MANHEIMIOSE
EM OVELHA NO SEMIÁRIDO PARAIBANO: RELATO DE CASO
Tatiane Rodrigues da Silva1, Diego Barreto de Melo2, Felício Garino Junior3, Roseane Portela1, Amanda Carvalho2, Antônio Flávio Medeiros Dantas4, Fabíola Carla de Almeida2, Franklin Riet-Correa4
1. Alunos do
Curso de Mestrado
2. Alunos do Programa de Aperfeiçoamento
3. Doutor em Microbiologia, Pós-Doutorando da
Universidade Federal de Campina Grande
4. Professores do Curso de Medicina Veterinária da
Universidade Federal de Campina Grande, Campus de Patos, 58700-000 Patos, PB.
PALAVRAS-CHAVE: Doenças
respiratórias, Manheimia haemolytica, ruminantes
ABSTRACT
MANNHEIMIOSIS IN SHEEP IN THE SEMIARID REGION OF
PARAÍBA:
CASE REPORT
Pasteurellosis
in sheep leads to great economic losses in many parts of the world due to high
mortality rates and reduction in weight gain. Mannheimia haemolytica – a bacterial agent previously known as Pasteurella haemolytica – causes
mannheimiosis, which mainly affects the respiratory system. Pasteurella
septicemia in association with pasteurella pneumonia and mastitis constitute
another type of infection that frequently occurs in young sheep. The animal was attended to at the Veterinary Hospital of Universidade Federal
de Campina Grande, Paraíba State. It had recently aborted and clinical signs
included apathy and hyporexia. After general physical
examination, systemic antibiotics with anti-inflammatory effects were used as
treatment based on the presumptive diagnosis of endometritis and acute clinical
mastitis. At necropsy, fragments of
the affected organs were collected for microbiological and histopathological
examinations. Bacteriological findings revealed macroscopic lesions in all
organs identified as Mannheimia (Pasteurella)
haemolytica infection. Therefore,
this study reports the risk factors as well as the clinical, pathological, and
histological features of a sheep showing signs of Mannheimia haemolytica infection.
KEYWORDS: Mannheimia haemolytica, respiratory diseases, ruminants.
INTRODUÇÃO
A pasteurelose é uma das causas de perdas econômicas nos ovinos em
muitas partes do mundo, pelos óbitos e redução do ganho de peso corpóreo. A
Mannheimia haemolytica, que anteriormente era denominada de
Pasteurella haemolytica (Martin, 1996) causa a enfermidade
denominada mannheimiose, a manifestação mais comum da infecção por este agente
é a forma pulmonar que ocorre em todas as idades. Os cordeiros durante os
primeiros dias de vida e as ovelhas no parto são mais susceptíveis. Outra
manifestação da infecção pela mannheimia haemolytica nos
cordeiros muito jovens é a pasteurelose septicêmica, que freqüentemente ocorre
em associação com a pasteurelose pneumônica e com a mastite em ovelhas
(RADOSTITS et al., 2002).
A colonização da
nasofaringe e da tonsila pela Mannheimia haemolytica ocorre muito rapidamente após o nascimento,
principalmente do ovino, e o mesmo carreia a bactéria por toda sua vida adulta.
A M. haemolytica é isolada em 95% das
tonsilas e 64% dos swabs
nasofaríngeos de ovinos adultos normais, e está presente também no pasto e na
água em área de pastejo, bem como na cama dos apriscos de ovinos, sendo a
sobrevivência nesses ambientes prolongada nas condições úmidas e frias (Radostits et al., 2002). A Mannheimia haemolytica em condições de
imunossupressão do animal, ou pela ação de agentes primários pode ultrapassar
as barreiras de defesa do trato respiratório e colonizar as porções
crânio-ventrais dos lobos pulmonares, ocasionando uma pneumonia fibrinótica (Vechiato, 2009).
Em decorrência da
limitação de diagnósticos sobre a doença no Brasil, em especial na região
Nordeste, este trabalho objetiva relatar fatores de risco, os achados clínicos,
anatomopatológicos e histológicos de um ovino apresentando sinais de infecção
por Mannheimia haemolytica.
MATERIAL
E MÉTODOS
Dados epidemiológicos e
clínicos do caso foram obtidos no Hospital Veterinário da Universidade Federal
de Campina Grande, localizado no Município de Patos- PB. Deu entrada um ovino
de aproximadamente dois anos de idade, pesando 31 kg, fêmea, sem raça definida,
oriundo da Cidade de Patos-PB, com o histórico de aborto há quatro dias e desde
então se apresentava apática e sem querer se alimentar. Após a identificação do
animal realizou-se o exame físico geral, foi instituído um tratamento, mas este
veio a óbito. Durante realização da necropsia foram coletados fragmentos de todos os órgãos que apresentavam lesão
macroscópica, que foram fixados e processados por métodos convencionais para
exames histológicos e corados pela hematoxilina-eosina. Também foram
colhidos fragmentos de tecidos do útero, pulmão, fígado e cavidade nasal, em
frascos estéreis, sendo estes encaminhados ao laboratório de microbiologia da
UFCG - Campus Patos, sob refrigeração. No laboratório, as amostras foram semeadas
em meio ágar-sangue de carneiro 5%, MacConkey agar , Sabouraud dextrose agar
com cloranfenicol e BHI ( brain heart
infusion) incubadas a 37° C em aerobiose, sendo realizadas leituras após 24
e 48 horas de incubação. Procedeu-se então ao exame bacterioscópico pelo método
de Gram, sendo os microrganismos isolados submetidos às provas de
identificação. As provas utilizadas foram: produção de catalase, urease,
oxidase, indol; crescimento em Mac Conkey agar, acidificação de carboidratos; a
identificação foi realizada baseada em MURRAY et al., (1999).
