DEGRADABILIDADE
IN SITU DA MATÉRIA SECA, DA PROTEÍNA BRUTA E DA
FRAÇÃO FIBROSA DE CONCENTRADOS E SUBPRODUTOS
AGROINDUSTRIAIS1
Gleidson Giordano Pinto de Carvalho,2 Aureliano José Vieira Pires,3,7 Rasmo Garcia,4,7 Cristina Mattos Veloso,3,7 Robério Rodrigues Silva,5 Fabrício Barcelar Lima Mendes,6 Alyson Andrade Pinheiro6 e Danilo Ribeiro de Souza6
1. Projeto financiado pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), Itapetinga, BA
2. Doutorando em Zootecnia, UFV, Viçosa, MG. Rua Estrelas, 270,
Bairro Sagrada Família, Viçosa, MG. CEP-36570000.
E-mail: gleidsongiordano@yahoo.com.br
3. Professor titular, DTRA/UESB, Itapetinga, BA. E-mail: aureliano@uesb.br, cmveloso@uesb.br
4. Professor, DZO, UFV, Viçosa, MG. E-mail: rgarcia@ufv.br
5. Professor assistente, DEBI/UESB, Itapetinga, BA. E-mail: rrsilva@uesb.br
6. Graduandos em Zootecnia, UESB, Itapetinga, BA, bolsistas de Iniciação Científica do CNPq
7 Pesquisador do CNPq
RESUMO
Objetivou-se avaliar a degradabilidade ruminal da matéria seca
(MS), da proteína bruta (PB), da fibra em detergente neutro
(FDN) e da fibra em detergente ácido (FDA) do milho (Zea mays), do farelo de soja (Glicyne max L.), da torta de dendê (Elaeis guineensis Jacq.) e do farelo de cacau (Theobroma cacao
L.). Incubaram-se amostras de cada alimento no rúmen de
três novilhos por períodos de 0; 3; 6; 12; 24 e 48 horas.
As degradabilidades efetivas da MS, PB, FDN e FDA, para a taxa de
passagem de 5%/hora, foram relativamente baixas (abaixo de 60%), exceto
para a PB do farelo de soja (acima de 65%). O farelo de soja apresentou
os maiores coeficientes de degradação, tanto para MS e PB
como também para os constituintes da parede celular, seguido do
milho, torta de dendê e farelo de cacau. O farelo de cacau
apresentou as menores taxas de degradação ruminal.
PALAVRAS-CHAVES: Farelo de cacau, incubação ruminal, torta de dendê.
ABSTRACT
IN SITU DEGRADABILITY OF DRY MATTER, CRUDE PROTEIN AND FIBROUS FRACTION OF CONCENTRATE AND AGROINDUSTRIAL BY-PRODUCTS
The objective of the experiment was to evaluate the dry matter (DM),
crude protein (CP), neutral detergent fiber (NDF) and acid detergent
fiber (ADF) ruminal degradability of corn (Zea mays), soybean meal (Glicyne max L.), palm kernel cake (Elaeis guineensis Jacq.) and cocoa meal (Theobroma cacao
L.). Samples of each feed were incubated in rumens of three steers for
periods of 0; 3; 6; 12; 24 and 48 hours. The DM, CP, NDF and ADF
effective degradabilities, for a passage rate of 5%/hour, were
relatively low (lower than 60%), except for soybean meal CP (higher
than 65%). Soybean meal showed the greatest degradation coefficients
for DM and CP as so as for cellular wall constituents, followed by
corn, palm kernel cake and cocoa meal. Cocoa meal showed the lowest
ruminal degradation rates.
KEY WORDS: Cocoa meal, incubation ruminal, palm kernel cake.
INTRODUÇÃO
O milho e o farelo de soja são os dois principais alimentos
utilizados na formulação de rações, tanto
para ruminantes como para monogástricos, porque ambos não
apresentam nenhuma restrição quanto à
presença de fatores antinutricionais e, juntos, formam uma
excelente combinação de energia (milho) e proteína
(farelo de soja). No entanto, apesar de sua boa qualidade nutricional,
vários alimentos têm sido utilizados e estudados com o
objetivo de substituí-los no concentrado, em virtude de seu alto
custo (OLIVEIRA et al., 1997).
