FREQUÊNCIA DE ANTICORPOS CONTRA O
HERPESVÍRUS BOVINO TIPO 1 (BHV-1)
Vanessa
Evangelista de Sousa1, Danilo Cutrim Bezerra2,
Nancyleni Pinto Chaves3, Hamilton Pereira Santos4 e Hélder
de Moraes Pereira5
This study assesses the frequency of antibodies
against Herpesvirus Type 1 (BHV-1) in dairy cattle raised on the
KEYWORDS: Indirect Elisa, infectious diseases, virosis.
INTRODUÇÃO
A rinotraqueíte infecciosa bovina (IBR) é uma das doenças virais mais
importantes dos bovinos. O agente etiológico é um vírus,
denominado herpesvírus bovino tipo 1 (BHV-1). Este vírus é um importante agente
infeccioso que causa perdas significativas na pecuária bovina. Como todos os
herpesvírus, após infecção aguda, o vírus permanece em estado de latência,
alojando-se em gânglios nervosos regionais, podendo ser reativado quando os
animais são expostos a fatores predisponentes estressantes que diminuem sua
resistência imunológica e, com isso, ser excretado infectando outros animais
susceptíveis no rebanho (JONES, 2003).
As infecções pelo BHV-1 podem contribuir com reduções consideráveis
nos índices de reprodução dos rebanhos infectados. Na dependência do período
gestacional e das estruturas envolvidas, a infecção pode determinar mortalidade
embrionária precoce e/ou tardia, com repetição de cio a intervalo regular ou
irregular, abortamento, natimortalidade e nascimento de bezerros fracos. O
aparelho reprodutivo também é bastante susceptível aos efeitos da infecção pelo
vírus, podendo ocorrer quadros de balanopostite pustular infecciosa (IPV),
vulvovaginite pustular infecciosa (IPV), endometrite, salpingite e ooforite,
que apresentam a infertilidade temporária como principal consequência (TAKIUCHI
et al. 2005).
O BHV-1 está amplamente distribuído e com alta frequência em rebanhos
bovinos de todo o mundo. Evidências sorológicas demonstram a presença, bem como
a alta frequência de infecções pelo BHV-1 também nos rebanhos brasileiros.
Dados regionais, obtidos a partir de estudos sorológicos, revelam a expressiva
disseminação do vírus em rebanhos de corte e leite. No Rio Grande do Sul foram
descritas frequências de soreagentes de 81,70% (RAVAZZOLO et al. 1989) a 18,80%
(LOVATO et al. 1995). TAKIUCHI et al. (2001), verificaram frequência de animais
soropositivos para o BHV-1 variando entre 52,4% a 81,7%, em rebanhos não
vacinados, provenientes dos estados de São Paulo, Paraná, Rondônia, Mato Grosso
do Sul, Mato Grosso e Goiás.
Deste modo,
considerando-se a importância que a infecção pelo BHV-1 possui nos rebanhos
bovinos, principalmente aqueles voltados à exploração leiteira, o trabalho foi
realizado com o objetivo de estabelecer a frequência de anticorpos anti-BHV-1
nos rebanhos bovinos da bacia leiteira da Ilha de São Luís, estado do Maranhão.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado
na bacia leiteira da Ilha de São Luís (municípios de Paço do Lumiar, São José
de Ribamar, São Luís e Raposa). Inicialmente foram realizados sorteios
para determinar quais propriedades deveriam ser amostradas. O tamanho amostral
determinado foi de 156 animais, utilizando uma expectativa de prevalência de 70%, margem de erro de 3% e um nível de
confiança de 95% (STEVENSON, 1981).
Alguns critérios foram
considerados por ocasião da escolha das propriedades, entre eles sistema de criação semi-intensivo, condições de
manejo e nutrição semelhantes e sem histórico de vacinação anterior para IBR.
Com essas características, foi possível selecionar 16 propriedades. Em
cada propriedade foi aplicado questionário epidemiológico para obter informações referentes às propriedades e aos
animais estudados, como idade, produção de leite/dia, alterações reprodutivas e
assistência veterinária.
