Prevalência da leucose enzoótica em bovinos leiteiros criados na região metropolitana de Curitiba – Paraná

 

Ivan Roque de Barros Filho1;Alessandra Klas Guimarães2; Alexander Welker Biondo1, Ernesto Renato Krüger4, Evelyn Vieira Wammes2 ; Rudiger Daniel Ollhoff5; Christine Hauer Piekarz6; Daniella Sponchiado3

 

1-Departamento de Medicina Veterinária  – Universidade Federal do Paraná – Rua dos Funcionários 1540 – 80035-050 Curitiba PR –E-mail: ivanbarf@ufpr.br (autor correspondente)

2-Acadêmicos Curso de Medicina Veterinária – Universidade Federal do Paraná - Curitiba

3- Curso de Medicina Veterinária -  Universidade Federal do Paraná, Campus Palotina

4- Médico Veterinário do Centro de Diagnótico Marcos Enrietti , Curitiba

5-Professor Titular da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Campus São José dos Pinhais

6-Universidade Federal do Paraná - Litoral

 

Palavras-chave: Doenças infecciosas, soroprevalência, virose.

 

 

ABSTRACT

 

prevalence of enzootic Bovine leukosis in dairy cattle FROM Curitiba, Paraná

Enzootic bovine leukosis (EBL) is an infectious, contagious disease caused by bovine leukemia virus (BLV), which is an oncogenic retrovirus of the family Retroviridae. This study evaluates the prevalence of BLV in dairy cattle raised in Curitiba and its surrounding areas. A total of 268 serum samples were collected from five different herds in the municipalities of São José dos Pinhais, Campina Grande do Sul, Pinhais, and Fazenda Rio Grande. An immunodiffusion (ID) test revealed that 151 (56,34%) animals were positive and 117 (43,66%) were negative.

 

KEYWORDS: Infectious disease, seroprevalence, virosis.

 

INTRODUÇÃO

A leucose enzoótica bovina (LEB) é uma doença comum em bovinos, prevalente em diversos estados do Brasil e no mundo (BIRGEL JUNIOR et al., 2006). É causada por um vírus da família Retroviridae, subfamília Oncovirinae e do gênero Deltaretrovirus (MURPHY et al., 1999).

Os rebanhos leiteiros apresentam uma maior prevalência da LEB devido ao constante manejo intensivo, pois a principal forma de transmissão é a horizontal, em especial a iatrogênica pelo uso de fômites contaminados, agulhas, instrumento cirúrgicos e até mesmo pela palpação retal (JOHNSON & KANEENE, 1992).

A doença pode vir a se manifestar de três formas: a aleucêmica (presença de anticorpos), a de linfocitose persistente e a de desenvolvimento de linfossarcomas. Entre 1% a 5% dos bovinos soropositivos desenvolvem o linfossarcoma, forma mais comum de neoplasia do gado leiteiro e 30% desenvolvem linfocitose persistente (FERRER et al., 1979).

Essa enfermidade gera perdas econômicas com perda da produção leiteira devido ao descarte de bovinos soropositivos ou com linfossarcoma (D`ANGELINO, 1991). A maior incidência dos tumores ocorre de quatro a oito anos de idade, tendo uma mortalidade em torno de 10% a 15%. Os animais acometidos são descartados mais cedo devido a outros transtornos, tais como infertilidade e queda na produção de leite, pois os órgãos e sistemas são atingidos com o desenvolvimento do linfossarcoma originando problemas circulatórios, respiratórios, digestivos, reprodutivos, urinários e neurológicos (BRAGA et al., 1998; SILVA et al., 2008).

O primeiro reconhecimento científico da leucose enzoótica dos bovinos (LEB), no Brasil, ocorreu em 1959 (MERKT et al., 1959; SANTOS et al., 1959). No estado do Paraná, o primeiro registro da doença aconteceu duas décadas mais tarde, com achados anatomopatológicos de necropsias em bovinos (DINIZ et al., 1979).

O primeiro estudo de prevalência leucose enzoótica bovina em rebanhos leiteiros no estado do Paraná foi feito por KANTEK e colaboradores em 1983. Muitos trabalhos foram realizados em vários estados do Brasil para identificação da LEB, com uma média da prevalência da enfermidade no país de 27,6%, sem considerar a raça dos animais testados (DEL FAVA & PITUCO, 2003; BIRGEL JUNIOR et al., 2006).

O objetivo deste trabalho foi detectar a prevalência de bovinos leiteiros sororreagentes para o vírus da leucemia bovina (VLB), criados na região metropolitana de Curitiba-PR, usando o método de diagnóstico de imunodifusão em gel de agar.

 

MATERIAL E MÉTODOS

Amostras de soro sanguíneo de 268 bovinos leiteiros, de cinco propriedades dos municípios de Pinhais, São José dos Pinhais, Campina Grande do Sul e Fazenda Rio Grande, todos situados na região metropolitana de Curitiba, foram colhidas no ano de 2007.

