USO INTRAPALPEBRAL DE FLORFENICOL NO TRATAMENTO DA CERATOCONJUNTIVITE
INFECCIOSA BOVINA
Marcus Luciano
Guimarães Rezende1, Maria Clorinda Soares Fioravanti2,
Flávia Gontijo de Lima1, Gustavo Lage Costa1, Hilary Wanderley
Hidasi1, Rinaldo Batista Viana3
1 Pós-Graduandos
em Ciência Animal da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás
2 Professora
Doutora da Escola de Veterinária da Universidade Federal de Goiás Caixa Postal
131,
CEP 74001-97, Goiânia-GO, Brasil. E-mail:
clorinda@vet.ufg.br (autor correspondente).
3 Professor Doutor do Instituto da Saúde e Produção
Animal/Universidade Federal Rural da Amazônia
PALAVRAS-CHAVE: Antibioticoterapia, bacteriostático, doença ocular.
ABSTRACT
EFFICACY OF INTRAPALPEBRAL APPLICATION OF FLORFENICOL IN THE TREATMENT
OF INFECTIOUS BOVINE KERATOCONJUNCTIVITIS
The primary etiologic agent of
infectious keratoconjunctivitis (IBK) is Moraxella
bovis, which causes the majority of ocular inflammations in cattle from
central Brazil. It may lead to significant production losses and laborious
treatment protocols. Therefore, this study assesses an alternative procedure
for treating infectious keratoconjunctivitis that consists of a single
intrapalpebral application of florfenicol (600 mg in each affected eye). Our results
show both clinical and economic advantages of this technique as well as its
prospects for wide use.
KEYWORDS: Antibacterial, bacteriostatic, ocular disease.
INTRODUÇÃO
A bovinocultura de corte e leite é uma das mais importantes atividades pecuárias da região Centro Oeste brasileiro. O rebanho bovino do estado de Goiás supera as 20 milhões de cabeças (IBGE, 2009), e graças à tecnologias de criação, o estado tem batido recordes anuais de produção de carne e leite. Os sistemas intensivos de criação tem permitido uma participação crescente e a cada dia mais importante na balança comercial do estado, que possui atualmente o maior número de confinamentos do Brasil.
Em paralelo ao aumento da produção por área, aumenta-se também os desafios sanitários aos animais e dentre destes: as doenças oculares. Comumente, ocorrendo em surtos, a ceratoconjuntivite infecciosa bovina (CIB) pode apresentar curso agudo, subagudo e crônico, podendo ser uni ou bilateral (PUNCH et al., 1985). O lacrimejamento excessivo, a hiperemia, o edema de conjuntivas e a opacidade de córnea são os sinais clínicos mais freqüentemente observados dentro dos confinamentos; já ao exame clínico observam-se também blefaroespasmo, fotofobia e lesões de córnea. (RADOSTITS, 2002; CONCEIÇÃO, 2003) Na evolução do quadro clínico pode-se diagnosticar cegueira temporária, ruptura de córnea e decemetocele, podendo culminar com a cegueira permanente do indivíduo (TURNES, 1998).
A CIB é transmitida por meio de contato direto entre os animais ou por vetores mecânicos em contato com secreções nasais ou oculares contaminadas, é descrita como mais comum nos meses mais quentes do ano, quando a população de vetores e o foto-período aumentam. (PUNCH et al, 1982; CHAVES, 2004) Todavia, deve-se notar que as características climáticas, precipitação de poeira, alimentação particulada e pulverulenta, bem como o adensamento populacional característicos das criações intensivas, tendem a favorecer de sobremaneira a proliferação da doença. (CHAVES et al., 2008) Segundo RADOSTITS (1989) a taxa de morbidade da CIB pode atingir 80%, com o maior número de casos entre a terceira e quarta semanas do surto.
O uso de vacinas contendo antígenos de fimbrias são alternativas eficazes para o controle da CIB, com índices próximos a 83% de proteção. (TURNES, 1998) No tratamento, animais com quadros agudos respondem bem à terapia com pomadas e soluções oftálmicas de gentamicina, cloranfenicol, oxatetraciclina, penicilinas e estreptomicinas em repetidas instilações diárias. (RADOSTITS, 2002) No que tange ao uso de fármacos injetáveis, pode-se obter bons resultados com oxitretaciclinas de longa ação (20 mg/kg) intramuscular, em três doses intervaladas de 48 horas, ou com o uso de florfenicol (20 mg/kg) intramuscular, em duas doses com intervalo de 48 horas entre as aplicações (DUEGER, 1999; COSTA, 2008)
O presente trabalho visa oferecer um protocolo de tratamento eficaz, de custo acessível e que permita o uso de uma droga em dose única, dispensando a necessidade de repetidos manejos dos animais, imprimindo menor estresse, menor mão de obra e permitindo o rápido retorno do animal ao cocho.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foram utilizados 77 bovinos da raça nelore, machos inteiros, com idade
média de 18 meses e
Aplicou-se 2 mL (600 mg) de florfenicol (Nuflor®, Intervet
Schering–Plough) em cada olho afetado, em dose única, via intrapalpebral, com
seringas hipodérmicas de 3 mL, acopladas a agulhas 25 x
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A escolha da via intrapalpebral para a administração do florfenicol mostrou-se eficiente, já que houve a rápida recuperação da totalidade dos animais tratados e não houve dano algum às estruturas dos olhos dos bovinos medicados. A dose utilizada, onze vezes menor que a recomendada para injeções intramusculares, mostrou-se economicamente vantajosa e de grande praticidade; uma vez que obteve-se a cura clínica com uma única a aplicação intrapalpebral do fármaco.
Segundo MOORE (1996), o tratamento sistêmico confere maior facilidade de administração dos fármacos que quando em aplicações tópicas com pomadas e sprays; o seu melhor efeito é dado à melhor difusão do fármaco por todos os tecidos do animal, permitindo metabolitos ativos por maior tempo. MENDES (2002) experimentou taxas de 100% de cura em ovinos tratados com florfenicol (20 mg/kg) em duas doses intramusculares com intervalo de 48 horas entre as aplicações.
Comparando-se o tratamento prosposto aos protocolos convencionais, com pomadas ou sprays oftálmicos, há vantagens práticas e na velocidade de cura. Quando comparado ao uso de fármacos via sistêmica, a aplicação intrapalpebral de florfenicol apresenta-se economicamente bastante atrativa.
Foram tratados 77 bovinos com florfenicol via intrapalpebral em dose única, e 100% dos animais apresentaram cura clínica 96 horas após o tratamento, tendo os mesmos apresentado a seguinte evolução clinica:
§ À zero hora: início do tratamento
§ Às 12 horas: lacrimejamento abundante, edema pronunciado e discreta hemorragia;
§ Ás 24 horas: lacrimejamento discreto, edema pronunciado e ausência de hemorragia;
§ Às 36 horas: sem lacrimejamento observável e edema pronunciado;
§ Às 48 horas: diminuição do edema;
§ Às 60 horas: discreto edema e mucosa ocular normocrômica;
§ Às 72 horas: sem edema na maioria dos animais;
§ Às 84 horas: sem edema na grande totalidade dos animais;
§ Às 96 horas: animais sadios ao exame clínico.
CONCLUSÃO
Analisando-se os resultados obtidos nos tratamentos, conclui-se que o uso do florfenicol via intrapalpebral é altamente eficaz no tratamento de CIB; permitindo a recuperação clinica do animal com uma única aplicação.
AGRADECIMENTOS
Agradecimentos à Intervet Schering–Plough pelo auxílio financeiro e disponibilização do produto.
REFERÊNCIAS
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