FREQUÊNCIA DE ANTICORPOS CONTRA O
VÍRUS DA DIARRÉIA VIRAL BOVINA (BVDV)
Vanessa
Evangelista de Sousa1, Nancyleni Pinto Chaves2,
Danilo Cutrim Bezerra3, Hamilton Pereira Santos4 e Hélder
de Moraes Pereira5
This study assesses the frequency of antibodies
against bovine viral diarrhea virus (BVDV) in dairy cattle raised on the
KEYWORDS: Indirect Elisa, infectious diseases, virosis.
INTRODUÇÃO
A diarréia viral bovina (BVD) é uma das doenças mais
importantes dos bovinos. O agente etiológico é um RNA vírus da família
Flaviviridae, gênero Pestivírus, espécies BVD-1 e BVD-2 e biotipos
citopatogênico (CP) e não-citopatogênico (NCP). O vírus é altamente infeccioso
e apresenta instabilidade do material genético o que confere variação
antigênica, genotípica e biotípica ao vírus (ICTV, 200).
A infecção pelo BVDV pode resultar em grande variabilidade
de sinais clínicos associados a enfermidades reprodutiva, respiratória ou
digestiva (diarréia viral bovina, BVD), doença das mucosas (DM) e BVD
agudo-hemorrágica. Tradicionalmente, as manifestações da infecção são
apresentadas em três categorias: infecção pós-natal ou BVD, infecção fetal e
doença das mucosas (DM) (BROWNLIE, 1990).
O vírus pode ser transmitido através da saliva, secreções
nasal, ocular, urina, fezes, sêmen, embrião, placenta, fômites contaminados e
sangue. Os animais se infectam de duas maneiras, pela infecção pós-natal de
bovinos que não tiveram exposição prévia ao vírus ou pela infecção fetal
durante a gestação. Quando a infecção fetal ocorre entre
Na maioria dos países a BVD é endêmica, com
soroprevalência de 50% a 90%, (HOUE, 1999).
A infecção pelo BVDV está amplamente difundida no rebanho bovino brasileiro. Isolamentos do vírus foram realizados
nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul e nos estados de São Paulo (78%), Rio
de Janeiro (71%), Minas Gerais (61%), Goiás (54%), Mato Grosso do Sul (43%),
Rio Grande do Sul (73%), Paraná (67%), Bahia (56%), Pernambuco (70%) e Sergipe
(64%), os resultados sorológicos comprovam que o vírus está disseminado na
população bovina (VIDOR, 1974; DIAS & SAMARA, 2003).
Deste modo, considerando-se a
importância que a BVD possui nos rebanhos bovinos, principalmente aqueles
voltados à exploração leiteira, o trabalho foi realizado com o objetivo de
estabelecer a frequência de anticorpos anti-BVDV nos rebanhos bovinos da bacia
leiteira da Ilha de São Luís, estado do Maranhão.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado
na bacia leiteira da Ilha de São Luís (municípios de Paço do Lumiar, São José
de Ribamar, São Luís e Raposa). Inicialmente foram realizados sorteios
para determinar quais propriedades deveriam ser amostradas. O tamanho amostral
determinado foi de 156 animais, utilizando uma expectativa de prevalência de 70%, margem de erro de 3% e um nível de
confiança de 95% (STEVENSON, 1981).
Alguns critérios foram
considerados por ocasião da escolha das propriedades, entre eles sistema de criação semi-intensivo, condições de
manejo e nutrição semelhantes e sem histórico de vacinação anterior para BVD.
Com essas características, foi possível selecionar 16 propriedades. Em
cada propriedade foi aplicado questionário epidemiológico para obter informações referentes às propriedades e aos
animais estudados, como idade, produção de leite/dia, alterações reprodutivas e
assistência veterinária.
O sangue foi coletado de fêmeas bovinas pela
punção da veia jugular, com agulhas descartáveis e sistema de vácuo, em tubos
esterilizados. O soro foi separado do sangue total por centrifugação a 250 x g,
durante 15 min. Em seguida, as amostras foram acondicionadas em microtubos e
estocados à temperatura de
RESULTADOS
E DISCUSSÃO
O presente estudo sorológico
revelou que 67,30% (n=105) das amostras analisadas apresentaram
anticorpos anti-BVDV. Essa frequência, por sua vez, está de acordo com
as estimativas de prevalência de anticorpos que varia entre 50% a 90% (BROWNLIE, 1990; HOUE,
1999). Ao contrário das afirmações feitas por muitos profissionais
ligados à pecuária bovina, que a BVD é uma doença exótica e que não ocorre no
Brasil, o estudo realizado mostra o contrário.
