RESUMO
Este trabalho foi desenvolvido para avaliar o número de perfilhos com
níveis de desfolhação variáveis e suas características no pasto de Brachiaria decumbens cv. Basilisk.
Os tratamentos foram locais do pasto (subpastejado, com pastejo
adequado e sobrepastejado) e categorias de perfilhos (sem desfolhação,
com desfolhação e sem o meristema apical). O delineamento foi em blocos
ao acaso com três repetições. O pasto de B. decumbens foi manejado sob
lotação contínua com bovinos, mantendo-se a altura média do pasto em 25
cm. O número de perfilhos com desfolhação foi maior (1.333
perfilhos/m²) no local sobrepastejado em comparação aos locais com
pastejo adequado e subpastejado. Padrão de resposta inverso foi
observado para os perfilhos sem desfolhação. Já o número de perfilhos
sem o meristema apical foi maior no local com pastejo adequado (395
perfilhos/m²). O perfilho sem desfolhação apresentou menor comprimento
do pseudocolmo (10,3 cm) e menor número de folha morta (0,22) quando
comparado às demais categorias. O comprimento da lâmina foliar não
diferiu entre as categorias de perfilhos avaliadas. O número de folhas
pastejada foi menor no perfilho sem o meristema apical em relação aos
perfilhos com e sem desfolhação. Observou-se menor área foliar nos
perfilhos que tiveram o meristema apical removido. O perfilho sem o
meristema apical apresentou menor percentual de lâmina foliar viva
(LFV), maiores percentuais de colmo vivo (CV) e lâmina foliar morta,
bem como inferior relação LFV/CV e peso em relação aos perfilhos sem e
com desfolhação. Estes últimos não diferiram entre si quanto à
composição morfológica. Existe variabilidade espacial da vegetação e
diversidade de perfilhos com níveis variáveis de desfolhação em pasto
de B. decumbens cv. Basilisk
sob lotação contínua.
____________
PALAVRAS-CHAVES: Brachiaria decumbens;
composição morfológica; número de perfilho; pastejo; variabilidade
espacial da vegetação.
ABSTRACT
TILLER DEFOLIATION ON SIGNAL GRASS PASTURES UNDER CONTINUOUS STOCKING
The objective of this study was to evaluate the number of tillers with
different levels of defoliation and their characteristics on the Brachiaria decumbens cv. Basilisk
pasture. Three different areas on the pasture (undergrazed, with proper
grazing and overgrazed) and three tiller categories (without
defoliation, with defoliation and without shoot apical meristem) were
evaluated. Randomized block design with three repetitions was used. The
B. decumbens pasture was
managed under the continuous stocking system with cattle, and the grass
height was kept at about 25cm. The number of tillers showing
defoliation was higher (1,333 tillers/m²) for the overgrazed area
compared to the area with proper grazing and the undergrazed area.
Inverse response pattern was observed for the tillers without
defoliation. On the other hand, the number of tillers without the shoot
apical meristem was higher in the areas with proper grazing (395
tillers/m²). Tillers without defoliation showed a lower pseudoculm
length (10.3cm) and a smaller number of dead leaves (0.22) when
compared to the other categories. The length of the leaf blade did not
change for the tiller categories evaluated. The number of grazed leaves
was lower for tillers without the shoot apical meristem in relation to
the ones showing or not defoliation. Lower leaf area for the tillers
that had the shoot apical meristem removed was observed. Tillers
without the shoot apical meristem showed a lower percentage of green
leaf blade (GLB), higher percentages of both live culm (LC) and dead
leaf blade (DLB) as well as a lower relation of the GLB/LC and weight
comparing to the tillers showing or not defoliation. Those last ones
did not differ regarding their morphological composition. There is
indeed spatial variability of the vegetation and tiller diversity with
varying levels of defoliation on Brachiaria
decumbens cv. Basilisk pastures under continuous grazing.
____________
KEYWORDS: Brachiaria decumbens;
grazing; morphological composition; number of tillers; spatial
variability of the vegetation.
