RESUMO
Objetivou-se com esta pesquisa estudar a rentabilidade de sistemas de
produção de leite no município de Nazareno, MG. Pretendeu-se, ainda,
identificar os componentes que exerceram maior influência sobre os
custos finais da atividade, bem como a importância de cada um deles em
relação à receita total, e estimar o ponto de equilíbrio. Os dados
utilizados foram provenientes de quatro sistemas de produção, coletados
mensalmente, durante o período de janeiro a dezembro de 2004. O
processamento eletrônico dos dados e a análise de rentabilidade foram
realizados pelo software Custo Bovino Leite®, considerando a margem
bruta, a margem líquida e o resultado (lucro ou prejuízo) como
indicadores de eficiência econômica. Os itens componentes do custo
operacional efetivo que exerceram maior influência sobre os custos da
atividade leiteira foram, em ordem decrescente: alimentação, mão de
obra, despesas diversas, energia, sanidade, ordenha, impostos fixos e
inseminação artificial. Na análise econômica, dois sistemas
apresentaram margem líquida e resultado positivo, o que indica haver
condições de produção no longo prazo, com possibilidades de expansão.
Com os demais, por apresentarem margem líquida positiva e resultado
negativo, os pecuaristas tiveram prejuízo; porém, há possibilidade de
produção no médio prazo e de reversão do quadro, caso sejam tomadas as
devidas providências para corrigir os pontos falhos.
PALAVRAS-CHAVES: Análise de rentabilidade, bovinocultura de leite, custo de produção, ponto de equilíbrio.
ABSTRACT
PROFITABILITY STUDY OF MILK PRODUCTION SYSTEMS IN NAZARENO CITY (MG), BRAZIL
The aim of this research was to study the profitability of dairy
business of milk production systems in the Nazareno city, MG, Brasil.
Besides identifying the components that exerted greatest influence on
the final costs of the business we also estimated the breakeven point.
The data utilized was coming from four production systems, collected
monthly during the period of January to December 2004. The Custo Bovino
Leite software processed the electronic data as well as the
profitability analysis, taking into consideration the gross margin, net
margin and the result (profit or loss) as indicators of economic
efficiency. The component items of the effective operational cost that
exercised larger influence on the activity milk pan’s costs were, in
decreasing order, feeding, labor, overall expenses, energy, health,
milking, taxes and artificial insemination. In the economic analysis,
two production systems presented positive net margin and the positive
result, indicating that they have conditions to keep their produce in
the long run, with possibility of expanding. The others systems
presented a positive net margin and a negative result that indicates
that these producers have been operating their milk activity at a loss.
However there is a possibility of improving their gain in the medium
term.
KEYWORDS: Breakeven point, dairy cattle, production cost, profitability analysis.
INTRODUÇÃO
O complexo agroindustrial do leite se faz presente em todas as regiões
brasileiras, sendo um importante gerador de renda, emprego e tributos.
NOGUEIRA NETTO
et al. (2003)
destacaram que a pecuária leiteira é desenvolvida em aproximadamente
40% das propriedades rurais do Brasil, sendo explorada
predominantemente por pequenos e médios produtores.
Na década de 1990 houve uma grande mudança no panorama agroindustrial
do país. A partir desse período, profundas transformações ocorreram em
todo o setor, as quais foram induzidas pela desregulamentação do
mercado, políticas comerciais de abertura, formalização do Mercosul,
estabilidade macroeconômica, nova estrutura de comercialização e também
crescente aumento do discernimento do mercado consumidor, cada vez mais
segmentado e exigente quanto a qualidade, preço e variedades de
produtos (LEITE & GOMES, 2001; ZOCCAL, 2001).
Esse novo cenário econômico refletiu numa maior especialização do setor
produtivo, na redução da quantidade de produtores, na melhoria da
qualidade do produto, no aumento da escala de produção, no aumento da
produtividade e na redução da sazonalidade (LEITE & GOMES, 2001).
Diante do exposto, fica evidente que a atividade leiteira está se
tornando cada vez mais especializada e exigente, cabendo ao produtor
acompanhar esses avanços.
