DISTRIBUIÇÃO
DE CARACTERÍSTICAS LINEARES DE ÚBERE EM TOUROS LEITEIROS TESTADOS DAS RAÇAS
HOLANDÊS E JERSEY DISPONIBILIZADOS NO BRASIL
Gregori Alberto Rovadoscki1, Marcio Pereira Soares2,
Leila de Genova Gaya3, Leandro Homrich Lorentz4,
Valdirene Zabot5, Fernanda Batistel5
1. Acadêmico do curso de Zootecnia, Grupo de Pesquisa
em Estatística e Melhoramento Genético Aplicados à Produção Animal,
Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), CEP 89802-200, Chapecó, Santa
Catarina, Brasil - E-mail: gregori_ro@yahoo.com.br (autor
correspondente)
2. Médico Veterinário, MSc, Professor do curso de
Zootecnia, Universidade do Estado de Santa Catarina
3. Médica Veterinária, MSc,
PhD, Professora do curso de Engenharia de Biossistemas, Universidade Federal de São João del-Rei
4. Engenheiro Agrônomo, MSc,
PhD, Professor do curso de Zootecnia, Universidade do
Estado de Santa Catarina
5. Acadêmica do curso de Zootecnia, Universidade do
Estado de Santa Catarina
PALAVRAS–CHAVE: bovinos de leite, inseminação artificial, melhoramento genético, provas
de touros, teste de progênie.
ABSTRACT
PARAMETERS OF LINEAR UDDER TRAITS OF HOLSTEIN AND JERSEY
DAIRY BULLS AVAILABLE IN BRAZIL
This
study investigates the distribution of linear traits, rear udder height, udder
width, udder depth, udder cleft, and fore udder attachment of Holstein and
Jersey dairy bulls provided by semen companies in Brazil. Registers of 392
Holstein and 92 Jersey bulls were found in the websites of these companies, and
their proofs were located in the summary Dairy Bulls, in the American April
2008 database. Descriptive statistics for all traits and the test of normality
were carried out. Mean scores for all linear udder traits were biologically
favorable, except those for udder depth, which presented an average score above
zero. Therefore, caution is needed when selecting bulls for reproduction as
regards this characteristic. The animals available during the research period
fit the standard recommendations for these traits, which would contribute to
the improvement of reproductive aspects related to them. This indicates that
the monitoring of bull proofs is of great importance.
KEYWORDS:
Animal breeding, artificial insemination, bull proofs, dairy cattle; progeny test.
INTRODUÇÃO
O Brasil apresenta um dos maiores rebanhos de bovinos
leiteiros do mundo, entretanto, possui baixa produtividade quando comparado a
outros países. Desta forma, faz-se
necessário um trabalho de melhoramento do nosso rebanho, sendo fundamental a
utilização de touros testados (ou provados), que são aqueles submetidos a um
teste de progênie (SANTOS & CORRÊA, 2000). Estas
provas são realizadas pelo Comitê Internacional Interbull, o qual foi criado a partir da idéia de se ter uma prova
unificada dos touros nos diversos países onde se tem esse processo e, para
possibilitar a comparação das provas, as mesmas estão disponíveis no website Dairy Bulls (DAIRY BULLS, 2008).
Entre as características presentes nas provas estão as
de classificação linear, cujo uso como critério de seleção tem como objetivo a
escolha de animais que demonstrem através de seu fenótipo a capacidade para
produção e reprodução. Dentre estas,
as relacionadas ao úbere são fundamentais, pois tem grande importância para a
sanidade do úbere, além de serem indicativas de produtividade e facilidade de
ordenha (FREITAS et al., 2002).
Assim, este estudo teve como objetivo a análise da
distribuição das características lineares altura de úbere posterior, largura de
úbere posterior, ligamento de úbere anterior, profundidade de úbere e ligamento
central dos touros leiteiros das raças Holandês e Jersey disponibilizados pelas
empresas comercializadoras de sêmen no Brasil.
