CORTISOL
E SUA RELAÇÃO COM A REGULAÇÃO ENDÓCRINA NO PERÍODO DE TRANSIÇÃO EM VACAS
LEITEIRAS SOB CONDIÇÕES DO TRÓPICO COLOMBIANO
Rómulo Campos1, Erika Andrea Hernández2,
Leonidas Giraldo3, Félix González4
1 Professor Associado,
Universidade Nacional da Colômbia, campus Palmira.
E-mail: rcamposg@unal.edu.co
(autor correspondente)
2Acadêmica, Laboratório de
Reprodução e Metabolismo Animal, Universidade Nacional da Colômbia, Campus
Palmira
3 Professor Assistente,
Departamento de Ciência Animal, Universidade Nacional da Colômbia, campus
Palmira
4 Professor Associado, Faculdade
de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre
PALAVRAS-CHAVE: Bovinos, cortisol hormônios tireoidianos,
insulina, período de transição, progesterona.
ABSTRACT
CORTISOL AND ITS RELATIONSHIP WITH ENDOCRINE
REGULATION OF DAIRY COWS DURING THE TRANSITION PERIOD IN SOUTH-WEST COLOMBIA
This study investigates
the effect of cortisol levels on immune system homeostasis during the
peripartum period. A total of 344 multiparous cows of four different breeds
were assessed in Colombia. Venous blood samples were collected after morning
milking by coccygeal venipuncture into vacutainer tubes, which was carried out
30 days before calving until 75 days postpartum. A solid-phase radioimmunoassay
(RIA) was used to determine levels of T3, T4, cortisol, progesterone, and
insulin. Results revealed that hormone levels were within the normal range. A
significant variation (p<0,01) in cortisol levels was observed between Bos indicus and Bos taurus cattle breeds. However, they did not vary during
different collection periods, so our hypothesis that cortisol significantly
affects behavioral homeostasis was not confirmed. We conclude that the
physiology of cows in the postpartum period suffers profound endogenous
regulation under different management systems; this occurs even under stress
conditions in order to achieve homeostasis, regardless of cortisol levels.
KEYWORDS: Cattle, cortisol, insulin, progesterone, thyroid,
transition period.
INTRODUÇÃO
O metabolismo no pós-parto é um
intricado processo de ajuste metabólico no qual participam diversos hormônios (Renaville et al., 2002). De forma
integral, no período de transição ocorrem as maiores mudanças sobre a
homeostasia, muitas com origem no desequilíbrio hormonal que ocorrem ao final
da gestação para dar início à fase de excreção de metabolitos inerentes à
produção leiteira.
As mudanças negativas que a perda
de homeostasia envolve são traduzidas em ineficiência biológica para a produção
de leite e para a reprodução (Spicer
et al., 2001). Alguns fatores de regulação e adaptação dos bovinos em relação a
seu tamanho corporal, nutrição e seleção genética são desconhecidos (Aeberhard et al., 2001). O período
fisiológico mais crítico das fêmeas bovinas é o parto (Rajala-Schultz et al., 2001). Diferentes estudos mostram que
as maiores descompensações metabólicas acontecem durante esta fase (Ingvartsen et al., 2003; Lago et al., 2004). A homeostasia é um
complexo sistema de ajuste no qual os hormônios exibem um elevado potencial
regulatório. Pelo menos 50 hormônios diferentes fazem parte do complexo
regulatório do pós-parto (Campos
et al., 2005), entre os quais se encontram a insulina, T3, T4, cortisol e
progesterona.
O principal objetivo do presente
trabalho foi a valoração das concentrações dos hormônios citados durante o
peri-parto de vacas com aptidão leiteira, pertencentes a quatro grupos raciais
diferentes localizados sob condições ecológicas do trópico baixo.
MATERIAL
E MÉTODOS
Foram selecionados quatro grupos
raciais de rebanhos com aptidão leiteira localizados em condições tropicais do
Sudoeste da Colômbia. Os grupos raciais estudados foram: Hartón del Valle (raça
nativa colombiana), Holandês, Girolando e Brahman. A zona agroecológica correspondeu
a bosque seco montano baixo na classificação de Holdrigde, com temperaturas
entre 24 a 31°C, umidade relativa entre 85 a 95%, nos eixos compreendidos entre
32-33° Latitude Norte e 71-74° Longitude Oeste (Espinal, 1990). De cada raça foram selecionadas 8 fêmeas em
final da gestação para iniciar a amostragem. As amostras foram coletadas 30
dias antes do parto até 75 dias do pós-parto. No período do pré-parto
coletaram-se duas amostras com intervalo de 15 dias. Depois no parto e durante
os 4 primeiros dias do pós-parto as amostragens foram diárias, e em seguida com
intervalo de 6 dias. No total foram realizadas 14 amostragens em um intervalo
de 90 dias. As coletas de sangue foram por venipunção coccígea mediante o
sistema vacutainer sem anticoagulante. Posteriormente as amostras foram
transportadas refrigeradas ao laboratório, onde foram centrifugadas (2.500 rpm
por 15 min), para a obtenção de soro. As frações de soro identificadas por
raça, grupo e animal foram armazenadas a -20°C até o momento das análises.