As relações que se estabelecem no setor agropecuário são de
concorrência imperfeita, em que as empresas atuantes são reduzidas,
organizadas em associações de interesse que interagem com um grupo
amplo de produtores rurais. Essa situação faz que os produtores percam
o poder de negociação do preço do leite (ALENCAR
et al.,
2001). A indústria tem condições de estabelecer os preços que irá
praticar, levando em consideração a perspectiva de comportamento da
demanda, bem como a facilidade de aquisição de produtos importados.
Como o produtor possui baixo poder de negociação e pouca influência na
determinação do preço do leite, resta-lhe esforçar-se para reduzir os
custos de produção.
A análise econômica da atividade leiteira é de suma importância, pois,
por meio dela, o produtor passa a conhecer e a utilizar, de maneira
inteligente e econômica, os fatores de produção (terra, trabalho e
capital). A partir daí, ele localiza os pontos de estrangulamento para
depois concentrar esforços gerenciais e ou tecnológicos, buscando obter
sucesso na sua atividade e atingir os seus objetivos de maximização de
lucros ou minimização de custos (LOPES
et al.,
2004). A gestão do negócio torna o crescimento do empreendimento rural
viável, fortalecendo-o para os momentos de crise, além de prepará-lo
para novas oportunidades (Oaigen
et al., 2006).
Com esta pesquisa objetivou-se estudar a rentabilidade de sistemas de
produção de leite no município de Nazareno, MG, e, ainda, identificar
os componentes que exerceram maior influência sobre os custos finais da
atividade e o impacto de cada um deles na receita.
MATERIAL E MÉTODOS
Os dados utilizados no presente estudo foram provenientes de quatro
sistemas de produção de leite localizados no município de Nazareno,
região Campos das Vertentes do estado de Minas Gerais. Coletaram-se os
dados durante o período de janeiro a dezembro de 2004 e a pesquisa
considerou duas etapas diferentes no levantamento das informações. Na
primeira etapa, utilizando-se questionário e caderneta de campo, foi
realizado o inventário completo dos bens das propriedades estudadas,
para apurar valor e vida útil de cada ativo. Nas situações em que o
pecuarista não dispunha de informações referentes ao valor e à data de
aquisição, para a estimativa dos valores atualizados e da vida útil
restante, foi adotado o critério proposto por LOPES
et al. (2004).
Cada benfeitoria foi medida, sendo avaliado e classificado seu estado
de conservação e registrado um resumo no memorial descritivo,
objetivando a auxiliar na estimativa do valor atualizado. Em função da
área, do estado de conservação e do padrão de acabamento, foi estimado
um valor por m2 de construção. O valor atualizado foi produto do valor
do m² pela área da benfeitoria (LOPES
et al., 2004).
Na segunda etapa, as propriedades foram visitadas mensalmente para
coleta de dados referentes às produções, despesas realizadas e receitas
apuradas no mês anterior. A coleta de dados deu-se em cadernetas de
campo especificamente preparadas para esse fim. As informações foram
cadastradas no software Custo Bovino Leite®, aplicativo utilizado para
o processamento eletrônico dos dados, bem como para a análise de
rentabilidade dos sistemas de produção. Esse software contemplou as
duas estruturas de custo de produção: custo total de produção, que
envolve o custo fixo e o variável, e custo operacional, conforme
proposto por MATSUNAGA
et al. (1976). Para calcular a rentabilidade utilizou-se esta fórmula:
No cálculo da renumeração do capital aplicou-se a taxa de poupança de
6% ao ano e, para a renumeração da terra, optou-se pelo valor de
arrendamento praticado na região, que foi de 2 kg de leite/ha/dia. Os
itens que compõem o custo operacional efetivo de produção do leite
foram divididos em grupos: mão de obra, alimentação, sanidade,
inseminação artificial, ordenha, impostos fixos, energia e despesas
diversas. Para evitar duplicidade de lançamento de despesas, a análise
não considerou a depreciação de matrizes, uma vez que o sistema avalia
o custo de produção da atividade como um todo e os custos de cria e
recria de fêmeas de reposição, assim como os de manutenção de vacas
secas, também foram contemplados no estudo (LOPES
et al., 2004).
