SUPLEMENTAÇÃO MINERAL DE NOVILHAS DA RAÇA
NELORE NO PERÍODO PERIPARTO E O DESENVOLVIMENTO PONDERAL DE SUAS CRIAS
Rinaldo
Batista Viana1; Marcos Sampaio Baruselli2;
Bruno Moura Monteiro3; Maurício Soares Pancieri4; Paulo
Fernando Pires Bastos Junior1, Fernanda Altieri2, Paulo
Marcelo Albuquerque de Melo1; Luciara Celi Chaves1
1Instituto
da Saúde de Produção Animal/Universidade Federal Rural da Amazônia(UFRA) Av. Tancredo
Neves, 2501, cx. Postal 917, Terra-Firme, Belém/PA. E-mail: rinaldo.viana@ufra.edu.br (autor correspondente)
2Tortuga
– Cia Zootécnica Agrária - Av. Brigadeiro Faria Lima, 2066, 1º andar, São
Paulo/SP
3Pós-graduando
VCM-Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia/USP
4Agropecuária
Pancieri ,Tomé-açu/PA
PALAVRAS-CHAVE:
Bezerros, bovinos, desempenho ponderal, mineralização.
ABSTRACT
THE EFFECT OF
PERIPARTUM MINERAL SUPPLEMENTATION ON PONDERAL PERFORMANCE OF CALVES
This study evaluates the effect of peripartum mineral
supplementation of Nelore cattle diets on ponderal performance of their
offspring. A total of 153 heifers raised in a farm in the municipality of Tomé
Açu, Pará, were assessed. They were randomly divided into three groups
according to the type of supplements received: Group A (n=51) – organic mineral
mixture; Group B (n=51) – inorganic mineral mixture; and Group C (n=51) – no
mineral supplementation. The animals were kept in paddocks cultivated with
pastures of Brachiaria brizantha cv.
Marandu, and were weighed at birth, 30 and 60 days postpartum, and at weaning
(210 days of life). Cows were also weighed and body condition scores were
measured 30 days prepartum and 30 days postpartum. Considering the different
mineral supplements, it was found that the weight of heifers at birth, 60 days,
and at weaning, as well as their body gain during this period, were
significantly (p<0,01) influenced by the mother's weight 30 days postpartum.
The average weight of cows from Groups A and B at parturition were 426,43 ±
27,01 and 433,24 ± 40,67 kg, respectively, while cows from Group C had the
lowest average weight (390,97 ± 33,30 kg). Therefore, results revealed that
heifers from Groups A and B weighed more (173,34 ± 20,26 and 196,03 ± 23,31 kg,
respectively) than those of cows that did not receive any supplements (133,16 ±
30,47 kg). Furthermore, their mean weight gain from birth to weaning were:
142,66 ± 18,43 kg (Group A); 164,45 ± 21,82 kg (Group B); and 105,29 ± 30,11 kg
(Group C).
KEYWORDS: Calves, mineralization,
nutrition, weight gain.
INTRODUÇÃO
Segundo PEROTTO et al.
(2001), a eficiência da produção de um rebanho de bovinos de corte pode ser
definida como a habilidade da vaca em transformar o alimento que ingere em peso
de bezerro à desmama. Esta eficiência depende das relações entre tamanho
corporal, taxa de maturação, fertilidade e produção de leite das vacas.
A
nutrição é um dos fatores que mais influenciam o desempenho reprodutivo do
rebanho de cria. Assim, durante as diversas fases reprodutivas há necessidade
de que os níveis de proteína, energia, minerais e vitaminas sejam suficientes
para atender às exigências nutricionais das matrizes. A suplementação mineral
inadequada ou a falta dela implicam na perda acentuada de peso e da condição
corporal antes e após o parto e reduzem substancialmente o peso dos bezerros à
desmama (VALLE et al., 1998).
Entre
os fatores que afetam o peso do bezerro à desmama, pode-se citar principalmente
o nível nutricional pré-desmama, o qual é altamente dependente do nível
nutricional da mãe pela produção de leite, nos primeiros meses de vida, e ainda
o potencial genético dos bezerros e as interações entre estes fatores (JENKINS
et al., 1991). Segundo ESPASANDIN et al. (2001), o nível de oferta de forragem
ao qual o rebanho de cria é submetido influencia a produção de leite das vacas
e conseqüentemente o desempenho dos bezerros até a desmama.
VALLE
et al. (1998) citam que a perda acentuada de peso e da condição corporal antes
e após o parto reduz substancialmente o desenvolvimento adequado do bezerro da
gestação à desmama e a produção de leite pós-parto. SARMENTO et al. (2003)
ratificam essa idéia ao afirmarem que a influência materna no período do
nascimento à desmama é alta porque, nesse período, o bezerro depende quase
exclusivamente dos cuidados da mãe.
