HIDRATAÇÃO ENTERAL
José Dantas Ribeiro Filho1, Luiz Carlos
Fontes Baptista Filho2, Camila Oliveira Silveira2,
Rodrigo Melo Meneses3
1. Médico Veterinário, Professor Adjunto
do Departamento de Veterinária da Universidade Federal de Viçosa – CEP
36570-000, Viçosa-MG, Brasil - E-mail: dantas@ufv.br (autor correspondente)
2. Médicos Veterinários – Residentes
Clínica e Cirurgia de Ruminantes e Equinos – DVT-UFV
3. Acadêmico de Graduação – DVT-UFV
PALAVRAS-CHAVE: Desidratação, reidratação, ruminantes, soluções eletrolíticas.
ABSTRACT
ENTERAL FLUID THERAPY IN CATTLE BY
CONTINUOUS NASOGASTRIC INFUSION
Nasogastric
infusion via small-bore tubes is an alternative form of fluid administration in
cattle. It allows the animals to be kept in free stall barns and does not
affect food ingestion. This study evaluates 72 cows between 2 days and 12 years
of age attended to at the Veterinary Hospital of Universidade Federal de
Viçosa. The nasogastric small-bore tube was 4mm in diameter and 1,5 to
KEYWORDS: Dehydration, electrolyte solutions,
rehydration, ruminants.
INTRODUÇÃO
O aparecimento de desequilíbrios hidroeletrolíticos e ácido-base está
associado a importantes enfermidades que acometem os bovinos. A correção desses
desequilíbrios é feita por meio da hidratação que tem por objetivo a recomposição da volemia e da homeostase.
As
vias de administração de fluidos comumente utilizadas em ruminantes são a
intravenosa e a oral. A hidratação enteral (HET) consiste na administração de
soluções eletrolíticas através de sonda orogástrica ou nasogástrica. As
vantagens da HET são incontestáveis, entretanto o método tradicional usado em
bovinos, que é através de uma sonda orogástrica, tem algumas limitações: a
passagem da sonda é trabalhosa, podendo causar traumas à faringe e ao esôfago;
como o animal não pode ser deixado com a sonda, é preciso passar a sonda várias
vezes ao dia para que grandes volumes de fluidos possam ser administrados num
dia, expondo-o várias vezes ao estresse da contenção. (RIBEIRO FILHO et al.,
2004).
Uma alternativa para administração
de fluidos é a via nasogástrica, com o emprego de sonda de pequeno calibre
(AVANZA et al. 2004; RIBEIRO FILHO et al., 2004). O uso desta técnica,
empregada com sucesso em equinos, permite que os animais sejam mantidos em
baias sem contenção enquanto a hidratação é administrada continuamente sendo
seguro permitir o acesso a alimentos (AVANZA et al., 2009).
A hidratação enteral apresenta baixo custo, um litro de solução (que pode ser produzida com água de torneira, sal de cozinha, cloreto de potássio, propilenoglicol e gluconato de cálcio), fazendo também com que o custo da solução enteral seja em algumas ocasiões até 100 vezes menor que a solução utilizada por via intravenosa.
A formulação ideal para
ruminantes adultos ainda permanece desconhecida, mas sabe-se que deve conter
sódio, potássio, cálcio, fosfato, magnésio e propionato para facilitar a
absorção ruminal de sódio e prover uma fonte energética adicional (CONSTABLE,
2003). O presente estudo teve como
objetivo avaliar a eficácia e os efeitos da hidratação enteral com soluções
eletrolíticas isotônicas administradas por sonda nasogástrica de pequeno
calibre por fluxo contínuo, no volume de 15mL kg/12h em bovinos desidratados
com diferentes tipos de enfermidades atendidos no Hospital Veterinário da
Universidade Federal de Viçosa (HOV-DVT-UFV) na correção ou na prevenção dos
desequilíbrios hidroeletrolíticos.
