DOI: 10.5216/cab.v13i3.7132
COMPORTAMENTO INGESTIVO E RESPOSTAS FISIOLÓGICAS DE NOVILHOS NELORE EM
DIFERENTES CONDIÇÕES DE PASTEJO
Cleiton Luiz
Tonello1, Leonir Bueno Ribeiro2, Orlando Rus Barbosa3,
Carla Franciele Höring1, Maicon Carard4, Carlos Eduardo
Furtado3
1Pós-graduandos da Universidade Estadual de Maringá, Maringá, PR, Brasil.
cleitontonello@msn.com
2Zootecnista, Mestre, Brazilian Pet Foods Ltda Licensee, Arapongas, PR.
Brasil
3Professor Doutor da Universidade Estadual de Maringá, Maringá, PR,
Brasil.
4 Aluno de Graduação do curso de Zootecnia da
Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Marechal Cândido Rondon, PR, Brasil.
RESUMO
Este
trabalho teve o objetivo de avaliar o comportamento ingestivo e respostas
fisiológicas de novilhos Nelore em diferentes condições de pastejo. Foram
utilizados cinco novilhos da raça Nelore pesando em média 390,78 ± 14 kg de PV,
distribuídos em cinco tratamentos experimentais: pasto limpo sem fornecimento
de suplemento concentrado (PLSC), pasto sujo sem fornecimento de suplemento
concentrado (PSSC), pasto limpo com fornecimento de suplemento concentrado
(PLCC), pasto sujo com fornecimento de suplemento concentrado (PSCC) e livre
acesso aos pastos sem fornecimento de suplemento concentrado (LAPSC).
Utilizou-se delineamento experimental em quadrado latino 5 x 5. O comportamento
ingestivo dos animais foi mensurado por meio de observação visual no final de
cada período experimental em intervalos de dez minutos, durante 24 horas, e as
variáveis fisiológicas avaliadas foram temperatura retal, frequência
respiratória e frequência cardíaca. As
respostas fisiológicas dos animais não foram influenciadas pelos tratamentos. O
número de passos realizados pelos animais mantidos nos tratamentos PLSC (6,08
passos/min) e PLCC (5,62 passos/min) foram significativamente menores que nos
tratamentos PSSC (16,84 passos/min) e PSCC (14,58 passos/min), demonstrando
maior atividade de locomoção nos animais nos piquetes com invasoras.
PALAVRAS-CHAVE: frequência cardíaca; invasoras;
locomoção; pastagens.
INGESTIVE BEHAVIOR AND PHYSIOLOGICAL
RESPONSES OF NELLORE IN DIFFERENT GRAZING CONDITIONS
ABSTRACT
This study aimed to evaluate
the ingestive behavior and physiological responses of steers under different
grazing conditions. Five Nellore steers, weighing an average of 390.78 ± 14 kg
BW, were assigned to five experimental treatments: clean pasture without
concentrate supplementation (PLSC), dirty pasture without concentrate
supplementation (PSSC), clean pasture with concentrate supplementation (PLCC), dirty
pasture with concentrate supplementation (PSCC) and free access to pasture
without concentrate supplementation (LAPSC). The experimental design was a 5 x
5 Latin Square. The grazing behavior was measured through visual observation at
the end of each trial in ten-minute intervals for 24 hours, and the
physiological variables comprised rectal temperature, respiratory rate and
heart rate. The physiological responses of animals were not affected by
treatments. The number of steps performed by the animals kept in treatments
PLSC (6.08 steps/min) and PLCC (5.62 steps/min) were significantly lower than
those in treatments PSSC (16.84 steps/min) and PSCC (14.58 steps/min), showing
increased activity of locomotion in animals in paddocks with weeds.
KEYWORDS: heart rate; locomotion; pasture; weeds.
INTRODUÇÃO
O sistema de criação de bovinos a pasto é caracterizado por uma série de
fatores e suas interações podem afetar o comportamento ingestivo dos animais,
comprometendo seu desempenho e, consequentemente, a viabilidade da propriedade
(PARDO et al., 2003). Segundo PALHANO et al. (2007), o consumo diário de
forragem é o aspecto central para uma maior compreensão do comportamento dos
animais em pastejo, diretamente influenciado por fatores relacionados à planta
forrageira e ao animal.
O comportamento ingestivo dos ruminantes em pastejo pode ser caracterizado
pela distribuição desuniforme de uma sucessão de períodos definidos e discretos
de atividades, comumente denominados ingestão, ruminação e repouso (FISCHER et
al., 2000). A capacidade de um alimento ser ingerido pelo animal depende da
ação de fatores que interagem em diferentes situações de alimentação,
comportamento animal e meio ambiente.