            A colheita das amostras sanguíneas foi realizada com agulhas 40x12 por punção da veia jugular de animais jovens (um a doze meses de idade) ou veia coccígea dos animais maiores que doze meses. O sangue foi armazenado em tubos com a capacidade de 10 ml, estes mantidos a temperatura ambiente de 3 a 4 horas para facilitar a retração do coágulo, posteriormente foram centrifugados por 15 minutos com uma velocidade de 1000G, procedimento realizado no Laboratório de Análises Clínicas da UFPR em Curitiba. O soro obtido pela centrifugação foi separado em três alíquotas de 1,5mL por uma micropipeta e armazenadas em tubos Eppendorf a -20°C até a realização da prova de IDGA.

A pesquisa de anticorpos séricos anti-VLB foi realizada no Laboratório de Virologia do Centro de Diagnóstico Marcos Enrietti, pela prova de imunodifusão em gel de agar (IDGA), segundo a metodologia padronizada por MILLER; VAN DER MAATEN (1976).

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dos 268 bovinos analisados na região metropolitana de Curitiba o valor absoluto e relativo de animais positivos e negativos para o vírus da leucose bovina pela prova de IDGA foram respectivamente, 151(56,34%) e 117 (43,66%).

Outros trabalhos sobre a prevalência da leucose enzoótica bovina no Estado do Paraná já foram realizados. Recentemente SPONCHIADO (2008) relatou a prevalência de 49,04% em bovinos da raça Holandesa Preta e Branca criados em diversas regiões do estado. KANTEK et al. (1983), portanto, há cerca de 25 anos, encontraram 20,7% de bovinos leiteiros soropositivos no Paraná. Analisando-se os dois trabalhos, a população estudada foi bastante semelhante e observa-se um aumento pronunciado de bovinos soropositivos. Outro estudo publicado por CARVALHO et al. (1996) na região de Londrina, com bovinos da raça Holandesa Preta e Branca mostrou a prevalência de 18,4%. Em 2003, LEUZZI JR. et al., no norte do Paraná, também com bovinos leiteiros, chegou ao valor de 40,7% de animais soropositivos. Quando se confronta os resultados retro citados com os da presente pesquisa, há uma tendência em se afirmar que houve um aumento, com o passar dos anos, de animais infectados pelo vírus da leucose bovina e parece haver uma ampla disseminação do agente nos bovinos leiteiros criados no Paraná.

Em outros estados da federação o vírus da LEB também esta presente. CORDEIRO et al. (1994) e LUDERS (2001) em trabalhos feitos no Estado de Santa Catarina com bovinos leiteiros, encontram prevalência de 35% e 7,6%. Em São Paulo vários estudos foram realizados (BIRGEL et al. 1988; BIRGEL JR. et al., 1995; D´ANGELINO et al., 1998 e MEGID et al., 2003) e a prevalência variou naquela região de 49,2% a 54,0%, resultados semelhantes aos descritos neste trabalho. Em regiões do Brasil um pouco mais distantes do Paraná, podem-se referenciar os trabalhos de FLORES et al. (1990) e POLLETO et al. (2004) no Rio Grande do Sul com valores de 20,7% e 23,5% e deste modo, com valores mais baixos aos descritos nesta pesquisa. Em Minas Gerais, LEITE et al. (1984) com 70,9 % e no Rio de Janeiro, ROMERO & ROWE (1981) com 53,3% respectivamente, foram encontrados soroprevalências maiores e semelhantes aos encontrados na região Metropolitana de Curitiba.

                  Em estudo realizado no Centro Oeste, Goiás, por ANDRADE & ALMEIDA (1991), 46% dos bovinos leiteiros foram positivos para a LEB. No Nordeste e Norte do Brasil, MELO (1991) em Pernambuco, SIMÃO (1998) na Paraíba, MATOS et al. (2005) na Bahia e CARNEIRO et al. (2003) no Amazonas relataram 23,1%, 8,3%, 47,0% e 9,6% respectivamente. Diante de tais resultados pode-se inferir que a prevalência da doença esta aumentando com o passar do tempo a despeito de a doença ser bastante estudada e as medidas preventivas serem amplamente conhecidas.

 

CONCLUSÃO

            A leucose enzoótica bovina está disseminada no Brasil e também na região metropolitana de Curitiba. Medidas preventivas e sanitárias devem ser realizadas por meio de exames sorológicos e um constante acompanhamento veterinário, visando o saneamento gradativo dos rebanhos.

 

AGRADECIMENTOS

Ao Instituto Tecnológico do Paraná – TECPAR pela cessão dos kits de diagnóstico.

 

 

REFERÊNCIAS

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