TEORES
DE MINERAIS E ATIVIDADE DA ENZIMA GAMAGLUTAMILTRANSFERASE NO SORO COLOSTRAL DE
VACAS DAS RAÇAS CANCHIM E HOLANDESA E INFLUÊNCIA DO NÚMERO DE LACTAÇÕES
Camila Franciosi1,
Thaís Gomes Rocha1, Pablo Puertas Ernandes2, Claúdia
Aparecida da Silva Nogueira,3 José Carlos Barbosa4, José Jurandir Fagliari5.
1Pós-graduandas
da FCAV/UNESP/Campus de Jaboticabal-SP
2Médico
Veterinário autônomo
3Laboratório de
Apoio à Pesquisa do Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária,
FCAV/UNESP/Campus de Jaboticabal-SP
4Docente do
Departamento de Ciências Exatas da FCAV/UNESP
5Docente do
Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinária da FCAV/UNESP
Via de Acesso Prof. Paulo D. Castellane, s/n.
CEP: 14884-900 – Jaboticabal, SP.
E-mail:
fagliari@fcav.unesp.br
(autor correspondente)
PALAVRAS-CHAVES:
bovinos,
leite, pluríparas, primíparas.
ABSTRACT
MINERAL LEVELS AND GAMA-GLUTAMYL TRANSFERASE ACTIVITY
IN COLOSTRAL WHEY OF CANCHIM AND
This study
determines mineral levels and gama-glutamyl transferase activity of 20
KEYWORDS: cattle, milk, pluriparous, primiparous.
INTRODUÇÃO
O colostro contém
nutrientes e substâncias biologicamente ativas essenciais à nutrição e saúde do
bezerro. Relata-se que as concentrações de minerais, como cálcio, fósforo,
magnésio e ferro, são altas logo após a parição e diminuem no pós-parto (FOLEY
& OTTERBY, 1978; HORST, 1986; SHAPPELL et al., 1987). O colostro de vacas
contém mais de 40 enzimas (Swaisgood,
1995). Uma delas, a gama glutamiltransferase, tem sido particularmente estudada
por ser considerada indicador da absorção do colostro no trato gastrointestinal
(Perino et al.,
1993; Baumrucker et al., 1994; Hadorn
& Blum, 1997).
O fluxo sanguíneo e a
utilização de nutrientes na glândula mamária influenciam a produção e
composição do colostro (FOLEY & OTTERBY, 1978). KUME
& TANABE (1993) relataram a influência do número de lactações nas
concentrações de cálcio, fósforo e magnésio no colostro de vacas da raça
Holandesa. SOARES FILHO et al. (2001) notaram menor concentração de
imunoglobulinas no colostro de vacas holandesas quando comparada àquela do
colostro de vacas de outras raças. Estudo realizado por Tsuji et al. (1990) indica que a concentração de lactoferrina
no colostro bovino variou de acordo com a aptidão e com o número de lactações,
sendo maior em raças de leite que em raças de corte.
O objetivo deste estudo
foi comparar as concentrações de minerais e a atividade da enzima gama glutamiltransferase
do colostro de vacas de raças com aptidão para corte (Canchim) com aquelas de
raças de aptidão leiteira (Holandesa), bem como verificar a influência do
número de lactações nas concentração desses minerais.
MATERIAL
E MÉTODOS
Foram coletadas 40
amostras de colostro bovino, até 12 horas após o parto, sendo 20 delas obtidas
de vacas da raça Holandesa (10 primíparas e 10 pluríparas) e 20 de vacas da
raça Canchim (10 primíparas e 10 pluríparas). Em seguida, foi adicionado coalho
(EstrelaÒ) às amostras
para obtenção do soro lácteo, conforme descrito por Sant’ana et al.
(2005) e Baroza (2007). A partir
destas amostras foram determinadas as concentrações de ferro (método de Goodwin
modificado), cálcio total (método Labtest), fósforo (método de Basques-Lustosa)
e magnésio (método de Tonks) e a atividade da enzima gamaglutamiltransferase
(método de Szasz modificado), utilizando-se conjuntos de reagentes comerciais
(Labtest
Diagnóstica, Belo Horizonte-MG). As leituras das amostras foram realizadas em
espectrofotômetro (Labquest, Labtest, Belo Horizonte-MG),
com luz de comprimento de onda apropriado para cada teste.
Para as análises estatísticas
utilizou-se um delineamento inteiramente casualizado. As estatísticas F
calculadas foram consideradas significativas quando P<0,05. O contraste
entre pares de médias foi determinado pelo teste de Tukey.
RESULTADOS
E DISCUSSÃO
As concentrações
de minerais e a atividade da enzima gama glutamiltransferase (GGT) do colostro
são apresentadas a seguir, na forma de média e desvio-padrão.
A
concentração de ferro do colostro de vacas da raça Canchim primíparas e
pluríparas foram, respectivamente, 17,3±8,80 µg/dL e 14,4±6,88 µg/dL. No colostro de
vacas da raça Holandesa estes valores foram 24,4±14,7
µg/dL e 22,4±11,1 µg/dL. Não se constatou
diferença significativa quanto ao número de lactações, tampouco quanto à
aptidão, para carne ou leite. Contudo, o colostro de vacas holandesas
apresentou teor ligeiramente maior deste mineral, em comparação àquele do
colostro das vacas da raça Canchim. KUME & TANABE (1993), analisando a
concentração de minerais no colostro de vacas da raça Holandesa, não verificaram
diferença significativa entre os teores de ferro de vacas primíparas e
pluríparas.
