ANTICORPOS CONTRA O VÍRUS DA MAEDI-VISNA
Priscila Martinez Martinez1,
Joselito Nunes Costa2, Thiago Sampaio de Souza3,
Antônio Vicente Magnavita Anunciação4,
Raymundo Rizaldo Pinheiro5
1. Médica Veterinária da CODEVASF 6ªSR, Ms.
CEP: 48 900-000. Juazeiro, Bahia, Brasil. E-mail:
martinezpriscila@ig.com.br (autor correspondente)
2. Professor Doutor do Departamento de Patologia e
Clínicas, EMV/UFBA.
3. Médico Veterinário, mestrando
4. Professor Ms. do Departamento de Medicina
Veterinária Preventiva, EMV/UFBA.
5. Pesquisador Doutor da Embrapa Caprinos e Ovinos.
PALAVRAS-CHAVES: IDGA, Lentivirus, pequenos ruminantes, prevalência.
ABSTRACT
ANTIBODIES AGAINST MAEDI-VISNA VIRUS
IN SHEEP FLOCKS IN
To detect the presence
of Maedi-Visna virus in sheep in the Juazeiro microregion,
KEYWORDS: AGID, Lentivirus,
prevalence, small ruminants.
INTRODUÇÃO
A maedi-visna (MV) é uma doença viral, caracterizada por um longo período
de incubação, que provoca principalmente em ovinos adultos, uma infecção
multissistêmica, muitas vezes assintomática, de evolução lenta, tendo por
resultado uma doença degenerativa crônica (BRODIE et al., 1998). O vírus da
Maedi-Visna (MVV) pertence à família Retroviridae,
subfamília Orthoretrovirinae, gênero Lentivirus, grupo Lentivírus de Pequenos
Ruminantes (LVPR), ao qual também faz parte o vírus da artrite-encefalite caprina
(ICTV, 2008). Esse lentivírus ovino
causa com maior frequência sintomas respiratórios, caracterizados por dispnéia,
intolerância ao exercício, emagrecimento crônico e quadro secundário de
pneumonia (MOOJEN, 2001; QUINN et al., 2005).
A MV encontra-se difundida nos rebanhos ovinos de diferentes países e tem sido motivo de restrições no comércio internacional dessa espécie (MOOJEN, 2001). Diversos estudos sorológicos das lentiviroses de pequenos ruminantes no Brasil têm demonstrado a disseminação dos LVPR em vários estados, sendo que um dos fatores que tem contribuído para isso é a prática de melhoramento genético utilizando-se raças de outros países (ALMEIDA et al., 2001; ALMEIDA et al., 2003; PINHEIRO et al., 2004).
Baseando-se nas evidências de resultados sorológicos positivos para a MV em estados nordestinos, na escassez de informações sobre esta enfermidade na Bahia e na importância sócio-econômica da ovinocultura no Vale do São Francisco, objetivou-se pesquisar a prevalência sorológica desta lentivirose no rebanho ovino da Microrregião de Juazeiro – Bahia.
MATERIAL E MÉTODOS
Este levantamento epidemiológico foi realizado na Microrregião de Juazeiro, que é subdividida em oito municípios: Juazeiro, Pilão Arcado, Campo Alegre de Lourdes, Remanso, Sento Sé, Casa Nova, Sobradinho e Curaçá.
O estado da Bahia possui o segundo maior rebanho de ovinos do país, com 3.165.757 animais, representando 34% do rebanho nordestino e 20% do rebanho nacional. As maiores concentrações de ovinos nesse estado são observadas nos municípios de Remanso e Juazeiro, pertencentes à Região do Baixo Médio São Francisco (Microrregião de Juazeiro), que detém 776.095 ovinos, o equivalente a aproximadamente 25% do rebanho baiano e 5% do rebanho nacional (IBGE, 2008).
O número mínimo de amostras (n) foi calculado, considerando uma prevalência esperada de 10%,
baseada na média de prevalências obtidas em outros estados brasileiros, com
erro amostral de 20% e grau de confiança de 95% (z = 1,96). De acordo com
o cálculo (ASTUDILLO, 1979), o número mínimo de amostras a serem colhidas teria
que ser de 863. Estas foram distribuídas entre os oito municípios que compõem a
Microrregião de Juazeiro proporcionalmente a participação de cada um deles no
rebanho total da microrregião. Pelo numero de amostras a serem colhidas por
propriedade (15), determinou-se o numero de propriedades a serem visitadas por
município.
Foram visitadas 58 propriedades. O total de amostras
ultrapassou o mínimo, pois em virtude da dificuldade de acesso às comunidades
rurais e da possibilidade de hemólise das amostras, optou-se por colher algumas
amostras a mais, totalizando então 919.