Os índices produtivos e econômicos foram comparados por meio de
análises descritivas, utilizando-se o aplicativo MS Excel®, e agrupados
em tabelas, objetivando realizar melhores comparação, discussão e
apresentação dos resultados (LOPES
et al., 2004).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Um resumo dos recursos disponíveis nos quatro sistemas de produção do
município de Nazareno, MG, durante o período de janeiro a dezembro de
2004, é apresentado na
Tabela 1.
Tais recursos foram úteis nas análises e discussões dos resultados
encontrados na pesquisa. O valor do capital imobilizado por kg de leite
foi maior na propriedade 1, onde houve a menor rentabilidade (5,68%),
como é mostrado na
Tabela 2.
Tal fato evidencia que esse sistema tem capital imobilizado
dimensionado para uma produção de leite maior. Por outro lado, a
propriedade 2, que teve o menor valor imobilizado por kg de leite, de
R$ 379,20, apresentou uma rentabilidade de 6,09% (
Tabela 2).
O que pode ter acontecido nessa propriedade é o inverso do ocorrido na
propriedade 1, ou seja, falta de recursos para a produção de leite
ocasionando limitação da produção.
Segundo GOMES (2009), um bom indicador para o capital imobilizado por
kg de leite/dia seria algo em torno de R$ 500,00. Valor semelhante foi
encontrado no sistema de produção 4, que apresentou uma rentabilidade
de 17,52%. A propriedade 3 também obteve rentabilidade positiva
(15,01%), porém, o valor imobilizado por kg de leite foi de R$ 854,13 –
um pouco mais alto, possivelmente pelo fato de haver na propriedade
máquinas (tratores e implementos) que também eram utilizadas como fonte
de receita por meio do aluguel.
Na
Tabela 2
pode ser observado um resumo da análise de rentabilidade da atividade
leiteira desses sistemas de produção. As receitas totais durante o
período de estudo foram: R$ 46.746,11; R$ 291.548,34; R$ 95.749,85 e R$
60.718,92, o que correspondeu à soma dos valores apurados com a venda
de leite (73,51%; 93,49%; 53,80% e 62,53%), animais (26,49%; 6,51%;
33,84% e 37,47%) e aluguel de máquinas (0%; 0%; 12,36% e 0%), para as
propriedades 1, 2, 3 e 4, respectivamente (
Tabela 3).
O percentual da contribuição da receita da venda de leite, nas
propriedades 1, 3 e 4, está bem abaixo da média dos encontrados por
outros pesquisadores, enquanto o percentual referente à venda de
animais está bem acima (86,94% e 12,45%, conforme LOPES
et al., 2004; 80,98% e 16,02%, segundo LOPES
et al.
(2005), para o percentual de receita da venda de leite e venda de
animais, respectivamente). Esse fato se deveu à grande quantidade de
animais comercializada por três dos pecuaristas. Os valores apurados
com as vendas de animais contribuíram para que a rentabilidade fosse
positiva nas quatro propriedades. Essa maior porcentagem com a venda de
animais, num primeiro momento, pode parecer atraente. Entretanto, é
necessária uma análise mais detalhada, pois tal prática pode levar à
diminuição de patrimônio com a venda de animais.
As propriedades analisadas não venderam o subproduto (esterco), o qual
foi utilizado como adubo orgânico em capineiras, corroborando o que
outros pesquisadores já haviam constatado (LOPES
et al.,
2004). O fato de o adubo ser utilizado na propriedade representou
redução nas despesas com manutenção das capineiras. Outro tipo de
receita constatada nesta pesquisa foi o aluguel de máquinas para
terceiros, evidenciando a tentativa de um dos produtores (propriedade
3) de diversificar a composição de sua receita, utilizando mais
intensivamente as máquinas da propriedade. Observe-se que essa foi a
propriedade que obteve a segunda maior rentabilidade. A situação
poderia ter sido melhor se a produtividade tivesse sido maior.
Quando se compararam as quatro propriedades quanto à renda bruta da
atividade por kg de leite, considerando apenas venda de leite e de
animais, a que teve maior porcentagem com a venda de leite (propriedade
2: 93,49%), por se tratar de um sistema de confinamento com baixa taxa
de descarte voluntário, apresentou uma rentabilidade de 6,09%.