O sangue foi coletado de fêmeas bovinas pela
punção da veia jugular, com agulhas descartáveis e sistema de vácuo, em tubos
esterilizados. O soro foi separado do sangue total por centrifugação a 250 x g,
durante 15 min. Em seguida, as amostras foram acondicionadas em microtubos e
estocadas à temperatura de
RESULTADOS
E DISCUSSÃO
O presente estudo sorológico
revelou que 67,50% (n=108) das amostras analisadas apresentaram
anticorpos contra o BHV-1. Essa frequência, assemelha-se à observada por
MÉDICI et al. (2000) no estado do Paraná com 43,70% de animais reagentes ao
BHV-1. Coeficientes menores ou maiores já foram descritos, mas essas diferenças
têm sido apontadas como consequência do tipo de população bovina estudada,
faixa etária, condições de manejo, técnicas de amostragem e de diagnóstico
utilizadas, além das heterogeneidades regionais de cada estudo (LOVATO et al.,
1995).
Nos municípios estudados, obtiveram-se
frequências de 62,5% (n=25), 65% (n=26), 60% (n=24) e 82,5% (n=33) para Paço do
Lumiar, São Luís, São José de Ribamar e Raposa, respectivamente. Das 16
propriedades amostradas, 100% apresentaram animais reagentes ao BHV-1. O
percentual de positividade variou de 30% a 100%. Essa variação ocorreu tanto
nas propriedades onde houvera aquisição recente de animais como naquelas que
não receberam novos bovinos há pelo menos um ano, o que significa que a fonte
de infecção deve provavelmente estar dentro das próprias fazendas.
Entre as variáveis abordadas no questionário
epidemiológico, algumas propriedades apresentaram dados sugestivos da presença
da infecção pelo BHV-1. Quanto à faixa etária foi encontrado maior frequência
para animais de três a sete anos de idade, com 43,75% (n=70) de reagentes.
Esses resultados são semelhantes e corroboram com os encontrados por MELO et
al. (2002), que demonstraram que animais mais velhos têm mais oportunidades de
exposição ao agente, em especial quando estes entram na fase reprodutiva.
As maiores frequências de animais reagentes foram encontradas nas
propriedades menos tecnificadas, com volume menor (
O
abortamento é a manifestação clínica de diversas enfermidades, inclusive da
Rinotraqueíte Infecciosa Bovina. Neste estudo, o histórico de abortamento foi
detectado nas 16 propriedades. Esses resultados demonstram que na região
estudada esse vírus pode ser o agente etiológico e deve ser incluído no
diagnóstico diferencial de problemas reprodutivos.
Não foi informado o nascimento de bezerros fracos,
com alterações motoras ou más-formações congênitas em nenhuma das propriedades,
no entanto estes nascimentos podem até ter acontecido, porém não tiveram
atenção dos proprietários e provavelmente não foram levados ao conhecimento de
médico veterinário, já que, apenas 18,75% (n=3) das propriedades tinham a
assistência veterinária. No presente estudo, a falta de assistência médica
veterinária pode ter refletido especialmente no diagnóstico e na ausência de
implantação de programas de controle para IBR.
É importante enfatizar que a infecção pelo BHV-1
apresenta índices elevados na bacia leiteira da Ilha de São Luís, conforme
observado pelos coeficientes de freqüência apresentados em animais, municípios
e propriedades. E, diferentemente de infecções que cursam de forma aguda, por
ser um vírus de infecção latente, a soropositividade para o BHV-1 representa a
presença do animal portador e potencial disseminador do vírus no rebanho por
toda a vida.
Em conseqüência desta latência e da alta
frequência, só se torna economicamente viável a implantação de programas de
controle/erradicação, se esses forem baseados na prevenção de novas infecções
combinada a remoção gradual de animais infectados e a utilização de vacinas
marcadas, que permitem a diferenciação entre animal infectado e vacinado, além
de melhoramento nas práticas de manejo do rebanho, como utilização de sêmen
livre de BHV-1, reposição de animais livres da doença e quarentena as ingresso
de novos animais nas propriedades (VAN WUIJCKHUISE et al., 1998).
CONCLUSÃO
Com este trabalho registra-se a primeira
ocorrência de anticorpos contra o BHV-1 na Bacia leiteira da Ilha de São Luís e
pode-se concluir que a infecção foi constatada nos rebanhos estudados.
REFERÊNCIAS
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virus type 1 and bovine herpesvírus 1 latency. Clinical Microbiology Reviews,
LOVATO, L. T.; WEIBLEIN, R.; TOBIAS, F. L.; MORAES, M.
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STEVENSON, W. J. Estatística aplicada à
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TAKIUCHI,
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VAN
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