O uso de resíduos agroindustriais na alimentação,
principalmente em sistema de confinamento, é de fundamental
importância quando o objetivo é reduzir o custo de
produção, podendo contribuir, ainda, para a retirada
desses materiais do meio ambiente, o que poderia causar grandes
transtornos ambientais. Segundo CUNHA et al. (1998), uma outra vantagem
da utilização dos subprodutos é a sua
disponibilidade durante todo o ano, servindo como suplemento nas mais
variadas condições de alimentação.
O farelo de cacau, subproduto agroindustrial obtido no processo de
secagem da amêndoa do cacau na indústria, após a
obtenção da manteiga do cacau e do chocolate, é
encontrado a preços bastantes acessíveis no mercado
nacional e pode ser empregado na alimentação de
ruminantes. Em experimento realizado por PIRES et al. (2005), os
autores recomendaram a utilização de até 25% de
farelo de cacau no concentrado, substituindo o milho e o farelo de soja
para novilhos mestiços.
A torta de dendê é o produto resultante da polpa seca do
dendê, após moagem e extração de seu
óleo (BRASIL, 1998). Trabalhos de pesquisa têm mostrado
que o produto apresenta elevado potencial de utilização
para ruminantes. SILVA et al. (2005a) indicaram o emprego de 30% de
torta de dendê em substituição parcial ao milho e
farelo de soja, na alimentação de cabras leiteiras.
O valor nutritivo intrínseco de um alimento depende,
principalmente, do nível de nutrientes presentes, da quantidade
ingerida voluntariamente pelo animal e da digestibilidade e/ou da
degradabilidade dos nutrientes consumidos. Consequentemente, a
avaliação eficiente de um alimento, para fins de
predição da resposta animal, só pode ser baseada
no conhecimento das quantidades diárias de proteína e
energia digestíveis que o animal pode obter desse alimento.
Nesse sentido, o conhecimento do valor nutritivo potencial dos
subprodutos agroindustriais permite o emprego racional destes, quer
como alimento único quer como ingredientes de misturas mais ou
menos complexas (PRATES & LEBOUTE, 1980).
Mesmo com o potencial de utilização de farelo de cacau e
torta de dendê na alimentação de ruminantes
referenciado em alguns trabalhos de pesquisa (CARVALHO et al., 2004;
PIRES et al., 2004; PIRES et al., 2005; SILVA et al., 2005a; 2005b),
ainda existe carência de informações sobre a forma
como esses alimentos se comportam perante a fauna microbiana.
A estimativa da degradabilidade dos alimentos utilizando animais
canulados no rúmen fornece dados do potencial e eficiência
de aproveitamento destes. Trata-se de técnica que tem sido muito
difundida ultimamente, principalmente pela sua simplicidade e
economicidade. Além disso, resultados obtidos em
condições tropicais fornecem dados que contribuem para a
confecção de uma tabela nacional de
composição de alimentos (VELOSO et al., 2000).
Segundo SALMAN et al. (2000), as principais vantagens dessa
técnica estão relacionadas à sua rápida e
fácil execução, à necessidade de amostras
pequenas de alimento e ao fato de permitir o contato íntimo
entre o alimento testado e o ambiente ruminal.
Objetivou-se avaliar a degradabilidade ruminal da matéria seca
(MS), da proteína bruta (PB), da fibra em detergente neutro
(FDN) e da fibra em detergente ácido (FDA) do milho, do farelo
de soja, do farelo de cacau e da torta de dendê.
MATERIAL E MÉTODOS
O trabalho foi realizado nas dependências do Laboratório
Experimental de Bovinos e no Laboratório de Forragicultura e
Pastagem da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB), no
Campus de Itapetinga, BA.
Foram utilizados três novilhos Holandês x Zebu, canulados
no rúmen, mantidos em regime de estabulação
completa, em baias individuais, e alimentados, durante o ensaio, com
dieta constituída de capim-elefante (Pennisetum purpureum
Shum.), fornecido ad libitum, e três quilos de concentrado
à base de farelo de cacau, torta de dendê, farelo de soja,
milho moído e mistura mineral.
