SÍNDROME
DO ABSCESSO PITUITÁRIO EM OVINOS: RELATO DE CASOS
Eduardo Levi de Sousa Guaraná1, Pedro Leopoldo Jerônimo de Monteiro Júnior1, Rafael Otaviano do Rego2, José Augusto Bastos Afonso3, Carla Lopes de Mendonça3, Franklin Riet-Correa4, Antonio Flávio Medeiros Dantas4 José Claudio de Almeida Souza5
1. Médico Veterinário,
Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Veterinária, Universidade
Federal Rural de Pernambuco (UFRPE)
2. Médico Veterinário, Residente da Clínica de Bovinos - Campus
Garanhuns, UFRPE
3. Médico (a) Veterinário (a), doutor, Clínica de Bovinos
- Campus Garanhuns, UFRPE, 55292-901, Garanhuns, C.P. 152, Pernambuco, Brasil –
E-mail:cbg@prppg.ufrpe.br (autor correspondente)
4. Médico Veterinário, professor, CSTR - Campus Patos,
Universidade Federal de Campina Grande
5. Médico Veterinário, professor, Unidade Acadêmica de
Garanhuns (UAG/UFRPE)
PALAVRAS-CHAVE: Infecção bacteriana, pequenos ruminantes, rete mirabile, sistema nervoso central.
ABSTRACT
Pituitary Abscess Syndrome in SHEEP: case
reportS
This study reports the clinical,
laboratory, microbiological, and pathological findings of four adult male sheep
with pituitary abscess, which were raised in confinement. The most evident
clinical signs were depression, persistent decubitus ulcers, hypothermia,
anorexia, and ruminal hypomotility. Blood tests revealed an inversion of the
lymphocyte-neutrophil ratio and hyperfibrinogenemia. Necropsy findings included
abscesses within the third ventricle, hypophysis, and thalamus.
Histopathological analysis showed acute multifocal suppurative
meningoencephalitis. Two abscess cultures were positive for Corynebacterium sp. and Staphylococcus aureus.
KEYWORDS: Bacterial infection, Central
Nervous System, rete mirabile, small
ruminants.
INTRODUÇÃO
Abscessos do sistema nervoso geralmente originam-se de focos de bactérias piogênicas que se instalam a partir de infecções localizada (descorna) e de focos de infecção (linfadenite caseosa) (MACHEN et al., 2004). Abscessos da pituitária ocorrem mais em ruminantes do que em outras espécies e podem ser secundários à disseminação hematógena de processos supurativos, especialmente da cabeça como sinusites, rinites e lesões dentárias ou por extensão direta de lesões purulentas localizadas na cabeça como otite interna ou, ainda, em eqüinos, como resultado da inflamação das bolsas guturais (FERNANDES & SCHILD, 2007). Os abscessos cerebrais podem acometer variadas espécies animais, sendo relatados em bovinos (SILVA et al., 1973), ovinos (AMAND et al., 1973), caprinos (GLASS et al., 1993), búfalos (OLIVEIRA FILHO et al., 2004) e eqüinos (RAPHEL, 1982).
Os abscessos hipofisários são focais ou multifocais, em caprinos e ovinos são muitas vezes causados por Staphylococcus, Streptococcus, Fusobacterium necrophorum e Actinomyces pyogenes. Há relatos de que o agente Corynebacterium pseudotuberculosis que causam a formação de abscessos cerebrais em ovinos (GLASS et al., 1993).
Os sinais clínicos variam em função da localização neuroanatômica do abscesso cerebral, sendo observado inicialmente depressão, vômitos, hemiparesia, hemianopsia e pressão na cabeça que podem ser sutis e freqüentemente não serem detectados pelo proprietário. Os sinais neurológicos agravam-se e tornam mais numerosos à medida que o(s) abscesso(s) aumenta(m). A bradicardia, junto com depressão e uma atitude de fitamento no infinito, é descrita como indicativa de um abscesso hipofisário (REBHUN, 2000), outros sinais apresentados são: opistótono, nistagmo, andar em circulo e tremores (GLASS et al., 1993; SANTA ROSA & SANTA ROSA, 1998; FERNANDES & SCHILD, 2007).
Neste trabalho o objetivo foi
relatar os achados clínicos, laboratoriais, microbiológicos e patológicos de
quatro ovinos acometidos de Síndrome do Abscesso Pituitário atendidos na
Clínica de Bovinos (CBG) – Campus Garanhuns/UFRPE.
