DINÂMICA
DO LEUCOGRAMA DE CAPRINOS JOVENS, DO NASCIMENTO ATÉ SEIS MESES DE IDADE:
INFLUÊNCIA DO FATOR RACIAL
Maria Consuêlo
Caribé Ayres1, Rafaela Duplat Dorea2, Eduardo Harry Birgel
Junior3, Rinaldo Batista Viana4; Maria do Carmo C. de
Souza H. Lara5, Thereza Cristina B. dos Santos C. de Bittencourt 1,
Eduardo Harry Birgel6
1 Profa. Dra.
Departamento de Patologia e Clínicas, Escola de Medicina Veterinária –
Universidade Federal da Bahia - E-mail: cayres@ufba.br (autor
correspondente)
2 Acadêmica
EMV-UFBA, Bolsista CNPq-Universidade Federal da Bahia
3 Prof. Dr.
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia – USP
4 Prof. Dr.
Departamento de Medicina Veterinária, UFRA
5 Médica
Veterinária, Pesquisadora Dra.do Instituto Biológico de São Paulo
6 Prof. Dr., Membro
da Academia Brasileira de Medicina Veterinária
PALAVRAS- CHAVE: Fatores de variabilidade, hematologia, pequenos ruminantes.
ABSTRACT
INFLUENCE OF BREED IN THE LEUCOGRAM OF YOUNG
GOATS from birth to 180th day of life
To evaluate the effect of age and breed on
the leucogram of young goats, a total of 30 healthy goats of different breeds
raised in São Paulo were assessed, of which 10 were Alpine, 10 were Saanen, and
10 were Anglo-Nubian. The animals were observed from birth to 6 months of age.
Blood samples were collected by venipuncture in ETDA tubes. Results revealed that breed had no significant influence on leukocyte
counts, except on the number of eosinophils, whereas age differences were
highly significant (p<0,05). Neutrophils, white blood cells (WBC), and
lymphocytes increased with age. WBC and lymphocytes increased until the 90th
day and then decreased, while neutrophils increased until the 45th
day and only started to decrease on the 120th day. On the 150th
day of life the leucogram showed stabilization. Therefore, the influence
of age and breed on young goats are reflected on leucogram findings.
KEYWORDS: Age development, breeds, hematology, small ruminants.
INTRODUÇÃO
Um dos principais problemas nos
sistema de manejo de pequenos ruminantes está relacionado com os elevados
índices de morbidade e mortalidade, principalmente no período neonatal,
conseqüência de processos anêmicos, infecciosos e a seguir, durante o seu
desenvolvimento, de verminoses gastrintestinais e enfermidades por problemas nutricionais
(KAWANO et al., 2001; MELLOR
& STAFFORD, 2004; BERNARDI et al.,
2005).
A hematologia clínica
constitui-se em uma importante área de estudo sobre o estado de saúde dos
animais, e o hemograma reveste-se em um dos métodos auxiliares de avaliação de
diagnóstico e prognóstico de enfermidades. Entretanto para uma adequada
interpretação é necessário considerar a influência dos fatores de
variabilidade, como: condições climáticas e ambientais, estado nutricional,
gestação, lactação, manejo, raça, sexo e idade, sobre os seus parâmetros
(NDOUTAMIA et al., 2005).
Considerando a importância da saúde na
fase neonatal e juvenil para os sistemas de produção de caprinos, esta pesquisa
teve como objetivo avaliar a influência do desenvolvimento etário e da raça sobre
o leucograma de carprinos, criados no Estado de São Paulo.
MATERIAL E MÉTODOS
Delineamento experimental
Foram utilizados 30 animais sadios,
sendo estes distribuídos em 3 grupos raciais distintos: Grupo I- 10 animais da raça Saanen; Grupo II- 10 animais da raça Anglo-Nubiana e Grupo III- 10 animais da raça Parda
Alpina, totalizando 19 machos e 11 fêmeas.Os animais foram acompanhados desde o
nascimento até os 180 dias de idade e mantidos no Centro de Pesquisa e
Diagnóstico de Enfermidades de Ruminantes – CPDER – do Departamento de Clínica
Médica da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São
Paulo. Os animais receberam aleitamento artificial, cuidados gerais para
neonataos e o manejo sanitário incluiu tratamento e cura do umbigo, vermifugações
e vacinações.
Como objetivo de avaliar a
influência do desenvolvimento etário, e do tipo racial sobre a dinâmica dos
constituintes do leucograma, os animais foram estratificados em doze sub-grupos
etários (0┤7, 7┤15, 15┤21, 21┤30, 30┤37, 37┤45,
45┤60, 60┤75, 75┤90, 90┤120, 120┤150, 150┤180),
onde foram realizadas colheitas de sangue por venipunção da jugular externa, em
tubos à vácuo contendo anticoagulante (EDTA K3) a 10%).