Entretanto, deve ter ocorrido menor diminuição de patrimônio em
animais, nessa propriedade. Uma análise da variação do inventário
poderia explicar melhor alguns resultados obtidos.
Nas propriedades analisadas, foi possível determinar os pontos de
equilíbrio, estimados em 519,47; 2.302,01; 652,91 e 360,15 kg de
leite/dia, para as propriedades 1, 2, 3 e 4, respectivamente; porém,
nenhuma delas conseguiu alcançar esse ponto. Os percentuais de leite
produzido em relação ao ponto de equilíbrio foram de 19%, 29%, 23% e
63% para as propriedades 1, 2, 3 e 4, respectivamente. Esses índices
evidenciam que esforços gerenciais e tecnológicos devem ser
implementados, objetivando aumentar a média diária sem, contudo,
aumentar o custo variável médio. De acordo com LOPES
et al.
(2004), uma alternativa para se alcançar o ponto de equilíbrio é
aumentar a eficiência produtiva, ou seja, a produtividade por matriz,
otimizando os gastos com mão de obra, medicamentos, inseminação
artificial, impostos fixos, energia e despesas diversas. Aumentando-se
a produtividade por matriz, tais despesas não serão majoradas.
O preço médio recebido por kg de leite, durante o período de janeiro a
dezembro de 2004, foi de R$ 0,49 (± 0,04), enquanto a média no estado
de Minas Gerais foi, segundo MILKPOINT (2005), de R$ 0,50 (± 0,05). Ou
seja, aumentos de R$ 725,48; R$ 4.936,13; R$ 1.086,90; e R$ 828,17 nas
receitas dos sistemas de produção 1, 2, 3 e 4, respectivamente,
poderiam ter ocorrido apenas se tivesse sido alcançado o preço médio
praticado no estado de Minas Gerais.
O custo operacional total (COT) foi obtido pela soma do custo
operacional efetivo (desembolso) com o custo de depreciação dos bens
patrimoniais e com a remuneração da mão de obra familiar (
Tabela 2).
Embora não seja desembolso, o valor referente à depreciação representa
reserva de caixa que deveria ser feita para se reporem os bens
patrimoniais ao final de sua vida útil. A receita do período permitiu
que essa reserva fosse feita nas quatro propriedades e que a mão de
obra familiar fosse remunerada. Isso significa que ao final da vida
útil do bem, permanecendo-se constantes as condições atuais, o
pecuarista teria recursos monetários para a aquisição de um novo bem
substituto, não havendo descapitalização no médio prazo.
No presente estudo, a depreciação foi responsável por 19,4%; 3,8%;
14,1% e 5,2% do COT, para as propriedades 1, 2, 3 e 4, respectivamente.
Esses resultados mostraram que nas propriedades 2 e 4 houve melhor
utilização da estrutura física do que nas propriedades 1 e 3. Porém, a
propriedade 2 apresentou um resultado por kg de leite de R$ 0,051, e a
propriedade 3, de R$ 0,269. É possível que essa menor porcentagem com a
depreciação da propriedade 2 seja reflexo de falta de infraestrutura, o
que pode ter levado à menor produção de leite por matriz em lactação
(5,68 x 9,31 kg), apresentando menor resultado por quilo de leite do
sistema de produção. Tal fato pode ser comprovado quando se observam (
Tabela 1)
os valores imobilizados por litro de leite produzido: R$ 379,20 e R$
599,28 nas propriedades 2 e 4, respectivamente. Vale salientar que
outros fatores, como a genética, a nutrição e o manejo dos animais,
também influenciam a produtividade.
Quando se comparam as duas propriedades que obtiveram lucro (3 e 4),
observa-se que a propriedade 4 apresentou 5,2% da depreciação em
relação ao COT e resultado de R$ 0,051. Essa porcentagem é bem menor do
que os 14,1% da propriedade 3, que obteve resultado de R$ 0,261 por
quilo de leite. Tal fato mostra que os recursos disponíveis estão bem
dimensionados para a produção apresentada. Uma possível explicação
poderia ser o uso das máquinas na propriedade 3, o que gerou um custo
no item depreciação, mas também contribuiu na receita da atividade.