Com o estudo do comportamento ingestivo dos ruminantes, pode-se adequar
práticas de manejo que venham a aumentar a produtividade, garantindo, também,
melhor estado sanitário e maior longevidade aos animais (FISCHER et al., 2002).
Um outro fator relevante é o auxílio prestado pelos resultados do estudo do
comportamento alimentar dos ruminantes, no que se refere ao entendimento de
como os animais ajustam esse comportamento em função das variações observadas
no pasto e no ambiente (BRÂNCIO et al., 2003).
A produção animal em pastagem depende de fatores relacionados à planta e
ao animal; portanto, a quantidade e a forma como a forragem é fornecida ao
animal determina diferentes respostas no consumo e desempenho. O animal em
pastejo está sob o efeito de muitos fatores que podem influenciar a ingestão de
forragem, dentre os quais sobressai a oportunidade de selecionar a dieta, pois
o pastejo seletivo permite compensar a baixa qualidade da forragem, permitindo
a ingestão de partes mais nutritivas das plantas (SILVA et al., 2009).
Entretanto, o comportamento seletivo promove aumento no tempo total de pastejo.
Este trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar alterações das
respostas fisiológicas e comportamentais de novilhos Nelore mantidos em
diferentes condições de pastejo.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado
no município de Céu Azul, situado
na região Oeste do estado do Paraná, localizado a uma latitude
24º57'21" sul e a uma longitude 53º27'19" oeste. Foram utilizados cinco novilhos
da raça Nelore, pesando em média 390,78 ± 14 kg de PV. A área experimental foi constituída
de cinco piquetes com aproximadamente um hectare cada. No período anterior ao
experimento foi realizado o controle de plantas invasoras da pastagem em dois
dos piquetes; em um piquete foi realizado controle parcial das invasoras,
permitindo à infestação em metade da área experimental e em dois piquetes não
foi realizado controle.
Os animais foram mantidos em
pastagem nativa, com predominância da Grama Mato-grosso (Paspalum notatum
Flüegge), mantida com altura de dossel mínimo de cinco centímetros. As principais plantas invasoras observadas
durante o período experimental foram: Dorme-dorme (Mimosa invisa Mart),
Assa peixe (Vernonia sp.), Guanxuma (Sida rhombifolia), Picão
preto/branco (Bidens pilosa/Galinsoga parviflora), Falsa-serralha
(Emilia sonchifolia), Falsa erva de rato (Asclepias bicolor Moench.),
Juá (Ziziphus joazeiro
Mart).
Os animais foram distribuídos
em cinco tratamentos experimentais: pasto limpo sem fornecimento de suplemento
concentrado (PLSC); pasto sujo sem fornecimento de suplemento concentrado
(PSSC); pasto limpo com fornecimento de suplemento concentrado (PLCC); pasto sujo
com fornecimento de suplemento concentrado (PSCC) e livre acesso aos pastos sem
fornecimento de suplemento concentrado (LAPSC). A quantidade de suplemento
concentrado fornecido a cada animal foi de 0,5% do PV/dia, fornecida duas vezes
ao dia às 8h00 e às 13h30 em cochos cobertos dentro do respectivo piquete. Os
animais foram pesados no início e no final de cada período experimental para
adequação da dieta.
O delineamento experimental foi em quadrado
latino 5 x 5 períodos, com cada período com duração de 12 dias, sendo 10 dias
de adaptação às dietas e à iluminação artificial noturna e os dois últimos dias
para coleta de dados. As variáveis fisiológicas foram coletadas no 11o dia
e o comportamento ingestivo avaliado no 12o dia de coleta.
O comportamento ingestivo dos
animais foi mensurado por meio de observação visual no final de cada período
experimental em intervalos de dez minutos, durante 24 horas, para determinação
do tempo despendido em alimentação, ruminação e ócio (JOOHNSON & COMBS,
1991). Os dados de velocidade do vento, temperatura de ponto de orvalho,
temperatura do ar e umidade relativa foram coletadas por um termoanemômetro e o
calor radiante foi registrado utilizando o globo de Vernon de 0,15m de diâmetro
exposto ao sol.
As variáveis climáticas foram
coletadas duas vezes por semana, em intervalos de uma hora, durante 24 horas. A
partir dos dados de temperatura e umidade do ar, foi calculado o índice de
temperatura e umidade (ITU), mediante a fórmula referida por KELLY & BOND (1971):
(Eq. 1)
sendo:
Tbs = temperatura de bulbo
seco, (ºF),
UR = umidade relativa
expressa como um valor decimal.