Este trabalho foi conduzido com o
objetivo de avaliar a influência da suplementação mineral no peso vivo ao
nascer dos bezerros, além do ganho de peso médio diário do nascimento à
desmama, considerando diferentes tipos de suplementação mineral da mãe, além de
correlacionar o desempenho das vacas com o desenvolvimento ponderal dos
bezerros.
MATERIAL E MÉTODOS
Para este estudo foram utilizadas 153 novilhas da raça
Nelore (Bos taurus indicus), criadas
em uma fazenda localizada no município de Tomé Açu, Estado do Pará. Os animais
foram mantidos em piquetes, com pastagens cultivadas de Brachiaria brizantha cv. Marandu. Para se eliminar os efeitos da
pastagem, os animais foram rotacionados a cada 28 dias, respeitando-se um taxa
de lotação não superior a 1,5 UA/ha. Cada grupo formado por 51 novilhas foi
suplementado por quatro meses antes da IATF. O grupo A, recebeu um suplemento
mineral orgânico para a fase reprodutiva (cálcio, 123,0g; cobalto 60,0mg; cobre
1.500,0mg; enxofre 18,0g; ferro 1.800,0 mg; flúor 900,00 mg; fósforo 90,0 g; iodo
75,0 mg; manganês 1.800,0 mg; selênio 17,0 mg; sódio 141,00g; zinco 4.500,0mg; solubilidade
do P 95,00%; cromo 20,0mg), enquanto o grupo B, recebeu um suplemento mineral
inorgânico (cálcio 120,0g; cobalto 120,0mg; cobre 1.500,0mg; enxofre 20,0g; flúor
1.122,0mg; fósforo 100,0g; iodo 80,0mg; magnésio 15,0mg; manganês 1.250,0mg; selênio
30,0mg; sódio 144,0g; zinco 4.600,0mg; solubilidade do P 90%; o grupo C não foi
suplementado.
Os animais foram inseminados artificialmente em tempo fixo,
submetidos a um protocolo hormonal que consistiu na colocação intra-auricular
de progesterona, associado a administração de 2 mg de benzoato de estradiol no
dia zero. No dia oito foi retirado o implante e administrado 2 mL de
prostaglandina e 400 UI de gonadotrofina coriônica eqüina. No dia nove foi
administrado 1 mg de benzoato de estradiol, sendo as vacas inseminadas 30 horas
após. Durante toda a gestação até o desmame, os animais dos grupos A e B
continuaram recebendo os dois tipos de suplementação mineral, a exceção do
grupo C que continuou sem suplementação mineral, durante todo o experimento.
A quantidade mensal de mistura mineral consumida foi
dividida em porções iguais e distribuída semanalmente nos cochos, precedido
sempre da retirada das sobras. O consumo da mistura mineral foi calculado em
função da quantidade de UA (1UA = 450kg) de cada grupo, de modo que a
quantidade oferecida foi sempre igual para ambos os grupos. Os bezerros foram pesados ao nascimento, aos
30, 60 e 210 dias (desmama). O ganho de peso do nascimento à desmama foi calculado
a partir da diferença entre o peso aos 210 dias e o Peso ao nascimento.
A condição do escore
corporal dos animais foi estimada de acordo com HOUGHTON et al. (1990), mas uma
meia unidade foi acrescida às mensurações (magro 1; gordo 5). Todas as
avaliações foram realizadas pela mesma pessoa.
Para avaliação do peso e ganho de peso dos animais, foi
aplicado o teste de Shapiro-Wilks para detectar, se a amostra possuía uma
distribuição de densidade de probabilidade normal, ou próxima disto. Todos os
testes e análises foram realizados por meio do software Statistical Analysis System (SAS, 2000).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foi observado que não houve diferença significativa
(p>0,05) entre os pesos médios aos 30 dias pré (Grupo A - 426,43 ± 27,01kg;
Grupo B - 433,24 ± 40,67kg; Grupo C - 390,97 ± 33,30kg) e 30 dias pós-parto
(Grupo A - 371,48 ± 31,95kg; Grupo B - 385,60 ± 47,95kg; Grupo C - 343,93 ±
40,84kg) para as de novilhas que receberam suplementação mineral orgânica e
inorgânica; todavia o grupo sem suplementação mineral apresentou peso vivo
médio significativamente menor que os demais grupos estudados (p<0,05).