Outra explicação seria a eficiência da produção com recursos
disponíveis na propriedade 4, quando comparada à da propriedade 3.
Embora na literatura não exista informação sobre qual seria um bom
valor para esse indicador técnico, pode-se dizer que a eficiência média
de utilização dos bens do patrimônio da propriedade 3 foi semelhante à
do sistema estudado por LOPES
et al.
(2005), que encontraram porcentagem com a depreciação de 12,81, com
produtividade média das vacas em lactação de 12,87 kg de leite/dia com
rentabilidade positiva de 1,72%.
O custo operacional efetivo (
Tabela 2)
representa o desembolso médio no período de 12 meses, feito por cada
produtor, para custear a atividade. Os itens que compõem o custo
operacional efetivo de produção do leite foram divididos em grupos,
cada qual responsável pelos percentuais apresentados na
Tabela 4.
A divisão das despesas em grupos, de acordo com LOPES & LOPES
(1999), permite o monitoramento das despesas do sistema de produção de
leite, auxiliando o técnico e o produtor numa análise mais detalhada.
A alimentação foi responsável por 42,29%; 64,27%; 55,06% e 44,76%, para
as propriedades 1, 2, 3 e 4, respectivamente, das despesas operacionais
efetivas. Os percentuais das propriedades 1 e 4 estão abaixo da média
encontrada (59,65%) pela maioria dos pesquisadores (BERG & KATSMAN,
1998; LOPES
et al., 2004; e CARVALHO
et al,
2009). Esse fato se deve, em parte, ao não fornecimento de alimentos
aos animais em quantidade/qualidade adequada, uma vez que foram gastos
com alimentação R$ 0,136 e R$ 0,162 por kg de leite produzido, o que
refletiu em baixa produção média de leite por matriz em lactação, de
5,68 kg e 6,67 kg, nas propriedades 1 e 4, respectivamente. Entretanto,
a propriedade 4 apresentou média de 0,971 vaca em lactação por hectare,
versus 0,432 da propriedade 1; ou seja, mesmo com baixo dispêndio com
alimentação, a propriedade 4 conseguiu obter maior rentabilidade, pelo
fato de ter maior produtividade por área, otimizando assim a
disponibilidade de terra. Ressalta-se que esses valores encontrados
para taxa de lotação (0,971 x 0,432 vaca/hectare) estão abaixo do
recomendado pela literatura, que é de 1 UA/ha.
As despesas com mão de obra tiveram um percentual médio de 25,01%,
permanecendo acima da média (14,91%) encontrada pela maioria dos
pesquisadores (BERG & KATSMAN, 1998; LOPES
et al., 2004; e CARVALHO
et al.,
2009). Tal valor pode ser explicado pelo fato de apenas uma das quatro
propriedades ter utilizado mão de obra familiar, sendo que nas outras
houve maior contratação de pessoal, aumentando assim o gasto.
Verificou-se nessas baixa relação vaca:homem, de 17,5; 11,9; 16,0 e
17,0:1, para as propriedades 1, 2, 3 e 4, respectivamente, confirmando
o motivo de a mão de obra ter sido um fator oneroso na atividade
leiteira dessas propriedades. Valor semelhante a esses foi obtido por
LOPES
et al. (2004) ao estudar a rentabilidade de dezesseis sistemas de produção de leite. LOPES
et al.
(2003), realizando a análise de rentabilidade de um sistema de produção
de leite com resultados altamente insatisfatórios, encontraram relação
vaca:homem de 7:1, sendo a mão de obra responsável por 25,81% do total
das despesas operacionais efetivas.
A média das despesas com sanidade representou 3,76% do COE, valor
abaixo da média (5,97%) encontrada pela maioria dos outros estudos
(BERG & KATSMAN, 1998; LOPES
et al.,
2003). Desse percentual, a maior parte refere-se a produtos
terapêuticos, como antibióticos; uma outra parte é relativa a vacinas
contra aftosa e um pequeno valor foi gasto com outras vacinas
consideradas essenciais e com antiparasitários. Esse fato também foi
observado por LOPES
et al
(2004), que salientaram a necessidade de trabalho urgente de educação,
prevenção e conscientização dos produtores de leite sobre a importância
da saúde animal.