Os dados de ITU foram
interpretados segundo AZEVEDO et al. (2005), em que: ITU inferior a 70
representa ausência de estresse; entre 70 e 72, alerta, alcançando o nível
crítico; entre 72 e 78, acima do ponto crítico; entre 78 a 82, perigo, e
superior a 82, emergência. A radiação térmica é um importante fator ambiental,
que tem seu valor elevado quando os animais são mantidos em regime de pastejo.
Desta forma foi calculado o índice de temperatura do globo e umidade (ITGU), a
partir dos dados de temperatura do globo de Vernon (ºC) e temperatura de ponto
de orvalho, mediante a fórmula de BUFFINGTON et al. (1981):
(Eq. 2)
em que:
Tg = temperatura do globo de
Vernon, ºC
Tpo = temperatura de ponto de
orvalho.
A temperatura retal (TR)
individual foi medida por um termômetro clínico digital. A frequência cardíaca
(FC) foi medida através de estetoscópio, por uma só pessoa, em todos os
animais, pelo lado esquerdo do animal, próximo ao osso xifóide, contando-se os
batimentos ocorridos em um período de 15 segundos, multiplicando-se o valor
obtido por quatro. A frequência respiratória (FR) foi obtida pela contagem dos
movimentos do flanco dos animais, com o auxílio de um cronômetro por um período
de 10 segundos, sendo o resultado multiplicado por 6 para obtenção em minutos.
As variáveis foram submetidas à análise de variância e as médias foram
comparadas pelo teste de Student Newman Keulls (SNK), a 5% de probabilidade,
utilizando-se o programa SAEG 9.1 - Sistema de Análises Estatísticas e
Genéticas (UFV, 2007).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A temperatura do ar média
durante o experimento foi de 23,39ºC, com máxima de 30,5ºC e mínima de 16,4ºC.
A umidade relativa do ar variou entre 88% e 35%. Os valores mínimos de umidade
relativa coincidiram com os valores máximos de temperatura do globo negro,
podendo indicar uma relação inversamente proporcional entre a carga de energia
radiante do ambiente com os níveis de umidade do ar. Foram observados valores
de ITU de 71 e 78, dentro da faixa crítica para bovinos, durante grande parte
do período de avaliação, (10h00 às 21h00), indicando que nesses horários
críticos os animais estavam sujeitos ao estresse térmico. De acordo com SILVA
et al. (2008), o índice de temperatura e umidade (ITU) tem sido amplamente
utilizado para avaliar ambientes para bovinocultura em regiões tropicais e
valores críticos do ambiente obtidos pelo índice comprometem o comportamento e a
produção animal.
Segundo BAETA & SOUZA
(2010), os valores de ITGU até 74 indicam uma condição de conforto térmico para
os bovinos anelorados; entre 75 e 78, a situação é de alerta, de 79 a 84
caracteriza perigo e, acima disso, depara-se com situação de emergência. Foram
observados valores de ITGU acima da faixa de perigo (emergência), entre as
08h00 e às 17h00, atingindo o valor máximo de 94,40. Porém, de maneira semelhante
ao verificado para ITU, os animais demonstraram desconforto térmico nos
horários de emergência, buscando sombra para evitar a radiação solar direta.
Nos horários subsequentes, os valores de ITGU permaneceram abaixo dos níveis de
alerta para os animais. Os valores médios da temperatura retal (TR), frequência
cardíaca (FC) e frequência respiratória (FR) dos animais encontram-se descritos
na Tabela 1.
O aumento da frequência
respiratória e da ofegação são mecanismos fisiológicos importantes para a
dissipação de calor nessa espécie. No entanto, esses mecanismos de calor
demandam energia, resultando no aumento de mantença diária de bovinos de 7 para
25%, o que também resulta em produção de calor (COLUMBIANO, 2007). Como defesa
ao desconforto térmico, os bovinos recorrem a mecanismos adaptativos
fisiológicos de perda de calor corporal para tentar evitar a hipertermia.
Assim, aumentam a frequência respiratória apresentando taquipneia, como
complemento ao aumento da taxa de sudorese, constituindo, ambos, importantes
meios de perda de calor do corpo por evaporação. Em condições normais de
temperatura, as vacas cruzadas apresentam frequência respiratória em torno de
18 a 28 movimentos por minuto, a partir de 26ºC os movimentos começam a
aumentar. Em temperatura de 31ºC, apresentam em média 68 movimentos por minuto.
