PREVALÊNCIA DE ANTICORPOS ANTI-Toxoplasma gondii E FATORES DE RISCO
ASSOCIADOS À INFECÇÃO
Vívian
Magalhães Brandão1, Francisco Borges da
Costa1, Iran Alves da Silva1, Daniela Franco da Silva2,
Isabel Cristina L. Dias2, Júlia Gleicy Soares3, Solange M. Gennari4,
Rudson Almeida Oliveira5, Maria Inez Santos Silva6
1.
Mestre
2.
Acadêmica
do Curso de Medicina Veterinária, Universidade Estadual do Maranhão
3.
Médica
Veterinária , mestranda do Curso de Ciências Veterinárias, Universidade
Estadual do Maranhão
4.
Médica
Veterinária, doutora, professora do Curso
de Medicina Veterinária, Universidade de São Paulo
5.
Médico
Veterinário, doutor, professor do Curso
de Medicina Veterinária,
Universidade Estadual do Maranhão
6.
Médica
Veterinária, doutora, professora do Curso de Medicina Veterinária, Universidade
Estadual do Maranhão
E-mail:
vetvivian@hotmail.com (autor correspondente)
PALAVRAS-CHAVE: Frequência, pequenos ruminantes,
toxoplasmose.
ABSTRACT
PREVALENCE OF ANTI-TOXOPLASMA GONDII ANTIBODIES AND RISK FACTORS ASSOCIATED TO THE
INFECTION IN GOATS RAISED ON THE
Toxoplasmosis
is a disease transmitted to animals by contaminated food. It affects several
species, but mainly small ruminants, causing miscarriages and congenital
disorders. This study assesses prevalence and risk factors of anti-T. gondii infection in goat herds on the
KEYWORDS: Frequency, small ruminants, toxoplasmosis.
INTRODUÇÃO
Em
1979, MUNDAY & MASON, foram os primeiros a descreverem a toxoplasmose como
importante causa de prejuízos reprodutivos
É
fato de grande preocupação a transmissão da toxoplasmose caprina através do
leite “in natura” e dos seus
derivados, bem como da carne e subprodutos, quando consumidos quer pelos seres
humanos quer por outras espécies (DUBEY, 1980). O consumo de leite de cabra mal
esterilizado tem interferido na saúde pública, contribuindo para que a
toxoplasmose se torne uma das mais difundidas zoonoses, considerando-se que as
cabras portadoras de infecção aguda podem eliminar taquizoítos pelo leite
(VITOR et al., 1991). Nesse
sentido, o presente trabalho objetivou verificar a frequência de rebanhos
caprinos soropositivos ao T. gondii na
ilha de São Luís-MA.
MATERIAL
E MÉTODOS
Caracterização
da área, amostragem e colheita do material
Para
calcular o tamanho da amostra utilizou-se prevalência esperada de 25,8% (PIRES,
2009), de acordo com precisão
absoluta desejada de 0,10 e nível de confiança de 99% (CANNON E ROE, 1982). Foram colhidas 197 amostras sanguíneas de
14 propriedades da ilha de São Luís, através da
venopunção da jugular. As amostras foram centrifugadas e os soros armazenados à
- 20oC até a realização dos testes sorológicos. A amostragem
utilizada foi por conveniência definida como: 30,0 % de cada faixa etária;
compreendendo animais com idade igual ou inferior a 12 meses e acima de 12,
dentre machos e fêmeas e grupo raciais distintos. Utilizou-se
questionário epidemiológico para obter informações sobre características
individuais dos animais e relativas às propriedades.
Teste sorológico
Os soros
foram analisados pela RIFI para detecção de anticorpos contra o T. gondii, de acordo com CAMARGO (1974),
testados inicialmente a uma diluição de 1:64, em lâminas previamente
sensibilizadas (IMUNODOT®), incubadas por 30 min a 37oC,
e lavadas com PBS (pH 7,2). Utilizou-se
conjugado antigoat IgG (Sigma F7367) diluídos em 1:2000, em
solução de PBS 7,2 contendo azul de Evans 0,01%. As reações foram consideradas
positivas quando os taquizoítos apresentavam fluorescência periférica total em
50% dos taquizoítos no campo observado, na diluição ≥
1:64 (FIGLIUOLO et al., 2004). As amostras de soro reagentes foram
tituladas na base quatro até a obtenção da diluição 1:16.834 positiva na RIFI.
Análise estatística
As
variáveis foram analisadas pelo teste Qui-quadrado (Ҳ2), quando não possível, pelo teste Exato de Fisher,
utilizando-se o Programa Epi Info (CDC, versão 3.4.3). Associações entre
variáveis e freqüência de soropositivos foram estimadas a partir do nível de
significância de 5% (p < 0,05) e pela Odds Ratio (OR), com intervalo
de confiança de 95%.
