SOROPREVALÊNCIA DE MAEDI-VISNA EM OVINOS DA RAÇA
SANTA INÊS NOS MUNICÍPIOS DA GRANDE VITÓRIA – ES
Graziela Barioni1, Lívia Volpe Pereira2,
Marcus Alexandre Vaillant Beltrame3, Pauliana Tesoline2 e
Marcos Vinicius Gumieiro4
1. Médica
Veterinária, doutora, professora do Curso de Medicina Veterinária, Centro
Universitário Vila Velha. CEP 29102-770, Vila Velha, ES, Brasil.
E-mail: gbarioni@uvv.br
(autor correspondente)
2. Acadêmica do
Curso de Medicina Veterinária, Centro Universitário Vila Velha
3. Médico
Veterinário, especialista, professora do Curso de Medicina Veterinária, Centro
Universitário Vila Velha
4. Médico
Veterinário, autônomo no Estado do Espírito Santo
PALAVRAS-CHAVE:
Doença infecciosa, Espírito Santo, lentivirose
ABSTRACT
SEROPREVALENCE OF MAEDA-VISNA IN SANTA INÊS SHEEP IN
GREATER VITÓRIA MUNICIPALITIES, ESPÍRITO SANTO
Maedi-Visna is a persistent, progressive, and
debilitating disease in sheep. It is caused by lentivirus which primarily
results in progressive interstitial pneumonia. This study identifies
Maedi-Visna seropositive Santa Inês sheep that are raised in Greater Vitória
municipalities, Espírito Santo. Serum samples of 150 animals were analyzed and
submitted to agarose gel-immunodiffusion testing. The prevalence of 7,33% can
be justified by the semi-intensive production system which probably allowed the
virus to spread. These findings indicate a need for large-scale studies that assess
the occurrence of small ruminants lentiviruses as well as develop health
measures for disease control and prevention.
KEYWORDS: Espirito Santo, infectious diseases, lentiviruses
INTRODUÇÃO
Vários são as causas de queda na produtividade e de
perdas econômicas na ovinocultura, dentre elas vem se destacando as lentiviroses,
as quais desencadeiam um quadro de perda progressiva de peso e queda da
capacidade produtiva. Dentre as lentiviroses de pequenos ruminantes (LVPR)
destaca-se o vírus Maedi Visna (MVV), muitas vezes subestimado (RIET-CORRÊA,
2001) e Artrite Encefalite Caprina (CAE).
Segundo Quinn
et al. (2005) as LVPR estão intimamente relacionados e causam infecções
persistentes e síndromes de doenças comparáveis, devido a existência de um
grupo de hospedeiros variáveis e de diferentes capacidades patogênicas, podendo
assim infectar caprinos e principalmente ovinos. E como existe uma tendência a
intensificar a criação à medida que se busca aumentar a produtividade, a
presença do Vírus Maedi-Visna pode significar um obstáculo a criação destes
ovinos (DA-COSTA et al., 2007).
O vírus da Maedi-Visna encontra-se difundida nos rebanhos ovinos de vários países e tem sido motivo de restrições no comércio internacional dessa espécie animal. Acomete animais de todas as idades, mas os sintomas só são observados nos mais velhos, geralmente com idade entre três a quatro anos (VALLE, 2009).
A alta variabilidade genômica do vírus e o
confinamento têm contribuído para a origem de muitas cepas virais com diferente
patogenicidade, pois as manifestações clínicas e patológicas da infecção pelo
MVV em áreas geográficas diferentes podem ser variáveis (ARAÚJO et al., 2004) graças à variação
gênica viral que altera suas propriedades biológicas (DA-COSTA et al., 2007).
O vírus Maedi-Visna provoca nos ovinos uma infecção
persistente, caracterizada por realizar replicação de células virais (BRUERE &
WEST, 1993), dessa forma infectam as células do sistema monocítico-fagocitário.
O MVV persiste no interior dos monócitos e macrófagos por um prolongado
intervalo de tempo, do momento da infecção até o aparecimento de anticorpos em
níveis detectáveis por provas sorológicas (PASICK, 1998).
Segundo Quinn
et al. (2005) os sinais raramente são observados em animais com menos de dois
anos de idade, devido ao curso lento e progressivo dos Lentivírus. Sendo os sinais
clínicos precoces são: intolerância ao exercício, exagerado esforço expiratório
e respiração com boca aberta. Com o progresso da doença os ovinos afetados
perdem suas condições físicas, a despeito de apresentarem bom apetite (Lofstedt, 1993).
Os sinais quase sempre se manifestam após períodos de estresse, esforço físico ou clima desfavorável e podem durar de três a seis meses ou persistir ao longo dos anos. Pode ocorrer a manifestação clínica na forma articular, neurológica, respiratória e a mastite (BLOOD & RADOSTITS, 1991; BELKNAP, 2005)
Segundo MYIOSIS (1988) e Da-Costa et al. (2007) a utilização de
testes sorológicos para detecção de anticorpos contra o MVV é o método mais
utilizado para diagnóstico em rebanhos de ovinos. É interessante ressaltar que
muitos animais sororreagentes não apresentam sintomatologia que possa ser correlacionada
a Maedi-Visna (MV).
