AVALIAÇÃO HISTOPATOLOGICA HEPÁTICA E DESEMPENHO OVINOS ALIMENTADOS COM
FENO DE Brachiaria brizantha OU
CANA-DE-AÇUCAR
Flávia Gontijo Lima1,
Carolina Santos Ribeiro2, Diogo Di Francescantonio Andrade2,
Victor Yunes Guimarães2, Gustavo Lage Costa1, Antônio Souza
Silva3, Maria Clorinda Soares Fioravanti4
1. Pós-Graduandos em Ciência Animal da Escola de Veterinária da
Universidade Federal de Goiás
2. Graduandos em Medicina Veterinária da Escola de Veterinária da
Universidade Federal de Goiás
3. Técnico em Histologia Escola de Veterinária da Universidade Federal
de Goiás
4. Professora Doutora da Escola de Veterinária da Universidade Federal
de Goiás Caixa Postal 131,
CEP 74001-97, Goiânia-GO, Brasil. E-mail: clorinda@vet.ufg.br
PALAVRAS-CHAVE: Santa Inês, colangite, ganho de peso.
ABSTRACT
ASSESSMENT OF HEPATIC
HISTOPATHOLOGY AND PERFORMANCE OF LAMBS FED BRACHIARIA
BRIZANTHA HAY OR SUGAR CANE
Brachiaria spp. are important forages in tropical
regions, especially in the Cerrado of Central Brazil. Some Brachiaria species have been described as a cause of hepatic
lesions in ruminants. Initially, the disease
was attributed to Pithomyces chartarum
spores, but recent studies suggest that the steroidal saponins contained
in the forage are responsible for intoxication. This
study evaluates liver histopathology and performance of lambs fed B. brizantha hay or sugar cane. A total
of 12 Santa Inês lambs were randomly alloted to two experimental groups: hay
group (six lambs fed B. brizantha hay
and concentrates) and sugar cane group (six lambs fed sugar cane and
concentrates). B. brizantha hay used
to feed the animals did not contain Pithomyces
chartarum spores. The amount of food supplied was
based on 4% of body weight and roughage/concentrate ratio was 62:38. After 93
days, the lambs were slaughtered and carcass dressing was measured. The initial
average weight of animals in the hay group was 28,00kg (±3,16), the final
average weight reached was 33,55kg (±5,13), the total average weight gain was
5,55kg (±4,23), and the average carcass dressing was 46,14% (±6,55). The
initial weight in the sugar cane group was 27,17kg (±2,40), the final average
weight reached was 36,92kg (±3,68), the total average weight gain was 9,75kg
(±4,80), and the average carcass dressing was 46,17% (±1,41). Lambs in both
groups showed similar performances, and liver histopathology revealed the
presence of mild and nonspecific hepatic
injuries suggestive of cholangitis.
KEYWORDS: Saint Inês breed;
cholangitis; weight gain
INTRODUÇÃO
Nos últimos anos tem sido observado um
crescimento significativo da ovinocultura no país e comparada à criação de
bovinos, provavelmente devido às inúmeras vantagens que apresentam como a
necessidade de uma área menor de criação, menor consumo de alimento, facilidade
de manejo e fornecimento de produtos como leite, carne e couro de boa qualidade
(OLIVEIRA, 2001). As cadeias
de carne e leite têm nas pastagens a principal fonte de alimento para o
rebanho, onde se destacam as gramíneas do gênero Brachiaria (ANDRADE et al.,
2004).
Algumas espécies de braquiária como Brachiaria brizantha, B. humidicola e, especialmente, B. decumbens têm sido descritas como causadoras de intoxicações em ruminantes podendo provocar até a fotossensibilização hepatógena (LEMOS et al., 2002). O termo fotossensibilização refere-se à sensibilidade exagerada da pele a luz solar, induzida pela presença de um agente fotodinâmico. O tipo de fotossensibilizaçao mais observado em bovinos é a hepatógena, sendo que os principais agentes envolvidos nos casos espontâneos descritos no Brasil são plantas tóxicas e algumas micotoxinas (TOKARNIA et al., 2000).