Os alimentos utilizados no ensaio de degradabilidade, cuja composição química é apresentada na Tabela 1,
foram adquiridos junto à fábrica de ração
da UESB, não sendo necessário moê-los, pois a
granulometria já se apresentava adequada (1 a 2 mm), com
exceção do milho, moído em peneira de 2 mm.
As amostras dos alimentos, ou seja, do milho (Zea mays), farelo de soja (Glicyne max L.), torta de dendê (Elaeis guineensis Jacq.) e farelo de cacau (Theobroma cacao
L.), foram colocadas em sacos de náilon na quantidade de,
aproximadamente, 10,0 g de MS/saco, a fim de manter uma
relação próxima a 20 mg de MS/cm2 de área
superficial do saco (NOCEK, 1988). Os períodos de
incubação corresponderam aos tempos de 0; 3; 6; 12; 24
eJá as degradabilidades da fibra em detergente neutro (FDN) e da
fibra em detergente ácido (FDA) foram estimadas utilizando-se o
modelo de MERTENS & LOFTEN (1980):
Rt= B*e-ct + I
Após os justes das equações para
degradação da FDN e FDA, procedeu-se à
padronização de frações segundo a
proposição de WALDO et al. (1972), conforme as
equações:
BP= B/(B+I) * 100
IP= I/(B+I) * 100, em que BP= fração potencialmente
degradável padronizada (%); IP= fração
indegradável padronizada (%); e B, I= como definidas
anteriormente.
Os parâmetros não lineares “a”,
“b” e “c” foram estimados por meio de
procedimentos iterativos de quadrados mínimos. Calcularam-se as
degradabilidades efetivas (DE) da MS e PB no rúmen por meio do
seguinte modelo: DE= A + (B x c / c + k), em que: k corresponde
à taxa estimada de passagem das partículas no
rúmen.
Para a DE da FDN e FDA utilizou-se o modelo DE= BP*c/(c+k), em que BP
é a fração potencialmente degradável (%)
padronizada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os valores obtidos para as taxas de degradação da MS, PB,
FDN e FDA em função dos tempos de incubação
são observados na Tabela 2.
48 horas, sendo os sacos colocados em ordem inversa e em
duplicata, para serem retirados todos ao mesmo tempo, promovendo, dessa
forma, lavagem uniforme do material por ocasião da retirada do
rúmen.
Após o período de incubação total de 48
horas, os sacos de náilon foram retirados do rúmen,
lavados em água corrente até que esta se apresentasse
limpa, procedendo-se, então, à secagem. A
determinação da MS foi feita em estufa a 65oC
por 72 horas. Utilizou-se o resíduo obtido após essa
etapa para as análises de PB, FDN e FDA, segundo metodologias
descritas por SILVA & QUEIROZ (2002).
Os dados de degradabilidade in situ da MS, PB, FDN e FDA foram obtidos
pela diferença de peso, encontrada para cada componente, entre
as pesagens efetuadas antes e após a incubação
ruminal, e expressos em porcentagem.
O delineamento experimental utilizado foi o de parcelas subdivididas,
em que os três animais representaram os blocos; os alimentos, os
tratamentos; e os seis horários de incubação dos
alimentos no rúmen, as subparcelas. Nos resultados obtidos para
degradabilidade em função dos períodos de
incubação, aplicou-se o teste de Tukey a 5% de
probabilidade, mediante o emprego do programa Sistema de
Análises Estatísticas e Genéticas –
SAEG (Universidade Federal de Viçosa, 2000).
As taxas de degradação da MS e PB foram calculadas
utilizando-se a equação proposta por ØRSKOV &
McDONALD (1979):
Dt= A + B (1 – e-ct), em que:
Dt= fração degradada no tempo “t” (%),
“A”= fração solúvel (%);
“B”= fração insolúvel potencialmente
degradável (%); “c”= taxa de
degradação da fração “B” (h-1);
e “t”= tempo (h).