INTRODUÇÃO
Atualmente, tem-se recomendado, como critério de manejo do pastejo, que
as gramíneas tropicais sejam manejadas sob lotação contínua com taxa de
lotação variável a fim de se manter o pasto em determinada altura e/ou
em faixas de alturas adequadas. Essas alturas dos pastos visam garantir
altas produções de forragem e, concomitantemente, bons níveis de
produtividade animal (CARNEVALLI et al., 2001). Nesse sentido, o manejo
do pastejo recomendável para a Brachiaria
decumbens cv. Basilisk consiste na manutenção do pasto com
altura média de 20 a 30 cm sob lotação contínua (SANTOS et al., 2011).
Mesmo nos pastos manejados com critério de manutenção de sua altura
média fixa, é comum a ocorrência de variabilidade espacial da
vegetação. Isso faz com que, em uma mesma pastagem, existam locais onde
as plantas forrageiras possuem características diferenciadas, o que
resulta na complexidade e diversidade de estruturas existentes no mesmo
pasto.
Dentre as causas dessa heterogeneidade da vegetação no pasto,
destaca-se o pastejo desuniforme dos ruminantes. Em verdade, em uma
pastagem, existem locais com frequências e intensidades de pastejo
variáveis (SANTOS et al., 2010a), o que resulta em locais com
sobrepastejo ou subpastejo, mesmo quando se adota o critério de manejo
do pastejo adequado.
O pastejo representa um estresse para as plantas, cuja magnitude
depende da intensidade da desfolhação, que reduz a intercepção de luz
e, também, a fotossíntese líquida do dossel, bem como a quantidade de
compostos orgânicos de reserva e o crescimento de raízes (DAVIDSON
& MILTHORPE, 1966).
Nesse contexto, uma das formas de compreender as mudanças na estrutura
do pasto ocasionadas pelo pastejo dos ruminantes consiste na
caracterização de perfilhos individuais no pasto. Esses estudos
reducionistas são necessários para uma pesquisa mais analítica e
explicativa do ecossistema pastagem (SBRISSIA & DA SILVA, 2008).
Desse modo, a determinação do número de perfilhos no pasto, a sua
classificação quanto ao nível de desfolhação, assim como a sua
caracterização morfológica é relevante para compreender os efeitos do
manejo do pastejo sobre a comunidade de plantas forrageiras.
Objetivou-se avaliar a densidade populacional de perfilhos com níveis
de desfolhação variáveis e as características desses perfilhos
individuais no pasto de Brachiaria
decumbens cv. Basilisk manejado sob lotação contínua com bovinos
e manutenção de sua altura média em 25 cm.
MATERIAL E MÉTODOS
No período de outubro de 2008 a janeiro de 2009, o experimento foi
conduzido no Setor Forragicultura do Departamento de Zootecnia da
Universidade Federal de Viçosa, localizada em Viçosa-MG (20º45' S;
42º51' W; 651 m), numa área de pastagem de Brachiaria decumbens cv. Basilisk
(Stapf.), estabelecida em 1997. A área experimental foi constituída de
três piquetes de cerca de 0,30 ha, além de uma área reserva. O solo da
área experimental é Latossolo Vermelho-Amarelo de textura argilosa. A
análise química do solo, realizada no início do período experimental,
na camada 0-20 cm, apresentou os seguintes resultados: pH em H2O
4,79; P 1,5 (Mehlich-1) e K 86 mg/dm³; Ca2+ 1,46;
Mg2+ 0,32 e Al3+ 0,19 cmolc/dm³ (KCl 1 mol/L). A
área experimental foi adubada com 100 kg/ha de N e 100 kg/ha de K2O
dividida em duas aplicações, uma em 11/11/2008 e a outra em 15/12/2008,
usando o formulado 20-05-20.
Os dados climáticos durante o período de avaliação foram registrados em
estação meteorológica distante da área experimental aproximadamente 500
m (Tabela 1).
Desde outubro de 2008 até o término das avaliações em janeiro de 2009,
os piquetes foram manejados sob lotação contínua com taxa de lotação
variável de modo a manter a altura do pasto em aproximadamente 25 cm.
Para isso, a altura do pasto foi monitorada duas vezes por semana e
foram utilizados bovinos machos, em recria, com peso médio de 200 kg.
Os tratamentos consistiram de três locais no mesmo pasto e três
categorias de perfilhos de capim-braquiária com distintos níveis de
desfolhação. O delineamento foi em blocos ao acaso com três repetições.