Inicialmente, a doença foi atribuída à presença do fungo Pithomyces chartarum, produtor da toxina esporidesmina (FIORAVANTI, 1999). Alterações histológicas de colangiohepatopatia associada a cristais têm sido observadas em animais que desenvolvem fotossensibilização em pastagens de Brachiaria. Essas plantas contêm sapogeninas esteroidais litogênicas, também responsáveis pela enfermidade (LEMOS et al., 1998).
As saponinas são compostos secundários da planta, geralmente encontrados nos tecidos de maior vulnerabilidade ao ataque fúngico, bacteriano ou predatório dos insetos. Conseqüentemente, um de seus papéis é atuar como uma barreira química ou um protetor do sistema de defesa da planta (WINA et al., 2005).
Foi conseguida a reprodução de sinais clínicos de colangiopatia associada a cristais em uma ovelha que ingeriu B. decumbens por 89 dias e lesões histológicas, sem sinais clínicos, compatíveis com a enfermidade em outros ovinos que ingeriram a planta por 77 e 150 dias (DRIEMEIER et al., 2002).
É fato que as plantas relacionadas com a fotossensibilização associada a cristais contêm saponinas esteroidais e que os cristais biliares são produto de seus metabolismos, mas isso não implica que elas sejam as únicas responsáveis pelas lesões hepáticas. É possível que outros fatores, tais como outras plantas ou micotoxinas tenham efeito sinérgico ou levem ao metabolismo anormal que resulte na formação de cristais biliares (MUNDAY et al., 1993).
O objetivo deste estudo foi a avaliação de histopatológica hepática e desempenho de ovinos alimentados com feno de Brachiaria brizantha e cana-de-açúcar por meio de histopatologia do fígado e determinação do desempenho, com estabelecimento do ganho de peso e rendimento de carcaça.
MATERIAL E MÉTODOS
No
experimento foram utilizados 12 ovinos da raça Santa Inês, com idade aproximada
de três meses, que constituíram dois grupos experimentais: GF – seis ovinos
alimentados com volumoso feno de B.
brizantha (presença de saponina) e concentrado e GC – seis ovinos
alimentados com cana-de-açúcar (ausência de saponina) e concentrado. Os ovinos
foram submetidos a um período de adaptação de 14 dias e 93 dias de experimento.
As duas dietas obedeceram à proporção entre volumoso e concentrado de 62:38. O
concentrado foi balanceado para atender as exigências nutricionais dos animais
e minimizar as diferenças entre as duas dietas, para que fosse nutricionalmente
o mais parecido possível.
A quantidade de alimentos fornecida baseou-se em 4% do peso vivo médio dos animais de cada grupo. Esta quantidade foi recalculada a cada nova pesagem.
O feno de Brachiaria brizantha foi produzido e
armazenado na Escola de Veterinária da UFG, após a determinação da concentração
de saponina e análise da ausência de esporos do fungo Pithomyces chartarum.
Para a avaliação histopatológica as amostras de fígado foram fixadas em formalina a 10% tamponada e, depois de 48 horas, armazenadas em álcool a 70%. Posteriormente foram processadas de acordo com a rotina do laboratório e coradas técnica da hematoxilina.
Para a avaliação do desempenho as pesagens ocorreram sob jejum alimentar
prévio de 14 horas. Os ovinos foram pesados nos dias zero (D0), 21 (D21), 49
(D49), 77 (D77) e 93 (D93). Após o
abate no dia
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A adaptação às condições ambientais e de manejo alimentar foi satisfatória e os ovinos demonstraram comportamento fisiológico para a espécie ao longo do período do estudo.
Os animais apresentaram ingestão adequada de alimentos ao longo de todo o experimento, ocorrendo redução no último período, quando teve início o período chuvoso. Como as baias eram descobertas, o alimento e o piso ficavam úmidos, o que afetou consideravelmente o consumo e o conforto ambiental dos animais.