Estes resultados
concordam com SÁ FILHO et al. (2005), ao citarem que animais suplementados com
misturas minerais orgânicas e inorgânicas não apresentaram diferença no peso
das vacas ao parto. Diferentemente
o grupo que não recebeu suplementação mineral apresentou uma média de peso
inferior aos demais grupos, corroborando as afirmativas de TOKARNIA et al.
(2000); NICODEMO et al. (2004); ROSSI & WILSON (2006), quando afirmaram que
a suplementação mineral inadequada ou a falta dela implicam na perda acentuada
de peso e da condição corporal antes e após o parto.
As médias de escore de condição corporal (ECC), aos 30
dias pré-parto dos animais do grupo A (3,3 ± 0,4) foram similares àquelas do
grupo B (3,5 ± 0,3) e maiores que as do grupo C (3,2 ± 0,4). Aos 30 dias
pós-parto os animais não suplementados (2,7 ± 0,4) obtiveram o pior desempenho
com médias de ECC significativamente menores (p<0,05) que dos demais grupos
(grupo A = 3,0 ± 0,3; grupo B = 3,0 ± 0,3). As médias de ECC descritas nesse
estudo foram superiores àqueles descritos por SÁ FILHO et al. (2005). SILVA et al. (2000), concluíram que as
vacas no momento da parição apresentavam maiores pesos vivos e ECC, produziam e
desmamavam crias mais pesadas, e a seleção das vacas da raça Nelore, quanto ao
peso pós desmama produziu mais gramas de bezerro por quilograma de vaca.
Os bezerros filhos de vacas que consumiram as misturas
minerais orgânicas (peso ao nascer = 30,68 ± 4,63kg; 30 dias = 52,62 ± 10,92;
60 dias = 76,02 ± 12,09; 210 dias/(desmama) = 173,34 ± 20,26 e ganho de peso
(nascimento à desmama) = 142,66 ± 18,4 kg) e inorgânica (peso ao nascer = 31,57
± 4,50kg; 30 dias = 53,69 ± 7,78; 60 dias 78,87 ± 8,65; 210 dias/(desmama) =
196,03 ± 23,31 e ganho de peso (nascimento à desmama) = 164,45 ± 21,82kg),
apresentaram pesos médios ao nascer semelhantes, todavia obtiveram maiores pesos
que os filhos de vacas não suplementadas (peso ao nascer = 27,87 ± 4,14kg; 30
dias = 46,06 ± 8,46kg; 60 dias = 63,93 ± 12,92; 210 dias/(desmama) = 133,16 ±
30,47kg e ganho de peso (nascimento à desmama) = 105,29 ± 30,11kg). Esta
condição permaneceu até os 60 dias de vida dos bezerros. Todavia, aos 210 dias
de idade, quando da desmama, os bezerros filhos de vacas do grupo B
apresentaram pesos médios significativamente maiores que os bezerros filhos de
vacas do grupo A, e este por sua vez foram maiores que os bezerros filhos de
vacas do grupo C.
O peso dos bezerros ao nascer, aos 60 dias, e à desmama,
e o ganho de peso do nascimento à desmama foram significativamente (p<0,01)
influenciados pelo peso da mãe aos 30 dias pré-parto. Portanto, as vacas
suplementadas com minerais orgânicos e inorgânicos com pesos médios ao parto
iguais a 426,43 ± 27,01 e 433,24 ±
Foi possível constatar que o grupo A apresentou um melhor
desempenho produtivo, pois, conseguiu um maior número de bezerros desmamados aos
210 dias (86,27 %; 44/51), frente ao grupo B (64,71%; 33/51) e ao C (60,78%;
31/51). Esse fato provavelmente pode se atribuir ao fornecimento, para as vacas
do grupo A, de uma mistura mineral orgânica específica para fase reprodutiva no
período chuvoso na fase pré-concepção. O desempenho obtido pelo grupo A
corrobora as observações de BARUSELLI, (1999; 2003), ao afirmar que a
mineralização orgânica aumentaria a produtividade dos animais devido a maior
bioatividade destes minerais quelatados, e o melhor desempenho reprodutivo.
CONCLUSÕES
Verificou-se um claro
efeito do peso da vaca ao parto sobre o peso do bezerro ao nascer, aos 30, 60 e
210 dias e no ganho de peso médio do nascimento à desmama, onde o lote de vacas
mais pesadas no momento do parto, desmamou bezerros mais pesados.
AGRADECIMENTOS
Tortuga Cia Zootécnia Agrária, Agropecuária
Pancieri, Intervet Schering-Plough, Universidade Federal Rural da Amazônia e Nutricell
pelo suporte financeiro e apoio dado a esta pesquisa.
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