Até 60 movimentos os animais não apresentam ainda sinais de estresse.
Ultrapassando 120 movimentos, já refletem carga excessiva de calor e acima de
160 faz-se necessário adotar medidas emergenciais (BACCARI, 2001).
Os valores médios encontrados
de frequência cardíaca e respiratória (126 batimentos/minuto e 45,36
movimentos/minuto, respectivamente) não foram influenciados pelos diferentes
tratamentos. A Tabela 2 apresenta os dados de tempo de alimentação (TAL), tempo
de ruminação (TRU), tempo de ócio (TOCIO), tempo de ingestão de água (TAGUA),
tempo de ruminação em pé e deitado, tempo de ócio em pé e deitado, número de
refeições diárias (Nref) e número de períodos de ruminação (Nrum), com seus
respectivos coeficientes de variação em função dos diferentes tratamentos.
Não foram verificadas
diferenças significativas para os tempos de alimentação, ócio e água, com
médias de 9,03, 6,17 e 0,50 horas/dia, respectivamente. Apesar do tempo
despendido em ócio não ter apresentado diferenças entre os tratamentos, os
animais mantidos em pastagem sem controle de plantas invasoras apresentaram um
valor numericamente menor de ócio, isso provavelmente ocorre devido a um maior
tempo gasto na procura por alimentos. O tempo de ócio com o animal em pé
ocorreu preferencialmente durante o dia e o ócio noturno foi caracterizado
principalmente pelos animais deitados.
Brâncio et al. (2003) relataram tempos de pastejo de bovinos,
em termos médios, entre 8,3 e 11,3 horas diárias, avaliando o comportamento
ingestivo de bezerros nelore com 150 kg de peso vivo em pastagem de
capim-tanzânia, com e sem adubação.
Zanine
et al. (2007), trabalhando com bezerros, observaram que os animais pastejaram
mais tempo no início da manhã e final da tarde, no pasto de
Brachiaria brizantha.
O tempo de ruminação foi
significativamente maior para os animais mantidos em piquetes com presença de
plantas invasoras com e sem suplementação concentrada, com valores de 8,60 e
8,90 horas/dia, respectivamente, quando comparados aos animais em piquetes
limpos, 7,60 e 7,80 horas/dia, respectivamente. Valores semelhantes foram
relatados no trabalho de
Mendonça
et al. (2004), com média de 7,71 horas/dia. A ruminação ocorreu
preferencialmente com o animal deitado em todos os tratamentos, tendo os
maiores tempos para os tratamentos PSCC e PSSC com valores de 7,95 e 7,84
horas/dia, respectivamente, e o valor mínimo para o tratamento PLSC com média
de 6,81 horas/dia.
O número de refeições e
número de períodos de ruminação não foram alterados pelos diferentes
tratamentos, com valores médios de 9,25 e 13,78 nº/dia, respectivamente.
Burguer et al. (2000), trabalhando com
dietas com níveis crescentes de concentrado, observaram um maior número de
refeições, com média de 14,80. Na
Figura 1 observa-se que, entre 8 e 20 h, foi
registrado o maior tempo despendido para consumo de alimento (83,42% do consumo
total de alimento diário). Uma refeição é definida por uma longa sequência de
pastejo. Quando ela se interrompe por vários minutos, a refeição anterior se
define, e a próxima iniciará tão logo o animal inicie uma nova sequência.
O tempo de consumo de alimento durante o período das 20 às 8 h foi de
apenas 16,58% e a atividade de ruminação ocorreu preferencialmente durante a
noite, horário em que a temperatura foi mais amena, em torno de 19,9ºC, com
80,86% da ruminação ocorrendo entre 20 e 8 h. BALOCCHI et al. (2002) utilizaram
12 bovinos para avaliar a suplementação com dois tipos de concentrado (polpa de
beterraba e cereal) sobre o tempo de pastejo, tempo de ruminação e tempo para
outras atividades, além do consumo de pasto, consumo total de matéria seca. A
suplementação alterou o comportamento de pastejo, diminuindo o pastejo total e
diurno; aumentou a ruminação diurna e diminuiu a ruminação noturna e diminuiu o
número de bocados. Não houve diferença entre os tipos de concentrado. O consumo
de matéria seca total aumentou e o consumo de pasto diminuiu com a
suplementação, sem diferença entre os concentrados.
O padrão diário da atividade
de ruminação, exposto na Figura 2, apresentou valores elevados 10 horas após o
fornecimento da alimentação (20 às 2 h), mantendo-se em plena atividade durante
12 horas subsequentes.