Os locais avaliados no pasto foram:
subpastejado:
local onde o pasto estava com altura, no mínimo, duas vezes superior à
sua altura média;
adequado: local em que o pasto estava com sua altura média, ou seja,
aproximadamente 25 cm;
sobrepastejado: local da pastagem em que
o pasto possuía menos de 50% de sua altura média.
Com relação aos perfilhos, avaliaram-se as seguintes categorias:
perfilho sem desfolhação:
perfilhos em estádio vegetativo ou reprodutivo que não apresentavam
sinais de desfolhação em uma ou mais lâminas foliares e que possuíam o
meristema apical;
perfilho com desfolhação:
perfilhos em estádio vegetativo ou reprodutivo que apresentavam
desfolhação parcial ou total em uma ou mais lâminas foliares, porém
possuíam o meristema apical;
perfilho sem o meristema apical:
perfilhos em estádio vegetativo ou reprodutivo que não apresentavam o
meristema apical devido a sua remoção pelo pastejo dos bovinos.
A medição da altura do pasto foi realizada com régua graduada ao longo
de um caminhamento em zigue-zague pelos piquetes, mensurando-se 50
pontos por unidade experimental.
Para determinação da densidade populacional de perfilhos, foram
colhidas nove amostras por piquete, sendo três amostras oriundas de
cada local do pasto avaliado (subpastejo, adequado e sobrepastejo), com
corte no nível do solo de todos os perfilhos contidos no interior de um
quadrado de 0,25 m de lado. Esses perfilhos foram acondicionados em
sacos plásticos identificados e, em seguida, levados para o
laboratório, onde foram quantificados e classificados em perfilho sem
desfolhação, perfilho com desfolhação e perfilho sem meristema apical.
Para mensuração das características estruturais, foram escolhidos
aleatoriamente 10 perfilhos de cada categoria (sem desfolhação, com
desfolhação e sem meristema apical) em locais do mesmo pasto que
representavam sua condição média (25 cm de altura). Em cada perfilho,
foram medidos os comprimentos do pseudocolmo e de suas lâminas foliares
completamente expandidas com auxílio de uma régua graduada. Além disso,
foram quantificados os números de folhas vivas, com desfolhação e
mortas de cada categoria de perfilhos. Com esses dados, obtiveram-se as
seguintes variáveis:
número de folhas pastejadas: número médio de folhas por perfilho com remoção parcial ou total da lâmina foliar;
número de folhas vivas: número médio defolhas por perfilho com mais de 50% da lâmina foliar senescente;
comprimento da lâmina foliar: comprimento médio da lâmina foliar inserida na região intermediária do perfilho;
comprimento do pseudocolmo: comprimento médio dos pseudocolmos.
Em cada piquete, também foram colhidas três amostras, constituídas de
30 perfilhos, referentes à cada categoria de perfilho avaliada. Os
perfilhos foram cortados rente ao solo e em locais do piquete que
representavam a condição média do pasto (25 cm de altura). Esses
perfilhos foram identificados e levados para o laboratório, onde
tiveram seus componentes morfológicos (lâmina foliar viva, colmo vivo e
lâmina foliar morta) separados manualmente. As lâminas foliares vivas
foram levadas para o medidor de área a fim de determinar sua área
foliar e, depois, todos os componentes morfológicos foram colocados em
sacos de papel identificados e levados à estufa de ventilação forçada,
por 72 horas. Posteriormente, as amostras foram pesadas e, com esses
dados, calculou-se o percentual de lâmina foliar viva, colmo vivo e
lâmina foliar morta, assim como a área foliar por perfilho, o peso
unitário do perfilho e a relação, em massa, entre a lâmina foliar viva
e o colmo vivo.
As análises dos dados experimentais foram feitas de forma separada para
os locais do pasto e as categorias de perfilhos. Foi realizada análise
de variância e, posteriormente, compararam-se, de maneira separada, os
locais do pasto e as categorias de perfilhos pelo teste de Tukey.