MATERIAL
E MÉTODOS
Foram
analisados os dados das fichas clínicas em quatro ovinos que demonstravam
sinais nervosos, atendidos na CBG nos anos de 2008 e 2009, onde se resgatou as
informações relacionadas aos dados epizootiológicos, achados clínicos,
laboratoriais e patológicos. Dos quatro animais que deram entrada, dois chegaram
mortos, enquanto que os outros dois se submeteram à exame clínico seguindo as
recomendações de DIFFAY et al. (2004). Em dois animais foram colhidas amostras
de sangue, em tubo com anticoagulante, para realização de hemograma seguindo a
metodologia proposta por JAIN (1993). Amostras de soro sanguíneo foram
coletadas de dois animais, em tubo sem anticoagulante, para realização da
bioquímica sérica em kits comerciais. Todos os animais foram necropsiados e
amostras teciduais fixadas em formol a 10% foram enviadas para análise
histopatológica de rotina. Duas amostras dos materiais caseosos encontrado na
região pituitária foram submetidos à exames microbiológicos
segundo QUINN et al. (1994).
RESULTADOS
E DISCUSSÃO
Neste
trabalho todos os animais vieram a óbito, com evolução clínica que variou de
poucas horas a quatro dias, refletindo provavelmente a progressão da doença e a
sua gravidade como afirma FERNANDES & SCHILD (2007).
Os ovinos na sua
maioria tinham idade variando entre um e oito anos, semelhante à faixa etária
descrita por GUEDES et al. (2007). Eram criados em sistema intensivo, corroborando
estes achados com RIET-CORREA (2007) que relatou que animais usados em manejo
reprodutivo gera um fator de estresse e o surgimento de diversas doenças, como
também na disseminação da linfadenite caseosa. Em três casos, os animais
eram do sexo masculino, corroborando com PERDRIZET
& DINSMORE (1986) onde comenta haver mais ocorrência para o sexo
masculino, e assinala os relatos envolvendo bovinos e ovinos, em que o
comportamento agressivo pode causar danos com sinusite ou sepse secundária
intracraniana e ser um fator contribuinte.
Os animais que chegaram vivos na
CBG apresentavam como sinais clínicos: a posição de decúbito, depressão,
hipotermia, mucosas oculares hipercoradas, disfunção pupilar, anorexia e
hipomotilidade ruminal que demonstram uma condição clínica desfavorável, sinais estes também descritos por FERNANDES
& SCHILD (2007).
As análises laboratoriais em dois
animais doentes, os valores do leucograma encontravam-se normais para a
espécie, porém com predomínio de
neutrófilos segmentados, presença de bastonetes, eosinofilia absoluta e
hiperfibrinogenemia. Entretanto na literatura, o hemograma pode revelar valores
normais ou leucocitose (MACHEN et al., 2004). Nos casos citados as análises
bioquímicas revelaram hipoglicemia e azotemia, caracterizando a gravidade da
condição clínica dos animais acometidos.
Na
necropsia, observou-se na maioria dos animais: a vascularização dos anéis
traqueais ingurgitada; coração na região epicárdica e endocárdica apresentando
hemorragias petequiais; pulmões com presença de edema e congestão, porém em
dois animais evidenciou-se a presença de nódulo firme de diâmetro variando
entre dois e três centímetros, que ao corte deixou fluir conteúdo purulento
denso e hiperemia da mucosa abomasal. Na abertura do terceiro ventrículo dos quatro animais, havia a presença
de conteúdo abscedativo de coloração esbranquiçada e aspecto caseoso;
localizado próximo à hipófise e do osso baso-esfenóide envolvendo a complexa
vascular (rete mirabile) e estruturas
adjacentes, principalmente os nervos óptico e trigêmeo. Os achados necroscópicos
do trabalho estão de acordo com o citado por MACHEN et al. (2004) relatando que a partir do foco de infecção a
bactéria pode se disseminar e causar septicemia.
Os
achados histopatológicos revelaram uma meningoencefalite supurativa aguda,
multifocal, moderada, associada à formação de abscessos
e colônias bacteriana na hipófise e em um caso também no tálamo. No presente
estudo foi realizada cultura de dois abscessos com isolamento de Corynebacterium sp. e Staphylococcus aureus, estando este
último agente de acordo com citações de PERDRIZET
& DINSMORE (1986) e GLASS et
al. (2003). Segundo relatos de SANTA ROSA & SANTA ROSA (1999) houve o
isolamento de Corynebacterium
pseudotuberculosis em abscessos e lesões supurativas no sistema nervoso
central.
CONCLUSÃO
Tendo em vista a ocorrência da
Síndrome do Abscesso Pituitário nos casos que foram observados nódulos
abscedativos em outros órgãos (broncopneumonia abscedativa), sugere-se a origem
a partir da linfadenite caseosa. Deve-se conscientizar os criadores de pequenos
ruminantes da necessidade em implementar medidas higiênico-sanitárias na
propriedade, para diminuir a ocorrência das enfermidades, como a linfadenite
caseosa. Para os veterinários, recomenda-se observar a importância que deve ser
dada ao exame da cavidade cefalorraquidiana dos animais que vieram a óbito com
sintomatologia nervosa, onde macroscopicamente a lesão pode ser diagnosticada e
coletar fragmentos para diagnóstico diferencial com outras enfermidades.
REFERÊNCIAS
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