Quanto às despesas com inseminação artificial (sêmen, nitrogênio
líquido, além de outros materiais), o percentual médio obtido de 0,45%
do COE (Tabela 4) está muito abaixo da média (3,03%) encontrada por
outros pesquisadores (BERG & KATSMAN, 1998; LOPES
et al.,
2003), devido ao fato de duas dos quatro propriedades adotarem a monta
natural em vez da inseminação artificial. Porém, quando se comparam
apenas as médias daquelas que adotam a inseminação artificial, estas
ficam bem próximas do que foi encontrado pelos pesquisadores citados.
As despesas com aquisição de soluções pré e pós-dipping, detergentes
ácidos e alcalinos, papel toalha, desinfetantes e demais produtos
utilizados na ordenha representaram, em média, 0,47% das despesas
operacionais efetivas, valor abaixo da média (1,74%) encontrada na
literatura. A explicação para tal ocorrência é que das quatro
propriedades apenas uma possui despesas com esses materiais, o que
revela a pouca preocupação com a obtenção higiênica do leite, o que
também foi verificado por LOPES
et al. (2004).
Impostos considerados fixos, como o ITR e o IPVA, representaram apenas
0,49% do total. Das propriedades pesquisadas, apenas uma é isenta de
pagar o ITR, devido à sua pequena extensão.
No grupo energia, o qual representou 6,74% dos gastos, foram
consideradas as despesas com energia elétrica e combustível. As
propriedades foram bem contrastantes quanto ao gasto com energia, o que
se pode constatar pelo alto desvio padrão. Acredita-se que o nível
tecnológico tenha interferido no gasto com a energia, pois os sistemas
que possuem ordenhadeira e tanques de expansão, dentre outros
equipamentos, tiveram maior consumo.
Foram consideradas despesas diversas aquelas que não se enquadram nos
grupos mencionados anteriormente, tais como frete do leite, taxas e
impostos variáveis e gastos com manutenção de benfeitorias, máquinas e
equipamentos. O valor médio de 11,44% do total do COE está abaixo dos
13,47% mencionados por LOPES
et al. (2007), que encontraram rentabilidade de 0,27%.
Em propriedades onde não se adota o controle de custos – devido à
necessidade de um longo período de coleta de dados (mínimo de 12 meses)
para se ter informação mais precisa –, uma alternativa que pode ser
utilizada, pela sua facilidade de obtenção, é a relação do item que
compõe o custo operacional efetivo com a receita total, ou seja, quanto
da receita o pecuarista gasta, mês a mês, com alimentação, mão de obra,
sanidade etc. Esses cálculos permitem que se tenha a noção de como está
a situação da atividade naquele momento. Para as propriedades
estudadas, os valores estão apresentados na
Tabela 6.
Sugere-se a estimativa desse indicador, principalmente em propriedades
que apresentaram viabilidade econômica, como as propriedades 3 e 4,
para que ele sirva de referência para aqueles pecuaristas que ainda não
calculam o custo de produção.
As despesas do grupo alimentação tiveram representatividade na receita do leite variando de 28,18% a 55,75% (
Tabela 6).
Possivelmente, uma representatividade de 28,18% é indicativo de
alimentação inadequada, podendo resultar em baixa produção, enquanto
uma representatividade de 55,75% pode ser indício de alto gasto com
concentrados, volumosos e mineralização, seja na compra de insumos
caros, na ausência de subprodutos ou ainda na formulação inadequada da
dieta oferecida aos animais.
A diferença – 100 total da % COE/RL resultou em porcentagens de 33,36;
13,42; 14,96; e 20,97, para as propriedades 1, 2, 3, e 4,
respectivamente. Essa porcentagem multiplicada pela receita com o leite
corresponde ao mesmo valor da margem bruta 1, ou seja, é ela que deve
ser destinada a cobrir o custo com a depreciação, para que o sistema
possa obter margem líquida positiva.