Já as
degradabilidades da fibra em detergente neutro (FDN) e da fibra em
detergente ácido (FDA) foram estimadas utilizando-se o modelo de
MERTENS & LOFTEN (1980):
Rt= B*e-ct + I
Após os justes das
equações para degradação da FDN e FDA,
procedeu-se à padronização de
frações segundo a proposição de WALDO et al. (1972), conforme as equações:
BP= B/(B+I) * 100
IP= I/(B+I) * 100, em que
BP= fração potencialmente degradável padronizada
(%); IP= fração indegradável padronizada (%); e B,
I= como definidas anteriormente.
Os parâmetros
não lineares “a”, “b” e “c”
foram estimados por meio de procedimentos iterativos de quadrados
mínimos. Calcularam-se as degradabilidades efetivas (DE) da MS e
PB no rúmen por meio do seguinte modelo: DE= A + (B x c / c +
k), em que: k corresponde à taxa estimada de passagem das
partículas no rúmen.
Para a DE da FDN e FDA
utilizou-se o modelo DE= BP*c/(c+k), em que BP é a
fração potencialmente degradável (%) padronizada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os valores obtidos para as
taxas de degradação da MS, PB, FDN e FDA em
função dos tempos de incubação são
observados na Tabela 2.
Os desaparecimentos
médios da MS e da PB do milho e farelo de soja após 48
horas de incubação ruminal foram bastante próximos
de seus respectivos potenciais de degradação, em virtude
das altas taxas de fermentação. A degradabilidade da MS
do milho (80,1%) e farelo de soja (97,6%) no tempo de
incubação 48 horas obtida no presente estudo mostrou-se
próxima aos valores relatados por TONISSI et al. (2004), de 90,8 e 96,5%, respectivamente.
Dentre os alimentos
estudados, o farelo de soja destacou-se com maior taxa de
degradação para todas as frações avaliadas.
Para a degradabilidade da MS, levando-se em conta o tempo zero, que
corresponde à fração solúvel do alimento,
mais as partículas eliminadas através da malha dos sacos,
quando esses são imersos no líquido ruminal e,
posteriormente lavados em água corrente (TONISSI et al.,
2004), os dois subprodutos – torta de dendê e farelo de
cacau – apresentaram taxas de desaparecimento semelhantes.
No tocante à PB, o
milho e o farelo de cacau apresentaram a mesma taxa de desaparecimento
no tempo zero (P>0,05), sendo que o farelo de soja e a torta de
dendê também se apresentaram semelhantes entre si para
esta fração. Já o farelo de soja, a partir desse
tempo, superou não só a torta de dendê, mas
também o milho e o farelo de cacau, demonstrando, portanto,
maiores taxas de degradações nos tempos de
incubação 3; 6; 12; 24 e 48 horas. Isso significa que
mais proteína escaparia da degradação ruminal no
farelo de cacau, seguido pela torta de dendê e milho e, em menor
extensão, pelo farelo de soja (Tabela 2).
A degradabilidade potencial
da PB do farelo de soja alcançou quase 100%. Após este, o
maior potencial de degradabilidade da PB foi verificado para a torta de
dendê, seguido pelo milho. O menor potencial de
degradação da PB foi observado para o farelo de cacau.
Trata-se de diferenças na degradabilidade que podem ser
atribuídas a também diferenças nas
características específicas da proteína e à
sua acessibilidade às enzimas digestivas. O potencial de
aproveitamento da PB correlaciona-se negativamente com o teor de NIDA
do alimento (VELOSO et al., 2000). Assim, o maior teor de NIDA no farelo de cacau (Tabela 1)
possivelmente contribuiu para reduzir a degradação
ruminal, fazendo com que ele apresentasse as menores taxas de
aproveitamento da PB.
Embora a
fração insolúvel potencialmente degradável,
“B”, da PB do farelo de soja tenha sido apenas de 65,59% (Tabela 3),
no tempo de 48 horas de incubação ruminal, ele apresentou
elevada degradabilidade (acima de 90%). Esse valor corrobora o
encontrado por TONISSI et al.
