FREQUÊNCIA
E FATORES ASSOCIADOS À INFECÇÃO PELO VÍRUS DA DIARRÉIA VIRAL BOVINA (BVDV)
Nancyleni
Pinto Chaves1, Danilo Cutrim Bezerra2,
Francisco Borges Costa2, Vanessa Evangelista de Sousa3,
Hamilton Pereira Santos4 e Hélder de Moraes Pereira5
This study assesses the frequency and factors
associated with antibodies against bovine viral diarrhea virus (BVDV) in the
municipalities of
KEYWORDS: Antibodies, indirect
Elisa, infectious diseases
INTRODUÇÃO
O vírus da diarréia viral bovina
(BVDV) é o agente etiológico da diarréia viral bovina (BVD), enfermidade
altamente contagiosa que, na fase aguda da doença, apresenta potencial
imunodepressor. A importância econômica dessa virose está diretamente
relacionada aos aspectos produtivos e reprodutivos, que podem incluir
queda na produção de leite, decréscimo na taxa de concepção,
abortamento, mumificação fetal, nascimento de bezerros fracos e aumento
da taxa de mortalidade neonatal (HOUE, 1999).
Tanto em rebanhos bovinos de corte
quanto de leite o BVDV está associado a várias manifestações clínicas como
problemas reprodutivos e entéricos e/ ou respiratórios. A infecção fetal com
amostras não citopatogênicas (NCP) entre os dias
Na maioria dos países a BVD é
endêmica, com soroprevalência de 50% a 90%, (HOUE, 1999). A infecção pelo BVDV está amplamente difundida no
rebanho bovino brasileiro. Isolamentos do vírus foram realizados nas regiões Sudeste,
Centro-Oeste e Sul e nos estados de São Paulo (78%), Rio de Janeiro (71%),
Minas Gerais (61%), Goiás (54%), Mato Grosso do Sul (43%), Rio Grande do Sul
(73%), Paraná (67%), Bahia (56%), Pernambuco (70%) e Sergipe (64%), os
resultados sorológicos comprovam que o vírus está disseminado na população
bovina destes estados (FLORES et al., 2005).
Deste modo, considerando-se a
importância que a BVD possui nos rebanhos bovinos, principalmente aqueles
voltados à exploração leiteira, o trabalho foi realizado com o objetivo de
conhecer a situação epidemiológica da infecção pelo BVDV nos rebanhos bovinos
de aptidão leiteira das regionais de Bacabal e Pedreiras, por meio da
determinação da frequência e de possíveis fatores de risco associados a essa
enfermidade.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado
nas regionais de Bacabal (municípios de Bacabal, Bom Lugar, Lago Verde, Olho
d’Água das Cunhas e São Luís Gonzaga) e Pedreiras (municípios de Bernardo do
Mearim, Igarapé Grande, Pedreiras e Trizidela do Vale), integrantes da bacia
leiteira do estado do Maranhão. Inicialmente foram realizados sorteios
para determinar quais propriedades deveriam ser amostradas. O tamanho amostral
determinado foi de 360 animais, utilizando uma expectativa de prevalência de 70%, margem de erro de 3% e um nível de
confiança de 95% (STEVENSON, 1981).
Alguns critérios foram
considerados por ocasião da escolha das propriedades, entre eles sistema de criação semi-intensivo, condições de
manejo e nutrição semelhantes e sem histórico de vacinação anterior para BVD.
Com essas características, foi possível selecionar 36 propriedades, sendo, 20 da regional de Bacabal e 16 da regional de Pedreiras.
Em cada propriedade foi aplicado questionário
epidemiológico para obter informações referentes às
propriedades, animais estudados e fatores eventualmente associados à infecção
pelo BVDV, como idade, tipo de ordenha, produção de leite/dia, assistência
veterinária reprodução e alterações reprodutivas. Para o estudo da
associação entre a soropositividade e as variáveis analisadas, foi utilizado o
teste exato de Fisher, com 95% de confiança, para verificar diferença
significativa entre as observações.
O sangue foi coletado de fêmeas bovinas pela
punção da veia jugular, com agulhas descartáveis e sistema de vácuo, em tubos
esterilizados. O soro foi separado do sangue total por centrifugação a 250 x g,
durante 15 min. Em seguida, as amostras foram acondicionadas em microtubos e
estocados à temperatura de
RESULTADOS
E DISCUSSÃO
O presente estudo sorológico revelou que 69,44% (n=250) das amostras
analisadas apresentaram anticorpos anti-BVDV. Valor que está de acordo com as
estimativas de prevalência de anticorpos na população bovina adulta, que varia
de
Nos 09 municípios estudados, 100% tiveram animais reagentes. Das 36
propriedades amostradas, 91,66% (n=33) apresentaram pelo menos um animal
reagente, esta freqüência corrobora com os achados de DIAS & SAMARA (2003),
no estado de Minas Gerais e noroeste do estado de São Paulo. Apenas 8,34%
(n=03) propriedades não apresentaram amostras reagentes. A frequência de
bovinos reagentes para o BVDV por propriedade variou de
Quanto à faixa etária foi encontrado maior frequência para animais três
a sete anos de idade, com 41,94% (n= 151) de reagentes. Situação semelhante foi
observada por CASTRO et al. (1993), no estado de Pernambuco. Isto pode ser
atribuído ao fato destes animais estarem no pico das atividades produtiva e
reprodutiva, tornando-os susceptíveis a enfermidades de etiologias diversas.
Entre as variáveis abordadas no questionário epidemiológico, algumas
propriedades apresentaram dados sugestivos da presença da infecção pelo BVDV,
bem como prováveis fatores de risco para a infecção no rebanho.