Nota-se uma variação da
posição para ruminação dos animais durante o dia e a noite. Durante a noite, a
ruminação ocorre 87,69% com os animais deitados, o que pode ter relação com o
maior conforto térmico durante esse período. Durante o dia, 74,17 % da
ruminação ocorre em pé, provavelmente devido à maior temperatura ambiental e ao
aumento das atividades sociais dos animais. O ócio foi definido pelo tempo em
que os animais não estavam consumindo alimento, ruminando ou bebendo água. O
tempo despendido em ócio foi semelhante para todos os tratamentos testados, não
sendo observadas diferenças estatísticas. Entretanto, observou-se um padrão de
comportamento para todos esses tratamentos, em que a atividade de ócio foi
similar para os períodos compreendendo o horário das 8 às 2 horas e o maior tempo
despendido para o ócio 41,24% no período das 2 às 8 horas. Esse padrão
comportamental pode ser devido ao descanso dos animais ser predominante nesse
período do dia. No período das 2 às 8 horas, os animais permaneceram 46,68%
deitados. Durante o dia, o ócio ocorreu preferencialmente com o animal em pé,
provavelmente devido a fatores evolutivos, pois os animais permanecem em estado
de alerta contra predadores durante a procura por alimentos.
Os bovinos tendem a minimizar
o tempo de pastejo como estratégia de ingestão de forragem e essa pode ser uma
herança evolutiva, visto que funcionaria como estratégia de escape à predação (Rutter et al., 2002). Zanine et al. (2007), trabalhando com
bezerros, observou que os maiores tempos de ruminação ocorreram no início e no
final da noite.
O consumo de água ocorreu
durante o dia, no horário de maior consumo alimentar e maiores temperaturas
ambientais, não sendo detectada qualquer atividade de consumo de água durante o
período noturno. O número de sítios por minuto e número de passos por minuto, apresentados
na Tabela 3, foram influenciados (P<0,05) pela presença de invasoras na
pastagem.
Nos tratamentos em que os
animais estavam mantidos em pasto livre de invasoras, PLSC e PLCC, o número de
sítios de pastejo por minuto foi de 2,84 e 2,76, respectivamente, valores
menores do que os estabelecidos quando os animais estavam mantidos em pasto com
alto grau de invasoras, PSSC (4,24) e PSCC (5,32). Animais mantidos em piquetes
com invasores locomoveram-se mais em busca de alimento que os animais mantidos
em piquetes limpos, provavelmente devido à elevada contaminação da pastagem por
plantas invasoras que dificultavam o pastejo. Essa maior locomoção para consumo
de alimento no piquete sujo é observada quando se compara o número de passos por
minuto realizados pelos animais.
Em piquete limpo, PLSC e
PLCC, o número de passos por minuto foi de 6,08 e 5,62, respectivamente,
enquanto para os tratamentos PSSC e PSCC foi de 16,84 e 14,58. Esses resultados
comprovam que animais mantidos em piquetes com invasoras necessitam
locomover-se mais que animais mantidos em piquetes limpos, podendo ocasionar
uma maior demanda energética para movimentação, reduzindo a produtividade
animal.
CONCLUSÕES
Não foram verificadas
diferenças significativas para os tempos de alimentação, ócio e água. A
ruminação ocorreu preferencialmente com o animal deitado em todos os
tratamentos, tendo os maiores tempos para os tratamentos PSCC e PSSC.
O tempo de ócio com o animal
em pé ocorreu preferencialmente durante o dia e o ócio noturno foi
caracterizado principalmente pelos animais deitados. O tempo despendido em ócio
foi semelhante para todos os tratamentos testados, não sendo observadas
diferenças estatísticas, porém observou-se um padrão de comportamento, em que a
atividade de ócio foi similar para os períodos compreendendo o horário das 8 às
2 horas e o maior tempo despendido para o ócio no período das 2 às 8 horas.
Durante o dia, o ócio ocorreu
preferencialmente com o animal em pé, provavelmente devido a fatores
evolutivos, uma vez que os animais permanecem em estado de alerta contra
predadores durante a procura por alimentos.
Para os animais mantidos em
piquetes limpos, PLSC e PLCC, registraram-se menores números de passos por
minuto em comparação com os tratamentos PSSC e PSCC. Esses resultados
demonstram que animais mantidos em piquetes com invasoras necessitam
locomover-se mais que animais mantidos em piquetes limpos. Isso pode ocasionar
uma maior demanda energética para movimentação, reduzindo a produtividade
animal.
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