ESTUDO
RETROSPECTIVO DA OCORRÊNCIA DOS CASOS DE TUBERCULOSE BOVINA DIAGNOSTICADOS NA
CLÍNICA DE BOVINOS DE GARANHUNS - PE, DE 2000 A 2009
Marisa de Alencar Izael1, Saulo de Tarso Gusmão
da Silva1, Nivaldo de
Azevedo Costa2, José Cláudio de Almeida Souza3, Carla Lopes de Mendonça2,
José Augusto Bastos Afonso2
1. Médico
Veterinário, Residente, Clínica de Bovinos, Campus Garanhuns-PE, UFRPE.
2. Médico
Veterinário, Doutor, Clínica de Bovinos, Campus Garanhuns-PE, UFRPE.
3.
Médico Veterinário, Doutor, professor da Unidade Acadêmica de Garanhuns-PE,
UFRPE.
E-mail: cbg@prppg.ufrpe.br (autor correspondente)
PALAVRAS-CHAVE: Doenças respiratórias, lesões pulmonares, ruminante.
ABSTRACT
A RETROSPECTIVE STUDY OF
CASES OF BOVINE TUBERCULOSIS DIAGNOSED AT CLÍNICA DE BOVINOS, GARANHUNS,
PERNAMBUCO
Tuberculosis is a chronic infective disease which
causes great economic losses evidenced by a 10-20% decrease in milk production.
This study investigates all positive cases of tuberculosis registered at Clínica de Bovinos from the year 2000 to
KEY WORDS: Lung lesions, respiratory
diseases, ruminant.
Introdução
O aumento da tecnificação,
intensificação da pecuária, a introdução de material genético proveniente de
outros países e alterações no manejo sanitário e reprodutivo, facilitaram a
disseminação de diversos microrganismos patogênicos de grande importância
sanitária e econômica para a bovinocultura leiteira (POLETO, 2004). A
tuberculose bovina é uma doença infecciosa crônica que vem afligindo a pecuária
há mais de alguns séculos. Seu agente etiológico é o Mycobacterium bovis,
sendo esta enfermidade de ocorrência mundial que determina prejuízos à pecuária
e riscos a saúde da população que consume produtos de origem animal (LILENBAUM et
al., 1998; CAMPOS, 1999; LILENBAUM, 2000).
As perdas
econômicas determinadas por esta enfermidade se manifestam pela redução de
10-20% da produção leiteira, do ganho de peso, infertilidade, condenação de
carcaças e mortes dos animais (ROXO, 1996; HERNANDEZ, 1998; LILENBAUM,
2000). Os bovinos, caprinos e
suínos, são as espécies mais suscetíveis, ao passo que os ovinos e equinos
mostram uma alta resistência natural. A doença acomete também a espécie humana (ABRAHÃO, 1999;
CHADDOCK, 2006; RADOSTITIS et al., 2007; RIET-CORREA & GARCIA, 2007).
Os sinais da infecção por M. bovis em ruminantes são muito
inespecíficos, a maioria dos animais infectados não demonstra anormalidades
clínicas, causando risco de saúde para outros animais pecuários e seres
humanos. Os pacientes podem apresentar perda de peso crônica, apetite variável,
mastite e febre flutuante, que pode acentuar-se após o parto. Os sinais respiratórios
incluem tosse crônica, dispnéia, taquipnéia e ruídos pulmonares adventícios.
Nódulos mediastínicos e mesentéricos intumescidos podem causar timpanismo,
falha de transporte ou obstruções. Alterações reprodutivas como infertilidade e
aborto são pouco frequentes (GRIFFIN & DOLAN, 1995; HERNANDEZ, 1998; CHADDOCK,
2006; RIET-CORREA & GARCIA, 2007; SOBREIRA-Filho et al., 2008).
O diagnóstico da tuberculose bovina
no Brasil segue as normas preconizadas pelo Programa Nacional de Controle e
Erradicação da Brucelose e tuberculose (PNCEBT). O Programa estabelece uma
realização periódica da prova da tuberculina e abate dos animais que reagirem
positivamente. A legislação brasileira não prevê o tratamento de animais
reagentes (BRASIL, 2006).
Diante do exposto, objetivou-se
fazer um estudo da ocorrência dos principais aspectos epidemiológicos,
enfocando seu potencial zoonótico, impacto econômico e distribuição geográfica
dos casos clínicos de tuberculose bovina, diagnosticados na Clínica de Bovinos,
Campus Garanhuns-PE/UFRPE, nos últimos 10 anos.