(2004) (91,78%), que avaliaram a degradação ruminal da PB
de alimentos concentrados utilizados como suplemento para novilhos.
A degradabilidade efetiva da PB do farelo de soja para taxa de passagem de 8%/h foi de 57,88% (Tabela 4). VALADARES FILHO (1995) e MARTINS et al.
(1999) relataram valores inferiores aos obtidos no presente trabalho,
55% e 51%, respectivamente. No entanto, ROSSI JÚNIOR et al.
(1997) obtiveram degradabilidade efetiva de 80,05%, quando a taxa de
passagem foi de 2%/h, sendo este valor semelhante ao obtido no presente
estudo (Tabela 4).
A fração
“A” da PB do milho obtida no presente estudo (32,58%) foi
superior ao valor encontrado por PEREIRA et al. (1997), de 29,1%, e inferior ao de MARTINS et al.
(1999), de 38%. Entre os alimentos testados, a torta de dendê
apresentou maior valor para essa fração (34,70%),
seguidos do farelo de soja (33,94%), milho (32,58%) e farelo de cacau
(31,87%). Quanto à fração insolúvel
potencialmente degradável da PB, “B”, o farelo de
soja apresentou valor superior aos demais alimentos estudados (65,59%).
Além de ter apresentado superioridade para a
fração “B” em relação aos
outros alimentos testados, o que demonstra o seu excelente potencial de
aproveitamento, também apresentou maior taxa de
degradação da fração potencialmente
degradável, “c” (0,045).
Os coeficientes de
determinação (R2) foram superiores a 91%, observando-se,
portanto, bom ajuste das equações exponenciais de
ØRSKOV & McDONALD (1979) em relação aos pontos
de desaparecimento in situ.
Embora inferiores ao milho
e farelo de soja, a torta de dendê e o farelo de cacau
apresentaram degradabilidade potencial para a MS e PB acima de 70% e
60%, respectivamente. Por se tratar de subprodutos e de baixo custo,
esses potenciais de degradabilidade permitem sugerir que esses
alimentos são alternativas que oferecem rápida e
abundante disponibilidade de nutrientes para o sistema ruminal.
As estimativas da taxa de
degradação da MS do farelo de cacau e da torta de
dendê foram inferiores aos apresentados pelo milho e farelo de
soja, 0,008 e 0,009, respectivamente. Possivelmente essas baixas taxas
de degradação da fração potencialmente
degradável ocorreram em função dos elevados teores
de FDN e FDA presentes nesses alimentos (Tabela 1).
Muito embora os subprodutos farelo de cacau e torta de dendê
tenham apresentado, em sua composição, altos teores de
FDN e FDA, ao ser considerado o aproveitamento destes no rúmen
por meio do desaparecimento ruminal, ambos demonstraram valores
semelhantes e superiores a 50%.
Como observado na Tabela 2,
as estimativas da degradabilidade FDN do milho e torta de dendê
foram estatisticamente semelhantes no maior período de
incubação ruminal (48 horas). O farelo de cacau, embora
inferior (40,15%) aos demais alimentos, ao ser considerado o potencial
de degradação (Tabela 4), apresentou valor superior a 55%, sendo semelhante à torta de dendê.
No tocante às
degradabilidades efetivas dos alimentos obtidas para as
frações fibrosas (FDN e FDA), os subprodutos farelo de
cacau e torta de dendê apresentaram degradações
intermediárias. As menores estimativas foram observadas para o
milho. Já o farelo de soja se destacou, com maiores valores.
Embora as estimativas de
degradação da FDA no maior tempo de
incubação (48 horas) para os subprodutos tenham sido
estatisticamente semelhantes (Tabela 2), para a degradabilidade potencial, os valores observados na Tabela 4
sugerem maior potencial para o farelo de cacau em detrimento à
torta de dendê. O farelo apresentou mais de doze unidades
percentuais a mais que a torta, indicando, portanto, maior potencial de
degradação da FDA. Como a FDA é composta
basicamente de celulose e lignina, esses resultados permitem inferir
que houve maior degradação da celulose no farelo de
cacau. Segundo ÍTAVO et al.
