Prevalencia da raiva em bovinos, ovinos e caprinos no
ano de 2007 no estado do paraná.
Maria Aparecida
de Carvalho Patrício1, Rosária Regina Tesoni de Barros Richartz1,
Filipe Hautsch Willig2, Daniella Sponchiado3, Rosangela
Locatelli Dittrich4,
Ivan Roque de
Barros Filho4
1.Centro de Diagnóstico Marcos
Enrietti – Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado do Paraná
2. Programa de Pós-graduação
3. Curso de Medicina Veterinária - Universidade Federal do Paraná, Campus
Palotina
4.Departamento de Medicina
Veterinária – UFPR – Curitiba.
E-mail: macpatricio@seab.pr.gov.br
(autor correspondente)
PALAVRAS-CHAVE:
Doenças infecciosas, ruminantes, virose.
ABSTRACT
Prevalence of rabies in CATTLE, SHEEP and GOATS
IN Paraná IN 2007
Rabies is an infectious disease caused by RNA viruses
in the family Rhabdoviridae, genus Lyssavirus. The infection is
invariably fatal and mainly affects the central nervous system. In
KEYWORDS: Infection disease, ruminant, virosis.
INTRODUÇÃO
A
raiva é uma doença infectocontagiosa causada por um vírus RNA, pertencente ao
gênero Lyssavirus e a família Rhabdoviridae (MURPHY et al., 1999). Considerada
uma enfermidade de notificação obrigatória, invariavelmente fatal, que se
manifesta com sinais nervosos afetando principalmente o sistema nervoso central
(SNC) da maioria dos mamíferos domésticos e silvestres, inclusive os seres
humanos (BARROS, et al. 2006).
É
transmitida por meio da inoculação do vírus contido na saliva do animal
raivoso, pela mordedura, arranhadura e lambedura de mucosas (KAPLAN et al.,
1996). A doença apresenta três ciclos de transmissão: o ciclo urbano onde o
principal disseminador é o cão e/ou gato. O ciclo rural onde os animais alvos
são os herbívoros (bovinos, eqüídeos, ovinos e caprinos) no qual o principal
disseminador é o morcego. E o ciclo silvestre representados pelos carnívoros
como a raposa, guaxinins além de primatas não humanos como os sagüis e morcegos
(ARAUJO et al., 2008). A raiva em cães e gatos vem diminuindo, enquanto a raiva
em herbívoros vem aumentando com o passar dos anos (TAKAOKA, 2000; SANTOS et
al., 2006).
Nos
herbívoros a doença tem duas formas distintas de se manifestar: uma em que os
doentes apresentam-se agressivos podendo até atacar outros animais, chamada de
raiva furiosa, e outra forma da doença se manifestar é paralítica a mais
predominante em bovinos no Brasil , na qual o animal adquire sinais de
depressão, prostração, incoordenação dos membros pélvicos, seguida de paresia e
paralisia deles, ausência do reflexo
anal, paralisia da cauda, tremores da cabeça, diminuição da visão, opistótono,
bruxismo, salivação, fezes ressequidas ou escassas, retenção ou incontinência urinária
e mugidos e roncos (BARROS et al., 2006). REIS et al. (2003) em estudo com
casos clínicos de raiva de bovinos na Bahia, mostraram que 77,38% dos animais
apresentaram apatia, 72,62% dos animais apresentaram reflexos centrais e
periféricos diminuídos, 29,76% apresentaram movimentos de pedalagem 44,05% dos
animais apresentavam paralisia flácida e somente 22,62% apresentaram
comportamento agressivo.
Em
ovinos e caprinos os principais sinais clínicos mais comuns são: apatia,
cegueira, convulsões, movimentos de pedalagem, pressão da cabeça contra
objetos, ataxia, diminuição do reflexo pupilar, flacidez da língua, rotação da
cabeça, salivação, opistótono, perda de equilíbrio, paresia e paralisia de
membros (LIMA et al. 2005).
