UROLITÍASE OBSTRUTIVA EM BOVINOS NO
SEMI-ÁRIDO PARAIBANO
Adriana
Cunha de Oliveira Assis1, Tatiane Rodrigues da
Silva1, Gildeni Maria Nascimento de Aguiar1, Diego
Barreto de Melo2, Fabíola Carla de Almeida2, Josemar Marinho
Medeiros3, Pedro Izidro da Nóbrega Neto4
1.
Alunas do Curso de Pós-Graduação em Medicina
Veterinária, Hospital Veterinário, CSTR, Universidade Federal de Campina Grande
(UFCG), Patos, PB 58700-000, Brasil.
E-mail:drica.cvet@yahoo.com.br (autor
correspondente).
2. Aluno do Programa de Aperfeiçoamento em Medicina Veterinária do Hospital
Veterinário, Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).
3. Médico Veterinário, MSc, Hospital Veterinário da Universidade Federal
de Campina Grande ,
4. Professores do Curso de Medicina Veterinária da
Universidade Federal de Campina Grande, Campus de Patos, 58700-000 Patos, PB.
PALAVRAS-CHAVE: Doenças,
ruminantes, sistema urinário.
ABSTRACT
OBSTRUCTIVE UROLITHIASIS IN CATTLE IN PARAÍBA’S
SEMIARID REGION
This study reports three cases of bovine obstructive urolithiasis in
Paraíba’s semiarid region. The animals showed depression, dehydration, strangury, abdominal
discomfort, and bruxism. One of them had severe ascites and eventually died;
the others were able to recover after urethrostomy. Urolithiasis frequently
occurs in cattle that are not castrated and eat a high-roughage diet. There is
a need to carry out more studies that investigate the composition of urinary
calculi and its probable causes in order to develop prophylactic measures to
control urolithogenic processes.
KEYWORDS: Diseases, ruminants, urinary system.
INTRODUÇÃO
Define-se urolitíase como a formação de cálculos em conseqüência da
precipitação de minerais ou substâncias orgânicas no trato urinário. Quando há
obstrução da passagem de urina a alteração denomina-se urolitíase obstrutiva,
ocorrendo acúmulo de urina na bexiga e acarretando processo inflamatório,
hidronefrose e uremia pós-renal. A nutrição e o manejo são os principais
fatores predisponentes para o aparecimento da urolitíase (RIET-CORREA, 2001).
A doença é comum entre os
ruminantes criados em sistema de manejo em que a ração é composta
principalmente de grãos, ou quando os animais consomem pastos que contêm grande
quantidade de sílica ou oxalatos. Um fator também
importante na formação de cálculos em ruminantes é a diminuição do consumo de
água (REBHUN, 1995; RADOSTITS, 2002; TIRUNEH,
2004).
Esta doença possui grande importância em ruminantes
machos castrados ainda jovens e que são mantidos em confinamento com pouca
oferta de água, associada a dietas ricas em concentrados que levam a um aporte
excessivo de fósforo com desequilíbrio na relação Ca e P da dieta. Dietas com
uma relação Ca:P menor que 1,5: 1 a 2:1 facilmente causam urolitíase (RIET-CORREA, 2007).
Nas fêmeas não ocorre urolitíase obstrutiva por que
a uretra é curta e calibrosa, e o rápido fluxo de urina por ocasião da micção
garante a eliminação da maioria dos cálculos (SMITH, 2006). Os animais mais
jovens são mais acometidos, devido ao menor diâmetro da uretra e a maior utilização
de alimentos concentrados na fase de crescimento (CORBERA et al., 2003).
Este trabalho tem como objetivo descrever a
ocorrência de urolitíase obstrutiva em bovinos atendidos
no Hospital Veterinário da UFCG (HV)
MATERIAL
E MÉTODOS
No período de Janeiro
de 2008 a Julho de 2009 foram atendidos no HV três bovinos machos, não
castrados com a queixa de dificuldades na eliminação de urina. Os animais foram
identificados e encaminhados ao Ambulatório de Grandes Animais do HV, sendo um
animal da raça Nelore com três anos de idade e dois sem raça definida com idade
entre 1 e 2 anos, todos não castrados. Após a identificação dos animais realizou-se
a anamnese, o exame físico geral e o exame específico do sistema geniturinário,
por suspeitar-se de alterações neste sistema. O diagnóstico presuntivo foi de
urolitíase. A seguir foram feitas as indicações terapêuticas. Um dos animais
veio a óbito e durante realização da necropsia foram coletados fragmentos de todos os órgãos que foram fixados e
processados por métodos convencionais para exames histológicos e corados pela
hematoxilina-eosina.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Na anamnese foi obtida
a informação que a alimentação dos animais era composta basicamente de capim
nativo e apenas um deles recebia pequena quantidade de grãos. Após avaliação
dos animais acometidos observou-se que todos apresentavam alguns sinais
clínicos semelhantes, dentre eles, anorexia, depressão, desidratação, estrangúria,
desconforto abdominal e bruxismo. As freqüências cardíaca e respiratória encontravam-se
elevadas.
O bovino Nelore era
criado em regime intensivo e era utilizado como animal de tração. O
proprietário já havia realizado diversos tratamentos no animal pois estava
doente há aproximadamente 15 dias.No exame físico foi observado que o mesmo
conseguia urinar, porém a eliminação era feita de forma lenta e prolongada e o
episódio de micção demorava em torno de 10 minutos. Foi observado aumento de
volume na região do pênis, prepúcio e testículos que se apresentavam firmes a
palpação. Estabeleceu-se um protocolo terapêutico com antibiótico
(enrofloxacina, 5mg/kg a cada 24 h), antiinflamatório (dexametasona, 0,1 mg/kg
a cada 24 h) e acepromazina (0,05 mg/kg a cada 8 horas) suspeitando-se de
obstrução parcial de uretra. Houve redução do aumento de volume da região do
pênis, prepúcio e testículos. Sete dias após o início do tratamento o animal
estava apático, com anorexia, severa desidratação e marcada distensão abdominal,
sendo encaminhado ao setor de cirurgia para realização de laparotomia exploratória.
