OCORRÊNCIA
DA TUBERCULOSE
Helder de Moraes Pereira1, Hamilton
Pereira Santos2, Danilo Cutrim Bezerra3 e Denise
Porto Pereira4,
1. Médico
veterinário, MSc, Dr., Prof. do Curso de Medicina Veterinária, Universidade
estadual do Maranhão .
2. Médico
veterinário, MSc, professor do Curso de Medicina Veterinária, Universidade
estadual do Maranhão. E-mail: hpsluiza@yahoo.com.br (autor
correspondente).
3. Médico
Veterinário, Mestrando
4. Acadêmica do Curso de Medicina Veterinária, Universidade Estadual do Maranhão.
PALAVRAS-CHAVE: Mycobacterium bovis, ruminante, tuberculinização
ABSTRACT
OCCURRENCE OF TUBERCULOSIS IN CATTLE RAISED IN THE
Bovine tuberculosis is a
chronic debilitating disease caused by Mycobacterium bovis and can also
infect humans. An important step against it is to determine its frequency in
herds. This study assesses the occurrence of bovine tuberculosis in a farm
located in the
KEYWORDS: Mycobacterium bovis, ruminant, tuberculosis test.
INTRODUÇÃO
A tuberculose bovina é considerada uma zoonose infecto-contagiosa de caráter crônico, caracterizada pela formação de granulomas específicos, denominados tubérculos e destaca-se por assumir caráter de doença profissional, mais freqüente entre os indivíduos que têm contato direto com animais infectados ou com produtos provenientes destes, como é o caso de veterinários, laboratoristas, tratadores e magarefes (OLIVEIRA et al., 2007). De acordo com GRANGE & YATES (1994) o seu agente etiológico é o Mycobacterium bovis, microrganismo pertencente à ordem Actinomycetales e à família Mycobacteriaceae.
Observa-se que casos de tuberculose são relatados desde as primeiras civilizações e são inúmeras as referências que datam anteriormente à era bacteriana sobre a ingestão de carne dos animais enfermos como possível fonte de transmissão da tuberculose (Souza et al., 2005). Apesar disso, pastos e alimentos contaminados são de menor importância na transmissão da doença, pois o bacilo pode ser eliminado pela respiração, leite, fezes, pelo corrimento nasal, urina, secreções vaginais e uterinas e pelo sêmen; e quando o bovino é infectado, pode transmitir a doença aos outros, mesmo antes do desenvolvimento das lesões nos tecidos. A transmissão intra-uterina e pelo coito são menos comuns e a transplacentária é considerada muito rara ou inexistente em bovinos (NEIL et al., 1994; AZEVEDO & MORAIS, 2003).
Os sinais clínicos somente serão evidentes na doença quando já em fase avançada, entretanto, bovinos com lesões extensas podem apresentar bom estado de saúde. À medida que a doença progride, a perda da condição física torna-se evidente (BRASIL, 2006). Outros sinais que alguns animais podem apresentar são: perda de peso, debilidade, anorexia, caquexia, sinais respiratórios, apetite seletivo e temperatura oscilante (RADOSTITS et al., 2002).
Quanto aos prejuízos, a doença pode acarretar perdas de 10% a 25% à cadeia produtiva de leite e carne. Os problemas que causa ao comércio internacional, à saúde pública e à pecuária assumem grande importância principalmente nos países em desenvolvimento, onde a prevalência da doença é maior (WEDLOCK et al., 2002).
No Brasil, a tuberculose bovina está disseminada por todo o território nacional, porém a sua ocorrência e distribuição regional não estão bem caracterizadas (BRASIL, 2001). OLIVEIRA (2007) encontrou no Município de Mossoró prevalência de 8,66%, já BATISTA (2004), descreveu 8,7% no estado de Minas Gerais.
O diagnóstico pode ser feito in vivo, por meio de exame clínico e o teste de tuberculinização, que é obrigatório para a produção de leite e comercialização de animais. Após a morte pode ser realizados exame histopatológico e bacteriológico (ROXO, 1997).
