Pesquisa
de Campylobacter
fetus
Leandro Babosa Bettero1,
Nielton Cézar Ton2, Graziela Barioni3, Marcus
Alexandre Vaillant Beltrame4
1.
Médico veterinário, Curso de Medicina
Veterinária; Centro Universitário Vila Velha
2.
Graduando de Medicina Veterinária;
Centro Universitário Vila Velha
3.
Médica veterinária, doutora, professora
do Curso de Medicina Veterinária; Centro Universitário Vila Velha (UVV),
29.102-770, Vila Velha, ES, Brasil, E-mail: gbarioni@uvv.br
(autor correspondente)
4.
Médico veterinário, mestrando, professor
do Curso de Medicina Veterinária; Centro Universitário Vila Velha (UVV)
PALAVRAS-CHAVE:
Bovino, campilobacteriose genital, isolamento bacteriano,
Pseudomonas aeruginosa.
ABSTRACT
CAMPYLOBACTER
FETUS IN PREPUTIAL FLUID OF BULLS FROM ESPÍRITO
Bovine genital campylobacteriosis (BGC) is a sexually
transmitted disease, which causes major economic losses due to reproductive failure
in affected animals. It is not easily diagnosed because of the microaerophilic
nature of its causative agent, Campylobacter
fetus. This study assesses C. fetus
in preputial bull fluid collected by scraping of smegma for isolation of the
bacteria in selective medium. Animals were aged 42 to 60 months, were not
sexually active, and were raised in the
KEYWORDS:
Bacterial isolation, bovine,
genital campylobacteriosis, Pseudomonas aeruginosa
INTRODUÇÃO
Dentre os mais
importantes fatores associados com a rentabilidade da pecuária bovina, a
reprodução afeta mais diretamente o nível de produtividade, sendo dependente de
fatores nutricionais, genéticos, sanitários e, sobretudo, um manejo adequado. Doenças como leptospirose, BVD, IBR, brucelose
e campilobacteriose, apresentam altas taxas de abortos ou manifestações
clínicas que despertam grande interesse dos criadores e técnicos por
prejudicarem a performance reprodutiva dos rebanhos (PELLEGRIN, 2002).
A campilobacteriose genital bovina (CGB),
anteriormente conhecida como vibriose bovina, é uma doença do trato genital dos
bovinos causada pela bactéria Campylobacter
fetus (subsps. veneralis e fetus) um bacilo gram-negativo, fino, curvo, em forma de vírgula ou
espiral, móveis por flagelo polar e não esporogênico (DERIVAUX, 1980; HIRSH,
2003).
A campilobacteriose é
uma doença venérea que acomete bovinos, ovinos, caprinos e suínos (QUINN et
al., 2005). Nas fêmeas a bactéria localiza-se no lúmen vaginal, cérvix, útero e
oviduto provocando morte embrionária, repetição de cio, abortamento e
infertilidade. (JESUS, 2003). Nos machos a bactéria se localiza
preferencialmente na mucosa prepucial, glande, e porção distal da uretra. Os
touros são portadores assintomáticos sendo assim, o principal transmissor e
disseminador da doença no rebanho (LAGE & LEITE, 2000).
De acordo com REHAGRO (2004), pelo menos 25% dos bovinos com idade
reprodutiva do rebanho brasileiro são positivos para a CGB. Isso significa que
pelo menos 18 milhões de touros, vacas e novilhas estão acometidos pela doença.
Como é uma doença de difícil diagnóstico, apesar de estar presente em todas as
regiões, em regra os criadores não têm conhecimento de sua existência.
Portanto, o presente trabalho teve o objetivo que pesquisar o Campylobacter fetus em touros numa
propriedade rural no Estado do Espírito Santo.
MATERIAL
E MÉTODOS
Foram selecionados 16
touros da raça Nelore de genética superior, machos, inteiros, sem histórico de
atividade sexual, com idade entre 42-60 meses, criados confinados em estábulo,
cuja limpeza e higiene era realizada diariamente. Estes eram provenientes de
uma propriedade localizada no município de Piúma-ES.
Realizou-se a colheita
das amostras em novembro de 2007. Após massagem peniana e prepucial para
estimular a micção no animal e diminuir a contaminação da amostras, colhia-se o
esmegma prepucial por meio de escarificação da mucosa prepucial e peniana com
auxílio de bainha de inseminação artificial estéril. A pipeta era introduzida
no prepúcio e em movimentos de vai-e-vem escarificava-se a mucosa. O material
foi aspirado para dentro da pipeta com auxílio de uma seringa de 60mL acoplada
na outra extremidade. Em seguida, a extremidade da bainha era cortada e
acondicionada em tubo de ensaio estéril contendo 6mL de Caldo BHI enriquecido
com suplemento seletivo de Skirrow (BRIDSON, 2000). Realizaram-se três
colheitas por animal, nos dias 0, 7 e 21. As amostras eram acondicionadas em
caixas isotérmicas refrigeradas e levadas ao Laboratório de Microbiologia
Veterinária do Curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário Vila
Velha-UVV num prazo máximo de seis horas para processamento.
No laboratório, os
tubos foram incubados à 37ºC/72 horas, em microaerofilia utilizando-se kit
gerador de atmosfera adequada (Microaerobac®, Probac do Brasil).