Os custos totais (CT) dos quatro sistemas de produção, que representam
a soma dos custos fixos (CF) e dos custos variáveis (CV), foram de R$
51.444,94; R$ 293.435,33; R$ 66.551,59 e R$ 39.067,44, para as
propriedades 1, 2, 3 e 4, respectivamente (Tabela 2). As diferenças
entre receita total e CT foram de R$ 3.698,83; R$ 1.849,99; R$
29.198,26 e R$ 21.651,48, para as propriedades 1, 2, 3 e 4,
respectivamente. Diante disso, constatou-se que, nas propriedades 3 e
4, os custos variáveis puderam ser pagos, que a reserva referente à
depreciação pôde ser realizada e que o capital investido em bens e
terra foi completamente remunerado. Já as propriedades 1 e 2 tiveram
resultado negativo. Uma possível explicação para a propriedade 1 ter
tido “resultado 1” negativo foi o alto custo fixo (47,77% do CT), o
qual poderia ter sido diluído com produções maiores de leite. Já na
propriedade 2, os gastos com o custo operacional efetivo foram elevados
(80,59% do CT), mostrando que o gasto para produzir leite foi muito
alto.
Os custos fixos, que são compostos pela remuneração da terra,
remuneração do capital investido, remuneração do empresário, impostos
considerados fixos (ITR e IPVA) e depreciação do patrimônio,
totalizaram R$ 24.573,36; R$ 53.204,08; R$ 22.442,04 e R$ 8.678,16,
para as propriedades 1, 2, 3 e 4, respectivamente (
Tabela 2).
Esses custos não representaram desembolso (com exceção dos impostos),
mas sim o que a atividade deveria remunerar para ser competitiva com
outras atividades econômicas e não descapitalizar o pecuarista ao longo
dos anos. Se esses custos não forem contemplados, o pecuarista poderá,
no longo prazo, perder o patrimônio e se endividar. Tais custos fixos
representaram 47,77%, 18,13%, 33,72% e 22,21% do custo total, para as
propriedades 1, 2, 3 e 4, respectivamente. Esses resultados são
semelhantes ao que foi encontrado por LOPES
et al.
(2004), de 34,06%. Esses dados evidenciam que os investimentos
certamente encontram-se dimensionados para uma produção de leite muito
maior do que a média encontrada, ou seja, a infraestrutura disponível é
maior do que a necessária para o nível atual de produção. LOPES
et al.
(2004) salientaram que, considerando que não haja aquisição ou venda de
bens, nem aumento de impostos, os custos fixos permanecerão constantes.
Para que esses custos sejam menos representativos no custo total, a
produtividade deve ser aumentada para atingir uma economia de escala,
aproveitando melhor os recursos disponíveis.
Os custos variáveis, que são compostos pelo COE, excetuando impostos
considerados fixos (ITR e IPVA), pela remuneração do capital de giro e
pela mão de obra familiar, representaram 52,23%, 81,87%, 66,28% e
77,79% do custo total.
Observa-se pelos indicadores de eficiência econômica “margem bruta 1”
(receita bruta menos COE) e “líquida 1” (receita bruta menos COT) que
tais resultados foram satisfatórios (positivos) em todas as
propriedades estudadas. Os dados evidenciam que nessas propriedades a
atividade leiteira tem condições de sobreviver no curto e no médio
prazos (
Tabela 2) e possui uma relativa estabilidade, podendo até se expandir.
Quando analisados pelo indicador de eficiência econômica “resultado 1”
(receita total menos custo total), os resultados foram insatisfatórios
apenas para as propriedades 1 e 2, indicando que não foi possível
remunerar todo o capital. As demais propriedades conseguiram terminar o
período com resultado positivo. Ao serem analisados pelo indicador de
eficiência econômica “resultado 2” (receita com leite menos custo
total), os resultados de todas as propriedades foram insatisfatórios.
Isso demonstra que a receita com venda de animais contribuiu para que
as propriedades 3 e 4 obtivessem o “resultado 1” positivo. Apesar de a
receita com vendas de animais fazer parte da receita total de
propriedades de produção de leite, as propriedades 3 e 4 obtiveram
percentuais em relação à receita total (33,84% e 37,47%,
respectivamente) muito acima da média encontrada na literatura
(12,33%). Esses percentuais podem indicar uma descapitalização no longo
prazo, devido à diminuição do rebanho, o que nos ciclos produtivos
seguintes comprometerá a produção de leite e a reposição das matrizes.
