EFEITOS
DA DIETA DE TRANSIÇÃO COM DIFERENTES PADRÕES ENERGÉTICOS NA SUPERFÍCIE
ABSORTIVA RUMINAL DE VACAS LEITEIRAS PERIPARTURIENTES
Tiago
da Silva Teófilo1, Matheus Balduíno Moreira2, João
Chysostomo de Resende Júnior3, Ronaldo Francisco de Lima1,
Gustavo Prado Lenzi2, Pedro Paulo Bueno2, Thiago Melo
França2, Tiago Antônio Del Valle2, Danilo de Oliveira
Rocha Bhering Santoro1, e João Luiz Pratti Daniel4
1. Médico Veterinário, Mestrando em Ciências
Veterinárias, Universidade Federal de Lavras
2. Acadêmico do Curso de Medicina Veterinária,
Universidade Federal de Lavras
3. Médico Veterinário, MSc, DSc, Professor do Curso de
Medicina Veterinária, Universidade Federal de Lavras E-mail: jcrj@ufla.br (autor correspondente)
4. Médico
Veterinário, MSc, Doutorando em Ciência Animal e Pastagens, Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo
PALAVRAS-CHAVE: Ácidos graxos voláteis, período de transição, ruminante.
ABSTRACT
RUMINAL FERMENTATION CHARACTERISTICS
IN PERIPARTURIENT DAIRY COWS FED WITH DIFFERENT ENERGY DENSITIES DURING THE
TRANSITION PERIOD
After parturition, dairy cows are
fed diets rich in readily fermentable carbohydrates that lead to rapid
production of volatile fatty acids (VFA), possibly resulting in ruminal
acidosis (RA). This study investigates the effects of transition diet during
the last few weeks of pregnancy as regards RA control in dairy cows. Therefore,
a total of 4 Holstein cows were randomly allotted to two treatment groups:
standard diet (6 weeks prepartum); and low or high nonfiber carbohydrate (NFC)
diet (2 weeks postpartum). After parturition, all cows were fed the same diet
formulated to withstand the demands of early lactation. Diet with high levels
of NFC provided a larger (p<0,01) rumen surface area (10,7m2) for
VFA absorption than the low NFC diet (7m2). Furthermore, ruminal VFA
absorption was higher (p<0,01) during the postpartum period than in the
prepartum period, which is probably related to the high energy density diet.
This result indicates that nutritional manipulation of the rumen wall
absorption capacity is an important strategy to control RA.
KEYWORDS: Ruminants,
transition period, volatile fatty acids
INTRODUÇÃO
O
período de transição de uma vaca compreende as três semanas antes do parto e as
três semanas após o parto. Esse período é caracterizado por ajustes metabólicos
e endócrinos para viabilizar a adaptação orgânica ao parto e à lactação.
Distúrbios metabólicos são comuns nesse período e podem dificultar a expressão
do potencial produtivo do animal durante a lactação (GRUMMER, 1995).
Vacas
leiteiras de alta produção recebem dietas altamente energéticas após o parto.
Essas dietas, ricas em carboidratos rapidamente fermentáveis no
ruminorretículo, levam à produção de ácidos graxos voláteis em alta velocidade.
Se a taxa de produção excede a taxa de remoção (clearance) dos AGV no ambiente ruminal, haverá acúmulo desses
ácidos na fase fluida, levando a um quadro conhecido como acidose ruminal
(BARKER et al., 1995), um dos principais distúrbios metabólicos que ocorre no
início da lactação.
A
acidose ruminal pode ter efeitos negativos sobre o desempenho e a saúde dos
animais, provocando efeitos deletérios sobre a ingestão de alimentos (ELLIOT et
al., 1995), a degradação ruminal da fibra (GRANT & MERTENS, 1992), a
motilidade do rúmen (CRICHLOW & CHAPLIN, 1985) e a morfologia da parede
ruminal (GABEL et al., 2002).
Uma
vez que o maior determinante da extensão da superfície absortiva ruminal é o
tamanho das papilas ruminais (BEHARKA et al., 1998; DANIEL et al., 2006) que
pode ser diretamente influenciado pela dieta (SUTTON et al., 1963), este
trabalho teve o objetivo de definir se a dieta de transição, fornecida nas
últimas semanas de gestação, contribui efetivamente para o controle da acidose
ruminal em vacas leiteiras, através da extensão da superfície absortiva.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizadas quatro vacas Holandesas, de alta produção, com cânula no saco dorsal do rúmen, alocadas em dois tratamentos em um delineamento em blocos casualizados. Foram dois blocos de duas vacas, definidos por data prevista de parto. Seis semanas antes do parto esperado, as vacas tiveram sua lactação anterior encerrada, foram alojadas em um Tie Stall com cama de areia e submetidas a uma dieta de padronização, de acordo com as necessidades previstas pelo NRC (2001), que foi composta por silagem de milho, uréia e premix mineral-vitamínico e água, ad libitum. Quatro semanas antes do parto esperado foram submetidas aos tratamentos que consistiram de variação da proporção FDN:CNF da dieta. Após o parto, todas as vacas receberam a mesma dieta formulada conforme preconização do NRC (2001), para suportar alta lactação.