(2002), dos nutrientes necessários às exigências
nutricionais para mantença, crescimento e/ou
produção de bovinos, a energia oriunda da
degradação ruminal de celulose e hemicelulose constitui a
principal contribuição dos alimentos.
CONCLUSÕES
O farelo de cacau e a torta
de dendê apresentaram as menores estimativas de
degradação ruminal comparados ao milho e ao farelo de
soja. Todavia, esses alimentos mostraram degradabilidade potencial para
a MS e PB acima de 70% e 60%, respectivamente. Dessa forma, por se
tratar de subprodutos e de baixo custo, esses potenciais de
degradabilidade permitem sugerir que tais alimentos são
alternativas que oferecem rápida e abundante disponibilidade de
nutrientes para o sistema ruminal.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da
Agricultura e Abastecimento. Compêndio brasileiro de alimentação animal.
Brasília: Sindirações/Anfar; CBNA; SDR/MA, 1998. 12 p.
CARVALHO, G. G. P. de;
PIRES, A. J. V.; SILVA, F. F.; VELOSO, C. M.; SILVA, R. R.; SILVA, H. G. O.;
MENDONÇA, S. S. Comportamento ingestivo de cabras leiteiras alimentadas com
farelo de cacau ou torta de dendê. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.
39, n. 9, p. 919-925, set. 2004.
CUNHA, J. A.; MELOTTI, L.;
LUCCI, C. S. Degradabilidade no rúmen da matéria seca e da proteína bruta do
caroço integral e do farelo de algodão (Gossypium hirsutum L.) pela
técnica dos sacos de náilon in situ com bovinos. Brazilian Journal of Veterinary Research
Animal Science, v. 35, n. 2,
p. 96-100, 1998.
ÍTAVO, L. C. V.; VALADARES
FILHO, S. C.; SILVA, F. F.; VALADARES, R. F. D.; CECON, P. R.; ÍTAVO, C. C. B.
F.; MORAES, E. H. B. K.; PAULINO, P. V. R. Consumo, degradabilidade ruminal e
digestibilidade aparente de fenos de gramíneas do gênero Cynodon e rações
concentradas utilizando indicadores internos. Revista Brasileira de
Zootecnia, Viçosa, v. 31, n. 2, p. 1024-1032, 2002 (Suplemento).
MARTINS, A. S.; ZEOULA, L.
M.; PRADO, I. N. Degradabilidade ruminal in situ da matéria seca e
proteína bruta das silagens de milho e sorgo e de alguns alimentos
concentrados. Revista
Brasileira de Zootecnia, v.
28, n. 5, p. 1109-1117, 1999.
MERTENS, D. R.; LOFTEN, J. R. The effect of starch on
forage fiber digestion kinectis in vitro. Journal of Dairy Science,
v. 63, p. 1437-1446, 1980.
NOCEK, J. E. In situ and other methods to
estimate ruminal protein and energy digestibility: a review. Journal
of Dairy Science, v. 71, n. 5, p. 2051-2069, 1988.
OLIVEIRA, P. S.; PRADO, I.
N.; SANTOS, G. T.; ZEOULA, L. M.; DAMASCENO, J. C.; MARTINS, E. N.; SAKAGUTI,
E. S. Efeitos da substituição do farelo de soja pelo farelo de canola sobre o
desempenho de novilhas Nelore confinadas. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 26, n. 3, p. 568-574, 1997.
ØRSKOV, E. R.; McDONALD, I. The estimation of protein
degradability in the rumen from incubation weighted according to rate of
passage. Journal of Agriculture Science, v. 92, n. 4, p.
499-503, 1979.
PEREIRA, J. R. A.; BOSE, M.
L. V.; BOIN, C. Avaliação das subfrações dos carboidratos e das proteínas,
usando a metodologia do CNCPS e in situ com bovinos da raça Nelore: II.
Milho e farelo de algodão. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 26, n. 4,
p. 838-843, 1997.