RESULTADOS
E DISCUSSÃO
Das
197 amostras séricas colhidas de caprinos da ilha de São Luís - MA, testadas
pela reação de imunofluorescência indireta (RIFI) para Toxoplasma gondii, estimou-se prevalência de 35,53% (70/197) [95%
IC=28,90%-42,60%]. Os resultados obtidos para anticorpos anti - T. gondii (35,5%) foram superiores aos
estimados por JITTAPALAPONG et al. (2005) na Tailândia (27,9%), FIGLIUOLO et
al. (2004)
Os títulos variaram de
Para variável sexo não
foi verificada associação significativa (p > 0,05). Porém em relação ao
grupo racial e faixa etária houve associação significativa (p < 0,05).
Animais mestiços apresentaram freqüência de 41,12%, verificando-se 1,99 mais
chances de apresentarem a infecção por T.
gondii que animais puros. SILVA et al. (2003), semelhante a este estudo,
verificaram maiores taxas de infecção em animais mestiços, com 51,92% caprinos
soropositivos, apresentando associação significativa, podendo este
comportamento ser devido ao menor cuidado no manejo higiênico-sanitário das
criações de animais mestiços.
Em relação à faixa
etária, verificou-se frequência de 41,32% animais soropositivos com faixa
etária acima de 12 meses, com risco de 1,97 mais chances de apresentarem a
infecção que animais com faixa etária ≤ 12 meses, podendo estar associado ao
fato de maior período de contato de animais adultos com oocistos de T. gondii no ambiente. CAVALCANTE et al.
(2008) verificaram que caprinos com
mais de 37 meses de idade, o risco de estarem infectados pelo T. gondii foi 2,01 vezes maior que em animais mais jovens.
Para as variáveis
fontes de água e tipo de bebedouro, verificou-se que nas propriedades em que a
água era tratada pela fonte de abastecimento da cidade (CAEMA), e bebedouro era
do tipo balde, provavelmente favoreceram a uma maior freqüência de amostras
reagentes 45,57% (OR=2,06) e 41,30% (OR=4,22) respectivamente. O acesso de
felinos a reservatórios de água deve ser evitado, evidenciando-se a
possibilidade de felinos defecarem próximos a reservatórios de água, onde não
existe proteção (DUBEY, 2004). Os oocistos podem ser carreados a longas
distâncias pelo vento ou pela água como também através da contaminação por
vetores mecânicos.
O tipo de exploração de
maior frequência registrado no estudo foi o tipo leiteira com 47,06%,
apresentando um risco 9,48 maior de apresentar a infecção quando comparado à
exploração mista, concordando com vários estudos que afirmam que o tipo de
exploração leiteira pode estar associado à infecção pelo fato da exigência de
animais puros e estes serem mais suscetíveis que os mestiços, em decorrência do
manejo intensivo que favorece a maior concentração de animais (JITTAPALAPONG et
al., 2005), sendo a do tipo corte menos suscetível pelo fato do manejo ser mais
extensivo, o que diminui chance de infecção.
Verificou-se que houve
associação significativa (p<0,05) com a presença de gatos nas propriedades,
cuja freqüência foi de 44,85%, assim, o risco de animais estarem infectados pelo T. gondii foi 4,70 vezes maior que em animais procedentes de
propriedades onde não havia a presença de gatos, corroborando com
CAVALCANTE et al. (2008) que observaram associação entre a soroprevalência de
anticorpos anti - T. gondii e a
presença de gatos em propriedades, indicando que o contato com essa espécies é
importante no que diz respeito a epidemiologia da doença. LIMA et al. (2008) que
apesar de ter sido observada a presença de gatos em 11 (78,6%) das 14
propriedades visitadas e em 64,3% destas foi relatado o contato dos gatos com
as pastagens e com os caprinos, não verificaram associação significativa.
Verificou-se maior
freqüência de amostras reagentes em propriedades com histórico de abortamento,
41,30% (OR=4,22). A associação significativa (p<0,05) verificada neste
estudo corrobora com resultados obtidos por MASALA et al. (2003), que em
estudos utilizando 362 amostras de fetos caprinos abortados, estimaram 23
(6,4%) amostras positivas para T. gondii
através da PCR, indicando relação significativa do T. gondii com o abortamento em caprinos.
Outro fator associado
com a infecção foi em relação ao destino do material abortado, cuja frequência
de soropositivos foi maior em propriedades que jogam fora o material em
terrenos baldios na própria propriedade ou em áreas próximas, com 53,44% de
amostras reagentes, apresentando um risco de 2,23 mais chances de animais
apresentarem a infecção que em propriedades onde enterram o referido material.
Não destinando corretamente os fetos e tecidos fetais abortados, estes ficam
expostos, facilitando assim que outros animais entrem em contato com material
possivelmente contaminado por T. gondii.
CONCLUSÕES
A partir dos resultados
obtidos pôde-se concluir que a
prevalência de anticorpos anti - T. gondii foi considerada alta em
rebanhos caprinos da ilha de São Luís-MA. As variáveis faixa etária e grupo
racial foram associadas à infecção. Assim como, tipo de piso do aprisco, fonte
de água, tipo de bebedouro, tipo de exploração, manejo sanitário e distúrbios
reprodutivos. Portanto faz-se necessário um planejamento de sanidade
animal na cadeia de produção dessas espécies, e da conscientização dos
produtores para as formas de controle desta enfermidade.
REFERÊNCIAS
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