TÉTANO
Diego Medeiros Oliveira1, Tatiane
Rodrigues Silva1, Rafael Otaviano Rego2, Luciano
Anunciação Pimentel3, Josemar Marinho Medeiros4, Sara
Vilar Dantas Simões, Franklin Riet-Correa5
1. Alunos do Curso de Mestrado
2. Aluno da Residência
3. Aluno de Curso de Doutorado
4. Médico Veterinário, MSc, Universidade Federal de Campina Grande
5. Professores do Curso de Medicina Veterinária da Universidade
Federal de Campina Grande, Campus de Patos, 58700-000 Patos, PB, Brasil
PALAVRAS-CHAVE: Clostridium tetani, doenças infecciosas, pequenos
ruminantes.
ABSTRACT
OCCURRENCE OF TETANUS IN
SHEEP AFTER CASTRATION WITH A RUBBER BAND
Tetanus is of high importance for animal production. Clostridium tetani is an anaerobic and
gram-positive bacillus and it is most commonly caused by a contaminated wound.
This study reports a case of tetanus in 6-month-old sheep raised in Coremas,
KEYWORDS: Clostridium tetani,
infectious disease, ovine.
INTRODUÇÃO
O tétano ocorre em todo o mundo e acomete diversas espécies,
principalmente em áreas de zonas tropicais e subtropicais. É causado por
toxinas do Clostridium tetani quando
este, que está presente nas fezes e no solo contaminado, infecta feridas e
encontra as condições de anaerobiose que favorecem a germinação dos esporos até
a forma vegetativa. A doença clínica só ocorre quando os esporos encontram as
condições tissulares ideais de proliferação. Os fatores que incrementam a
esporulação e multiplicação do C. tetani
incluem tecido necrótico, pus e infecção bacteriana concomitante e corpos
estranhos. Os cordeiros são mais acometidos após serem submetidos a castração,
tosquia, corte de cauda, vacinação ou
injeções de medicamentos contaminados. A doença ocorre de forma
esporádica, porém pode ocorrer também em forma de surtos. Os eqüinos são os
animais mais sensíveis, seguidos de ovinos, caprinos e bovinos. Em ruminantes
jovens a taxa de mortalidade é superior a 80% (RADOSTITS et al., 2002; SMITH,
2006; DRIEMEIER et al., 2007).
O C. tetani produz as
toxinas tetanolisina, que causa necrose tissular contribuindo com a
disseminação da infecção, tetanospasmina que se dissemina por via hematógena e
chega a área pré-sináptica das placas motoras e interfere nos neurotransmissores
glicina e ácido gama aminobutírico provocando hiperexcitabilidade e a toxina
não-espasmogênica que leva a hiperestimulação do sistema nervoso simpático
(SMITH, 2006).
O período de incubação varia de três dias a quatro semanas. Quanto
menor o período de incubação mais grave é o tétano. Em ovinos e cordeiros, os
casos aparecem três a dez dias após a tosquia ou corte da cauda. A doença se
caracteriza por intensos espasmos tônicos da musculatura esquelética, a morte
do animal ocorre por asfixia provocada por uma paralisia dos músculos respiratórios
(RADOSTITS et al., 2002; SMITH, 2006). O presente trabalho tem por objetivo
relatar um surto de tétano em ovinos associado à castração.
MATERIAL E MÉTODOS
Foi encaminhado ao Hospital Veterinário (HV), da Universidade Federal
de Campina Grande (UFCG), um ovino macho, mestiço de Santa Inês, seis meses de
idade, proveniente de um rebanho onde estava ocorrendo mortes de borregos
apresentando endurecimento dos membros posteriores. No ambulatório de grandes
animais o animal foi submetido a exame clínico e posteriormente realizou-se
necropsia. Durante à necropsia, foram coletados fragmentos de órgãos da
cavidade abdominal e torácica e sistema nervoso central (SNC), fixados em
formol tamponado a 10%, clivados e processados rotineiramente para exame
histopatológico, as lâminas histopatológicas foram coradas com hematoxilina e
eosina.
RESULTADOS
Na anamnese foi obtida a informação que 11 borregos foram submetidos à
orquiectomia com ligadura de borracha no saco escrotal e dez dias após o
procedimento alguns animais começaram a apresentar dificuldade para andar e já
haviam ocorrido quatro óbitos.
Ao exame físico o borrego apresentava mucosas congestas, taquipnéia,
andar cambaleante e necrose da pele do escroto abaixo da ligadura de borracha.
