CALCINOSE
ENZOÓTICA
Alonso Pereira Silva Filho1, José Augusto Bastos
Afonso2, Antônio Flávio Dantas3, Franklin Riet-Correa3,
José Cláudio de Almeida Souza4, Pedro Leopoldo Jerônimo Monteiro Junior5,
Carla Lopes de Mendonça2, Nivaldo Azevedo Costa2.
1. Residente da Clínica de
Bovinos, Campus Garanhuns da Universidade Federal Rural de Pernambuco - (UFRPE).
E-mail: cbg@prppg.ufrpe.br
(autor correspondente)
2. Médico Veterinário, doutor,
Clínica de Bovinos, Campus Garanhuns - UFRPE
3. Médico Veterinário,
doutor, professor do Curso de Medicina Veterinária, Campus Patos, UFCG
4. Médico Veterinário,
PhD, Professor da Unidade Acadêmica de Garanhuns - UFRPE
5. Aluno
de Mestrado do Programa de Pós Graduação
PALAVRAS-CHAVE: Bovino,
calcificação intravascular, plantas calcinogênicas.
ABSTRACT
ENZOOTIC CALCINOSIS IN CALVES FROM THE HINTERLAND OF
Enzootic
calcinosis has been reported around the world and is associated with ingestion
of calcinogenic plants. In
KEYWORDS:
Bovine, calcinogenics plants, intravascular calcification.
INTRODUÇÃO
A calcinose enzoótica,
doença com quadro de calcificação sistêmica, já foi relatada em diversas
regiões do mundo associada ao consumo de plantas que
possuem glicosídios com atividade análoga a vitamina D. No Brasil já foram
encontradas a Nierembergia veitchii
acometendo ovinos no Rio Grande do Sul e a Solanum
malacoxylon que é responsável pelo “espichamento” em bovinos no Pantanal do
Mato Grosso (BOABAID et al., 2006). As duas plantas ocorrem em áreas diferentes,
S. malacoxylon em lugares baixos,
inundados, afetando, sobretudo bovinos e a N.
veitchii é uma planta rasteira de lugares elevados e distribuição bastante
ampla no Rio Grande do Sul, afetando mais ovinos, porém só as áreas onde ela
ocorre em maior quantidade correspondem aos locais de incidência da doença
(TOKARNIA et al., 2000).
O princípio ativo da S. malacoxylon, já foi determinado e
trata-se de um glicosídeo esteroidal, que contém como componente
ativo a molécula hormonal da vitamina D (1,25 (OH)2D3),
onde após hidrólise, atua biológica e cromatologicamente como o metabólito
ativo da vitamina D. A N. veitchii
também, tem princípio tóxico com ação biológica semelhante a esta vitamina (TOKARNIA et al., 2000). Essa substância quando
ingerida compromete o mecanismo de regulação, e como conseqüência, quantidades
excessivas de CaBP (calcium binding
protein) são sintetizados e, quantidades elevadas de cálcio e fósforo são
absorvidas. A conseqüência é hipercalcemia e hiperfosfatemia (WASSERMAN, 1978).
A calcificação dos
tecidos moles causada pela ingestão de plantas calcinogênicas, assim como na
intoxicação pela vitamina D, parece ser o resultado, em primeiro lugar, da ação
direta do 1,25 (OH)2D3, sobre determinadas células alvo,
como as da parede arterial, do miocárdio e sobre as células musculares lisas da
parede do estômago e do intestino. Estas células-alvo assim alteradas seriam as
responsáveis pela síntese de uma matriz extracelular modificada, a qual criaria
condições propícias à mineralização dos tecidos. (BARROS et al. 1981; MORAÑA et al., 1994). Quadros
de Calcinose Enzoótica de etiologia indefinida tem sido observados com
freqüência em áreas de cerrado no Estado de Mato Grosso, afetando bovinos e
ovinos sem uma causa bem definida (GASPARETTO et al. 2009).