Em relação ao tipo de ordenha verificou-se que 100% (n=36) das
propriedades realizavam ordenha manual, já a variável produção de leite/vaca
mostrou maior frequência de reagentes nas propriedades com produção de
Em relação à assistência médica veterinária,
verificou-se que nenhuma das propriedades utilizava assistência técnica. No
presente estudo, a ausência de “assistência veterinária” não foi considerada
fator de risco para BVDV, entretanto, a falta de assistência pode ter refletido
especialmente no diagnóstico e na ausência de implantação de programas de
controle para BVD.
Todas as propriedades utilizavam somente monta
natural como forma de reprodução. FRAY et al. (2000) observaram que o sêmen de
reprodutores cursando a forma aguda da doença pode se tornar fonte transitória
de infecção. Acerca do histórico de sinais reprodutivos e abortamento nas
propriedades estudadas, verificou-se que 100% das propriedades apresentavam
alterações reprodutivas.
Os resultados do estudo são
preocupantes, já que se trata de uma região onde as propriedades não adotam
vacinação contra BVD em seu manejo sanitário; os anticorpos, portanto, não são
de origem vacinal. De modo geral, os dados obtidos no estudo reforçam que a BVD
é mais um problema sanitário com o qual os pecuaristas têm de conviver. Adotar
medidas de controle, como a identificação de animais PI seria uma alternativa
viável para alguns rebanhos. A vacinação pode ser o meio mais vantajoso para
controlar essa situação, porém é importante ressaltar que as vacinas nem sempre
são eficazes. Isso porque existe o agravante de algumas estirpes isoladas no
Brasil serem pouco neutralizadas pelos anticorpos contra estirpes de referência
internacional usadas nas vacinas comerciais (VAN OIRSCHOT et al., 1999).
O pouco conhecimento que muitos
profissionais têm sobre a importância da doença, associado à alta prevalência
de animais reagentes, pode aumentar a probabilidade da disseminação da infecção
entre os rebanhos, o que reforça a necessidade da implantação de programas de controle.
CONCLUSÕES
Com este trabalho registra-se a primeira
ocorrência de anticorpos anti-BVDV nas regionais de Bacabal e Pedreiras, e
pode-se concluir que, a frequência de anticorpos anti-BVDV nesta região foi
alta e os fatores de risco analisados não apresentaram
associação estatística significativa para a infecção.
REFERÊNCIAS
BROWNLIE, J. The
pathogenesis of bovine viral diarrhea virus infections. Revue Scientifique et
Tecnique, Office International des Epizooties, v. 9, p. 43-59, 1990.
CASTRO, R. S.; MELO, L. E. H.; ABREU, S. R. O.;
MUNIZ. A. M. M.; ALBUQUERQUE. A. P. S. Anticorpos neutralizantes contra
pestivirus em soros bovinos do estado do Pernambuco. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v. 28, n. 11, p. 1327-1331,
1993.
DIAS, F.C.; SAMARA, S.I. Detecção de anticorpos
contra o vírus da diarréia viral bovina no soro sangüíneo, no leite individual
e no leite de conjunto em tanque de expansão de rebanhos não vacinados. Brazilian Journal of Veterinary
Research and Animal Science,
FLORES, E. F.; WEIBLEN, R.; VOGEL, F. S. F.;
ROEHE, P. M.; ALFIERI, A. A.; PITUCO, E. M. A infecção pelo vírus da diarréia
viral bovina (BVDV) no Brasil - Histórico, situação atual e perspectivas. Pesquisa Veterinária Brasileira, Rio de
Janeiro, v. 25, n. 3 p. 125-134, 2005.
FRAY, M. D.; PATON, D. J.;
ALENIUS, S. The effects of bovine viral diarrhoea virus on cattle reproduction
in relation to disease control. Animal Reproduction Science, Amsterdam, v. 60-61, p. 615-627, 2000.
GUIMARÃES, P. L. S. N.; CHAVES, N. S. T.; SILVA,
L. A. F.; ACYPRESTE, C. S. Freqüência de anticorpos contra o vírus da diarréia
viral bovina em bovinos do entorno de Goiânia, em regime de criação
semi-extensivo. Ciência Animal Brasileira, Goiânia, v. 1, n. 2,
p. 137-142, 2000.
HOUE, H. Epidemiological features and economical
importance of bovine viral diarrhea virus (BVDV) infections. Veterinary
Microbiology,
HOWARD, C.J.; CLARKE,
M.C.; BROWNLIE, J. An enzyme-linked immunosorbent assay (ELISA) for the
detection of antibodies to bovine viral diarrhea virus (BVDV) in cattle sera. Veterinary Microbiology, Amsterdam, v.10, p.359-369, 1985.
QUINCOZES, C. G.; FISCHER, G.;
HUBNER, S. O.; VARGAS, G. D’AVILA.; VIDOR, T.; BROD, C. S. Prevalência e fatores
associados à infecção pelo vírus da diarréia viral bovina na região Sul do Rio
Grande do Sul. Ciências Agrárias,
Teresina, v. 28, n. 2, p. 269-276, 2007.
SAMARA, S. I.; DIAS.; F. C.; MOREIRA.; S. P. G. Ocorrência da diarréia viral bovina nas
regiões sul do Estado de Minas Gerais e nordeste do Estado de São Paulo. Brazilian Journal of Veterinary
Research and Animal Science,
STEVENSON, W. J. Estatística aplicada à
administração. São Paulo: Harper e Ron do Brasil, 1981. 485p.
VAN OIRSCHOT, J. T.;
BRUSCHKE, C. J.; VAN RIJN, P. A. Vaccination of cattle against bovine viral
diarrhoea. Veterinary Microbiology,