BIOPSIA PULMONAR TRANSTORÁCICA PERCUTÂNEA
ÀS CEGAS
Andreza
Amaral da Silva1, Danilo Otávio Laurenti Ferreira2,
Bianca Paola Santarosa3, Camila Dias Porto1, Júlio Lopes
Sequeira4, Roberto Calderon Gonçalves4
1. Médica Veterinária, MS, Doutoranda
Departamento de Clínica Veterinária, Faculdade de
Medicina Veterinária e Zootecnia - UNESP - Campus de Botucatu, Distrito de
Rubião Júnior, S/N - CEP: 18.618-000 - Botucatu/SP - Brasil. E-mail: andrezamedvet@yahoo.com.br
(autor para correspondência)
2. Médico Veterinário, Mestrando
3. Acadêmico do Curso de Medicina Veterinária,
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia de Botucatu - UNESP.
4. Médico Veterinário, MS, Dr., Prof. Ass. do
Departamento de Clínica Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia de Botucatu - UNESP.
PALAVRAS-CHAVE: Doenças respiratórias, exame complementar, pulmão
ABSTRACT
PERCUTANEOUS TRANSTHORACIC LUNG BIOPSY BLINDLY PERFORMED IN SHEEP WITH A
SEMI-AUTOMATIC FINE NEEDLE
This study
evaluates the safety and efficacy of percutaneous transthoracic lung biopsy in
15 clinically healthy sheep. Most animals tolerated this procedure, although 2
offered mild resistance (13,3%). Tissue samples with preserved lung
architecture did not reveal any failures or signs of serious complications
resulting from the technique. This method proved to be efficient in obtaining
lung tissue for histopathological evaluation.
KEY WORDS: Auxiliary
tests, lung, respiratory diseases.
INTRODUÇÃO
As doenças que afetam o trato respiratório são consideradas o principal motivo
de perdas econômicas na ovinocultura, sendo responsáveis por
A biopsia pulmonar é um procedimento invasivo de elucidação diagnóstica que consiste na remoção de tecido pulmonar vivo para exame macro e microscópico, envolvendo o processamento laboratorial do material, a confecção de lâminas seguida de análise e a descrição microscópica (PORTO, 1991). As informações obtidas através da biopsia são úteis ao clínico na definição de um diagnóstico, permitindo a tomada de decisões sobre o tratamento e o prognóstico do paciente (STONE, 1995). Todavia, a biopsia pulmonar é um procedimento pouco efetuado na medicina veterinária, talvez pela insegurança dos veterinários em realizar a técnica correta.
Levando em conta a alta ocorrência de doenças respiratórias em ovinos é de suma importância o estudo de métodos que complementem o diagnóstico clínico e auxiliem a realização de um diagnóstico precoce. Este estudo teve por objetivo avaliar o emprego da técnica de biopsia pulmonar transtorácica percutânea às cegas em ovinos clinicamente sadios e comprovar a sua segurança e viabilidade diagnóstica, além de avaliar as possíveis falhas e complicações decorrentes desta técnica.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram utilizados 15 ovinos clinicamente
sadios, independentemente de sexo, raça e idade, procedentes da região de
Botucatu/ SP - Brasil e destinados ao abate. Os animais foram contidos
manualmente e mantidos em estação durante o procedimento que foi realizado,
após anestesia local com lidocaína a 2% sem vasoconstritor no 7º espaço
interscostal,
Foram avaliados o número de tentativas para a execução do procedimento e o tamanho dos fragmentos obtidos. As amostras foram encaminhadas ao Serviço de Patologia Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia de Botucatu - UNESP para a confecção de lâminas histológicas e exame microscópico dos fragmentos pulmonares. Logo após a biópsia os animais foram submetidos a um novo exame clínico.