MATERIAL E MÉTODOS
Os registros dos touros com sêmen disponível no Brasil
foram localizados nos websites das
empresas comercializadoras de sêmen de bovinos leiteiros no país. No mês de
abril de 2008, foram encontrados 392 touros da raça Holandês e 92 touros da
raça Jersey. As provas destes touros foram localizadas no website Dairy Bulls (DAIRY BULLS, 2008), utilizando-se a base
genética americana de abril de 2008, e tabuladas. As características estudadas
foram altura de úbere posterior, largura de úbere posterior, ligamento de úbere
anterior, profundidade de úbere e ligamento central.
A altura de úbere posterior (AUP) é dada pela
distância entre a vulva e o ponto onde termina o tecido secretor de leite. Para
esta característica, pontuações acima de zero indicam úbere alto, com
implantação mais próxima a vulva (SANTOS & CORRÊA, 2000). A observação da
largura de úbere posterior (LUP) é realizada na região aonde termina o tecido
secretor de leite, e pontuações acima de zero representam úbere largo (SANTOS
& CORRÊA, 2000; CROCE, 2007). Para o ligamento de úbere anterior (LUA), valores
acima de zero indicam ligamento firme e bem posicionado (CROCE, 2007). A
profundidade de úbere (PU) é a distância entre o assoalho do úbere e o solo, e
sua pontuação, se igual a zero, indica profundidade intermediária (SANTOS &
CORRÊA, 2000; CROCE, 2007). Para o ligamento central (LC), a pontuação superior
a zero representa ligamento forte e evidenciado (CROCE, 2007).
As estatísticas descritivas número de observações,
média e mediana, bem como o teste de normalidade de Shapiro-Wilk
(P-valor>0,05) para as características estudadas foram calculados por
intermédio do pacote estatístico SAS® (SAS INSTITUTE, 1999), utilizando-se o procedimento PROC
UNIVARIATE. Os registros de touros repetidos e sem informação para as
características avaliadas foram removidos previamente às análises.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para AUP
havia registros de 385 touros Holandês e 90 touros Jersey nas provas avaliadas,
e a pontuação média para ambas as raças foi positiva para esta característica
(1,29 e 1,34 ponto, respectivamente), representando que, em média, os touros
avaliados tendem a determinar úberes altos para suas filhas, o que é favorável,
pois quanto mais alto o úbere posterior, maior tende a ser o potencial do
animal para a produção de leite (SANTOS & CORRÊA, 2000). Para LUP, foram
utilizados dados de 385 touros Holandês e 91 touros Jersey, também se obtendo
médias positivas nas duas raças avaliadas (1,30 e 1,06 ponto, respectivamente),
ou seja, os touros analisados, em sua média, tenderam a incrementar a largura
do úbere de suas filhas. Esta condição foi favorável, pois a largura de úbere
posterior indica o potencial da vaca para capacidade de produção e armazenagem
de leite, preferindo-se animais com úberes largos (CROCE, 2007). Para LUA foram
utilizados dados de 383 touros Holandês e 90 touros Jersey. Para esta
característica, ambas as raças apresentaram pontuação média positiva (1,04 e
0,84 ponto, respectivamente) o que indica ligamento de úbere mais firme e bem
posicionado (CROCE, 2007), tendo os touros avaliados, portanto, pontuação favorável
para esta característica.
Para PU nos touros das duas raças avaliadas, o valor
médio foi positivo (0,77 ponto para touros Holandês e 0,62 ponto para touros
Jersey), indicando que estes touros tendem a determinar um úbere mais raso em
suas filhas. Para esta característica foram analisadas 385 provas de touros
Holandês e 90 provas de touros Jersey. Este resultado é desfavorável, pois,
para esta característica, espera-se valor igual ou muito próximo a zero, ou
seja, intermediário, uma vez que a ocorrência de úberes mais rasos pode
representar menor potencial para a produção de leite (CROCE, 2007). Para LC, as
médias de pontuação para os touros das raças Holandês e Jersey foram positivas
e favoráveis (0,98 e 0,48 ponto, respectivamente), uma vez que pontuação
superior a zero representa ligamento forte e bem evidenciado, suportando bem o
sistema mamário e auxiliando o úbere a manter-se acima do jarrete (SANTOS &
CORRÊA, 2000). Para esta característica foram utilizados registros de 383 provas
de touros Holandês e 89 provas de touros Jersey.