Após
anti-sepsia adequada, as amostras de sangue foram colhidas através da
venopunção da jugular, usando tubos a vácuo com gel ativador de coágulo. Em
seguida, após a formação de coágulo, os tubos foram centrifugados a 1600g por
10 minutos para a obtenção do soro, que foi acondicionado em tubos plásticos tipo
eppendorf ®
e
estocados a -20ºC até a realização dos testes sorológicos. Esses testes foram
realizados no Laboratório de Patologia Clínica do Centro Nacional de Pesquisa
de Caprinos e Ovinos da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa
Caprinos e Ovinos), em Sobral – Ceará.
A
sorologia para infecção pelo lentivírus ovino foi realizada pelo método de imunodifusão
em gel de agarose (IDGA), que se baseia na detecção de linhas de precipitação,
resultantes da ligação antígeno-anticorpo, segundo GOUVEIA et al. (2000),
utilizando-se antígeno nacional produzido no Laboratório de Virologia da
Embrapa Caprinos e Ovinos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram testados 919 animais pertencentes
a 58 propriedades situadas em oito municípios da Microrregião de Juazeiro,
utilizando-se a técnica de IDGA (GOUVEIA et al., 2000), sendo observados 0,34%
(4/919) de animais positivos, diferente dos levantamentos realizados por
PINHEIRO et al. (1996), YORINORI
(2001), MELO et al. (2003), GOUVEIA et al. (2003) e OLIVEIRA et al. (2006) no
Ceará, Minas Gerais, Sergipe, Paraíba e Bahia respectivamente, onde não se
observou animal positivo.
Nos levantamentos realizados no Brasil, nota-se
de forma geral baixa prevalência (PINHEIRO et al., 1996; YORINORI, 2001;
OLIVEIRA et al., 2006; FERNANDES et al., 2003; GOUVEIA et al., 2003; MELO et
al., 2003; COSTA et al., 2007), porém importante uma vez que se trata de uma
doença com repercussão internacional e que pode trazer consequências econômicas
para a ovinocultura nacional. Percebe-se também que em alguns estados
nordestinos, como Ceará e Rio Grande do Norte, foram detectadas elevadas
prevalências (ALMEIDA et al., 2002; ALMEIDA et al., 2003; SILVA, 2003), o que
coloca em risco os rebanhos nordestinos que são na sua maioria compostos por
ovinos nativos, deslanados e sem raça definida (SRD).
Dos quatro animais soropositivos neste levantamento, nenhum apresentou alterações clínicas. Entretanto, sabe-se que a MV se caracteriza por longo período de incubação, curso clínico demorado e lentamente progressivo, apresentando-se na maioria das vezes na forma subclínica (BRODIE, 1998; MOOJEN, 2001).
CONCLUSÃO
A presença da sorologia positiva para o vírus da MV na região estudada aponta a importância da realização de um levantamento epidemiológico mais abrangente no estado, servindo como base para a elaboração de um programa sanitário que evite a entrada de animais portadores do vírus e a disseminação deste para outras regiões.
AGRADECIMENTOS
Aos criadores de ovinos da Microrregião de Juazeiro - BA pela disponibilidade dos animais para que as colheitas pudessem ser realizadas; à Embrapa Caprinos e Ovinos pelo antígeno disponibilizado e pela estrutura laboratorial utilizada para a realização dos exames; à Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado da Bahia (Fapesb) pelo financiamento do projeto; ao Centro de Desenvolvimento da Pecuária (CDP) e à Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e Parnaíba (CODEVASF 6ªSR) pelo apoio técnico às ações realizadas a campo.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, M. G. A. R.; ANUNCIAÇÃO, A. V. M.;
FIGUEIREDO, A. MARTINEZ, T. C. N.; LABORDA, S. S. Dados sorológicos sobre a
presença e distribuição da artrite-encefalite caprina (CAE) no Estado da Bahia,
Brasil. Revista Brasileira de Saúde e
Produção Animal, Salvador, v. 1, n. 3, p. 78-83, 2001.
ALMEIDA, N. C.; APRIGIO, C. J. L.; SILVA, J. B. A.; TEIXEIRA, M. F. S. Ocorrência de maedi/visna vírus em ovinos reprodutores do estado do Ceará. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 2002, Gramado. Anais... 2002, v. 29-CD.
ALMEIDA,
N. C.; TEIXEIRA, M.F. S.; FERREIRA, R. C. S.; CALLADO, A. K. C.; FROTA, M. N. L.;
MELO, A. C. M.; APRIGIO, C. J. L. Detecção de ovinos soropositivos para
Maedi/Visna destinados ao abate na região metropolitana de Fortaleza. Veterinária Notícias, Uberlândia, v. 9, n. 1, p. 59-63, 2003.