Foram determinados mediante radioimunoanálise de fase sólida os seguintes
hormônios: T3, T4, insulina, cortisol e progesterona. Os resultados foram
salvos em uma base de dados e analisados estatisticamente através de provas de
correlação de Pearson e análise de variância mediante o procedimento GLM do
programa estatístico SAS (Cary,NC).
O modelo proposto procurou provar a hipótese de diferente
comportamento
dos valores dos hormônios em relação à
raça e ao período em relação ao parto.
Adicionalmente foi realizada estatística descritiva e provas de
comparação de
médias (prova de Tukey) entre os grupos raciais e os dias de
coleta.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O cortisol tem sido considerado
como bom indicador de estresse, mas não é o indicador ideal. Uma das ações
fisiológicas do cortisol é seu potente efeito gliconeogênico, que parece ser
seu principal papel no peri-parto (Beerda
et al, 2004). No presente trabalho foi encontrada uma concentração média de
cortisol sérico de 46,7 nmol/L, para o conjunto de períodos analisados. Entretanto, não houve diferença significativa entre os períodos. Houve variação significativa (p< 0,01) nos
valores de cortisol entre os 4 grupos raciais estudados, sendo maior o valor
para o grupo Brahman leiteiro, provavelmente devido ao maior estresse que
apresentaram estes animais no momento da amostragem. Este achado evidencia que
apesar de o parto ser um fator crítico para os animais, todos respondem de
forma similar e que o cortisol reduz progressivamente seu valor na medida em
que o pós-parto avança.
A T3 apresentou diferença entre os
grupos raciais, correspondendo os maiores valores aos grupos Bos taurus (Hartón del Valle e
Holandês), com valores acima de 2,5 nmol/L. O valor médio de T3 encontrado
(2,16 nmol/L) é menor que o relatado por Reist
et al. (2003) sendo os menores valores obtidos no período do pós-parto inicial
(2ª e 3ª semana).
A T4 não apresentou diferencia
significativa entre grupos raciais nem entre períodos. A concentração média de
T4 foi de 53,7 nmol/L, similar a outros valores relatados na literatura (Campos et al., 2005). A análise de
correlação entre T3 e T4, mostrou coeficiente positivo e significativo (r=0,43;
p<0,01)
A insulina não mostrou variação
entre raças nem entre períodos. Existem várias hipóteses desta situação. Os
bovinos selecionados não apresentaram elevadas produções leiteiras (entre 8 a
15 L/dia) e o escore de condição corporal dos animais no início do período foi
de 3,0 (escala 1-5), o que permite um melhor ajuste homeostático que em
condições superiores a escores de 3,5 (Busato
et al., 2002). Estas duas situações não geram altas demandas energéticas para
estes animais, refletindo secreção de insulina sem alterações dramáticas que
possam ser evidenciadas. O valor médio de insulina foi de 18,5 µm/L.
A progesterona mostrou ampla
oscilação durante o período de estudo. Os maiores valores ocorreram no período
anterior ao parto, quando chegaram a valores próximos de 11 nmol/L. Após o
parto o valores diminuíram, ficando em torno de 5 nmol/L nos primeiros 3 dias e
desaparecendo posteriormente até serem evidenciados de novo aos 60 dias
pós-parto. O valor médio de progesterona durante os períodos foi de 6,78
nmol/L, mostrando variação entre os grupos raciais, onde as raças de grupos Bos indicus (Girolando e Brahman)
exibiram maiores valores em conjunto.
Os processos de adaptação
fisiológica ocasionam mudanças no metabolismo, de origem nutricional e
hormonal, que podem ocasionar distúrbios metabólicos e reprodutivos (Lago et al., 2004). O período de
transição parece não ser tão severo em animais de produção leiteira média a
baixa, ao contrário do que ocorre em animais de alta produção (Aeberhard et al., 2001).
CONCLUSÃO
Bovinos localizados no trópico
baixo apresentando produção leiteira limitada, em sistemas de produção de
pastagem, não exibem marcadas mudanças endócrinas no período de transição.
Acredita-se que isto ocorra pela adequada adaptação fisiológica às condições
climáticas e nutricionais.
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