USO
DE PROPILENOGLICOL, COBALTO E VITAMINA B12 EM OVELHAS E SEUS
REFLEXOS SOBRE O PERFIL ELETROFORÉTICO DAS PROTEÍNAS SÉRICAS DOS BORREGOS
Anne Grace Silva Siqueira
Campos1, José Augusto Bastos Afonso2, Rogério Adriano dos Santos1,
Carla Lopes de Mendonça2
1.
Médico Veterinário, Aluno do PPGCV, Universidade Federal Rural de Pernambuco
(UFRPE)
2.
Médico Veterinário, Clínica de Bovinos - Campus Garanhuns (UFRPE). Av. Bom
Pastor, s/n. Cx. Postal 152, Garanhuns, PE, Brasil. CEP: 55.292 – 901. E-mail: cbg@prppg.ufrpe.br (autor
correspondente)
PALAVRAS-CHAVE: Ovinos, perfil
metabólico, proteinograma, suplementos
ABSTRACT
PROPYLENE GLYCOL, COBALT AND VITAMIN B12 ADMINISTRATION IN EWES AND ITS
EFFECT ON THE ELECTROPHORETIC PROFILE OF SERUM PROTEINS OF LAMBS
This study evaluates the influence of propilene
glycol, cobalt, and vitamin B12 on the electrophoretic profile of serum
proteins of sheep and their offspring. A total of 18 pregnant ewes were
randomly divided into three groups 30 days before the scheduled delivery date:
Group 1 – control group (G1/n=6); Group 2 – cobalt and vitamin B12
administration (G2/n=6); Group 3 – propylene glycol administration (G3/n=6).
Animals were given a daily oral dose with 1mg of cobalt chloride, a weekly dose
with 2mg of vitamin B12 through intramuscular injections, and a daily oral dose
with 30mL of propylene glycol. Results revealed that changes in various protein
fractions, particularly total serum protein, albumin, beta- and gamma-globulin
occur with age and are determined by colostrum intake. In our study, the
ingestion of supplementary components did not influence the metabolic profiles
of lambs.
KEYWORDS:
Ovine, metabolic
profile, nutritional supplements, proteinogram.
Apesar do reconhecido potencial do Estado de Pernambuco na exploração de ovinos para a produção de carne na região e a crescente necessidade em atender a demanda exigida pelo mercado, ainda existem alguns fatores que são considerados limitantes para a produção de boas matrizes. Dentre estes fatores destaca-se a sanidade, o manejo e a nutrição, visto que tanto os excessos quanto a sua carência, constituem um entrave ao desenvolvimento desta atividade, em função dos distúrbios metabólicos que são gerados, principalmente os observados em animais em estado gestacional avançados (AFONSO, 2006).
Nesta fase, um dos mais importantes distúrbios citados é exemplificado pela toxemia da prenhez, a qual se deve a um balanço energético negativo durante o período de transição próximo ao parto (SCHLUMBOHM & HARMEYER, 2003) e que se caracteriza por hipoglicemia, cetose e acidose metabólica, com sintomas nervosos e digestivos que culminam freqüentemente com a morte do animal, particularmente das fêmeas portadoras de dois ou mais feto (AFONSO, 2006).
Uma vez instalado o distúrbio, como forma de auxiliar a recuperação das pacientes, a administração de cobalto e vitaminas do complexo B têm ajudado a evitar maiores complicações (AFONSO, 2006). Por outro lado, o propilenoglicol, precursor de glicose, tem sido amplamente utilizado como tratamento único nos casos leves ou pode ser utilizado como suplemento para terapia mais agressiva nas pacientes severamente doentes (FONSECA et al., 2003; NIELSEN & INGVARTSEN, 2004).
Diante disto, acredita-se que o desequilíbrio nutricional, que acarreta o surgimento de transtornos metabólicos como a toxemia da prenhez, possa interferir na quantidade e qualidade do colostro das ovelhas acometidas e com isso possa alterar o proteinograma dos cordeiros. Todavia, por não se ter conhecimento de relatos científicos a cerca da utilização do propilenoglicol, cobalto e vitamina B12 em ovelhas da raça Santa Inês no terço final da gestação, com o intuito de prevenir a toxemia da prenhez, este estudo se propõe a avaliar o emprego destes componentes e seus reflexos sobre o proteinograma das respectivas crias.
O estudo foi efetuado empregando-se 18 ovelhas prenhes da
raça Santa Inês, oriundas da Clínica de Bovinos, Campus Garanhuns – Universidade
Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Aproximadamente
30
Com relação às amostras, nos borregos foram colhidas
A
análise estatística utilizada foi a de variância para as variáveis que
apresentaram a média como tendência central. No caso da estatística resultar
significativa (P<0,05), foram efetuados os contrastes entre médias pelo
método de Tukey. Para as variáveis não paramétricas foi realizada a Prova de
Kruskal-Wallis para amostras independentes e a de Friedman para as amostras dependentes
(CURI, 1997).
RESULTADOS
E DISCUSSÃO
Nas proteínas totais séricas
(g/dL) obtidas dos borregos, não
foi encontrada diferença significativa (P>0,05) entre os três grupos experimentais
antes da ingestão do colostro, porém, após este período foi observada uma
elevação significativa (P<0,05) nos índices das proteínas totais para todos
os grupos analisados, G1, G2 e G3, que alcançou os valores mais elevados de
6,71g/dL ± 1,51, 5,84g/dL ± 0,95 e 6,96g/dL ± 1,19, respectivamente às 12 horas
de vida quando comparado ao momento que antecedeu a ingestão do colostro.