Os resultados encontrados indicam que a rentabilidade em três
propriedades analisadas (2, 3 e 4) foram superiores à remuneração da
caderneta de poupança. No entanto, esses resultados devem ser vistos
com certa cautela, uma vez que, na metodologia utilizada para calcular
a rentabilidade (margem líquida/total imobilizado + custo operacional
efetivo), não foram consideradas as remunerações (custo de
oportunidade).
Na estimativa do custo total foram computadas todas as despesas,
inclusive a da criação de bezerras e de outros animais. No período do
estudo, os produtores em questão venderam alguns animais. O software
Custo Bovino Leite, utilizado no processamento eletrônico dos dados
desta pesquisa, realizou a conversão dos valores apurados com as vendas
de animais em leite e calculou o custo total do “leite virtual” (LOPES
& LOPES, 1999): R$ 0,437 (
Tabela 8).
Esse valor pode ser tomado como referência para o produtor avaliar se a
atividade leiteira como um todo, principalmente a cria e a recria de
animais, está sendo viável economicamente.
Verificou-se no estudo que o valor médio de venda, de R$ 0,492, foi
suficiente para cobrir as despesas operacionais totais (R$ 0,451),
relacionadas na
Tabela 7.
As despesas referentes ao custo total (R$ 0,597), custo fixo e custo
variável não foram totalmente cobertas, evidenciando que parte do custo
fixo, principalmente a remuneração do capital investido, não foi
coberta. Dentro do preconizado por LOPES & LOPES (1999),
considerando o custo total do leite de R$ 0,597 (
Tabela 7),
e o valor de venda de R$ 0,492, a atividade leiteira não foi viável
economicamente, pois o produtor teve prejuízo de R$ 0,105 por kg de
leite (R$ 0,597 - R$ 0,492). Quando se considerou a venda de animais, a
atividade foi rentável em R$ 0,05 por kg de leite (R$ 0,492 - R$
0,437).
As constatações desta pesquisa mostram que, em algumas situações, pode
ser verdadeira a afirmação comum feita por muitos produtores de que
produzir leite é mau negócio, e que as crias valem a pena. Ressalta-se
que quando foi considerada a venda de animais, a atividade foi rentável
nos quatros sistemas de produção, inclusive nas propriedades 1 e 2,
cujos resultados (receita bruta - custo total) foram negativos. No
entanto, nesse caso específico, a análise do valor do “leite virtual”
deve ser feita com cautela, pois os valores obtidos com a venda de
animais em três propriedades excederam, e em muito, aqueles encontrados
na literatura, evidenciando descapitalização dos pecuaristas
Diante disso, sugere-se então que o conceito “leite virtual” seja
utilizado no processo de tomada de decisão quando a venda de animais
representar algo entre 15% e 20% da receita total, o que é considerado
ideal por LOPES
et al.
(2009). No caso da propriedade 2, onde a venda de animais representou
apenas 6,51% da receita, o custo total por kg de “leite virtual” se
assemelhou ao preço de venda. Se o pecuarista tivesse vendido um pouco
mais de animais, tal valor seria inferior ao preço de venda, mostrando
ser verdadeira a expressão “produzir leite é mau negócio. O que é bom
negócio são as crias. As crias, sim, valem a pena”.
CONCLUSÃO
Os itens componentes do custo operacional efetivo que exerceram maior
influência sobre os gastos com a atividade leiteira foram, em ordem
decrescente: alimentação, mão de obra, despesas diversas, energia,
sanidade, ordenha, impostos fixos e inseminação artificial.
Na análise econômica, duas propriedades apresentaram margem líquida e
resultado positivos, indicando que têm condições de produzir no longo
prazo, com possibilidades de expansão. Nas demais, por apresentarem
margem líquida positiva e resultado negativo, os pecuaristas tiveram
prejuízo; porém, com possibilidade de produzirem no médio prazo e
conseguirem reverter o quadro, caso sejam tomadas as devidas
providências visando à correção dos pontos falhos.
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