OCORRÊNCIA DE AGLUTININAS ANTI - Brucella
abortus
Daniela Franco da Silva¹, Vivian Magalhães Brandão², Hamilton Pereira dos Santos³,
Isabel Cristina Lopes
Dias¹, Maria Inez Santos Silva4
1 Graduandas do Curso Medicina
Veterinária. E-mail: dani27vet@gmail.com
(autor correspondente)
2 Mestranda
3 Professor Adjunto IV do
Departamento de Patologia do Curso de Medicina Veterinária
4 Professor Adjunto III, do
Departamento de Patologia do Curso de Medicina Veterinária e do Curso de
Pós-graduação ao nível de Mestrado
PALAVRAS-CHAVE: Brucelose, faixa etária, reagentes, saúde pública, zoonose.
ABSTRACT
OCCURRENCE OF ANTI-BRUCELLA ABORTUS AGGLUTININS IN
CATTLE HERDS ON THE
We evaluated the
occurrence of Brucella abortus in cattle herds of small farms on the
KEYWORDS:
Age, brucellosis, public health, reagents, zoonosis.
INTRODUÇÃO
A exploração de animais não especializados, a nutrição deficiente e os incipientes procedimentos sanitários são fatores que, geralmente, contribuem para que a bovinocultura brasileira seja deficitária (GONZÁLES TOMÉ, 1993).
A brucelose ocorre endemicamente em todo o território nacional, sendo diagnosticada em qualquer rebanho (VASCONCELLOS, 1984). Portanto, além de prejuízos causados à economia pecuária, seja através da queda da produtividade leiteira (SANTOS, 2006), seja através da condenação de carcaças, compromete seriamente a produção do rebanho nacional, afetando sobremaneira a saúde pública.
O estado do Maranhão possui como principal atividade na pecuária bovina, a produção de carne, com um efetivo de 5.928.131 bovinos, e destes 462.459 destinam-se à produção leiteira (IBGE, 2004).
Os municípios da Ilha de São Luís possuem pequenas propriedades rurais, com criações de rebanhos bovinos de exploração leiteira e corte. Diante dos casos de abortos não diagnosticados nos municípios da Ilha e considerando, que a maioria dos pequenos produtores rurais desconhecem os riscos que a brucelose representa para a saúde pública e animal, o presente estudo objetivou detectar e diagnosticar a presença de aglutininas anti-B. abortus em rebanhos bovinos e orientar os pequenos produtores rurais envolvidos no projeto no sentido de esclarecer os riscos que a zoonose representa à saúde pública e animal.
MATERIAL E MÉTODOS
O estudo foi realizado na Ilha de São Luís – MA, que é composta de quatro municípios: São Luís, São José de Ribamar, Paço do Lumiar e Raposa. Foram utilizadas 20 pequenas propriedades rurais, sendo cinco propriedades em cada município.
As amostras séricas de bovinos foram colhidas da veia jugular de cada animal, mediante venopunção. Após a colheita das amostras, foram realizados inquéritos junto aos produtores rurais, através de questionário epidemiológico, contendo 10 questões fechadas, visando-se conhecer o manejo e sanidade dos rebanhos a serem estudados, assim como o nível de conhecimento dos produtores rurais sobre a zoonose.
Utilizaram-se os seguintes testes sorológicos: teste do antígeno acidificado tamponado (AAT), e 2-mercaptoetanol (2-ME), os resultados foram interpretados de acordo com as normas recomendadas pelo Regulamento Técnico do Programa Nacional de Controle e Erradicação da Brucelose e Tuberculose do Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (BRASIL, 2006).
Os
dados epidemiológicos foram armazenados e analisados utilizando-se o programa
Epi Info 3.4.3. A análise estatística foi realizada tendo cada animal como uma
unidade de análise, e os fatores associados com os resultados do teste
sorológico foram identificados em tabelas de associação para valores
independentes, considerando-se (α = 0,05). Os testes estatísticos utilizados
foram o qui-quadrado e/ou exato de Fisher.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Das 445 amostras colhidas na Ilha de São Luís-MA, submetidas à prova de triagem, obtiveram-se 16 (3,6%) reagentes e 429 (96,4%) não reagentes.
Analisaram-se 116 (26,00%), amostras de soro sanguíneo de bovinos no município de São José de Ribamar, onde se registrou a maior prevalência, verificando-se nove (2,00%) reagentes e 107 (24,00%) não reagentes, apresentando associação significativa com a infecção (p<0,05).
É provável que esta prevalência, esteja relacionada ao grande número de animais em idade reprodutiva presente nas propriedades visitadas neste município, onde as fêmeas quando prenhes são mais suscetíveis à doença (BISHOP et al., 1994), já que o útero gravídico é um dos órgãos de predileção da bactéria por produzir, o hormônio eritritol, que atrai as Brucellas e funciona como fator estimulante para o seu crescimento (GRASSO, 1998).