Os animais foram submetidos à exame
clínico antes de cada colheita sanguínea, para avaliar a higidez dos mesmos,
incluindo neste estudo apenas animais saudáveis. Do período do nascimento até
os 45 dias de idade as colheitas foram realizadas semanalmente, de 45 à 90 dias
de vida, quinzenalmente, e nos períodos seguintes as colheitas foram realizadas
mensalmente. Todas as amostras foram devidamente refrigeradas e processadas em
tempo hábil, antes de 24 horas após a colheita. Realizou-se a contagem total de
leucócitos em Câmara de Neubauer e para a contagem diferencial dos
leucocitários, foram confeccionados dois esfregaços de cada amostra, com o
sangue “in natura” no momento da colheita (BIRGEL, 1982).
Análise estatística
Para o tratamento estatístico
inicialmente os dados foram submetidos à análise de variância, e em seguida foi
aplicado o teste de comparação de médias com um nível de significância de 5%,
utilizando-se o software estatístico Statistical Package for the Social
Sciences (SPSS).
RESULTADOS
E DISCUSSÃO
A análise dos resultados obtidos nesta pesquisa deve ser
realizada com ressalvas, e se considerar a influência dos fatores de
variabilidade tais como: condições climáticas e ambientais, sistema de manejo,
estágio reprodutivo, entre outros (SILVA et al., 2006; GRILLI et al., 2007;
SOUZA et al., 2008), além das diferenças inerentes aos delineamentos
experimentais, onde em algumas pesquisas foram utilizados grupos heterogêneos
de animais (OGUNSANMI et al., 2004; BEZERRA et. al., 2008).
O valor da média obtida do número total de leucócitos, no
grupo de caprinos incluídos neste trabalho (11,56 ± 3,70 x 103/µL)
está próximo aos obtidos em pesquisas
realizadas no Brasil (VIANA et al., 2002; BEZERRA et al. 2008; SILVA et al.,
2008), os quais foram, respectivamente, 11,86 ± 3,16 x 103/µL e
11,86 x 103/µL; entretanto discordante de outra, realizadas no
continente Africano, cujo valor foi 13,5 ± 0,8 103/µL (DARAMOLA et
al., 2005). Tal resultado, possivelmente, se deve à influência de fatores climáticos
e ambientais (SILVA et al., 2008).
Na avaliação do número total de leucócitos, observou-se que
durante o desenvolvimento etário houve aumento gradativo, sendo este
estatisticamente significativo (p<0,05), do dia do nascimento (4,96±1,31 x
103/µL) até o 900 dia de vida (14,77 ±
2,65 x 103/µL), e semelhante dinâmica também
ocorreu no número de linfócitos, expresso em valor absoluto (2,99 ± 0,79 x 103/µL e 8,00 ± 2,16 x 103/µL,), respectivamente. O número de
neutrófilos diminuiu significativamente, do dia do nascimento (1,75 ± 0,98
x 103/µL) até o 370 dia de vida (5,14 ±
1,59
x 103/µL), mantendo-se estável até 1200
dia, quando então, aos 1500 dia apresentou diminuição no valor de
média, com tendência a estabilizar-se aos 180 dias de idade.
Foi detectado menor valor de média dos leucócitos totais, obtidos
no dia do nascimento (4,96 ± 1,31 x 103/µL ) e o dobro deste valor na segunda semana
de vida (8,81 ± 1,89 x 103/µL ), fato ocorrido devido a colheita de
sangue ter sido realizada imediatamente após o nascimento, quando os cabritos
ainda não haviam ingerido o colostro. Em cordeiros esta dinâmica foi também
mencionada (UPCOTT et al., 1971).
Neste estudo não se observou influência do tipo racial sobre
o número total de leucócitos, e resultado semelhante foi obtido por SOUZA et
al. (2008) em caprinos das raças Moxotó, Bôer e Anglonubiana. Entretanto, na
avaliação dos eosinófilos houve diferença significativa (p<0,05) entre os
caprinos da raça Anglonubiana (1,54 ± 1,78 x 103/µL), quando comparados com os Saanen (2,16 ±
2,24 x 103/µL).
O tipo racial é um dos fatores de variabilidade sobre o quadro leucocitário
comprovado em outras pesquisas (BIRGEL et al., 1969; DARAMOLA et al., 2005;
SILVA et al., 2008).
CONCLUSÃO
No
delineamento experimental proposto, onde os grupos de caprinos de três raças
foram incluídos e mantidos sob o mesmo sistema de criação, condições ambientais
e climáticas, os resultados obtidos demonstraram o efeito do desenvolvimento
etário e da raça.
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