INFLUÊNCIA
DA MASTITE SUBCLÍNICA SOBRE AS CARACTERÍSTICAS FÍSICO-QUÍMICA DO LEITE DE
OVELHAS SANTA INÊS EM DIFERENTES fases DA LACTAÇÃO: ESTUDO PRELIMINAR
Eduardo Levi de Sousa Guaraná1, Rogério Adriano dos Santos1, Natália da Silva e Silva2 Anne Grace S. Siqueira Campos1, José Augusto Bastos Afonso3, Carla Lopes de Mendonça3
1. Médico Veterinário, Aluno do Programa de Pós-Graduação
em Ciência Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
2. Médica Veterinária, Aluna do Programa Saúde Animal na
Amazônia (UFPA)
3. Médico Veterinário, doutor, Clínica de Bovinos, Campus
Garanhuns, UFRPE, 55292-901, Garanhuns, C.P.152, Pernambuco, Brasil – E-mail:cbg@prppg.ufrpe.br
(autor correspondente)
PALAVRAS-CHAVE: California Mastitis Test, componentes do leite, infecção intra-mamária.
ABSTRACT
INFLUENCE OF SUBCLINICAL MASTITIS ON THE
PHYSICAL-CHEMICAL CHARACTERISTICS OF MILK FROM SANTA INÊS ewes IN DIFFERENT
LACTATION STAGES: A PRELIMINARY STUDY
This work assesses how subclinical
mastitis can influence physical-chemical characteristics of milk from 18 Santa
Inês ewes in different lactation stages. The animals were divided into two
groups according to the condition of the glands: healthy glands (G1) and glands
with subclinical mastitis (G2). The number of mammary glands was stable,
although slightly higher after parturition. Research findings revealed no
significant differences between levels of protein and electrical milk
conductivity (P <0,05) in both cow groups, although the latter variable's
values were higher for the second group. As regards healthy glands, percentage
of lactose decreased in the last lactation stage. In the same period, the
percentage of milk fat reduced significantly, which correlated with density.
Evidence from the second group included lower dornic acidity levels, higher
alkaline pH values, and higher chloride concentrations. Therefore, results show
that subclinical mastitis caused little variation on the physical-chemical
qualities of milk, which was probably due to the low pathogenicity of coagulase-negative
staphylococci isolated from the milk samples.
KEYWORDS: California Mastitis Test, intramammary
infection, milk components.
INTRODUÇÃO
A mastite ovina pode se manifestar
nas formas clínica ou subclínica, sendo esta última de difícil diagnóstico,
pela não apresentação de sintomas e sinais. As
alterações provocadas no tecido mamário refletem não somente na produção, como
também nas características físico-químicas do leite, onde os principais
componentes podem estar alterados, comprometendo a qualidade nutricional deste
para a alimentação dos borregos (SANTOS et al., 2007). O California Mastitis Test (CMT) é
considerado um teste útil como triagem para identificação de ovelhas com
mastite subclínica, sendo empregado como preditor de infecções mastíticas,
apresentando correlação positiva com a contagem de células somáticas e o
isolamento bacteriano (McDOUGALL et al., 2001). Este estudo tem por objetivo avaliar a influência da mastite subclínica sobre
as principais características físico-químicas do leite de ovelhas da raça Santa
Inês em diferentes fases da lactação.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram
acompanhadas 18 ovelhas primíparas e multíparas da
raça Santa Inês durante a
lactação: Antes do parto (aproximadamente 10 dias); 15
dias pós-parto (dpp); 30
dpp; 60 dpp e 90 dpp. Os animais eram criados em sistema semi-intensivo
e
submetidos ao mesmo manejo higiênico-sanitário e
nutricional. As ovelhas foram
submetidas ao exame clínico da glândula mamária
(DIFFAY et al., 2004). Para a
triagem dos animais foi empregado o CMT. Os resultados foram
classificados em
dois grupos: CMT negativo (negativo e traços) e CMT positivo
(1+, 2+ e 3+) em
cada uma das fases de observação (SCHALM et al., 1971).
Foram acompanhadas ao
longo da lactação 36 metades mamárias e as
respectivas amostras de leite
separadas em dois grupos: G1 (glândulas sadias) e G2 (mastite
subclínica). Não
era empregado manejo de ordenha por se tratar de raça com
aptidão para corte. A
colheita foi realizada pela manhã, com separação
prévia dos borregos 12h antes
do exame da glândula e colheita de 80 mL de leite utilizado para
análise
físico-química. Após prévia
higienização do úbere e antissepsia do
óstio do
teto com álcool a 700GL, colheu-se 5mL para análise bacteriológica
(QUINN et al., 1994). Para avaliação da densidade a 15ºC e acidez Dornic (ºD) empregou-se
as recomendações do Laboratório Nacional de Referência Animal (LANARA, 1981). Para
a determinação da gordura (%), proteína (%), lactose (%), potencial de
hidrogênio (pH) e condutibilidade elétrica (mS/cm) utilizou-se analisador
automatizado de leite (Ekomilk Total), calibrado para a espécie ovina. O teor
de cloretos (mEq/L) foi determinado empregando kit comercial (Labtest). A análise físico-química foi realizada no 15o,
30o, 60o e 90o dias de
lactação. Os resultados foram analisados estatisticamente empregando-se análise de variância (CURI, 1997). Utilizou-se
o programa de computador Statwin (SIGMASTAT).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Das
18 ovelhas acompanhadas, verificou-se na fase final da lactação (90 dpp) que
uma estava sem leite (seca) e outra veio a óbito; uma terceira ovelha apresentou
mastite clínica na mesma metade mamária nos momentos 15 dpp, tendo sido isolado
Streptococcus spp e aos 60 e 90 dpp, Staphylococcus aureus, apesar da terapia
medicamentosa. Das amostras provenientes das ovelhas com mastite subclínica
foram isolados, quase em sua totalidade, Staphylococcus
coagulase negativo (S-CN) (79,2%), conforme também relatado por Oliveira
(2006). Após avaliação clínica das glândulas durante a lactação foi observado
que o número de metades mamárias com mastite subclínica se manteve estável (15o
dpp – n=12; 30o dpp – n=9; 60o dpp – n=9;
90o dpp – n=10), tendo valores pouco superiores no primeiro
momento.