Também foi gerado um gráfico de frequência relativa, para melhor
visualização da variação espacial da altura do pasto. Todas as análises
estatísticas foram realizadas em nível de significância de até 5% de
probabilidade de ocorrência do erro tipo I.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O pasto de capim-braquiária manejado sob lotação contínua possuiu
variabilidade espacial da vegetação, caracterizada por heterogeneidade
nos valores de altura do pasto (Figura 1). Cerca de 30% das plantas no
pasto de capim-braquiária apresentou altura próxima (22,5 a 27,5 cm) do
critério de manejo do pastejo adotado, que foi a manutenção do pasto em
25 cm de altura média. Entretanto, aproximadamente 29% e 37% das
plantas possuíram alturas mais baixas (12,6 a 22,4 cm) e mais altas
(27,6 a 49,9 cm), respectivamente, do que a altura média em que o pasto
foi mantido. Adicionalmente, ocorreram alguns locais na pastagem com
altura extremamente baixa (3,3% das plantas com até 12,5 cm) e com altura muito elevada (0,5% de plantas acima 50 cm) (Figura 1).
Realmente, a vegetação existente numa pastagem é, por natureza,
espacialmente heterogênea, pois existe grande amplitude de valores no
tocante às características descritoras da condição do pasto (BARTHRAM
et al., 2005).
Os locais com alturas muito reduzida ou muito elevada foram
denominados, neste trabalho, de sobrepastejado e subpastejado,
respectivamente, porque possivelmente ficaram submetidos à intensidade
e frequência de pastejo extremas. Em verdade, em pastagens é comum a
existência de locais com padrões de desfolhação distintos, devido,
dentre vários fatores, à seletividade de pastejo pelo animal (SANTOS et
al., 2010b).
Vale salientar que o conceito de condição de pastejo adotado neste
trabalho esteve relacionado com a condição pontual e/ou instantânea da
forrageira em relação à condição média em que o pasto, como um todo,
foi manejado. Nesse enfoque, os locais do pasto onde as plantas estavam
com altura muito discrepante em relação à média do pasto foram
considerados como condições de pastejo inadequado (sobrepastejo ou
subpastejo). Já aqueles locais em que o pasto de capim-braquiária
estava com aproximadamente 25 cm de altura foram considerados como
situações de pastejo adequado. De fato, SANTOS et al. (2011) recomendam
o manejo do pasto de B. decumbens, sob lotação contínua, dentro da faixa de altura entre 20 a 30 cm.
Nesse contexto, são as características descritoras da forrageira, tal
como sua altura, que foram avaliadas para discernir se o ambiente no
qual a mesma está inserida correspondeu à situação de pastejo
compatível com sua capacidade de tolerância à desfolhação. Realmente,
acredita-se que, para cada forrageira, exista uma amplitude de
condições de pasto específica em que sua resposta agronômica é máxima
e/ou próxima da máxima e varia pouco (CARNEVALLI et al., 2001). Essas
amplitudes de condição de pasto precisam ser conhecidas e respeitadas
para que a pastagem não degrade devido ao sobrepastejo, ou para evitar
a perda excessiva de forragem em decorrência do subpastejo. Esta
conotação de adequabilidade da condição de pastejo é distinta daquela
correntemente empregada, em que a condição de pastejo ótima é tida como
aquela em que se tem um equilíbrio entre desempenho por animal e
produção por unidade de área, de tal modo que resulte em maior produção
por área (GOMIDE et al., 2001).
Com relação à classificação e quantificação dos perfilhos de
capim-braquiária quanto ao nível de desfolhação, constatou-se que a
densidade populacional de perfilhos com desfolhação foi maior
(P<0,05) no local sobrepastejado em comparação aos locais com
pastejo adequado e subpastejado. Padrão de resposta inverso foi
observado para a categoria de perfilhos sem desfolhação (Figura 2).
Esses resultados eram esperados porque nos locais do pasto com maior
frequência e intensidade, como naqueles sobrepastejado, é natural que
os perfilhos individuais sejam mais desfolhados e, adicionalmente,
ocorra menor número de perfilhos sem desfolhação.
Vale salientar que grande parte dos perfilhos sem desfolhação
correspondeu aos perfilhos mais jovens no pasto que, por terem menor
tamanho, não foram pastejados pelos bovinos. A maior densidade
populacional desses perfilhos ocorreu no local subpastejado porque,
nessa condição, os perfilhos de menor comprimento foram sobrepostos, no
sentido vertical do pasto, pelos de maior tamanho, o que fez com que os
bovinos pastejassem, primeira e preferencialmente, os perfilhos
mais compridos, preservando da desfolhação os perfilhos menores.
