DISTRIBUIÇÃO
DE ANTICORPOS PARA Leptospira sp EM
BÚFALOS (Bubalus bubalis) DA REGIÃO
NORDESTE DO ESTADO DO PARÁ, BRASIL
Geanne Rocha da Silva1, Carla Cristina
Guimarães de Moraes2, Keyla Cristina do Nascimento de Melo1,
Amanda de Sousa Matos1, Ivan Mattoso de Andrade1, João
Maria do Amaral Jr1, Dinaiara de Souza Fragoso1, Carolina Ferreira Freitas Pereira1,
Iara Costa Soares1, Carmen Silvia Araujo Neves1,
Rosely Bianca dos Santos3, André Marcelo Conceição Meneses4,
Ana Paula Vilhena Beckman Pinho5, Zenaide Maria de Morais6,
Gisele Oliveira de Souza 7, Silvio Arruda de Vasconcellos8
6 Bióloga, laboratório de zoonoses
bacterianas, FMVZ- Universidade de São Paulo
7 Nutricionista, laboratório de
zoonoses bacterianas, FMVZ- Universidade de São Paulo
8Medico Veterinário, professor
titular, professor da FMVZ-Universidade de São Paulo
PALAVRAS–CHAVE: Bubalino,
leptsopirose, soroaglutinação microscópica.
ABSTRACT
PREVALENCE of ANTI-LEPTOSPIRA SPP. ANTIBODIES in buffaloes
RAISED IN
This study
investigates the occurrence of leptospirosis in buffaloes (Bubalus bubalis)
from the northeast region of
KEYWORDS:
INTRODUÇÃO
A região norte
concentra 63% da população de bubalinos (Bubalus
bubalis) criados no território nacional e segundo dados do IBGE (2007)
grande parcela destes animais é criada na ilha do Marajó/Pará. As
características geográficas desta região dificultam o manejo dos animais,
fazendo com que sejam criados em regime basicamente extensivo e sem devidos
cuidados para uma alimentação adequada. Por outro lado, em outras regiões do
estado o manejo desta espécie é mais adequado mesmo porque são animais
destinados para a reprodução e produção de carne ou leite (MARQUES, 2000).
A leptospirose é uma
zoonose de curso agudo que afeta diversas espécies de animais domésticos,
silvestres e pode, acidentalmente, acometer os seres humanos. Possui como agente
etiológico bactérias espiraladas, pertencentes a ordem
Spirochaetales, família Spirochaetaceae e gênero Leptospira (SMITH, 2006). As infecções por Leptospira sp na espécie bubalina comumente são
determinadas pelos sorovares Hardjo, Wolffi, Pomona, Icterohaemorrhagiae,
Canicola e Grippothyphosa (LANGONI et al., 1999; RADOSTITS, 2002; AGUIAR et
al., 2006).
A bactéria após
penetrar as mucosas ou a pele, lesionadas ou integras friáveis, alcança a
circulação sangüínea onde se multiplica ativamente, caracterizando um processo
denominado de leptospiremia, indo colonizar praticamente todos os tecidos,
causando comprometimento de órgãos vitais (RIET, 2007). Assim como em bovinos,
nos bubalinos esta fase pode ser responsável por importantes alterações
reprodutivas algumas semanas após a infecção (COSTA et al., 1998; ELLIS, 1994;
RADOSTITS et al., 2002).
A pesquisa de anticorpos (Ac) constitui a principal prova de diagnóstico da leptospirose, incluindo teste sorogrupos – específicos, dos quais a prova de soroaglutinação microscópica (SAM) é a mais importante e amplamente utilizada. A organização Mundial de Saúde (OMS) considera esta prova como de referência para o diagnóstico da enfermidade, tanto no homem quanto nos animais, pois, além de detectar Ac específicos é utilizada também na classificação e identificação dos sorotipos isolados (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2003; LOMAR et al., 2005; OLIVEIRA et al., 2005).
Em virtude da escassez
trabalhos científicos publicados com enfoque na bubalinocultura, este trabalho
objetivou avaliar a ocorrência da leptospirose em rebanhos bubalinos em
municípios da região nordeste do estado do Pará.
MATERIAL
E MÉTODO
Animais
e colheita de amostras
Os 127 bubalinos
participantes deste estudo eram provenientes da região Nordeste do Estado do
Pará, sendo 25 machos e 102 fêmeas, da raça Murrah e Mestiço, criados sob
manejo de sombra e em regime extensivo. A colheita das amostras de sangue foi
realizada por venopunção
jugular com tubos de coleta a vácuo sem anticoagulante. O soro obtido foi
armazenado em tubos de polietileno com capacidade de 2ml, em temperatura de
Método
Para a realização da
prova de SAM, foram utilizadas como antígenos as culturas de cepas-padrão de 24
sorovares de Leptospira sp
(Australis, Bratislava, Autumnalis, Butembo, Castellonis, Bataviae, Canicola,
Whitcombi, Cynopteri, Grippotyphosa, Hebdomadis, Copenhageni,
Icterohaemorrhagiae, Javanica, Panama, Pomona, Pyrogenes, Hardjo genotype
hardjoprajitno, Wolffi, Hardjo (hardjobovis), Shermani, Tarassovi, Patoc,
Sentot).