ASTUDILLO, V. M. Encuestas por muestro para estudios
epidemiologicos en populaciones animales.
Rio de Janeiro: Organización Panamericana de
BRODIE, S. J.; DE
COSTA, L. S. P.;
LIMA, P. P.; CALLADO, A. K. C.; NASCIMENTO, S. A.; CASTRO, R. S. Lentivírus de
pequenos ruminantes
FERNANDES, M. A.; ARAÚJO, W. P.;
CASTRO, R. S. Prevalência da infecção pelo vírus Maedi-Visna em ovinos da
microrregião da grande São Paulo, Estado de São Paulo. Ciência Veterinária nos Trópicos, Recife, v. 6, n. 1, p. 23-28,
2003.
GOUVEIA, A. M. G.; LIMA, F. A.; SOUSA, G. J. G.; LOBATO, Z. I. P.; SILVA, A. H.; SILVA, M. A. V.; CYPRESTE, B. M. Freqüência sorológica de Maedi-Visna, Língua Azul em ovinos, em propriedades e matadouro da Paraíba. In: CONGRESSO LATINOAMERICANO, 9. CONGRESSO BRASILEIRO, 5, CONGRESSO NORDESTINO DE BUIATRIA, 3. 2003, Salvador. Anais... 2003, p.52.
GOUVEIA, A. M. G.; MELO, L. M.; PIRES,
L. L.; PINHEIRO, R. R. Microimunodifusão em gel de ágar para o diagnóstico
sorológico de infecção por lentivírus de pequenos ruminantes. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 27, 2000, Águas de Lindóia. Anais... 2000, p.33.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Pecuária 2006 - Rebanho ovino. Disponível em:<http://www.ibge.gov.br> Acesso em 22 fev. 2008.
ICTV. International Committee on Taxonomy of Viruses. Disponível em: <http://www.ncbi.nlm.nih.gov/ICTVdb/Ictv/index.htm> Acesso em 22 abr. 2008.
MELO, C. B.;
CASTRO, R. S.; OLIVEIRA, A. A.; FONTES, L. B.; CALLADO, A. K.; NASCIMENTO, S. A.;
MELO, L. E. H.; SILVA, J. S. Estudo preliminar sobre a infecção por lentivírus
de pequenos ruminantes em ovinos e caprinos
MOOJEN, V.
Maedi-visna dos ovinos. In: RIET-CORREA, F.; SCHILD, A. L.; MENDEZ, M. D. C.;
LEMOS, R. A. A. Doenças
de ruminantes e eqüinos. 2.ed. São Paulo: Varela, São Paulo, 2001, p.138-144.
OLIVEIRA, B. F. L.; BERGAMASCHI, K. B.; CRUZ, M. H. C.; SANTOS, D. D.; CRUZ, A. D.; CRUZ, J. F. Prevalência de lentiviroses em rebanhos caprinos e ovinos na região sudoeste da Bahia. In: XII SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA DA UESC, 2006, Ilhéus. Anais... 2006, p. 134-135.
PINHEIRO, R. R.; ALVES, F. S. F.; SANTA ROSA, J.; GOUVEIA, A. M. G. Levantamento sorológico em ovinos para diagnóstico da Maedi-Visna em Sobral - Ceará. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 24, 1996, Goiania. Anais... Goiania: SOGOVE, 1996. P. 161. Resumo.
PINHEIRO, R. R.; GOUVEIA, A. M. G.; ALVES, F. S. F.; ANDRIOLI, A. Perfil de propriedades no estado do Ceará relacionado à presença do lentivírus caprino. Ciência Animal, Fortaleza, v. 14, n. 1, p. 29-37, 2004.
QUINN, P. J.; MARKEY, B. K.; CARTER, M. E.; DONNELLY, W. J.; LEONARD, F. C. Retroviridae. Grupo dos Lentivírus de Pequenos Ruminantes. In:__Microbiologia veterinária e doenças infecciosas. Porto Alegre: Artmed, 2005, p. 346-357.
SILVA, J. B. A. Levantamento sorológico pelo teste de
imunodifusão em gel de agarose (IDGA) da lentivirose ovina em rebanhos do Rio
Grande do Norte, Brasil. 2003.
YORINORI, E. H. Região mineira do nordeste: características
dos sistemas de produção de pequenos ruminantes domésticos e prevalências da
artrite-encefalite caprina (CAE) e maedi-visna (MV) ovina, Minas Gerais.
2001.