Os
teores de cálcio total no colostro de vacas da raça Canchim primíparas e
pluríparas foram 52,9±7,71 mg/dL e 59,4±13,3 mg/dL, respectivamente. No
colostro de vacas holandesas estes valores foram 53,1 ± 7,75 mg/dL, em
primíparas, e 60,0±14,4 mg/dL, em pluríparas. Não se constatou diferença
significativa entre as raças e entre o número de lactações, diferentemente dos
achados de KUME & TANABE (1993), que verificaram concentrações maiores de
cálcio total no colostro de vacas primíparas quando comparadas a de vacas
pluríparas da raça Holandesa.
O
colostro de vacas primíparas da raça Canchim continha concentração de fósforo
(40,4±8,64 mg/dL) significativamente maior (P<0,05), em comparação
com aquela de vacas primíparas da raça Holandesa (31,6±4,12 mg/dL).
Porém, não houve diferença significativa na concentração colostral de fósforo
entre as vacas pluríparas da raça Canchim e as vacas pluríparas da raça
Holandesa (36,9±4,41 mg/dL; 31,9±9,57 mg/dL, respectivamente). Não foi
encontrado na literatura pesquisada estudo algum comparando as concentrações
desses minerais entre raças com diferentes aptidões.
As
concentrações de magnésio no colostro de vacas primíparas e pluríparas da raça
Canchim foram 17,8±3,44 mg/dL e 16,3 ± 1,87 mg/dL, respectivamente. No colostro
de vacas primíparas da raça Holandesa notou-se concentração de 16,9±5,39 mg de
magnésio/dL; no colostro de vacas pluríparas dessa raça este valor foi
24,6±13,0 mg/dL. As vacas primíparas da raça Holandesa apresentaram
concentração de magnésio no colostro significativamente menor, em comparação
àquela de vacas pluríparas desta raça, diferindo dos achados de KUME &
TANABE (1993). Vacas pluríparas da raça Canchim apresentaram teor colostral de
magnésio menor (P<0,05) do que as vacas holandesas pluríparas.
As
concentrações de minerais verificadas no colostro das vacas utilizadas no
presente estudo concordam com aquelas relatadas por BAROZA (2007), com exceção
do teor de ferro, que foi menor do que o citado pela autora.
A atividade da enzima
gama glutamiltransferase foi significativamente maior em vacas primíparas da
raça Canchim (43.676±23.852 U/L), quando comparada àquela de vacas primpíparas
da raça Holandesa (29.822±8.817 U/L). Não se constatou diferença significativa
entre os valores obtidos em colostro de vacas primíparas e pluríparas das duas
raças estudadas. Segundo ZANKER et al. (2001), a atividade sérica desta enzima
é muito alta no colostro logo após o parto e decresce gradativamente com o
passar dos dias, porém a importância fisiológica da sua absorção pelo neonato,
não foi esclarecida até o momento.
CONCLUSÃO
As
concentrações de fósforo e magnésio e a atividade da enzima gama glutamiltransferase
no colostro de vacas da raça Canchim foram significativamente maiores quando comparadas
à do colostro de vacas da raça Holandesa, e a concentração de magnésio foi
menor no colostro de vacas primíparas da raça Holandesa, quando comparadas com
o colostro de vacas pluríparas da mesma raça, porém outros estudos são
necessários para esclarecer estas diferenças.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem à
FAPESP pela concessão de auxílio financeiro para a realização deste projeto.
REFERÊNCIAS
Baroza,
P. F. J. Proteínas, enzimas e minerais na
secreção láctea de cabras e vacas, nos primeiros 30 dias pós-parto, congelada
ou não. Dissertação de Mestrado, Faculdade de Ciências Agrárias e
Veterinárias/UNESP/Campus de Jaboticabal. 2007. 74p.
Baumrucker, C. R.; Green, m. h.; Blum, J. W. Effects of dietary rhIGF-I in neonatal calves
on the appearance of glucose, insulin, d-xylose, globulins and γ-glutamyltransferase
in blood. Domestic Animal Endocrinology,
FOLEY, J. A.; OTTERBY, D. E. Availability, storage,
treatment, compositions, and feeding value of surplus colostrums: a review. Journal of Dairy Science,
Hadorn, U.; Blum, J. W. Effects of
colostrum, glucose or water on the ®rst day of life on plasma immunoglobulin G concentrations
and c-glutamyltransferase activities in calves. Jounal of Veterinary Medicine,
HORST, R. L. Regulation of calcium and phosphorus
homeostasis in the dairy cow. Journal of
Dairy Science,
KUME, S.; TANABE, S. Effect of parity on colostral
mineral concentrations of
Perino, L. J.; Sutherland, r. l.; Woollen, N. E. Serum γ-glutamyltransferase
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Sant’ana, V. A. C. Proteinograma do leite de vacas:
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SHAPPELL, N. W.; HERBEIN, J. H.; DEFTOS, L. J.;
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Soares Filho,
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ZANKER,