Nos 16 municípios estudados, 100% apresentaram pelo menos dois animais
reagentes. Esses resultados diferem dos encontrados por VIEIRA et al. (1999),
que ao analisar amostras de 23 municípios de Goiás, detectaram que 52% (n=15)
destes apresentaram amostras reagentes. Essa variação pode estar relacionada a
questões regionais, tipo de exploração e idade dos animais utilizados no
estudo.
Das 16 propriedades amostradas, 100% apresentaram
animais reagentes ao BVDV, resultados semelhantes foram encontrados por RICHTZEINHAIN
(1997) em pesquisa realizada no estado de São Paulo. Reforçam esses resultados
as observações feitas por NETTLETON & ENTRICAN (1995), em que teoricamente
todos os rebanhos bovinos estão infectados com BVDV. O percentual de
positividade variou de 20% a 100%. Essa variação ocorreu tanto nas propriedades
onde houvera aquisição recente de animais como naquelas que não receberam novos
bovinos há pelo menos 01 ano, o que significa que a fonte de infecção deve
provavelmente estar dentro das próprias fazendas.
Entre as variáveis abordadas no questionário epidemiológico, algumas
propriedades apresentaram dados sugestivos da presença da infecção pelo BVDV.
Quanto à faixa etária foi encontrado maior frequência para animais de três a sete
anos de idade, com 62% (n= 39,74) de reagentes. Situação semelhante foi
observada por CASTRO et al. (1993), no estado de Pernambuco. Isto pode ser
atribuído ao fato destes animais estarem no pico das atividades produtiva e
reprodutiva, tornando-os susceptíveis a enfermidades de etiologias diversas.
As maiores frequências de animais reagentes foram encontradas nas
propriedades menos tecnificadas, com volume menor (1-
A alteração reprodutiva mais frequente
(abortamento) foi detectada nas 16 propriedades, porém não foi informado o
nascimento de bezerros débeis, com alterações motoras ou más-formações
congênitas em nenhuma das propriedades. No entanto estes nascimentos podem até
ter acontecido, porém não tiveram atenção dos proprietários e provavelmente não
foram levados ao conhecimento de médico veterinário, já que, apenas 18,75%
(n=3) das propriedades tinham a assistência veterinária. No presente estudo, a
falta de assistência médica veterinária pode ter refletido especialmente no
diagnóstico e na ausência de implantação de programas de controle para BVD.
Portanto, de modo geral, os resultados obtidos
neste estudo reforçam que a BVD consiste em mais um problema com o qual os
pecuaristas brasileiros têm de conviver. Tanto é que FREDRIKSEN et al. (1998) afirmaram
que depois da mastite, é a BVD que causa as maiores perdas econômicas nos
rebanhos leiteiros em muitos países.
Adotar medidas de controle, identificar animais PI, e o uso da vacinação
pode ser o meio mais vantajoso para controlar essa situação, conforme afirmação
de DEREGT & LOEWEN (1995), porém é importante ressaltar que essas vacinas
nem sempre são eficazes. Isso porque existe o agravante de que algumas estirpes
isoladas no Brasil são pouco neutralizadas pelos anticorpos contra estirpes de
referência internacional usadas nas vacinas comerciais.
O pouco conhecimento que muitos profissionais têm
sobre a importância da doença, associado à alta prevalência de animais
soropositivos, pode aumentar a probabilidade da disseminação da infecção entre
os rebanhos, o que reforça a necessidade da implantação de programas de
controle. Esses programas devem iniciar basicamente com a difusão da informação
sobre as consequências da doença, nos procedimentos racionais de identificação
da presença e na magnitude do problema.
CONCLUSÕES
Com este trabalho registra-se a primeira
ocorrência de anticorpos anti-BVDV na Bacia leiteira da Ilha de São Luís e
pode-se concluir que a infecção foi constatada nos rebanhos estudados e as
maiores frequências de animais reagentes quanto à presença de anticorpos contra
o BVDV foram encontradas principalmente nos rebanhos mais simples e menos tecnificados.
REFERÊNCIAS
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pathogenesis of bovine viral diarrhea virus infections. Revue Scientifique et Tecnique, Office International des Epizooties, v.9,
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