Ao compararmos os
resultados, observou-se elevação significativa (P<0,05) no percentual de
gordura no grupo com mastite subclínica, quando comparado ao sadio, nos
momentos 15 dpp (7,39%) e 30 dpp (10,13%). No grupo sadio foi verificado efeito
de momento, sendo verificado aumento (P<0,05) nos valores desta variável no
final da lactação (90dias). Estes resultados provavelmente estejam relacionados
à diminuição do volume de leite verificado em algumas glândulas com mastite
subclínica, assim como no final da lactação (KITCHEN, 1981).
Os valores da proteína
não apresentaram diferença estatística entre grupos e na comparação entre os momentos
de cada grupo. ASSENAT (1991) relata valores de proteína superiores aos
encontrados neste estudo, observando um aumento na concentração da proteína
durante a lactação, fato este não observado.
No componente
lactose, observou-se não haver diferença entre os grupos (P>0,05), apesar de
ter sido observado no último momento (90 dpp) diminuição desta variável
(5,88%), quando comparada ao primeiro momento (15 dpp) (6,41%) no G1. Os
valores obtidos para a lactose, de maneira geral, foram superiores aos
relatados por ASSENAT (1991) e OLIVEIRA (2006), provavelmente em decorrência das
diferentes metodologias empregadas.
Ao compararmos os
valores da densidade, notou-se apenas aos 30 dpp diferença entre os grupos
(P<0,05), estando os valores do G2 inferiores (1.032,53) aos do G1 (1.037,13),
este fato pode estar relacionado com o percentual de gordura desta mesma fase,
que apresentou seu valor mais elevado, tendo em vista ser a densidade
inversamente proporcional ao percentual de gordura (BRITO et al., 2006). Foi
observado efeito de momento (P<0,05) nos valores da densidade no leite do G1,
no qual ocorreu um decréscimo significativo no final da lactação (90 dpp), semelhantes
aos relatados por ASSENAT (1991).
Ao analisar a acidez
Dornic, verificou-se somente haver diferença estatística (P<0,05) entre
ambos os grupos aos 60 dpp (G1- 24,740D; G2- 21,190D),
apesar de em todas as fases da lactação os valores desta variável permanecer
inferior nas amostras de leite do G2. Os valores da acidez Dornic de G1 e G2 ao
longo dos momentos foram semelhantes aos descritos por BRITO et al. (2006).
Ao analisar os
valores do pH do leite, verificou-se haver diferença estatística (P<0,05)
entre os grupos em todas as fases estudadas, exceto aos 60 dpp, apesar dos valores
desta variável permanecerem sempre superiores durante a lactação no G2,
atingindo inclusive, na fase final aos 90 dpp valores médios de 7,26. Esta
elevação do pH no G2 poderia ser justificado pela passagem de proteínas
plasmáticas e eletrólitos favorecendo à alcalinidade do leite (SANTOS et al.,
2007).
Ao compararmos os
resultados do teor de cloretos entre os grupos verifica-se haver diferença
estatística (P<0,05) nos primeiros momentos de avaliação (até 30 dpp),
apesar dos valores médios permanecerem em todas as fases superiores no G2. Foi
observado efeito de momento no G1, no qual foi verificado aumento significativo
desta variável aos 90 dpp (114,94mEq/L). Conforme relatado por AFONSO & VIANNI (1995) uma das primeiras
modificações é a passagem de eletrólitos (sódio e cloreto), justificando a
elevação de cloretos na mastite.
A condutibilidade
elétrica do leite permitiu-nos constatar não haver diferença (P>0,05) entre
os grupos ao longo da lactação e entre os momentos de cada um dos grupos
analisados; no entanto em todos os momentos os valores desta variável no G2 foram
superiores aos observados no G1. Informações sobre eletrocondutividade do leite
de ovelhas são escassas, no entanto os valores encontrados neste estudo são
inferiores aos relatados por Fernandes (2002), trabalhando com cabras Saanen.
Na espécie bovina esta variável vem sendo considerada um bom indicador da
mastite subclínica (ZAFALON et al., 2005).
CONCLUSÃO
A mastite subclínica
diagnosticada durante as fases da lactação estudadas comprometeu de forma
branda a qualidade físico-química do leite, provavelmente em decorrência da
baixa patogenicidade do S-CN isolado na quase totalidade das amostras.
AGRADECIMENTOS
Ao Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico Tecnológico (MCT/CNPq – Edital Universal-15/2007),
pelo apoio financeiro.
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