Num
estudo retrospectivo realizado
SANTOS
et al. (2006) relataram que nos anos de
O
objetivo desse trabalho foi verificar a prevalência da raiva em bovinos, ovinos
e caprinos no Estado do Paraná por meio das amostras enviadas ao Centro de
Diagnósticos “Marcos Enrietti” para diagnóstico da raiva no ano de 2007.
MATERIAL E MÉTODOS
No
ano de 2007, o setor de Virologia do Centro de Diagnósticos ‘Marcos Enrietti’ –
(CDME) recebeu 446 amostras de bovinos, 13 de ovinos e sete de caprinos,
provenientes de diversas regiões do Estado do Paraná, para exame laboratorial
de Raiva. As amostras de tecido encefálico (cerebelo, tálamo e córtex cerebral)
foram submetidas às provas de Imunofluorescência direta (IFD), descrita por
DEAN et al. (1996), com conjugado produzido pelo LANAGRO/MAPA/MG com
isotiocianato de fluoresceína, e inoculação intracerebral ou prova biológica
(PB) segundo a técnica preconizada por KOPROWSKI (1996).
Para realização das provas de IFD
utilizou-se o vírus fixo Challenge Virus
Standard (CVS), amostra CVS-31/2, adaptada a cérebros de camundongos,
apresentando título de 10-5 DLIC50/0,03 mL para a obtenção da suspensão
de vírus, para a absorção do conjugado antirábico; e cérebros de camundongos de
21 dias para a suspensão contendo conjugado antirábico livre; toda as IFD de
amostra sempre foram acompanhadas de lâmina de VR (Vírus referência) como
controle positivo.
Para
prova biológica ou isolamento viral utilizaram-se camundongos com 21 dias de
idade, e peso entre 12 e 14g, obtidos do biotério do TECPAR (Instituto
Tecnológico do Paraná). Foram utilizados oito camundongos para cada amostra
recebida. Após a inoculação, os animais foram observados diariamente durante 30
dias. Nos casos positivos as mortes ocorreram entre o quinto e 15° dias após a
inoculação (em média). A partir do quinto dia após a inoculação todos os
camundongos que morreram foram submetido à prova de IFD, para confirmação da
raiva.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
De
466 bovinos suspeitos, foram diagnosticados 191 (42,8%) animais positivos para
raiva; das 13 amostras ovinas enviadas ao CDME três (23%) foram diagnosticadas
como positivas e todas as sete amostras da espécie caprina foram negativas.
Em
2006, no Estado do Paraná, os números absoluto e relativo de amostras positivas
para raiva em bovinos, ovinos e caprinos foram, respectivamente, de 165/347
(47,5%), 1/5 (20%) e 1/11 (9,1%) (PATRICIO et al., 2007). Quando os presentes
resultados são comparados com o ano anterior, consta-se que houve um aumento no
número de amostras enviadas ao CDME, e um aumento no número de amostras
positivas em bovinos e ovinos. Mesmo com o aumento no número de amostras
positivas ocorreu uma redução da prevalência de raiva em função do aumento do
número de amostras diagnosticadas como negativas.
Os
resultados mostram um aumento no número de casos confirmados de raiva em
bovinos e ovinos, porém o grande número de amostras negativas enviadas ao CDME
sugere a ocorrência de outras doenças com sintomatologia clínica semelhante a
da raiva, indicando a necessidade de uma melhora nos diagnósticos diferenciais
de outras afecções do SNC.
CONCLUSÃO
A
raiva nos ruminantes continua sendo uma doença importante no estado do Paraná,
porém, existe um número significativo de animais com sintomatologia nervosa,
que não tiveram um diagnóstico conclusivo. Medidas de controle da raiva em
ruminantes, especialmente bovinos, e pesquisas de outras enfermidades com
sintomatologia nervosa que afetam os ruminantes do estado devem ser realizadas
para elucidação do diagnóstico.