Posteriormente ao abate, avaliou-se
as complicações da técnica e eventuais lesões provocadas. Hemorragias na pleura visceral atribuídas à biopsia foram analisadas
segundo o escore de gravidade de lesão descrito por SILVA (2005), adaptado de BRAUN
et al. (1999): escore 1 = lesão pleural com área até 4 mm2; escore 2
= lesão pleural com área entre 4,1 e 25 mm2; escore 3 = lesão
pleural com área superior a 25,1 mm2. As amostras de tecido pulmonar
obtidas também foram submetidas ao exame macroscópico, avaliando-se o
comprimento de cada fragmento tecidual. Os dados coletados foram expostos por
meio de estatística descritiva, através de média, desvio padrão e percentual.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Fragmentos teciduais foram obtidos em todos os animais submetidos ao procedimento (15/15 - 100%), sendo necessária, em média 1,8 ± 1 tentativa. Outros autores relatam resultados semelhantes, com média de 1,2 para BRAUN et al. (2000), e de 1,3 para HAMARATI (1995). Porém, nestes dois casos as biopsias não foram realizadas às cegas. O procedimento às cegas aumenta o risco de complicações como punção equivocada de outros órgãos, lesões de grandes vasos e morte por hemorragias, eventos não observados neste trabalho. Treze animais (13/15 – 86,6%) toleraram bem a técnica de biopsia, entretanto, dois ovinos (2/15 – 13,3%) demonstraram resistência leve à contenção (berros, facies de medo e elevação das patas), vindo até a dificultar a coleta. Segundo MOORE (2005) e BRAUN et al.(1999) as reações de desconforto e dor ocorrem durante a perfuração da pleura parietal e não durante a coleta do tecido pulmonar. Por isso, a perfuração deve ser bem rápida para eliminar a possibilidade de que qualquer movimento repentino desvie a trajetória da agulha ou então que sua ponta cortante lese a pleura antes da colheita de tecido pulmonar.
Ao exame clínico a atitude geral e postura permaneceram inalteradas e a temperatura retal não se elevou, permanecendo dentro dos valores de referência. Entretanto, as freqüências cardíaca (FC) e respiratória (FR) aumentaram em 12 (80%; Média (MED) = 122bpm) e 10 (66,6%; MED = 52mrp) animais, respectivamente. A elevação das FC e FR já foi observada em outro estudo (BRAUN et al., 2000), e provavelmente ocorreu em conseqüência ao estresse da contenção e do procedimento, visto que esses parâmetros voltaram à normalidade 15 minutos após a realização da biopsia. Tosse espontânea ocorreu em quatro (4/15 – 26,6%) animais e expiração forçada em dois tempos em um (1/15 – 6,6%) ovino, o que geralmente é característico de dor.
Um animal entrou em colapso imediatamente após a realização da biopsia, vindo a decúbito. Apesar disso, levantou após alguns minutos e não apresentou mais nenhuma anormalidade. O motivo para o colapso momentâneo não foi determinado, embora reações como essas já tenham sido relatadas em bovinos, também sem causa aparente (BRAUN et al., 1999).
Ao exame pós-morte observou-se que todas as punções estavam localizadas no lobo diafragmático. Todos os animais apresentaram hemorragia de pleura, cuja área variou de 4 mm2 a 40 mm2. Dos 15 animais biopsiados, avaliados quanto ao escore de severidade da hemorragia pleural, oito ovinos (8/15 – 53,3%) apresentaram escore 1, três (3/15 - 20%) apresentaram escore 2 e outros quatro animais (4/15 – 26,6%) escore 3. O escore de lesão adotado para a biopsia neste estudo foi inferior aos descritos por SILVA (2005) e superiores aos de BRAUN et al. (1999). SILVA (2005) trabalhou com uma agulha de biopsia de grosso calibre, o que provavelmente ocasionou maior dano tecidual que a agulha de médio calibre utilizada neste trabalho. BRAUN et al. (1999), por sua vez, determinou o escore da lesão 10 dias após a realização da biopsia, havendo, dessa forma, tempo hábil para reparação tecidual. O exame macroscópico dos pulmões revelou ainda petéquias e enfisema ao redor da ferida da biopsia, presentes em quatro (4/15 – 26,6%) e cinco (5/15 – 33,3%) ovinos, respectivamente.
Os fragmentos teciduais obtidos através da biopsia variaram de
4 a
Uma amostra (1/15 – 6,6%) apresentou infiltrado inflamatório misto discreto, composto por mononucleares e neutrófilos. Uma possível explicação para esse achado é que, se estes animais realmente apresentavam doença respiratória, o processo ainda estava muito incipiente para ser detectado ao exame clínico.
Todas as amostras de pulmão obtidas (15/15 – 100%) mostraram áreas atelectásicas nas extremidades e duas amostras (2/15 – 13,3%) apresentaram também esmagamento tecidual com comprometimento de parte da área amostrada, todavia nenhuma dessas alterações comprometeu a avaliação morfológica. Em três casos (3/15 – 20%), além de pulmão, também foram observados fragmentos de pele, músculo esquelético, fígado ou tecido conjuntivo de origem indeterminada, também sem comprometer a avaliação histopatológica das amostras.
CONCLUSÕES
A técnica de biopsia pulmonar transtorácica percutânea foi de fácil execução, segura e eficiente na obtenção de amostras de tecido para avaliação do parênquima pulmonar. Outros estudos devem ser conduzidos para confirmar a viabilidade das amostras e a eficiência diagnóstica desta técnica também em ovinos portadores de doenças respiratórias.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem ao auxílio financeiro e a bolsa de estudos de mestrado concedida pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP.
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