No
município de Paço do Lumiar, das 101 (22,70%) amostras colhidas, obtiveram-se
sete (1,60%), reagentes apresentando associação significativa (p<0,05) com a
infecção. É provável que a infecção neste município esteja relacionada com a
faixa etária (
As amostras de sangue colhidas e analisadas do município de São Luís 121 (27,20%) e do município da Raposa 100 (22,50%), não apresentaram resultados reagentes. A provável causa da ausência de não reagentes nos dois municípios pode estar relacionada com a permanência dos animais na propriedade e a não aquisição de animais possivelmente reagentes.
A prevalência de animais reagentes neste
estudo apresentou-se inferior a verificada por Santos et al. (1988), que obteve
8,03%, ao avaliar aspectos de produção e sanidade de bovinos de leite na Ilha
de São Luís – MA e por MONTEIRO et al. (2006), no Mato Grosso do Sul, com 6,20%
de animais reagentes testados pelo AAT e confirmados pelo 2-ME. No entanto,
apresenta-se superior a verificada por AZEVEDO (2006) no Espírito Santo (3,40%)
de RIBEIRO et al. (2003) em Ilhéus – BA, com (1,90%) e de Silva (2003), ao
analisar aspectos epidemiológicos da Brucella abortus em matrizes bovina
leiteiras do município de Gravatá - PE. Recife.
Em relação aos dados sobre a
prevalência no país em 1993, de acordo com COSTA (1998), que estimou 2,30%, com
grandes diferenças entre as regiões.
O estudo apresentou maior freqüência de animais reagentes com a faixa etária de 12-24 meses, provando que a idade reprodutiva é uma variável associada à infecção.
Dada à importância do sexo na cadeia epidemiológica da brucelose comprova-se que o macho tem pouca importância na disseminação da doença. Obteve-se 16 (3,60%) fêmeas reagentes e nenhum macho com a infecção. Porém numerosos estudos têm avaliado a presença do touro na difusão da brucelose, com demonstração clara de que nos bovinos a transmissão venérea tem pouca importância (CAMPERO, 1993).
AZEVEDO (2006) em estudo realizado no Espírito Santo, verificou associação significativa para sistema de confinamento e semi/confinamento, contrastando com o resultado deste estudo, no qual o sistema de criação foi uma variável sem associação significativa (p>0,05),
MARQUES (2003) revelou que o sistema semi-intensivo é mais praticado em propriedades de menor extensão, sendo adotado principalmente na criação de gado leiteiro. O tipo de exploração também não foi uma variável com associação significativa (p>0,05), colaborando com o estudo de MONTEIRO et al. (2006), que também não encontraram associação ao avaliar a presença da infecção em rebanhos de corte. Desse modo, verifica-se que a doença pode ser diagnosticada em qualquer rebanho, não levando em consideração a forma de criação e exploração econômica a que esteja submetida (VASCONCELLOS, 1984).
Em relação à aquisição de animais sem atestados negativos de brucelose e falta de periodicidade de exames sorológicos, 100% dos proprietários questionados não exigiam o atestado e (87,19%) nunca realizaram o exame. O resultado deste estudo contrasta com a Agência Estadual de Defesa Agropecuária do Maranhão (AGED, 2008), que classificou àquelas variáveis como fatores de risco para a infecção.
No que diz respeito à vacinação, 100% dos proprietários rurais nunca vacinaram suas fêmeas contra a brucelose, provando pleno desconhecimento sobre a idade de vacinação e dos benefícios de um rebanho vacinado. NILSEN & DUNCAN (1990) e TOLEDO & GOUVÊA (2005) em estudos sobre vacinação de bezerras, também obtiveram uma grande parcela de proprietários sem informações sobre a idade da vacinação e outras implicações legais dispostas na legislação.
Em Imbuía - SC,
CABRAL (2000) aplicando inquérito epidemiológico detectou que 21,18 % das
propriedades estudadas, exigem exames e atestados de sanidade animal e apenas
3,19% exigem o exame de brucelose, verificando que a despreocupação dos
criadores com relação à brucelose não se identifica somente no Maranhão, mas
também em outros estados brasileiros.
Durante a avaliação epidemiológica, não foi relatada a ocorrência de abortamentos nas propriedades estudadas, provavelmente em decorrência de grande parte dos entrevistados não dispor de informações suficientes para relatar a incidência desse sinal clínico.
CONCLUSÕES
A prevalência da brucelose na Ilha de São
Luís apresenta-se baixa. As variáveis associadas com a infecção foram:
município e faixa etária. Os pequenos produtores rurais desconhecem a
importância da brucelose para a pecuária e para a saúde pública.
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