O objetivo deste
trabalho foi descrever os achados clínicos e anatomo-patológicos da calcinose
enzoótica em dois bovinos jovens atendidos na Clínica de Bovinos Campus - Garanhuns
da Universidade Federal Rural de Pernambuco (CBG-UFRPE).
MATERIAL
E MÉTODO
Foram avaliados os dados clínicos de dois
bovinos com calcinose enzoótica atendidos na CBG – UFRPE, criados semi-extensivamente,
oriundos do agreste de Pernambuco, onde se acompanhou a evolução clínica e os
achados anatomo-patológicos dos animais. Na anamnese o proprietário relatou que
os animais acometidos apresentavam incoordenção dos membros posteriores
evoluindo para prostração em um período de 10 dias. O exame clínico, observando
todos os parâmetros vitais, foi realizado de acordo com DIRKSEN et al. (1993).
Ambos foram necropsiados e amostras teciduais foram coletadas, conservada em
formalina a 10% e enviadas para análise histopatológica, onde foram coradas
pela técnica de hematoxilina-eosina (HE).
RESULTADOS
E DISCUSSÃO
Os casos atendidos foram
de duas fêmeas da raça holandesa, de aproximadamente um ano de idade,
entretanto, segundo SANTOS (1986), a calcificação
primária da túnica média é observada em bovinos com mais de 3-4 anos de idade e
em cavalos velhos. Tal enfermidade surge em bovinos intoxicados por S. malacoxylon, ocorrendo uma acentuada
destruição das fibras elásticas da túnica, com desaparecimento das mesmas.
Estudos mais recentes, realizados através de experimentos em bovinos de um a
dois anos de idade relatam que foram observadas lesões características da
enfermidade, embora se acredite que animais adultos sejam mais sensíveis
(TOKARNIA et al., 2000).
A doença ocorreu durante
o mês de março no agreste pernambucano, salientando que nesta região não é comum
encontrar plantas calcinogênicas conhecidas. BARROS et al. (2001), relatam a
observação de casos clínicos de calcinose enzoótica por entre os meses de outubro
a fevereiro, quando existe maior quantidade da planta N. veitchii. Os casos diferem
geográfica e sazonalmente em relação aos descritos associados ao consumo de S.
malacoxylon, que ocorre na época das secas, em áreas alagáveis e argilosas (WORKER
& CARRILLHO, 1967; DÖBEREINER et al., 1971). Situação como a relatada neste
caso é descrita por Gasparetto et al. (2009),
que relataram casos clínicos da calcinose em bovinos em propriedades que não
havia a presença de plantas calcinogênicas conhecidas.
Nos casos atendidos os
animais eram alimentados com pasto nativo (braquiaria, pangola e palma) e
concentrado (farelo de milho e mandioca / dois quilos por dia), recebiam
suplementação mineral própria para bovinos, eram vermifugados recentemente e
vacinados contra clostridioses, raiva e aftosa, foram medicados com vitamina
B1, anti-tóxico e dexametazona por 10 dias, sem apresentar melhora clínica. GASPARETTO
et al. (2009), observaram aspectos
clínicos e patológicos da calcinose enzoótica em área de cerrado no Estado do
Mato Grosso, onde os animais eram criados extensivamente em pastagens
extremamente degradadas com predomínio de plantas invasoras nativas, e também
não apresentaram resposta ao tratamento com polivitamínicos, antimicrobianos e
mineralização.