O número de perfilhos sem o meristema apical foi maior (P<0,05) no local com pastejo adequado (Figura 2),
o que indica que, nos locais em que as plantas estavam com 25 cm de
altura, maior número de perfilhos foi desfolhado mais intensamente. De
fato, a desfolhação mais intensa pode resultar na eliminação do
meristema apical dos perfilhos (SANTOS et al., 2010b). Esse resultado
seria esperado para o local com sobrepastejo, o que não ocorreu. Na
condição de sobrepastejo, a despeito do elevado número de perfilhos com
desfolhação (Figura 2),
poucos perfilhos tiveram o meristema apical eliminado devido,
possivelmente, aos mecanismos de adaptação do capim-braquiária ao
sobrepastejo, que conferiram mudanças na sua morfologia. Essas
adaptações morfológicas foram caracterizadas por modificações na forma
de crescimento do capim-braquiária, que passou a ser mais prostrada, e
também no tamanho dos perfilhos, que passou a ser menor. Essas mudanças
na morfologia do capim-braquiária conferiram à planta menor
possibilidade de desfolhação intensa, constituindo mecanismo de
adaptação ao pastejo denominado de plasticidade fenotípica (SBRISSIA
& DA SILVA, 2008). Com desfolhação menos intensa, houve pouca
eliminação do meristema apical dos perfilhos (Figura 2).
Já nos locais com subpastejo também houve menor (P<0,05) densidade populacional de perfilhos sem o meristema apical (Figura 2),
porque provavelmente desfolhações menos intensas e, ou, frequentes
ocorreram nesse local do pasto, fato comum em situações de pastejo
leniente, em que os bovinos consomem, preferencialmente, as partes mais
nutritivas da gramínea.
É relevante sublinhar que, no pasto de capim-braquiária manejado sob
lotação contínua, houve pouca participação de perfilhos sem o meristema
apical (Figura 2).
Nos locais do pasto com subpastejo, pastejo adequado e sobrepastejo
foram observados 7%, 23% e 7%, de perfilhos sem o meristema apical,
respectivamente. Os perfilhos sem desfolhação também tiveram pouca
participação relativa nos locais do pasto com pastejo adequado (17%) e
com sobrepastejo (20%), porém sua participação foi alta no local do
pasto com subpastejo (46%). De outro modo, os perfilhos desfolhados
tiveram participação majoritária nos pastos de capim-braquiária,
especialmente naqueles locais do pasto com pastejo adequado (60%) e
sobrepastejo (73%).
A ocorrência de perfilhos com diferentes níveis de desfolhação no mesmo
pasto de capim-braquiária pode ser benéfica para a pastagem. Nesse
sentido, é possível, por exemplo, que, em uma mesma planta, os
perfilhos sem desfolhação, que possuem rebrotação mais vigorosa devido
ao seu alongamento foliar ocorrer a partir do meristema apical,
compensem a menor taxa de rebrotação daqueles perfilhos sem meristema
apical, que terão que recuperar sua área foliar via desenvolvimento de
novas gemas axilares e, ou, basais. Isso permite que a interceptação de
luz e o crescimento do pasto sejam otimizados.
Além de avaliar a densidade populacional das categorias de perfilhos
nos distintos locais do pasto de capim-braquiária, também é importante
caracterizar os perfilhos com níveis de desfolhação variáveis (Tabela 2).
Nesse sentido, constatou-se que o perfilho sem desfolhação apresentou
menor (P<0,05) comprimento do pseudocolmo quando comparado às demais
categorias. Esse resultado se deve ao fato de que os perfilhos sem
desfolhação corresponderam aos perfilhos mais jovens e, portanto de
menor tamanho, existentes no pasto de capim-braquiária. Ao contrário,
perfilhos com desfolhação e sem o meristema apical, provavelmente,
apresentavam maior estádio de desenvolvimento, razão do seu pseudocolmo
mais comprido (Tabela 2).
No tocante ao perfilho sem meristema apical, seu comprimento de
pseudocolmo foi semelhante (P>0,05) ao do perfilho com desfolhação,
porém maior (P<0,05) do que o do perfilho sem desfolhação (Tabela 2).
Como perfilhos mais velhos possuem, em geral, o pseudocolmo mais
comprido (SANTOS et al., 2009), infere-se que o perfilho sem meristema
apical possuía maior estádio de desenvolvimento. Em verdade, mesmo
considerando que seu ápice foi removido pelo pastejo dos bovinos, ainda
assim, o perfilho sem meristema apical apresentou o pseudocolmo mais
comprido. Esse argumento de que o perfilho sem meristema apical estava
com maior estádio de desenvolvimento encontra respaldo no seu maior
(P<0,05) número de folhas mortas, que é característico de perfilhos
mais velhos (SANTOS et al., 2009).