A braquiária utilizada para a produção do feno e feno depois de pronto não apresentaram esporos do fungo Pithomyces chartarum. A contagem de esporos do fungo na área de pastagem destinada à produção do feno, bem como do feno fez-se necessária uma vez que a fotossensibilização hepatógena também é atribuída à esporidesminotoxicose.
A avaliação histológica dos animais do GF e do GC revelou hepatócitos preservados e a presença de infiltrados celulares mononucleares multifocais no parênquima hepático e também no espaço porta. Nos animais do GC também se constatou, em quatro animais, degenerações micro e macrovacuolares sugestivas de esteatose hepática, restritas às zonas 1 e 2 do ácino hepático.
Em nenhum dos grupos foi evidenciada a presença de macrófagos espumosos, cristais ou pigmentos biliares. A presença de infiltrado mononuclear no espaço porta, quase sempre em torno dos ductos biliares, caracterizou colangite.
A presença de infiltrados celulares mononucleares também foi observada
por CRUZ et al. (2001) em experimento com a administração de extratos
fracionados de B. decumbens com
níveis não detectáveis de esporos do fungo P.
chartarum
Os ovinos alimentados com feno de Brachiaria brizantha, apesar da presença de infiltrados mononucleares multifocal no parênquima e espaço porta, mostraram a estrutura dos hepatócitos e ductos biliares preservada. Resultados diferentes, foram descritos por BRUM et al. (2007) em um surto de fotossensibilização hepática em ovinos causada pela ingestão de Brachiaria decumbens sem a presença de esporos do fungo P. chartarum, que observaram degeneração epitelial, necrose e hiperplasia de ductos biliares, tumefação e vacuolização difusas dos hepatócitos, discreta quantidade de macrófagos e cristais dentro dos ductos biliares e macrófagos espumosos. MENDONÇA et al. (2008) em um surto de fotossensibilização hepática em ovinos causada pela ingestão de Brachiaria decumbens sem a presença de esporos do fungo P. chartarum, relataram o acúmulo de pigmentos biliares, hepatócitos binucleares, alguns com núcleo picnótico e proliferação de ductos biliares.
DRIEMEIER et al. (2002), ao induzirem a intoxicação de ovinos por
pastagem Brachiaria decumbens, sem a
presença de esporos do fungo P. chartarum,
mantiveram os animais sob pastejo por 77, 89 e 150 dias. A análise microscópica
de áreas de palidez no fígado foram observadas áreas multifocais de colangite,
com proliferação de ductos biliares, presença de cristais no interior dos
ductos biliares, células gigantes, hepatócitos com degeneração hidrópica e
O peso médio inicial dos animais do GF foi de 28,0kg (±3,16), peso final 33,55kg (±5,13), ganho de peso 5,55kg (±4,23) e rendimento de carcaça 46,14% (±6,55). No GF o peso médio inicial foi de 27,17kg (±2,4), peso final 36,92kg (±3,68), ganho de peso 9,75kg (±4,8) e rendimento de carcaça 46,17% (±1,41).
Não houve diferença estatística entre os valores médios de cada pesagem entre os grupos (P>0,05). O GC apresentou maior média de peso ao final do experimento, provavelmente devido à maior ingestão de alimento, pois, devido ao alto teor de umidade, a cana de açúcar possui maior palatabilidade em relação ao feno de braquiária, aumentando o consumo da mesma (SOARES-FILHO, 1999). O rendimento de carcaça foi semelhante entre os grupos, indicando que as dietas fornecidas aos grupos eram equivalentes e que ambos sofreram as mesmas interferências do ambiente.
CONCLUSÕES
Ovinos alimentados com feno de Brachiaria brizantha ou cana-de-açúcar apresentam alterações histológicas características de colangite discreta.
A alimentação de ovinos com feno de Brachiaria brizantha promove desempenho semelhante a ovinos alimentados com cana-de-açúcar.
AGRADECIMENTOS
Ao CNPq pelo auxílio financeiro e a CAPES pela concessão da bolsa.
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