REFERÊNCIAS
AGUIAR,
L. M. S. Subfamília Desmodontinae. In: REIS, N. R.; PERACCHI, A. L.; PEDRO, W.;
LIMA, I. P. Morcegos do Brasil,
Londrina, cap. 3, p.39-43, 2007.
ARAUJO,
D. B.; MEDINA, A. O.; CUNHA, E. M. S.; DURIGON, E. L.; FAVORETTO, S. R. Estudo epidemiológico
do vírus da raiva em mamíferos silvestres provenientes de área de soltura no
litoral norte do Estado de São Paulo. In: CONBRAVET - CONGRESSO BRASILEIRO DE
MEDICINA VETERINÁRIA, 35, 2008, Gramado. Anais...,.Gramado,
p. 689-692, 2008.
BARROS,
C. S. L., DRIEMEIER, D., DUTRA, I. S.; LEMOS, R. A. A. Doenças do sistema nervoso de bovinos no Brasil: Coleção Vallée. AGNS,
DEAN, D. J.; ABELSETH, M. K.; ATANASIU, P. The
fluorescent antibody test. In: MESLIN, F. X.; KAPLAN, M. M.; KOPROWSKI, H. Laboratory techniques in rabies. 4.ed.
Geneve: World Health Organization, p.88-95, 1996.
KAPLAN, M. M.; KOPROWSKI, H.; MESLIN, F.X. Laboratory techniques in rabies. 4.ed.
KOPROWSKI, H. The mouse inoculation test. In: MESLIN,
F. X, KAPLAN, M. M.; KOPROWSKI, H. Laboratory
techniques in rabies. 4.ed. Geneve: World Health
Organization, p. 80-87, 1996.
LIMA,
E. F.; RIET-CORREA, F.; CASTRO, R. S.; GOMES, A. A. B.; LIMA, F. S. Sinais
clínicos, distribuição das lesões no sistema nervoso e epidemiologia da raiva
em herbívoros na região nordeste do Brasil. Pesquisa Veterinária Brasileira, Rio de Janeiro, v. 25, n. 4, p. 250-254,
2005.
MURPHY, F. A.; GIBBS, E. P. J.; HORZINEK, M. C.;
STUDDERT, M. J. Veterinary Virology.
3.ed,
Academic Press, 1999.
PATRICIO,
M. A. C.; DITTRICH, R. L.; SPONCHIADO, D.; RICHATZ, R. R.; BARROS FILHO, I. R.
Prevalência da raiva em bovinos, ovinos e caprinos no Estado do Paraná. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE BUIATRIA, 6, 2007. Archives of Veterinary Science, v. 12,
sup., Resumo 186, 2007.
RADOSTIS, O. M.; BLOOD, D. C.; GAY, C. C. Veterinary medicine 9.ed.
REIS,
M. C.; COSTA, J. N.; PEIXOTO, A. P. C.; FIGUEIREDO, L. J. C.; MENEZES, R. V.;
FERREIRA, M. M.; SA, J. E. U. Aspectos clínicos e epidemiológicos da raiva
bovina apresentados na casuística da Clínica de Bovinos (Oliveira dos
Campinhos, Santo Amaro, Bahia), Universidade Federal da Bahia, durante o
período de janeiro de
SANTOS,
M. F. C.; RESENDE, R. M.; SOBRINHO, R. N.; VIEIRA, S. Diagnóstico laboratorial
da raiva no Estado de Goiás no período de
SCHLÖGEL,
F. Breve histórico da raiva. Arquivos de
Biologia e Tecnologia, Curitiba, v. 28, n. 2, p. 277-295, 1985.
SILVA,
J. A.; MOREIRA, E. C.; HADDAD, J. P. A. MODENA, C. M.; TUBALDINI, M. A. S.
Distribuição temporal e espacial da raiva bovina
TAKAOKA,
Alteração no perfil epidemiológico da raiva no Estado de São Paulo. In:
SEMINÀRIO NACIONAL DA RAIVA. São Paulo. RESUMOS…São
Paulo, p.23, 2000.