OCORRÊNCIA DO VÍRUS PARAINFLUENZA-3, VÍRUS
RESPIRATÓRIO SINCICIAL, VÍRUS DA DIARRÉIA VIRAL BOVINA E HERPEVÍRUS TIPO 1
Roberto
Calderon Gonçalves1, Andreza Amaral da Silva2, Danilo
Otávio Laurenti Ferreira3, Júlio Marcondes4, Edwiges
Maristela Pituco5, Adriano Dias6
1. Médico Veterinário, MS, Dr., Prof. Ass. do
Departamento de Clínica Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia de Botucatu – UNESP.
2. Médica Veterinária, MS, Doutoranda
Departamento de Clínica Veterinária, Faculdade de
Medicina Veterinária e Zootecnia - UNESP - Campus de Botucatu, Distrito de
Rubião Júnior, S/N - CEP: 18.618-000 - Botucatu/SP - Brasil.
E-mail: andrezamedvet@yahoo.com.br
(autor para correspondência)
3. Médico Veterinário, Mestrando
4. Médico Veterinário, Doutorando
5. Médica Veterinária, MS, Dr., Responsável pelo
Laboratório de Viroses de Bovídeos do Instituto Biológico de São Paulo -
SP.
6. Fonoaudiólogo, MS, Dr., Prof. Ass. do Departamento
de Saúde Pública da Faculdade de Medicina de Botucatu -UNESP.
PALAVRAS-CHAVE: Anticorpo, estudo sorológico, viroses respiratórias
ABSTRACT
OCCURRENCE OF PARAINFLUENZA 3 VIRUS, RESPIRATORY SYNCYTIAL VIRUS, BOVINE
VIRAL DIARRHEA VIRUS AND HERPESVIRUS 1 IN SHEEP FROM BOTUCATU, SÃO PAULO
This study investigates the
production of antibodies against parainfluenza 3 virus (PI-3), respiratory
syncytial virus (RSV), bovine viral diarrhea virus (BVDV) and herpesvirus 1
(HV-1) in herds from Botucatu, São Paulo. Blood samples were collected from 194
clinically healthy female sheep aged 1-3 years for detection of neutralizing
antibodies against these viral agents. The frequency of antibodies was 82% for
PI-3, 58,8% for RSV, 5% for DVB, and 0% for HV-1. Therefore, results indicate
that PI-3, RSV and DVB viruses affect sheep herds in the region studied and
that PI-3 is probably the main viral agent responsible for viral pneumonia
cases.
KEYWORDS: Antibody, respiratory viruses, serologic study
INTRODUÇÃO
Atualmente, as doenças respiratórias são consideradas um sério problema
de sanidade na ovinocultura, levando a sérios problemas de cunho econômico
devido aos altos índices de morbidade e mortalidade (MARTIN, 1996; CUTLIP et
al., 1998), sendo responsáveis por
Infecções e condições ambientais levam a processos inflamatórios freqüentes, com manifestações de doença respiratória, devido à superfície mucosa dos pulmões e vias aéreas anteriores estarem constantemente expostas a patógenos e estresses ambientais (PUGH, 2005). Dentre as enfermidades respiratórias infecciosas destacam-se as de origem bacteriana e viral, apresentando como principais agentes de viroses respiratórias o vírus da parainfluenza tipo 3 (PI-3) (LEHMKUHL & CUTLIP, 1982) e vírus sincicial respiratório (VSR) (ALLEY, 1975). Ocorrem ainda, entretanto com menos frequência, o Adenovírus Ovino 6 (AVO-6), o vírus da diarréia viral bovina (DVB) (POMMER & SCHAMBER, 1991), herpes vírus tipo 1 (HV-1) e a pneumonia progressiva ovina (PPO) causada por um lentivírus conhecido como maedi (PUGH, 2005).
Na última década a ovinocultura vem expressando aumento nos índices produtivos no contexto da pecuária paulista, tornando-se uma das principais atividades agropastoril em muitas propriedades rurais. Com a intensificação dos sistemas de produção, ocorre maior aglomeração de animais, surgindo doenças relacionadas ao rebanho, principalmente viroses respiratórias. Neste contexto, torna-se necessário, precocemente, o conhecimento dos agentes presentes para que medidas de prevenção, controle e de manejo adequadas sejam adotadas, restringindo assim a ocorrência e perdas inerentes às viroses respiratórios. O presente trabalho teve por objetivo conhecer os níveis de anticorpos para os vírus PI-3, VRS, DVB e HV presentes em ovinos da região de Botucatu-SP.