A prova de SAM é
constituída por duas fases, antes das quais todos os antígenos foram
isoladamente examinados ao
microscópio de campo escuro, contudo convém informar que precedendo
o teste, com o intuito de se observar presença de auto-aglutinação, mobilidade
ou mesmo de contaminantes nestas culturas. Durante a fase de triagem o soro de cada animal foi diluído na
proporção 1:50 em solução salina de Sorense estéril e distribuído, com auxílio
de pipeta automática, em microplacas de polietileno com fundo em “U”, onde cada
amostra foi testado frente a um sorovar de Leptospira
sp. Após a homogeneização do antígeno com o soro, as placas permaneceram em
temperatura ambiente por aproximadamente 2 horas e, ao final deste período foi
realizada a leitura de cada “Wells” (compartimento) em microscopia de campo
escuro com objetiva de 10x e ocular de 10x a 15x. a interpretação dos
resultados foi baseada na ausência ou intensidade de aglutinação das
leptospiras, de modo que os soros que apresentaram valor ³
50% de leptospiras aglutinadas foram encaminhados à titulação.
Durante
a fase de titulação, as amostras reagentes na triagem eram diluídas em escala
geométrica de razão dois a partir da diluição 1:100, sendo o título final
análogo a maior
diluição onde foi observada aglutinação leptospírica ³
50%. Os resultados foram submetidos a
tratamento estatístico pelo teste de comparação de proporções
baseado na estatística Qui-quadrado (c2)
no nível de 5% de significância (ZAR, 1996).
RESULTADO
E DISCUSSÃO
Das 127 amostras de
soros búfalos analisadas, 67,72% (86/127) apresentaram-se reagentes para um ou
mais sorovares de Leptospira interrogans
pela prova de soroaglutinação microscópica (SAM), com títulos variáveis entre
Ao analisar
independentemente do sorovar, a positividade para anticorpos contra Leptospira
interrogans os resultados desta pesquisa foram superiores aos encontrados
por Langoni et al.,(1999) que ao testarem 403 soros de búfalos encontraram
37,7%
de reações positivas em animais do Vale do
Ribeira/SP; as respectivas amostras foram reagentes para os sorovares Wolffi (n=68, 44,8%), Icterohaemorrhagiae (n=51, 33,6%), Hardjo (n=51, 33,6%), Castellonis (n=25, 16,5%), Djasiman (n=12, 7,9%), Grippotyphosa (n=10, 6,6%), Pomona (n=8, 5,2%), Bratislava (n=6, 4,0%), Copenhageni (n=5, 3,3%) e Tarassovi (n=4, 2,7%). Como os sorovares Wolffi, Hardjo e
Icterohaemorrhagiae foram os mais prevalentes, estes achados concordam
parcialmente com o presente estudo em virtude do comportamento expressivo do
sorovar Icterohaemorrhagiae.
O presente estudo
também apresentou valores de positividade, independente de sorovar, superiores
aos relatados por FAVERO, et al. (2002) que ao avaliarem 879 soros de búfalos
observaram 43,7% de sororeagentes, no entanto, proporcionalmente o valor
percentual de reagentes para os sorovares Hardjo (43,3%) e Wolffi (32,5%)
demonstrou discordância com o presente trabalho que referiu valores percentuais
de 15,75% e 7,09% para os mesmo sorovares, respectivamente.
Ao investigarem a
prevalência de anticorpos contra Leptospira spp em 2.109 vacas bubalinas
do município de Monte Negro/RO AGUIAR et al. (2006), encontraram 52,8% de
reagentes sendo os sorovares mais prevalentes representados por Hardjo (14,5%),
Wolffi (12,3%), Shermani (10,8%), Patoc (7,9%) e Hebdomadis (6.1%), apesar dos
valores próximos aos resultados aqui apresentados, se pode notar discordâncias
entre os valores proporcionais na análise individual destes sorovares.
Como se acredita que o
comportamento fisiológico dos bubalinos possua grande identidade com o dos
bovinos, este estudo discute um paralelo com a investigação soroepidemiológica
realizada por CASTRO et al. (2008) que analisaram 8.216 amostras soro de fêmeas bovinas em idade reprodutiva e
referiram uma soroprevalência de 49,4% na qual foram encontrados identificados
os sorovares Hardjo (46%), Wolffi (21%), Shermani (8,9%), Autumnalis (4,4%) e
Grippotyphosa (3,9%).