As medianas
para todas as características estudadas, em ambas as raças, foram positivas,
indicando que ao menos metade dos touros avaliados possuiu pontuação
positiva para todas estas características. Os valores, em pontos,
encontrados para as medianas dos touros da raça Holandês e Jersey foram,
respectivamente, para AUP 1,36 e 1,30, LUP 1,31 e 1,10, LUA 0,99 e 0,75, PU
0,83 e 0,70 e para LC 1,07 e 0,50. Esta condição é favorável, exceto para a PU,
o que indica que ao menos metade dos touros foi considerada inadequada em
relação a esta característica, uma vez que para a mesma se deseja valor igual
ou muito próximo a zero (CROCE, 2007).
Quanto
ao teste de normalidade de Shapiro-Wilk para as características lineares de
úbere foram encontrados os seguintes valores para os touros Holandês e Jersey,
respectivamente: para AUP, de 0,34 e 0,63, para LUP, de 0,34 e 0,33, para LUA
de 0,22 e 0,14, para PU, de 0,73 e 0,62 e para LC, de 0,06 e 0,12. Nas duas
raças estudadas o teste de normalidade de Shapiro-Wilk para todas as
características avaliadas apresentou distribuição normal, ou seja, os valores
estiveram simetricamente concentrados em torno da média, validando testes
estatísticos baseados neste tipo de distribuição.
Embora a média de pontuação dos touros para a maior
parte das características estudadas tenha sido favorável, ressalta-se que foi
identificada a presença de touros com pontuação desfavorável para todas elas,
exceto para o ligamento de úbere anterior na raça Jersey. Assim, torna-se
necessária uma análise criteriosa da prova do touro no momento de sua escolha,
de acordo com os objetivos de seleção desejados, além de um constante
monitoramento da qualidade genética dos touros disponibilizados no país.
CONCLUSÃO
Os touros disponibilizados no Brasil no período estudado, em sua média, foram capazes de atender aos padrões recomendados para as características lineares altura de úbere posterior, largura de úbere posterior, ligamento de úbere anterior e ligamento central, podendo, assim, com sua utilização, haver o favorecimento dos aspectos produtivos com os quais são relacionadas.
Deve-se ter cautela quanto à escolha dos touros para a característica profundidade de úbere.
Faz-se necessário um monitoramento das provas dos touros disponibilizados no país, evitando-se a utilização de sêmen de animais que não condigam com os padrões preconizados para as características avaliadas, sob pena de haver impactos desfavoráveis na produtividade do rebanho nacional.
REFERÊNCIAS
CROCE, E. D. [2007]. A escolha do touro como ferramenta para lucratividade em rebanhos
leiteiros. Disponível em: <http://www.rehagro.com.br/siterehagro/publicacao.do/ cdnoticia=1540>. Acesso em: nov. 2008.
FREITAS, A. F.; TEIXEIRA, N. M.; DURÃES, M. C.; et al.
Parâmetros genéticos para características lineares de úbere, escore final de
tipo, produção de leite e produção de gordura na raça Holandesa. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária
e Zootecnia, Belo Horizonte, v. 54, n. 5, p. 485-491, 2002.
SANTOS, R.; CORRÊA, A. B. Como são feitos os testes de
progênie (provas de touros). In: III Simpósio Nacional de Melhoramento Animal, 2000, Belo Horizonte. Anais eletrônicos... Disponível em: <http://www.lana.ufba.br/bovinos/melhoramentobovinos
_arquivos/testprog.pdf>. Acesso em: set. 2008.
SAS
INSTITUTE. Statistical analysis systems user’s guide. Version 8. Cary:
SAS Institute Inc., 1464p, 1999.