
o procedimento PROC UNIVARIATE.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para os touros das raças Holandês e
Jersey estudados, os valores médios das PTAs para a produção de leite (976,0 e
650,87 libras, respectivamente), gordura (28,07 e 30,54 libras,
respectivamente) e proteína (28,00 e 22,00 libras, respectivamente), foram
positivos, indicando que os touros avaliados foram capazes de determinar
aumento na produção destas características em suas filhas. Em relação à
porcentagem de gordura, os touros da raça Jersey avaliados apresentaram PTA
média de 0,01%, sendo, portanto, capazes de incrementar esta característica.
Contudo, os touros da raça Holandês tenderam a reduzir a porcentagem de gordura
do leite de suas filhas, uma vez que a média de PTA para esta característica
nesta raça foi de -0,02%. Em ambas as raças, os touros avaliados apresentaram
média de suas PTAs igual a zero para porcentagem de proteína do leite, não
sendo, portanto, em média, capazes de interferir nesta característica. Uma vez
que o mercado brasileiro tende a valorizar o volume de leite produzido, o
resultado obtido foi favorável para o aumento da produção de leite do rebanho
e, consequentemente, da sua produção, em libras, de gordura e proteína. No
entanto, caso os objetivos de seleção sejam o acréscimo simultâneo da produção
de leite e de seus sólidos, deve-se estar atento quanto à escolha de touros
para as porcentagens de gordura e de proteína. Quanto maior o volume de leite
produzido, menor tende a ser seu teor de sólidos, em porcentagem (BOBE et al.,
2007) e, em média, os resultados obtidos para os touros avaliados foram
desfavoráveis para o incremento destas porcentagens, à exceção da porcentagem
de gordura para os touros da raça Jersey. Neste caso, touros com PTAs positivas
para todas as características desejadas devem ser selecionados.
A média das PTAs dos touros Holandês e Jersey para o
escore de células somáticas (ambas com valor de 2,98) esteve abaixo do valor
máximo preconizado, de 3,1 (ALTA GENETICS, 2008), sendo, portanto, favorável
para a qualidade do leite e a sanidade das filhas dos touros avaliados, uma vez
que, quanto menor o valor de um touro para este escore, menores são as
chances de suas filhas serem susceptíveis à mastite (SANTOS & CORRÊA,
2000).
As
medianas para as PTAs nas raças Holandês e Jersey para produção de leite
(952,00 e 625,00 libras, respectivamente), gordura (28,00 e 33,00 libras,
respectivamente) e proteína (28,00 e 24,50 libras, respectivamente) foram
positivas, indicando que ao menos metade dos touros possuiu valores positivos
para estas características, da mesma forma que para a porcentagem de gordura na
raça Jersey, cuja mediana foi de 0,02%. As medianas obtidas para as PTAs de
porcentagem de gordura na raça Holandês (-0,04%) e porcentagem de proteína
(-0,01%) em ambas as raças foram negativas, ou seja, ao menos metade dos touros
apresentou valores negativos para estas características.
As
características avaliadas que apresentaram distribuição normal, segundo o teste de normalidade de Shapiro-Wilk,
foram escore de células somáticas, para ambas as raças estudadas, produção de
gordura em libras para a raça Holandês, e porcentagem de gordura para a raça
Jersey, ou seja, seus valores foram simetricamente distribuídos em torno da
média. As demais características estudadas não apresentaram distribuição normal, procedendo-se a análise de sua
assimetria.
Para
a porcentagem de gordura na raça Holandês, e para a porcentagem de proteína na
raça Jersey, a assimetria foi positiva, indicando que os registros dos touros para estas características
foram, em sua maioria, menores do que suas médias. Já para as características
produção de leite e de proteína, em libras, e porcentagem de proteína, na raça
Holandês, a assimetria obtida foi negativa, indicando que os registros dos
touros foram, em sua maioria, maiores do que suas médias, assim como para
produção de leite, gordura e proteína, em libras, na raça Jersey.
Foram
encontrados animais com valores indesejáveis para todas as características
estudadas, devendo-se analisar com rigor as provas dos touros a serem
utilizados, de acordo com os objetivos de seleção pretendidos, evitando-se
assim prejuízos para características importantes relacionadas à produção dos
animais.
CONCLUSÕES
Os touros das raças Holandês e Jersey disponibilizados no Brasil, no período estudado, foram capazes, em sua média, de incrementar a produção de leite, proteína e gordura, em libras, de suas filhas, assim como os touros da raça Jersey para a característica porcentagem de gordura, favorecendo, portanto a produção do rebanho nacional. Da mesma forma, em ambas as raças avaliadas, os touros apresentaram, em média, escores de células somáticas favoráveis à produção e à sanidade do rebanho.
É necessário cautela
na escolha dos touros Holandês quanto à porcentagem de gordura, bem como quanto
à porcentagem de proteína, em ambas as raças, caso se deseje aumentar o teor de
sólidos do leite.
Um monitoramento
constante das provas dos touros disponíveis no mercado é essencial para o
alcance dos objetivos de seleção nos programas de melhoramento de bovinos
leiteiros, devendo-se evitar a utilização de touros com mérito genético
desfavorável para as características desejadas.
REFERÊNCIAS
ALTA
GENETICS. [2008].
Interpretando provas americanas.
Disponível em: <http://www.altagenetics.com.br/catalogos/CatalogoLeiteImportadoAgo2008.pdf>. Acesso em: 20 mar. 2008.
BOBE, G.;
LINDBERG, G.L.; FREEMAN, A.E. Composition of milk and Milk fatty acids is
stable for cows differing in genetic merit for milk production. Journal of Dairy Science, Champaign, v. 90, n. 8, p. 3955-3960,
2007.
SANTOS, R.; CORRÊA, A. B. [2000].
Como são feitos os testes de progênie. In: Simpósio Nacional de Melhoramento Animal, 3., 2000, Belo Horizonte. Anais eletrônicos... Disponível em:
<http://www.lana.ufba.br/bovinos/melhoramentobovinos_arquivos/testprog.pdf>.
Acesso em: 20 mar. 2009.
SAS INSTITUTE. Statistical analysis systems user’s guide. Version 8. Cary: SAS Institute Inc., 1999. 1464p.