Após este período, 30µL do caldo de cada amostra foi espalhado na superfície de
placas de ágar Columbia acrescido de 8-10% de sangue eqüino, acrescido de
suplemento seletivo de Skirrow® (OXOID). Outros 30 µL de cada
amostra eram espalhados em placas de ágar Columbia acrescido de 8-10% de sangue
eqüino, no entanto, sem suplementação seletiva. As placas foram incubadas a
37ºC/5 dias em microaerofilia (GROFF, 2005). Cultura e testes de identificação
foram realizados posteriormente para confirmação e caracterização das espécies,
naquelas colônias que apresentaram características compatíveis com Campylobacter spp. (KONEMAN, 2001; HIRSH, 2003; OIE, 2005).
RESULTADOS
E DISCUSSÃO
Das 48 amostras de
esmegma prepucial colhidas a partir dos 16 touros, em nenhuma delas foi
possível o isolamento da bactéria Campylobacter
sp.
Esse número pode ser explicado em função de 81%
(13/16) dos touros
utilizados na pesquisa terem idade inferior a 5 anos. Pois, segundo
LAGE &
LEITE (2000), os animais que são mais susceptíveis para a
campilobacteriose são
aqueles com idade superior a 4 anos, devido ao maior número e
tamanho das
criptas do epitélio peniano e prepucial, fator este que
proporciona um ambiente
microaerófílo propício à
multiplicação e transmissão da bactéria. Um
fato que
corrobora com o achado, foi o descrito por DERIVAUX (1980), em que
considera
touros jovens mais resistentes à infecção, e,
portanto, a prevalência nesta
categoria de animais torna-se menor.
Dos 16 animais
pesquisados apenas um já havia apresentado atividade sexual, e os demais, eram
criados sem permitir atividade sexual para posterior comercialização como
reprodutores. Embora não seja a única maneira, DERIVAUX (1980) descreve que a
transmissão venérea é uma das formas mais importantes de disseminação da
bactéria no rebanho.
Os
animais encontravam-se estabulados em recinto diariamente higienizado, e por
permanecerem amarrados em cabrestos individuais constantemente, não havia
contato permanente entre os animais. Segundo LAGE & LEITE (2000) apesar da
transmissão ocorrer principalmente por via venérea, também pode ocorrer por
contato direto com cama contaminada. Entretanto, por existirem apenas animais
com idades abaixo de cinco anos associada à constante limpeza do local,
possivelmente esses justifiquem a ausência do patógeno.
Mesmo sendo uma técnica
preconizada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o
isolamento e identificação do agente é difícil, devido a reduzida viabilidade
do agente nas amostras colhidas. Esta afirmativa é reforçada pela pesquisa
realizada por GROOF (2005) no RS, que detectou apenas 2,8% (8/277) dos animais
positivos na cultura bacteriana para C.
fetus, enquanto que 24,5% (68/277) destas mesmas amostras foram
positivas na técnica da PCR.
Em 17 (35,4%) amostras
examinadas, isolou-se Pseudomonas aeruginosa, e em 6 (12,5%) amostras houve crescimento de Klebsiella spp. permitindo
constatar a interferência de tais cepas no meio de cultura. DERIVAUX
(1980) relata sobre a dificuldade de isolamento da bactéria, mesmo quando são
utilizados meios com enriquecimento seletivo, em função de microrganismos
contaminantes como Pseudomonas spp. apresentarem multirresistência aos
antibióticos, sendo capazes de crescer nestes meios, competindo com o C.
fetus.
CONCLUSÕES
Nas condições em que
foi realizado o presente trabalho pode-se concluir que: Não foi isolado o Campylobacter fetus, nas 48 amostras de
esmegma prepucial de touros estabulados, com idade entre 42-60 meses. Ocorreu o
crescimento de Pseudomonas aeruginosa
e Klebsiella spp. em 35,4% (17/48) e
12,5% (6/48) das amostras analisadas, respectivamente. Fatores ambientais como
confinamento dos animais, associado a higidez das instalações podem ter favorecido
os resultados encontrados. Mesmo sendo uma técnica preconizada pelo MAPA, devem-se
utilizar outras técnicas que possam ser aliadas ao isolamento bacteriano,
favorecendo o aumento da sensibilidade na identificação do Campylobacter fetus.
REFERÊNCIAS
BRIDSON,E.
. Manual Oxoid. São Paulo: Oxoid
Brasil LTDA, p. 2-63 – 2-73, 2000.
DERIVAUX,
J. Vibriose bvina. In:___. Reprodução dos aimais dmésticos. Zaragoza:
Acribia, cap. 4, p. 394-403, 1980.
GROFF,
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HIRSH,
D. C. Campylobacter – Arcobacter (Sistema reprodutivo). In: HIRSH, D. C.; ZEE,
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JESUS,
V. L. T. Doenças da reprodução e doenças que interferem na reprodução. In:
PALHANO, H. B.; JESUS, V. L. T.; TRÉS, J. E.; FERRAZ, J. C. F. J.; ALVES, P. A.
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KONEMAN, E. W.; ALLEN, S. D.; JANDA, W. M.;
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LAGE,
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OIE
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PELLEGRIN,
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QUINN, P. J.; MARKEY, B. K.; CARTER, M. E.; DONNELL, Y.;
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REHAGRO,
Campilobacteriose genital bovina.
artigos técnicos, 2004. Acesso em 25 de abril de 2008. Disponível
em: <http//:www.rehagro.com.br/>. Acesso em 20 de março de 2008.