Nos achados clínicos os
animais apresentavam-se em decúbito esterno-lateral, agitados, febre,
linfonodos pré-escapulares aumentados, áreas de abafamento no campo pulmonar,
taquicardia, emagrecimento progressivo evoluindo para
caquexia, além de dificuldade de locomoção com andar rígido, ficando muito
tempo deitado. Com agravamento do quadro clínico evoluíram para óbito. Sintomatologias
semelhantes foram descritas por DOBEREINER et al. (1971) e TOKARNIA et
al. (2000),
em casos de calcinose enzoótica, e acrescentam que na palpação pode-se perceber
a calcificação das artérias carótidas e femurais e, em alguns casos, na auscultação,
constata-se uma acentuada insuficiência da válvula mitral ou das semilunares
aórticas. Para TOKARNIA et al. (2000), os primeiros sintomas da
intoxicação por S. malacoxylon são
observados poucas semanas após o início da ingestão de pequenas quantidades da
planta, enquanto que o quadro de hipercalcemia e hiperfosfatemia ocorrem
rapidamente (em horas).
Na macroscopia observou
que os principais achados se localizavam no sistema cardiovascular e respiratório.
Com variáveis graus de deposição de minerais nas artérias, válvulas
bicúspide, semilunares do tronco aórtico e miocárdio,
apresentando várias placas de tamanho variáveis, superfície irregular,
coloração branco-amarelada, textura firme, espessada e sem
elasticidade. Essas placas difundiam-se por grande extensão na íntima dos ramos
ascendente e descendente do tronco aórtico, corroborando com TOKARNIA
et al. (2000) e GASPARETTO et al. (2009), que relataram lesões
semelhantes a estes. Entretanto foi observada ainda a deposição de placas inclusive
na artéria pulmonar e espessamento do endocárdio ventricular, diferindo do que
é relatado na literatura onde não é citado seu comprometimento.
BARROS et al. (2001), descrevem a
deposição de minerais em todas estas estruturas com exceção da artéria pulmonar e o endocárdio. Foi
possível, ainda, observar que houve comprometimento da porção abdominal e
torácica da aorta. Semelhantes às lesões descritas por SANTOS (1986), onde
caracterizou a presença de placas salientes, confluentes, umbilicadas e com
margens elevadas (lesão em concha) nesta artéria.
Microscopicamente
havia mineralização nas camadas íntima e porção interna da média da artéria
aorta, com áreas irregulares de desprendimento da íntima e fibras elásticas
eosinofílicas e fragmentadas. GASPARETTO et al. (2009) e TOKARNIA et al. (2000),
descreveram que na íntima e média da aorta, as fibras elásticas apresentavam
tumefeitas, eosinofílicas e fragmentadas, apresentando diferentes graus de mineralização
degeneradas, calcificadas e envoltas por reação granulomatosa (linfócitos,
plasmócitos, macrófagos e células gigantes multinucleadas) e fibroplasia.
Na macroscopia o parênquima
pulmonar apresentava-se com áreas focais irregulares, de consistência firme e
coloração amarelada, discretamente porosa e mineralizadas, distribuídas em
grande parte nos lobos pulmonares. Microscopicamente observou-se nos pulmões espessamento dos septos interalveolares contendo
material basofílico granular ou fragmentado, característico de deposição de
cálcio, associado à discreta fibroplasia e infiltrado de linfócitos e
plasmócitos. Em algumas áreas os septos interalveolares estão espessados com
material eosinofílico e amorfo, além de proliferação de pneumócitos tipo II. Na
luz alveolar observaram-se também macrófagos espumosos, células gigantes
multinucleadas, algumas fagocitando cálcio, além de áreas multifocais de
enfisema alveolar e espessamento dos septos interlobulares. Tais achados foram relatados por TOKARNIA et al. (2000), descrevendo que a calcificação nos pulmões está
associada a enfisema pulmonar e por vezes à ossificação, onde ao corte essas áreas apresentam mineralizadas.
CONCLUSÃO
O surgimento da
calcinose enzoótica nesta região do Nordeste, onde não é relatada a existência
de plantas calcinogênicas conhecidas, reforça a idéia de que algum fator
relacionado à ingestão de alimentos ainda desconhecido e com as mesmas
características da calcinose por plantas, podem ser responsáveis por esta doença.
REFERÊNCIAS
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Exploring global issues in veterinary medicine in southern
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1967.