O menor estádio de desenvolvimento do perfilho sem desfolhação também é
a razão do seu menor (P<0,05) número de folhas mortas (Tabela 2).
De fato, em perfilhos mais jovens a senescência foliar tende a ser
menos acentuada (CARNEVALLI et al., 2006; BARBOSA et al., 2007), porque
suas lâminas foliares ainda não ultrapassaram a duração de vida.
O comprimento da lâmina foliar não diferiu (P>0,05) entre as categorias de perfilhos avaliadas (Tabela 2),
o que pode ter sido resultado do critério de amostragem utilizado neste
trabalho, em que os perfilhos sempre foram colhidos no local do pasto
com mesma altura de 25 cm.
Com a remoção do ápice do perfilho, que resultou na eliminação de seu
meristema apical, é possível que parte das folhas vivas mais jovens e
de maior nível de inserção tenha sido consumida pelos bovinos, o que
explicaria o seu menor (P<0,05) número de folhas vivas em relação
aos demais perfilhos avaliados (Tabela 2).
Adicionalmente, essa remoção do ápice do perfilho fez com que apenas as
folhas mais velhas e de menor nível de inserção remanescessem. Como
essas folhas estão localizadas na região basal do pasto, é natural que
tenham menor probabilidade de desfolhação, na medida em que os bovinos
pastejam preferencialmente as folhas presentes no extrato superior do
pasto. Realmente, o número de folhas pastejada foi menor (P<0,05) no
perfilho sem o meristema apical em relação aos perfilhos com e sem
desfolhação (Tabela 2).
Não houve diferença (P>0,05) entre as áreas foliares dos perfilhos
sem e com desfolhação; entretanto, observou-se (P<0,05) menor área
foliar nos perfilhos que tiveram o meristema apical removido (Figura 3),
de tal modo que ocorreu diminuição de 77% na área foliar dos perfilhos
sem meristema apical, em comparação aos sem desfolhação.
Quando a intensidade de desfolhação do perfilho é alta, há tendência de
eliminação do meristema apical. Nesse sentido, considerando-se que o
capim-braquiária é uma forrageira que, em geral, não apresenta elevação
precoce do meristema apical, infere-se que a remoção do meristema dos
perfilhos foi acompanhada de acentuada intensidade de pastejo,
promovendo alta perda da área foliar por perfilho (Figura 3).
A área foliar é de extrema importância para manutenção da planta
forrageira no ecossistema, já que a maior taxa de fotossíntese ocorre
nas lâminas foliares, especialmente naquelas mais jovens (PARSONS et
al., 1983). Dessa forma, a remoção foliar reduz a capacidade da planta
em gerar fotoassimilados, o que, consequentemente, atrasa a rebrotação
do perfilho após o pastejo (TAIZ & ZEIGER, 2006).
Poder-se-ia esperar que o perfilho sem desfolhação apresentasse maior
área foliar do que as demais categorias de perfilhos estudadas;
contudo, conforme discutido, o perfilho sem desfolhação possuía,
geralmente, menor estádio de desenvolvimento e, com efeito, sua área
foliar ainda estava em expansão. De fato, em perfilhos vegetativos, a
área foliar é incrementada durante seu estádio de desenvolvimento
(SANTOS et al., 2009). Isso justifica o fato do perfilho sem
desfolhação ter apresentado área foliar semelhante à do perfilho com
desfolhação (Figura 3).
Com relação à composição morfológica das categorias de perfilhos, o
perfilho sem meristema apical apresentou menor (P<0,05) percentual
de lâmina foliar viva (LFV), maiores (P<0,05) percentuais de colmo
vivo (CV) e lâmina foliar morta, bem como inferior (P<0,05) relação
LFV/CV em relação aos perfilhos sem e com desfolhação. Estes últimos
não diferiram (P>0,05) entre si quanto à composição morfológica (Tabela 3).