PIRES, A. J. V.; CARVALHO
JR, J. N.; SILVA, F. F.; VELOSO, C. M.; SOUZA, A. L.; OLIVEIRA, T. N.; SANTOS,
C. L.; CARVALHO, G. G. P. Farelo de cacau (Theobroma cacao) na
alimentação de ovinos. Revista Ceres, v. 26, n. 286, p. 33-46, 2004.
PIRES, A. J. V.; VIEIRA, V.
F.; SILVA, F. F.; VELOSO, C. M.; SOUZA, A. L.; OLIVEIRA, T. N.; SANTOS, C. L.;
CARVAHO, G. G. P. Níveis de farelo de cacau (Theobroma cacao) na
alimentação de bovinos. Revista Electrónica da Veterinária, v. 6, n. 2,
p. 1-10, 2005.
PRATES, E. R.; LEBOUTE, E.
M. Avaliação do valor nutritivo de resíduos de cultivos e de indústria. Revista
Brasileira de Zootecnia, v. 9, n. 2, p. 248-259, 1980.
ROSSI JÚNIOR, P.; SILVA, A.
G.; WANDERLEY, R. C. Degradabilidade ruminal da matéria seca e da fração
protéica da silagem de milho, do farelo de soja e do sorgo em grão, em bovinos
da raça Nelore: comparação com os dados obtidos pelo CNCPS. Revista
Brasileira de Zootecnia, v. 26, n. 3, p. 599-607, 1997.
SALMAN, A. K. D.;
BERCHIELLI, T. T.; SILVEIRA, S. M.; SOARES, W. V. B.; NOUGUEIRA, J. R.; KRONKA,
S. N. Degradabilidade in situ do capim Panicum maximum cv.
Tanzânia incubado cortado ou na forma de extrusa. Revista Brasileira de
Zootecnia, v. 29, n. 6, p. 2142-2149, 2000.
SILVA, D. J.; QUEIROZ, A. C.
Análise de alimentos: métodos químicos e biológicos. Viçosa: UFV, 2002.
235 p.
SILVA, H. G. O.; PIRES, A.
J. V.; SILVA, F. F.; VELOSO, C. M.; CARVALHO, G. G. P.; CEZÁRIO, A. S.; SANTOS,
C. C. Farelo de cacau (Theobroma cocoa L.) e torta de dendê (Elaeis
guineensis, Jacq) na alimentação de cabras em lactação: consumo e produção
de leite. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 34, n. 5, p. 1790-1798,
2005a.
SILVA, H. G. O.; PIRES, A.
J. V.; SILVA, F. F.; VELOSO, C. M.; CARVALHO, G. G. P.; CEZÁRIO, A. S.; SANTOS,
C. C. Digestibilidade aparente de dietas contendo farelo de cacau ou torta de
dendê em cabras lactantes. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 40, n.
4, p. 405-411, 2005b.
TONISSI, R. H.; GOES, B.;
MANCIO, A. B. Degradação ruminal da matéria seca e proteína bruta, de alimentos
concentrados utilizados como suplementos para novilhos. Ciência e
Agrotecnologia, v. 28, n. 1, p. 167-173, 2004.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE
VIÇOSA. SAEG: sistema de análises
estatísticas e genéticas. Viçosa, MG, 2000. 301 p. Apostila.
VALADARES FILHO, S. C.
Eficiência de síntese de proteína microbiana, degradação ruminal e
digestibilidade intestinal da proteína bruta, em bovinos. In: SIMPÓSIO
INTERNACIONAL SOBRE EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS DE RUMINANTES, 1995, Viçosa. Anais...
Viçosa: UFV, 1995. p. 355-455.
VELOSO, C. M.; RODRIGUEZ, N.
M.; SAMPAIO, I. B. M.; GONÇALVES, L. C.; MOURÃO, G. B. pH e amônia ruminais,
relação folhas:hastes e degradabilidade ruminal da fibra de forrageiras
tropicais. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 29, n. 3, p.
871-879, 2000.
WALDO, D. R.; SMITH, L. W.; COX, E. L. Model f
cellulose disappearance from the rumen. Journal of Dairy Science, v. 55,
p. 125-129, 1972.
Protocolado em: 30 jun. 2006. Aceito em: 10 jun. 2008.