A avaliação individual
da ocorrência do sorovar Pomona figurando entre um dos mais prevalentes neste
estudo 11,81%
(15/127), demonstra
discrepância em comparação proporcional com os estudos divulgados por LANGONI
et al. (1999), AGUIAR et al. (2006) e de CASTRO et al. (2008). Por
outro lado, os resultados obtidos nesta pesquisa corroboram com estes mesmo
autores quando relata que os sorovares Hardjo, Pomona e Wolffi foram os de
maior ocorrência nos soros testados.
REFERÊNCIAS
AGUIAR, D. M.; GENNARI, S. M.;
CAVALCANTE, G. T.; LABRUNA, M. B.; VASCONCELLOS, S. A.; RODRIGUES, A. A. R.;
MORAES, Z. M.; CAMARGO, L. M. A. Soroprevalence of Leptospira spp. in
cattle from Monte Negro municipality, western Amazon. Pesquisa Veterinária
Brasileira, Rio de Janeiro, v. 26, n. 2, p.102-104, 2006.
CASTRO,
V., AZEVEDO, S. S., GOTTI, T. B., BATISTA, C. S. A., GENTILI, J., MORAES, Z. M.,
SOUZA, G. O., VASCONCELLOS, S. A., GENOVEZ, M. E. Soroprevalência da leptospirose em
fêmeas bovinas em idade reprodutiva no estado de São Paulo, Brasil. Arquivo
do Instituto Biologico, São Paulo, v. 75, n. 1, p. 3-11, 2008.
COSTA, M. C. R.;
MOREIRA, E. C.; LEITE, R. C.; et al. Avaliação da imunidade cruzada entre
Leptospira hardjo e L. wolffi. Arquivo
Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v. 50, p.
11-17, 1998.
ELLIS, W. A. Leptospirosis as a cause of reproductive failure. Veterinary
Clinics of North America: Food Animal Pratice,
FAVERO, A. C. M.;
PINHEIRO, S. R.; VASCONCELLOS, S. A.; MORAIS, Z. M.; FERREIRA, F.; NETO, J. S.
F. Sorovares de leptospiras predominantes em exames sorológicos de bubalinos,
ovinos, caprinos, eqüinos, suínos e cães da diversos estados brasileiros. Ciência Rural, Santa Maria, v. 32, n.
2, p. 2-16, 2002.
IBGE, Instituto
Brasileiro de Geograļ¬a e Estatística. Produção
da Pecuária Municipal volume 35. 2007.
LANGONI,
H., DEL FAVA, C., CABRAL, K. G., SILVA, A. V., CHAGAS, S. A. P. Aglutininas
antileptospíricas em búfalos do Vale do Ribeira, Estado de São Paulo. Ciência
Rural, Santa
Maria, v. 29, n. 2, p. 305-307, 1999.
LOMAR,
A. V.; DIAMENT, D.; BRITO, T.; VERONESI, R. Leptospirose In: VERONESI, R. Tratado de infectologia. 3.ed. São
Paulo: Atheneu, 2005. cap. 76, 1239-1255p.
MARQUES J.R.F. Búfalos:
500 perguntas e 500 respostas. Embrapa
Amazônia Oriental, 176 p. 2000.
OLIVEIRA, R. C.,
FREITAS, J. C., SOUSA, E.M. DELBEM, A. C. B.; ALVES, L. A.; MULLER, E. E.;
BALARIM, M. S.; REIS, A. C. F., BATISTA, T. N., VASCONECLOS, S.A. Diagnóstico
laboratorial de leptospirose utilizando diferentes técnicas. Arquivo do Instituto Biológico, São
Paulo, v. 72, n. 1, p. 111-113, 2005.
RADOSTITS,
M. O. et al. Clínica veterinária:
Tratado de doenças dos bovinos, ovinos, suínos, caprinos, e eqüinos. 9.ed.
Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.
RIET, C.
F.; SCHILD, L. A.; LEMOS, A. R.; BORGES, J. R. Doenças de Ruminantes e Equideos. 3º Ed. Vol. 1. Rio Grande do Sul:
Pallotti, 2007.
SALLES, R. S.;
LILENBAUM, W. Leptospirose bovina no Brasil. Revista do Conselho Federal de Medicina Veterinária, Brasília, n.
21, 2000. (Suplemento Técnico).
SMITH, B. P. Tratado de medicina interna de grandes animais.
São Paulo: Manole, 2006.
WORLD HEALTH ORGANIZATION – LIS (2003) Human leptospirosis: guindace for diagnosis surveillance and control
– ISBN9241545895.
ZAZ, J. H. Biostatistical analysis.