Considerando a importância da enfermidade em questão como zoonose, o que representa grande preocupação com a saúde pública, e aliada à escassez de dados sobre a ocorrência da tuberculose, objetivou-se estimar a freqüência da tuberculose bovina em uma propriedade do município Santa Rita - MA.
MATERIAL
E MÉTODOS
A pesquisa foi realizada no município de Santa Rita, Maranhão, que possui uma área de 786 km2 e população de 30.882 pessoas (IBGE, 2007).
Foram testados
264 bovinos, fêmeas e utilizadas para produção leiteira. O rebanho era
constituído de animais das raças Gir (n=43) e Girolanda (n=221) que foram
distribuídos em faixas etárias de zero a três anos (n=119), quatro a sete anos
(n=57) e mais de sete anos (n=88). Estes animais foram submetidos à prova de
tuberculinização comparativa (BRASIL, 2006), sendo empregada a tuberculina PPD
aviária e PPD bovina, na concentração de 1 mg de proteína por mL (32.500 UI) e
0,5 mg de proteína por mL (25.000 UI) por dose, respectivamente. A aplicação
das tuberculinas foi intradérmica, sendo a aviária anterior à PPD bovina em
locais previamente tricotomizados, cerca de
A
leitura foi
realizada 72 horas após a inoculação, baseando-se
nas recomendações de
interpretação da tuberculinização para
bovinos. A mensuração foi feita com o cutímetro,
instrumento utilizado para medir a área da reação
alérgica. A reação cutânea
foi quantificada pela diferença de mensuração
antes e no ato da leitura. Foram
considerados positivos animais que após
tuberculinização apresentaram espessura
superior a
RESULTADOS
E DISCUSSÃO
Dos 264 animais examinados, 32 (12,12%) apresentaram reações positivas ao
teste cervical comparativo e 16 (6,06%) reações inconclusivas, sendo
classificados como suspeitos. O maior percentual de positivos foi observado na
raça Girolanda, com 11,74% (n=31) quando comparado ao encontrado na raça Gir,
sendo, apenas 0,37% (n=01) foi positivo. Estes valores estão bem acima da média
nacional de 1,3%, segundo dados de notificações oficiais de animais reagentes à
tuberculina no período de
A prevalência também foi elevada em Mossoró, RN, sendo descrito 8,66% e 3,33% para 150 vacas leiteiras testadas por meio do teste da prega caudal e 120 bovinos pelo teste da tuberculinização cervical comparada, respectivamente (OLIVEIRA et al., 2007).
No município de Ilhéus, BA, a
prevalência da tuberculose foi de 2,8% em fêmeas bovinas com idade acima de 24
meses. O diagnóstico foi feito por meio do teste intradérmico cervical
comparativo em 916 animais (RIBEIRO et
al., 2003). Já em trabalho realizado em quatro municípios do sudoeste
paranaense foram testados 13.214 animais por meio do teste cervical simples e a
prevalência de tuberculose foi de 0,098%, inferior à média nacional (SABEDOT et
al., 2009). Estes dados diferem consideravelmente dos descritos nesta pesquisa,
o que demonstra o risco epidemiológico que a propriedade representa.
Com relação à idade, o maior número de animais positivos foi encontrado entre aqueles que possuíam mais de sete anos, com um total de 15 bovinos (5,68%) do total testado. Foram identificados animais positivos em todas as faixas etárias, com oito positivos (3,03%) e quatro suspeitos (1,51%) na faixa etária de quatro a sete anos, e nove positivos (3,40%) e nenhum suspeito na de zero a três. A segunda maior percentagem quanto à faixa etária foi observada entre os animais mais jovens (zero a três anos), que podem ter adquirido a infecção através do leite contaminado das fêmeas adultas (MANGONI, 2009).
Os resultados obtidos demonstram que a
tuberculose é uma enfermidade relevante na propriedade testada, pois se encontra amplamente disseminada
no rebanho leiteiro.
Faz-se necessária rápida aplicação de medidas que visem o controle e erradicação da doença.
REFERÊNCIAS
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