Foram realizadas biópsias nas semanas seis, quatro, duas e uma antes do parto e aos dois dias, duas, quatro, seis e oito semanas pós-parto. O fragmento de aproximadamente 3cm2 foi coletado, do saco ventral do rúmen destinado às mensurações macroscópicas, preservado em solução tampão fosfato até as mensurações, segundo metodologia descrita por DANIEL et al. (2006) e RESENDE JÚNIOR et al. (2006). Foi realizada a contagem do número de papilas ruminais presentes no fragmento. Posteriormente, as papilas ruminais foram seccionadas na base por meio de uma lâmina de bisturi e suas imagens foram digitalizadas através de um scanner, sendo suas áreas estimadas por meio do programa de análise de imagens UTHSCSA Image Tool (software livre). A área da superfície do fragmento foi determinada, conforme metodologia descrita por DANIEL et al. (2006) e a superfície total do ruminorretículo foi estimada pelas equações de regressão propostas pelos mesmos autores.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A dieta com alto teor de CNF propiciou maior (P<0,01) extensão da superfície absortiva do rúmen (10,7m2) do que a dieta com baixo teor de CNF (7m2), demonstrando que dieta de transição tem efeito na capacidade de absorção de AGV, a qual tem alta correlação com a superfície absortiva do rúmen (DIRKSEN, 1984; MELO, 2007), sendo importante no controle da acidose ruminal.
A extensão da superfície absortiva antes do parto (7,6m2) foi menor (P<0,01) do que após o parto (10,2m2), provavelmente refletindo o efeito da dieta lactacional altamente energética, uma vez que, a extensão da superfície absortiva do ruminorretículo é determinada pela quantidade de energia da dieta, portanto dietas diferentes podem induzir diferentes taxas de produção e clearance de AGV, podendo então ter potencial diferenciado para a indução da ARSA (RESENDE JÚNIOR et al., 2006). Isso pode ser explicado devido a um aumento na disponibilizarão de AGV para as papilas, uma vez que esse é o responsável pela indução do crescimento papilar (SAKATA & TAMATE, 1979).
CONCLUSÃO
O fornecimento de uma dieta com elevado teor de CNF no pré-parto pode ser uma alternativa no controle da acidose ruminal pós-parto em vacas leiteiras de alta produção, por promover um maior desenvolvimento da superfície absortiva do rúmen evitando o acúmulo de AGV neste compartimento.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à FAPEMIG pelo auxílio financeiro.
REFERÊNCIAS
BARKER,
I. K., VAN DREUMEL, A. A.; PALMER. The alimentary system. In: JUBB, K. V. F., KENNEDY P. C. Pathology of
domestic animals. 4.ed. San
Diego: Palmer Academic, v.2, 1995.
BEHARKA, A. A.; et. Effects of form
of the diet on anatomical, microbial, and fermentative development of the rumen
of neonatal calves. Journal of Dairy Science, Champaign, v. 81, p.
1946-1955, 1998.
CRICHLOW, E. C.; CHAPLIN, R. K. Ruminal lact acidosis: Relationship of forestomach motility to nondissociated volatile fatty acids levels. American Journal of Veterinary Research, Schaumburg, v. 46, p. 1908-1911, 1985.
DANIEL,
J. L. P.; RESENDE JÚNIOR, J. C.; CRUZ, F. J. Participação do ruminoretículo e
omaso na superfície absortiva total do proventrículo de bovinos. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, São Paulo, v. 43, n. 5, p.
688-694, 2006.
DIRKSEN, G.; LIEBICH, H.G.; BROSI, G.;
HAGEMEISTER, H.; MAYER, E. Morphologie der pansenschleimhaut und
fettsäureresorption beim rind-bedeutende faktoren für gesunkheit und leistung. Zentralblatt
für Veterinar Medizin, Berlin, v. 31, p. 414-430, 1984.
ELLIOT, J. P.; DRACKLEY, J. K.;
FAHEY, G. C.; SHANKS, R. D. Utilization of supplemental fat by dairy cows fed
diets varying in content of nonstructural carbohydrates. Journal of Dairy
Science, Champaign, v. 78, p. 1512-1525, 1995.
GABEL G.; ASCHENBACH J. R.; MULLER, F. Transfer
of energy substrates across the ruminal epithelium: implications and
limitations. Animal Health Research Reviews, Wallingford, v.3, n. 1, p.
15-30, 2002.
GRANT, R. J.; MERTENS, D. R. Influence of
buffer pH and raw cornstarch addition on in
vitro fiber digestion kinetics. Journal of Dairy Science, Champaign,
v. 75, p. 2762-2768, 1992.
GRUMMER, R. R. Impact of changes in organic nutrient metabolism on feeding the transition dairy cow. Journal of Animal Science, Champaign, v. 73, p. 2820–2833, 1995.
MELO, L. Q. Morfometria ruminal e o efeito do pH e do volume da digesta sobre a absorção de ácidos graxos voláteis. 2007. 58p. Dissertacão (Mestrado em Ciências Veterinárias) – Universidade Federal de Lavras, Lavras.
NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Nutrient
requirements of dairy cattle. 7.ed. Washington: National Academy of
Science, 408 p, 2001.
RESENDE JÚNIOR, J. C.; ALONSO, L. S.;
PEREIRA, M. N.; ROCA, M. G.; DUBOC, M. V.; OLIVEIRA, E. C.; MELO, L. Q. Effect
of the feeding pattern on rumen wall morphology of cows and sheep. Brazilian Journal of Veterinary Research
and Animal Science, São Paulo, v. 43, n. 4, p. 526-536, 2006b.
SAKATA, T.; TAMATE, H. Rumen
epithelium cell proliferation accelerated by propionate and acetate. Journal
of Dairy Science, Champaign, v. 62, p. 49-52, 1979.
SUTTON, J. D.; MCGILLIARD, A. D.;
JACOBSON, N. L. Functional development of rumen mucosa. I. Absorptive ability. Journal
of Dairy Science, Champaign, v.46, p.426-436, 1963.