MATERIAL E MÉTODOS
Foram atendidos no HOV-DVT-UFV 72
bovinos (61 fêmeas e 11 machos), com idade entre 2 dias e 12 anos. Esses
animais apresentavam diferentes graus de desidratação decorrentes de vários
tipos de enfermidades. Em nenhum desses pacientes foi constatado sinal clínico
ou laboratorial que contra-indicasse o uso da hidratação enteral. Utilizou-se
sonda nasogástrica de pequeno calibre (4mm de diâmetro) e
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os animais atendidos na rotina do HOV – DVT – UFV apresentavam diferentes graus de desidratação decorrentes de enfermidades presentes nos sistemas digestório, reprodutivo, respiratório, locomotor, além de afecções metabólicas e da glândula mamária.
A colocação da sonda nasogástrica foi fácil, nenhum animal apresentou intolerância à sonda. Todos os pacientes que apresentavam apetite alimentaram-se, deitaram-se e ruminaram durante a HET, sinalizando que o estresse causado pela sonda foi mínimo ou desprezível em concordância com os resultados de RIBEIRO FILHO et al. (2004), ATOJI & RIBEIRO FILHO (2007) e RIBEIRO FILHO et al. (2007).
A utilização de sonda nasogátrica de pequeno calibre em bovinos é pouco
descrita na literatura. Um efeito indesejável nos animais com este tipo de
sonda é a possibilidade do seu retorno oral, fato este observado em dois
animais do presente estudo. Outro efeito é a diminuição do fluxo da solução nos
animais em decúbito esternal, esse achado é decorrente do posicionamento do
rúmen e/ou aumento da pressão intrarruminal. A
hidratação por via enteral (HET) foi bem aceita pelos animais, exceto um, que,
por apresentar distenção abdominal excessiva, houve a necessidade de
substituí-la pela hidratação intravenosa. Foi constatada redução gradual do
grau de desidratação, dos valores do hematócrito e das proteínas plasmáticas
totais e da densidade urinária durante a administração da HET como foi citado
por RIBEIRO FILHO et al. (2004), ATOJI & RIBEIRO FILHO (2007) e RIBEIRO
FILHO et al. (2007). O volume total de soro administrado aos animais variou de
CONCLUSÃO
A HET com os dois tipos de soluções foi eficaz na prevenção e correção dos desequilíbrios hidroeletrolíticos como complemento do tratamento da enfermidade principal ou como terapia primária. O uso da sonda é uma excelente alternativa para administração de soluções por tempo prolongado, pois permite que a sonda permaneça no animal causando o mínimo de estresse e sem alterar a ingestão de alimento. Além disso, mostrou-se ser prática, eficaz e econômica.
REFERÊNCIAS
ATOJI, K.; RIBEIRO FILHO, J. D. Fluidoterapia por via nasogástrica
AVANZA, M. F. B.; LOPES, M. A. F.; SOUZA, M. V.; SILVA, A. G. A.; FERREIRA, J. C.; ARISTIZABAL MENA F. A.; AYUPE, T. H.; CARVALHO, T. A.; RIBEIRO FILHO, J. D. Fluidoterapia enteral em vacas normais e experimentalmente desidratadas. In: XXXI CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 31, 2004, São Luís. Anais... São Luís – MA, 2004.
AVANZA, M. F. B.; RIBEIRO FILHO, J. D.; LOPES, M. A. F.;
IGNÁCIO, F. S.; CARVALHO, T. A. GUIMARÃES, J. D. Hidratação enteral em equinos - solução eletrolítica associada ou não à
glicose, à maltodextrina e ao sulfato de magnésio: resultados de laboratório. Ciência Rural, Santa
Maria, v. 39, p. 1126-1133, 2009.
RIBEIRO FILHO, J. D. et al. Tratamento de bovinos desidratados com fluidoterapia via sonda nasogástrica de pequeno calibre. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA - CONBRAVET, 2004, São Luís. Anais... São Luís: Universitária, 2004. p.33.
RIBEIRO FILHO, J, D.; FONSECA, E. F.; MARTINS, T. M.; MENESES, R. M.
Tratamento de bovinos desidratados experimentalmente com soluções eletrolíticas
por via enteral administradas por sonda nasogástrica. Archives of Veterinary
Science, Curitiba,
v.12, supl., p. 49, 2007.