Segundo KANEKO et al. (1997), logo após o nascimento dos ruminantes, os valores da proteína apresentam-se baixos, em decorrência da quantidade mínima de globulina e baixos níveis da albumina, porém quando o animal ingere o colostro, observa-se um aumento das proteínas, como conseqüência da absorção dessas imunoglobulinas.
Ao serem avaliados os valores de mediana da fração albumina (g/dL) obtidos dos borregos antes da ingestão do colostro, nos diferentes grupos experimentais G1, G2 e G3, verificou-se que não houve diferença significativa (P>0,05) entre os grupos e nem ao longo dos momentos, porém após a ingestão do colostro, foi observada uma elevação significativa (P<0,05) nos grupos analisados, G1, G2 e G3, onde neste último grupo, o aumento foi mais expressivo às 12 horas de vida (3,68g/dL), enquanto nos grupos G1 e G2, alcançaram os níveis de 3,44g/dL e 3,82g/dL, respectivamente, aos 90 dias (P<0,05).
A elevação da fração albumina do soro observada nos três grupos dos cordeiros, é justificada por KANEKO et al. (1997) que afirmam que esta elevação se deve ao aumento da ingestão de compostos nitrogenados da dieta, uma vez que houve a introdução de uma dieta a base de concentrado e volumoso (feno de tifton) a partir do 10º dia de vida.
Os valores encontrados para a fração alfa-globulina obtidas dos borregos,
não apresentaram diferenças significativas (P>0,05) entre os grupos. Após
este período, foi observada uma elevação não significativa (P>0,05) nos grupos
analisados, G1 e G2, que se manteve estável até os últimos momentos.
Entretanto, no grupo G3 este aumento (0,54g/dL ± 0,12) foi mais expressivo e
significativo (P<0,05) às 12 horas de vida. Comparada a todas as frações
obtidas, a alfa-globulina foi a variável em que se notaram menores alterações
após a ingestão do colostro, sendo esta estabilidade explicada pelo fato de que
algumas proteínas de fase aguda, as quais fazem parte da fração alfa-globulina,
eleva-se apenas nos casos de infecções agudas (KANEKO et al., 1997; COSTA et
al., 2007).
Ao serem analisados os valores médios da fração beta 1 globulina (g/dL)
obtidas dos borregos, não foi encontrada diferença significativa (P>0,05)
antes da ingestão do colostro, nos diferentes grupos experimentais G1, G2 e G3
dos borregos. Em contrapartida, após este período foi observada uma elevação
nos valores desta variável, que foi significativa (P<0,05)
aos 15 dias no grupo G2 (0,97g/dL ± 0,11), enquanto nos grupos G1 e G3, esta
foi identificada aos 30 dias alcançando valores de 0,94g/dL ± 0,07 e 0,99g/dL ±
0,20, respectivamente. Com isto, ao analisar o comportamento entre os grupos,
foi verificado que existiu diferença significativa (P<0,05) dos grupos G2 e
G3 com o G1 às 6h após a ingestão do colostro, onde este apresentou um índice
inferior (0,70g/dL ± 0,13).
Após a elevação dos índices verificados após a ingestão do colostro, KEAY
& DOXEY (1984) observaram em cordeiros com idade de
Com relação aos valores médios da fração beta 2 globulina (g/dL) foi observado uma elevação significativa (P<0,05) nos índices desta fração nos grupos analisados, G1, G2 e G3, quando comparado ao M0h. Este aumento foi mais expressivo aos 15 dias de vida no grupo G2 (0,29 ±0,14), enquanto que aos 30 dias de vida nos grupos G1 (0,27g/dL ± 0,05) e G3 (0,28g/dL ± 0,12). Quanto à elevação dos índices, após a ingestão do colostro, estes valores permaneceram estáveis até os últimos dias de observação, estando estes dados de acordo com a afirmação de KANEKO et al. (1997), que cita que as betas globulinas atingem um valor de concentração sérica elevada após a ingestão de colostro, sofrendo discretas variações com o desenvolvimento etário.
Os valores médios da fração gama-globulina obtidas nos borregos após a ingestão do colostro elevaram-se de forma significativa (P<0,05), que foi expressiva às 12 horas de vida nos grupos G2 e G3 (1,04g/dL ± 0,84 e 1,77/dL ± 1,10, respectivamente), enquanto que no grupo G1 (2,32g/dL ± 1,41) só foi observado este aumento às 24h. Ao analisar o efeito de momento entre os grupos, foi observado que existiu diferença significativa (P<0,05) entre o G2, que apresentou um valor de 0,79g/dL ± 0,64 inferior aos grupos G1 e G3 (2,01g/dL e 1,17g/dL) às 48h, após a ingestão do colostro.
Diante desta afirmativa, HALLIDAY (1978), relata que o valor baixo desta fração, antes da ingestão do colostro, se deve ao tipo de placenta presente nas ovelhas, denominada sindesmocorial, que não permite a passagem de imunoglobulinas (macromoléculas) da circulação materna para a fetal. Somente após o nascimento, com a ingestão do colostro, o borrego vai receber a proteção necessária aos primeiros momentos de vida (imunização passiva), até que o organismo adquira a capacidade de produzir, por si só, os anticorpos (TIZARD, 2000; NOWAK & POIDRON, 2006).
CONCLUSÃO
As frações protéicas em sua maioria sofrem variações com o desenvolvimento etário, em especial as proteínas totais séricas, albumina, beta-globulina e gama-globulina. Os fatores determinantes para estas variações foram a ingestão do colostro. Além disso, não houve influência da ingestão dos componentes estudados pelas ovelhas, sobre o perfil destas variáveis nos borregos.
AGRADECIMENTOS
À Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE) pelo auxílio financeiro.
REFERÊNCIAS
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