Durante este procedimento observou-se a cavidade abdominal com aproximadamente
50 litros de líquido translúcido e inodor, caracterizando ascite. Na exploração
da cavidade pélvica a bexiga foi palpada e encontrava-se repleta de urina. O
animal veio a óbito por choque hipovolêmico no meio do procedimento cirúrgico. Os
achados de necropsia foram bexiga com urina turva, com desprendimento da
serosa, espessamento da parede e mucosa hemorrágica. Cálculos foram
visualizados no rim direito, S peniano e na saída da bexiga para a uretra. O
fígado estava aumentado de tamanho, com acentuação do padrão celular e
vesicular biliar distendida com mucosa avermelhada A mucosa do abomaso e
intestino também se encontrava congesta e os pulmões estavam congestos e
edematosos.Os achados histológicos revelaram tumefação das células epiteliais
dos túbulos renais.
A causa da instalação
rápida desse grave quadro de ascite não foi elucidada. Porém suspeita-se que o
animal devido à dificuldade de eliminação da urina, extravasamento desta para o
tecido subcutâneo e provavelmente através da parede da bexiga que estava
cronicamente distendida possa ter levado o animal a um quadro de uremia que
culminou com astenia miocárdica e estabelecimento de insuficiência cardíaca
congestiva. A hepatomegalia e o edema pulmonar visualizados na necropsia
respaldam a suspeita clínica.
Os
outros dois animais
além dos sinais de estrangúria apresentavam
testículos edemaciados e/ou frios,
sendo evidente em um dos animais presença de áreas de
necrose no escroto. Os
dois animais foram encaminhados ao centro cirúrgico para
realização de
uretrostomia perineal, pois os sinais eram indicativos de ruptura
uretral. O
animal que apresentava necrose testicular foi também submetido
à orquiectomia
bilateral. Ambos se recuperaram após a realização
da uretrostomia não sendo
possível a visualização de cálculos,
porém considerando que a ruptura de uretra
na maioria dos casos são decorrentes de urólitos e
dependendo da localização
deste não é possível sua
visualização o diagnóstico foi também de
urolitíase
obstrutiva.
Embora a uretrostomia
perineal seja uma técnica que acarreta perda da função reprodutora do macho é o
principal tratamento indicado para bovinos. Como geralmente trata-se de
novilhos (garrotes) em engorda é recomendado o abate, imediatamente após os
primeiros sinais ou após a uretrostomia e recuperação do animal (RIET-CORREA et
al., 2007).
As obstruções uretrais
por urólitos são freqüentemente diagnosticadas em pequenos ruminantes no
Hospital Veterinário da UFCG, todos os casos estiveram associados à excessiva
ingestão de grãos e mineralização incorreta com sal contendo fósforo e outros
minerais como o magnésio. Nos casos dos bovinos não era fornecida alimentação
com quantidades excessiva de grãos ou seus subprodutos, inclusive um dos
animais era criado apenas a pasto, e o outro recebia pequena suplementação com torta de algodão e
farelo de milho. O animal mais velho era alimentado com capim e palha de milho.
CONCLUSÃO
A ocorrência de
urolitíase em bovinos não castrados vem ocorrendo com relativa freqüência no
semiárido e são necessários estudos para identificar a constituição dos
urólitos e elucidação das prováveis causas da enfermidade para que possam ser
tomadas medidas de controle e profilaxia.
REFERÊNCIAS
CORDEBA, J. A.;
DORESTE, F.; MORALES, M.; GUITIÉRREZ, C. La urolithiasis por fosfato em el
ganado caprino. In: CONGRESSO DE LA SEMIV, 2003, Zaragoza. Anais eletrônicos... Zaragoza Disponível em: <http://www.semiv.ulpgc.es/ficheros/ponenciaszaragoza2003.pdf>
Acessado em: 29 de outubro de 2006.
RADOSTITS, O. T.; GAY,
C. C.; BLOOD, D. C.; HICHCLIFF, K. W. C Doenças do sistema urinário. In:______.
Clinica veterinária: Um tratado de doenças
dos bovinos, ovinos, suínos, caprinos e eqüinos. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2002. p. 441-445.
REBHUN, W. C.; GUARD, C.; RICHARDS, C. M. Diseases of dairy cattle. Baltimore: Lea & Febiger, 1995. 530 p.
RIET-CORREA, F.; SCHILD, A.L.; M.C.; LEMOS, A., BORGES, J. R.J . Doenças de ruminantes e equídeos.
São Paulo: Varela, 2007, p. 677 - 683.
RIET-CORREA, F; SCHILD, A.L; MNDEZ, M.D.C; LEMOS, R.A.A. [et al]. Doenças
de ruminantes e eqüídeos. v. 2, São Paulo: Varela, 2001, p
561-565.
SMITH, B. P. Medicina interna de grandes animais. 3.ed.
São Paulo: Manole, 2006. 1728 p.
TIRUNEH, R. Minerals and oxalate contend of feed and water in relation
with ruminant urolithiasis in Adea district, central Ethiopia. Revue de Medecine Veterinaire, Toulouse,
v. 156, n. 5, p. 272-277, 2004.