MATERIAL E MÉTODOS
Este estudo foi realizado com 194 ovinos, fêmeas, da raça Santa Inês, com um a três anos de idade, sadios ao exame clínico e provenientes de propriedades da região de Botucatu-SP. O período de estudo foi de Junho a Agosto de 2008 e os animais que participaram da pesquisa eram criados em regime semi-extensivo e, eventualmente, tinham contato com animais de outra espécie, especialmente bovinos.
Após a realização do exame clinico, foram colhidos, por venipuntura da jugular, 8ml de sangue de todos os animais, em tubo vacutainer com gel separador para obtenção de soro. As amostras de sangue foram identificadas e transportadas, a temperatura de 4° C, em caixas isotérmicas ao Laboratório de Viroses de Bovídeos do Instituto Biológico de São Paulo, onde foram centrifugadas a 720 x G durante cinco minutos para obtenção do soro.
A pesquisa de anticorpos neutralizantes contra o PI-3, BVD e HV foi realizada por virus-neutralização, de acordo com “Code of Federal Regulations” (CFR, 2005) e para o vírus VRS segundo SAMAL et al. (1993) e DOMINGUEZ, (2000).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Das 194 amostras analisadas, em 82% (159/194) foram detectados anticorpos para PI-3, em 58,8% (114/194) anticorpos para VRS e em 5% (1/194) anticorpos para DVB. Nenhuma das amostras avaliadas mostrou-se reagente para o HV-1. Os títulos das amostras reagentes variam de 1:2 a 1:2048 para o PI-3, de 1:2 a 1:64 para o VRS e foi de 1:10 para a única amostra reagente ao DVB.
Os resultados deste estudo demonstram a presença dos vírus PI-3, VRS e VDB em rebanhos ovinos da região de Botucatu-SP. Os anticorpos detectados indicam que os animais foram expostos por infecção natural aos três vírus, sendo uma importante evidência da circulação desses agentes na região.
A freqüência de 82% dos ovinos reativos para o vírus PI-3 é maior do que a reportada por DAL PIZZOL et al. (1989), MANCHEGO et al. (1998) e CABELLO et al. (2006), e indica que este vírus é o mais difundido entre os rebanhos ovinos de Botucatu-SP. Os altos títulos de anticorpos contra o vírus PI-3 (>1:256) observados neste estudo, sugerem uma maior susceptibilidade desses animais ao PI-3, além de indicar que os animais com elevada titulação podem ser fonte de infecção para o resto do rebanho.
A ocorrência do VRS neste estudo, apesar de semelhante à observada por outros autores (CABELLO et al., 2006), foi menor do que a encontrada para o PI-3. Os vírus VRS e PI-3 tem um tropismo especial pelo tecido respiratório e estão amplamente difundidos nos ovinos, principalmente nos animais jovens (LEHMKUHL et al., 1985; VAN DER POEL et al., 1994). Segundo a literatura, a menor freqüência do VSR nos ovinos, quando comparada ao PI-3, pode estar associada ao seu período de incubação mais prolongado, retardando assim a infecção pelo VRS em outros animais (COLLINS et al., 1988).
Apesar da baixa freqüência do DVB nos ovinos desse estudo, a presença do agente na região não deve ser negligenciada, principalmente em casos de surto de doenças respiratórias, quando pesquisas mais intensas podem esclarecer melhor o papel do DVB na etiologia das enfermidades respiratórias na região.
Apesar de não ser possível estabelecer a verdadeira procedência das
infecções virais nesses rebanhos, é provável que o contato eventual dos animais
deste estudo com bovinos favoreceu a infecção dos animais e manutenção dos
vírus nesses rebanhos. Vale ressaltar ainda que grande parte dos animais que
compõem os rebanhos do Centro-Oeste Paulista é proveniente de propriedades da
Região Sul do país, principalmente do Rio Grande do Sul, onde a pratica de
criações mistas de bovinos e ovinos é bastante comum.
CONCLUSÕES
Os vírus PI-3, VRS e DVB estão presentes e infectam animais de rebanhos ovinos da região de Botucatu-SP. Devido a sua grande ocorrência, o vírus PI-3 é provavelmente o principal agente implicado em casos de pneumonia viral na região. Entretanto, uma pesquisa mais ampla e intensa para compreender melhor o papel de cada um desses agentes em casos de surto de doença respiratória na região faz-se necessária.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao auxílio financeiro concedido pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP.
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