Os testes sorológicos
utilizados em países onde o programa de controle e erradicação do MVV está
implantado incluem o IDGA (Teste de Imunodifusão em Ágar gel), o Elisa (Ensaio
Imunoenzimático) e o PCR (Reação em Cadeia pela Polimerase). O IDGA é um método
simples, confiável, economicamente viável e sensível. Além de ser um método
clássico para a detecção dos anticorpos contra lentivírus nos animais
domésticos, sendo um teste recomendado para certificação internacional, é um
teste que está bem adaptado para fins de controle (DA-COSTA et al., 2007)
Segundo ZEE E HIRSH (2003) a imunodifusão em ágar gel é usada como ferramenta diagnóstica para acompanhar a disseminação de patógenos virais específicos em várias doenças animais. Sendo que a base deste teste é a capacidade que certos antígenos virais solúveis têm de se difundirem em um meio semi-sólido (ágar), formando uma linha de precipitação com o anti-soro específico, nos casos positivos.
O diagnóstico através de exames laboratoriais torna-se muitas vezes necessário, pois os animais não apresentam sinais clínicos (ABREU et al., 1998).
MATERIAL E MÉTODOS
Foram coletadas 150 amostras de sangue, identificadas
individualmente com registro de sexo e idade e obtidas através de punção da
veia jugular utilizando sistema de coleta á vácuo, em ovinos da raça Santa Inês
criados em seis diferentes propriedades rurais localizadas nos municípios da
Grande Vitória - ES (Vila Velha, Guarapari, Viana, Cariacica e Serra), entre
fevereiro e abril de 2009.
O sangue foi encaminhado para o Laboratório de
Microbiologia e Imunologia do Centro Universitário Vila Velha (UVV) no Espírito
Santo, para obtenção do soro por centrifugação a 5000
rpm por 10 minutos, sendo acondicionado em microtubos de 1,5 ml, e mantidos a temperatura de -20º C, até a realização do
teste de imunodifusão em gel de agarose (IDGA), que foi realizado de
acordo com instruções do reagente comercial Biovetech® (Biotecnologia para
Saúde Animal), para diagnóstico de Maedi-Visna. Em todas as propriedades foi realizado um inquérito epidemiológico,
por meio de questionário.
A utilização de antígenos específicos confere
sensibilidade 35% maior que a utilização de antígenos heterólogos, como o CAEV.
No entanto mesmo em testes de IDGA que utilizam antígenos específicos, há
diferença na sensibilidade da técnica.
A análise sorológica para infecção pelo MVV,
realizada através do teste de imunodifusão em gel de agarose (IDGA), nos 150
ovinos, pertencentes a animais de seis diferentes criações estudadas, revelou
um percentual de 7,33% (11/150) de animais soropositivos para a infecção pelo
MVV.
A prevalência encontrada pode ser justificada pelo
sistema de criação semi-intensivo, pois como os animais ficam presos no período
noturno possibilitando a transmissão pela via respiratória. Quando levado em
consideração o manejo sanitário das propriedades, era esperada uma maior
prevalência, pois três apresentavam péssimas condições sanitárias.
Os resultados encontrados nesta pesquisa foram
superiores aos descritos para ovinos Santa Inês em Fortaleza por Araújo et al. (2004) que relatam uma
prevalência de 4,93%; já em Pernambuco Oliveira
et al. (2006) encontraram 3,8%. Os valores inferiores relatados pelos autores
podem ser justificados devido aos animais testados por eles, serem destinados a
abatedouros e possuírem idade abaixo de dois anos, provavelmente não
apresentavam anticorpos, pois a Maedi-Visna é caracterizada por ser doença
crônica e de longo período de incubação.
D’Alencar et al. (2008) descreveram uma ocorrência de 0,66% (1/150) para Maedi-Visna, em Sergipe, segundo os autores a baixa incidência deve-se ao fato do animal soropositivo ser um reprodutor criado em sistema intensivo e as fêmeas em sistema de criação semi-intensivo, dificultando assim a propagação do agente para o restante do rebanho.
Já
A alta taxa de animais soropositivos, 15% constatada na propriedade A (6/40) pode ser decorrente da altíssima lotação, associada ao sistema de manejo que permite o acesso de outros animais a placenta de fêmeas contaminadas, além dos borregos não serem separados das mães contaminadas, permitindo assim que essas limpem os cordeiros e esses ingiram o colostro contaminado com o vírus. Ressalta-se ainda que existe um alto transito (compra/ venda) de animais na propriedade, além da participação de exposições, fatos estes que podem predispor a alta prevalência de Maedi-Visna, pois não há controle no trânsito e nem exigência de atestados negativos para lentiviroses.
A prevalência elevada da propriedade B também de 15% (3/20) é justificada pela aquisição de um grande número de animais da propriedade A.
A prevalência das propriedades E e F é nula (0/20 e 0/21), fato esse que pode ser justificado por terem sido testados 7% dos animais da propriedade e/ou pelo teste, imunodifusão em agar gel, realizado para diagnóstico de Maedi-Visna, que depende da sensibilidade do anticorpo.
Na propriedade C foi encontrada uma soropositividade de 5,26% (1/19), já na propriedade D o resultado obtido no teste de imunodifusão em ágar gel, foi de 3,33% (1/30).
Os resultados encontrados neste trabalho, assim como destacado por Sobrinho et al. (2004), são considerados importantes para ressaltar a presença do Maedi-Visna no Espírito Santo e indica a possibilidade de disseminação do vírus para outros rebanhos.
CONCLUSÃO
A prevalência para Maedi-Visna nos ovinos Santa Inês nos municípios da Grande Vitória - ES foi de 7,33%. Essa identificação de animais positivos pode representar risco para desenvolvimento da ovinocultura, indicando assim a necessidade de implantação de medidas para controle e comercialização.
REFERÊNCIAS
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