Material e métodos
Realizou-se um estudo retrospectivo
dos casos clínicos, do arquivo da Clínica de Bovinos, Campus Garanhuns/UFRPE, onde
foram selecionadas as fichas dos bovinos diagnosticados com tuberculose,
referentes aos anos de 2000 a 2009, obtendo-se um total de 36 casos de animais
acometidos. As fichas foram avaliadas quanto aos aspectos epidemiológicos (origem,
sexo, idade, tipo de criação, histórico reprodutivo, queixa principal e destino
do animal), exame clínico, seguindo a metodologia de DIRKSEN et al. (1993), a
tuberculinização (BRASIL, 2006) e os achados anátomo-histopatológicos.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A
distribuição dos casos positivos revelou que 67% eram provenientes de municípios
do agreste meridional de Pernambucano, 22% do agreste central, 5% da mata setentrional
e 6% foram oriundos do Estado de Alagoas. Dos 36 casos analisados, 86% eram
fêmeas e 14% machos. Destes, 39% apresentavam idade entre quatro a cinco anos,
16% acima de cinco anos, 14% entre um a três anos e 3% inferior a um ano. De
acordo com a característica de pecuária leiteira da região, onde as fêmeas têm
uma vida produtiva maior, faz com que os animais mais velhos sejam acometidos em
função da coabitação prolongada com indivíduos enfermos, marcando assim o
caráter crônico da doença e a situação de estresse causado pelo impacto da vida
produtiva (LILENBAUM, 2000; OLIVEIRA et al., 2008).
Em
relação ao sistema de criação; 8% dos casos apresentaram-se oriundos de sistema
extensivo, 11% intensivo e 81% semi- intensivo. Estes resultados mostram que o
confinamento e aglomeração dos animais são elementos determinantes para a
epidemiologia da doença (BEDARD, 1993; HINES et al., 1995; HERNANDEZ, 1998). Um
fato que vem a contribuir para esses achados é a característica regional, onde as
condições climáticas na maioria das vezes não permitem uma criação extensiva,
além de que, os elevados custos do sistema intensivo, tornam-no praticamente
inviável, sendo o sistema semi-intensivo a melhor alternativa econômica para
região. Dos casos diagnosticados, 50% foram direcionados para sacrifício e 50%
vieram a óbito. As informações mais comumente relatadas foram: emagrecimento
(16/36), tosse (12/36), queda na produção leiteira (16/36), timpanismo (04/36)
e tratamentos prolongados não responsivos. Os achados clínicos foram referentes
praticamente a diminuição de produção e perda da condição corporal, além de
desordens respiratórias como tosse e descargas nasais. Desta forma fica evidente
as intensas perdas econômicas e os achados corroboram com os sinais comumente
encontrados na doença (BEDARD, 1993; HINES et al., 1995; HERNANDES, 1998; LILENBAUM,
2000; CHADDOCK, 2006; RADOSTITIS et al., 2007; RIET-CORREA & GARCIA, 2007).
Do
total de 36 animais, apenas 17 foram testados a prova da tuberculina, onde revelou
que 88% (15) reagiram negativamente ao teste, e apenas 12% (2) foram positivos,
revelando assim que grande parte dos animais atendidos estava em processo
avançado ou estágio terminal da doença, onde há um excesso de antígeno
circulante que induz uma imunossupressão específica, causando assim uma
exposição excessiva do estímulo antigênico por um longo tempo, tratando-se do
fenômeno de anergia (BRASIL, 2006; RADOSTITS et al., 2007). Esses animais falso-negativos interferem
também no diagnóstico, em casos de infecção recente ou em fêmeas no período pré
ou pós-parto (SALAZAR & GUIMARÃES, 2006). A não realização dos testes de
tuberculinização em 19 (53%) bovinos estava associado aos fatos de que muitos
animais vieram a óbito antes da conclusão do teste ou não mostraram sinais
clínicos sugestivos de tuberculose que foram revelados como achados incidentais.
Nos
achados anatomopatológicos, foram observados que todos os animais apresentavam
lesões granulomatosas em diversos órgãos, com abscessos de conteúdo purulento e
caseificado, além de lesões pulmonares características, como também, lesões nos
rins, coração, fígado, linfonodos, tubérculos múltiplos sobre a superfície
pleural e peritoneal e lesões disseminadas de caráter miliar. Desta forma caracterizam-se
como lesões de tuberculose onde na maioria das vezes apresentam necrose de
caseificação no centro da lesão ou ainda calcificação nos casos mais avançados (Jones et al., 2000; BRASIL, 2006).
Os
achados histopatológicos mais freqüentes foram;
linfonodos e fígado com extensas áreas de necrose de
caseificação e
calcificação, reação inflamatória
linfo-histiocitária e presença de células
gigantes de Langhans, concordando com os achados de JONES et al. (2000)
onde
relatam a presença de lesões epitelióides
circundadas por uma orla de
fibroblastos com linfócitos entremeados, onde os
macrófagos circunjacentes
assumem um aspecto diferenciado, as células epitelióides
contendo um abundante
retículo endoplasmático, coalescendo e levando a
presença de células gigantes
multinucleadas, denominadas de células gigantes de Langhans, nas
quais os
núcleos estão dispostos em meia lua na periferia da
célula.
CONCLUSÃO
A
tuberculose bovina traz prejuízos à região, pois a evidência da sintomatologia
clínica revela um quadro de cronicidade e de ampla disseminação da doença no
rebanho, fazendo-se necessário reforçar as medidas de controle e diagnóstico, com
o intuito de reduzir as perdas econômicas e o impacto negativo na Saúde Pública.
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