Perfilhos sem meristema apical possuíram maiores
participações de lâmina foliar morta e colmo vivo em decorrência da
menor síntese de lâminas foliares vivas nesses perfilhos, já que parte
de suas células meristemáticas foram removidas juntamente com o ápice
dos perfilhos. Ademais, conforme discutido anteriormente, deduziu-se
que os perfilhos sem meristema apical corresponderam às categorias com
maior estádio de desenvolvimento e, por isso, eram esperados seus
maiores percentuais de colmo vivo e lâmina foliar morta, bem como sua
menor participação relativa de lâmina foliar viva e sua inferior
relação LFV/CV (SANTOS et al., 2010c). Vale salientar que a composição
morfológica do perfilho sem o meristema apical foi, em última
instância, resultado do maior comprimento do seu pseudocolmo, menor
número de folhas vivas e superior número de folhas mortas (Tabela 2).
Por sua vez, a melhor composição morfológica do perfilho sem
desfolhação decorreu do seu menor estádio de desenvolvimento. De fato,
vários trabalhos (SANTOS et al., 2009; SANTOS et al., 2010c) demonstram
que, com o avanço da maturidade do perfilho, sua composição morfológica
fica desfavorável em virtude do incremento da participação de
componentes morfológicos de pior valor nutritivo, quais sejam, colmo e
folha morta (SANTOS et al., 2010c).
Com relação ao peso dos perfilhos, observou-se menor (P<0,05) valor
para aqueles sem meristema apical, não havendo diferença (P>0,05)
para perfilhos sem e com desfolhação (Figura 4). A despeito do maior comprimento do pseudocolmo (Tabela 2),
perfilhos sem meristema apical possuem maior remoção de tecidos
foliares e de parte do pseudocolmo, o que justifica seu menor peso.
Vale sublinhar que a remoção do meristema apical pode estimular o
perfilhamento lateral (TAIZ & ZEIGER, 2006), e, com isso, o peso do
perfilho tende a ser incrementado, porém esse fato não ocorreu no
presente trabalho, o que pode ser atribuído à característica do
capim-braquiária, que apresenta baixo número de perfilhos aéreos e,
quando estes ocorrem, são de tamanho reduzido.
O pastejo total ou parcial das lâminas foliares dos perfilhos com
desfolhação fez com que os mesmos possuíssem peso semelhante ao
perfilho sem desfolhação (Figura 4), mesmo sendo estes últimos de menor estádio de desenvolvimento.
Os dados apresentados neste trabalho permitem constatar que existe
diversidade de estruturas no mesmo pasto de capim-braquiária manejado
sob lotação contínua e com o critério de manutenção de sua altura média
em 25 cm. Essa assertiva é justificada pela existência de locais
subpastejado, com pastejo adequado e com sobrepastejo na mesma pastagem
(Figura 1)
e tendo em vista que, em cada local avaliado, as densidades
populacionais das categorias de perfilhos com níveis de desfolhação
variáveis também foram diferentes (Figura 2).
Da mesma forma, é possível afirmar que no pasto de capim-braquiária
manejado sob lotação contínua há diversidade de perfilhos com distintos
níveis de desfolhação. Isso pode ter importância para a persistência do
pasto na medida em que, numa mesma planta, perfilhos sem desfolhação
podem auxiliar na rebrotação daqueles perfilhos com desfolhação ou sem
o meristema apical (MARSHALL & SAGAR, 1965), o que otimiza a
formação da nova área foliar, premissa fundamental para a interceptação
de luz e a ocorrência de fotossíntese no dossel (TAIZ & ZEIGER,
2006).
CONCLUSÕES
Em pasto de Brachiaria decumbens
cv. Basilisk sob lotação contínua existe variabilidade espacial da
vegetação e diversidade de perfilhos com níveis variáveis de
desfolhação. Nesse pasto, o local subpastejo possui maior número de
perfilho sem desfolhação e o local sobrepastejo apresenta maior
densidade populacional de perfilhos com desfolhação.
O perfilho de B. decumbens sem
o meristema apical possui maior comprimento do pseudocolmo e maior
número de folha morta do que os perfilhos com e sem desfolhação, porém
apresenta menor número de folha viva, inferior área foliar e menor peso.
Em pastagem de B. decumbens sob lotação contínua, perfilhos sem desfolhação possuem menor comprimento do pseudocolmo e reduzido número de folha morta.
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Protocolado em: 22 set. 2009 Aceito em: 26 jan. 2011