RESULTADOS
E DISCUSSÃO
Ao ser realizado exame
físico constatou-se anormalidades como apatia, hipertermia, taquipnéia, mucosas
oculares congestas, hipomotilidade ruminal, hipertrofia dos linfonodos
parotídeos, secreção nasal serosa, vulva com presença de secreção seropurulenta
de odor fétido, animal assumia freqüentemente a posição de micção, apresentava
secreção sanguinolenta na região perianal e ausência de fezes na ampola retal.
As glândulas mamárias estavam endurecidas e com sensibilidade à palpação,
aumento de temperatura e secreção láctea tipo F. O tratamento instituído foi o
uso de antibiótico e antiinflamatório sistêmicos, com base em um diagnóstico
presuntivo de endometrite e mastite clínica aguda.
Durante o
acompanhamento clínico diário do animal, foi observado que o animal não
respondia ao tratamento e passou a apresentar crepitação à auscultação da área
pulmonar, com secreção nasal seromucóide, vasos episclerais ingurgitados,
atonia ruminal, evoluindo no dia seguinte para secreção nasal purulenta, rinite
com presença de supostos pólipos nasais, silêncio
à auscultação de algumas áreas pulmonares e
sons crepitantes acentuados durante
à auscultação da traquéia, linfonodos
retro-faríngeos, parotídeos e pré-escapulares
hipertrofiados, demonstrando assim um comprometimento sistêmico
do animal.
O óbito ocorreu após o terceiro dia de internamento e durante a necropsia foi observada focos
amarelados nodulares multifocais a coalescentes presentes na cavidade nasal, útero,
pulmão, rim e bexiga. Linfonodos retrofaríngeos e submandibulares aumentados de
volume que ao corte evidenciava áreas avermelhadas. Ambas as glândulas mamárias
estavam com consistência firme e ao corte apresentavam secreção pastosa
amarelo-esverdeada.
Histologicamernte observou-se áreas
multifocais a coalescentes de necrose disseminadas nos órgãos supracitados e acentuado
infiltrado inflamatório polimorfonuclear neutrofílico estando muitos
degenerados, associado a fibrina, trombos e discretas colônias bacterianas
intralesionais.
No exame bacteriológico
o microorganismo foi identificado como Mannheimia
(Pasteurella) haemolytica em todos os órgãos que apresentavam lesão
macroscópica.
A associação de Mannheimia haemolytica com a ocorrência
de aborto na espécie ovina (Smith,
2006), sugere que o abortamento ocorrido possa ter sido decorrente da
enfermidade e que a condição de estresse tenha sido o que predispôs disseminação
da infecção. As lesões macro e microscópicas encontradas no animal são
semelhantes as descritas por JONES (2000) em casos de pasteurelose sistêmica
por Mannheimia haemolitica.
O comprometimento da
glândula mamária e a identificação do agente no tecido glandular demonstra que
a mastite clínica aguda também foi causada pela Mannheimia haemolitica, o que está de acordo com RADOSTITS et al. (2002) e JONES (1991) que informaram
que este agente, juntamente com Stapylococcus
aureus, está comumente relacionado a mastite em ovelhas e representam 80%
dos casos de mastite aguda.
CONCLUSÃO
Diante dos
achados clínicos e patológicos, o isolamento e a identificação da Mannheimia haemolitica através do exame
microbiológico podemos afirmar que o caso tratava-se de mannhemiose
septicêmica, forma mais comumente evidenciada em ovinos jovens.
REFERÊNCIAS
JONES,
J.E.T. Mastitis in sheep. In: OWEN, J.B.; AXFORD, R.F.E. (Eds.). Breeding for disease resistance in farm
animals. Bangor: CAB
International, p 412-423, 1991.
JONES, T.
C.; HUNT, R. D.; KING, N. W. Patologia veterinária.
6.ed., 2000, 1415 p.
MARTIN, W.
B. Respiratory infections of sheep. Comparative
Immunology, Microbiology and Infectious Diseases, Oxford, v. 19, p.
171-179, 1996.
MURRAY,
P. R.; BARON, E. J.; PFALLER, M. A.; TENOVER, F. C.; YOLKEN, R. H. Manual of Clinical Microbiology. 7.ed.,Washington:
American Society for Microbiology, 1999.
RADOSTITS, O. M.; GAY, C. C,; BLOOD, D. C.; HINCHCLIFF, K. W. Clínica veterinária: um tratado de doenças dos bovinos, ovinos, suínos, caprinos e eqüinos. 9.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan,. 1737p. 2002.
SMITH, B. P. Medicina interna de grandes animais. 3.ed.
São Paulo: Manole, 2006. 1728 p.
VECHIATO, T. A. F. Artigo II. Revista Veterinária e Zootecnia em Minas,
Belo Horizonte, jan. a mar, p. 19–21, 2009.