O tratamento foi iniciado e objetivou promover o relaxamento muscular
(acepromazina), combater a infecção (penicilina) e assegurar a hidratação do
animal. No dia seguinte o animal estava com apetite e defecava e urinava
normalmente, permanecia em decúbito lateral, levantava com ajuda, caminhava com
os membros posteriores abduzidos, foi observado tremor muscular dos membros
anteriores e estrabismo ventromedial. No terceiro dia continuava com os sinais
clínicos citados anteriormente e foi evidenciado espasticidade dos quatro
membros, orelha e cauda eretas, não conseguia ficar em estação e apresentava
sensibilidade a estímulos sonoros e ao toque. No quarto dia os sinais foram
acrescidos de trismo mandibular e nistagmo horizontal. No quinto dia o animal
não conseguia se alimentar apresentava dificuldade respiratória e discreto
prolapso da terceira pálpebra. Após o sexto dia do início da doença o animal
ainda se apresentava em péssimo estado de saúde, e foi submetido a eutanásia.
Na necropsia verificou-se que a pele do escroto apresentava lacerações
e áreas necróticas e não foram identificadas outros achados macroscópicos ou
histológicos. A bexiga estava distendida e repleta de urina. Na histopatologia
a pele apresentava áreas de necrose com infiltrado inflamatório constituído por
neutrófilos e alguns linfócitos e plasmócitos na derme profunda. Na derme
superficial observou-se moderada quantidade de tecido de granulação. Na
histopatologia do sistema nervoso central não foi encontrada nenhuma alteração
significativa.
DISCUSSÃO
De acordo com a literatura os achados clínicos são similares em todas
as espécies, iniciam com rigidez muscular, tremores e trismo mandibular que
dificulta a alimentação. O prolapso da terceira pálpebra é precoce e consistente
no tétano, exceto em ovinos, que pode passar despercebido. Observa-se cauda
rígida, dilatação da narina e hiperestesia com resposta exagerada a estímulos
normais (RADOSTITS et al., 2002). Os sinais clínicos observados no animal eram
semelhantes aos registrados na literatura.
A ausência de achados macroscópicos ou histológicos e a identificação
de um local de infecção na pele do escroto reforçam o diagnóstico de tétano. A
ausência de lesões no SNC permitiu excluir outras doenças que afetam esse
sistema e que poderiam apresentar sinais clínicos semelhantes. Quanto aos
outros órgãos não foram encontradas lesões significativas. Com exceção da pele
do escroto, que apresentava lesão A lesão estava associada à ligadura de
borracha e a infecção teria ocorrido por contaminação da mesma com o esterco
que se encontrava no curral.
Apesar de terem sido seguidos os princípios básicos para tratar o
tétano não houve respostas ao tratamento o que está de acordo com RADOSTITS et
al. (2002) que se referem a baixa taxa de recuperação dos ovinos e eqüinos
acometidos pelo tétano. Desta forma deve-se prevenir a ocorrência desta
enfermidade e realizar castrações com procedimentos adequados, em ambiente
limpo, com desinfecção dos equipamentos e anti-sepsia da pele. Após a castração
os animais não devem se colocados em local contaminado, evitando currais, matas
utilizadas como abrigo e outros lugares muito contaminados por materiais
fecais. Para evitar o tétano medidas adequadas são necessárias em outros
procedimentos como assinalação de animais, corte de cauda, descorna e tosquia.
A vacinação não é necessária em rebanhos criados com boas medidas
sanitárias. Entretanto, em animais de alto valor zootécnico a vacinação poderá
ser recomendada. Os cordeiros podem ser vacinados aos 2, 3 e 6 meses de idade,
seguindo-se uma dose de reforço após um ano. Para assegurar níveis protetores
de anticorpos colostrais, as ovelhas devem receber uma dose de reforço anual do
toxóide, um a dois meses antes da parição (RADOSTITS et al., 2002; SMITH, 2006).
CONCLUSÃO
A prática de castrar com ligas de borracha além de causar extremo
desconforto aos animais levou a ocorrência de um surto de tétano com alta
morbidade e mortalidade em cordeiros.
REFERÊNCIAS
DRIEMEIER, D.; SCHILD, A.
L.; FERNANDES, J. C. T.; COLODEL, E.M.; CORREA, A. M. R.; CRUZ, C. E. F.;
BARROS, C. S. L. Outbreaks of tetanus in beef cattle and sheep in Brazil
associated with disophenol injection. Journal
of Veterinary Medicine,
RADOSTITS, O. M.; GAY, C. C.; BLOOD, D. C.;
HINCHCLIFF, K. W. Clínica Veterinária. um
tratado de doenças dos bovinos, ovinos, suínos, caprinos e eqüinos. 9.ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002. 1737p.
SMITH, B. P. Medicina
interna de grandes animais. 3.ed. São Paulo: Manole, 2006. 1728p,