The objective of this study was to evaluate and to compare
in situ
dry matter (DM), crude protein (CP) and neutral detergent fiber (NDF)
degradabilities of three pearl millet genotypes silages (BRS-1501,
NPM-1 e CMS-3), incubated at 6, 12, 24, 48 and 96 hours in sheep. The
experimental design was a randomized block in split plot arrangement,
and the means compared by SNK test at 5% significance level. Values of
effective degradability at 2.0%/h, 5.0%/h and 8.0%/h passage rates
were: 48.5%, 39.6% and 35.8% for BRS-1501 silage, 46.3%, 38.1% and
35.0% for NPM-1 silage and 47.8%, 40.2% and 36.9% for CMS-3 silage,
respectively. The highest degradation rate (2.08% / h), solubility
(74.4%) and effective degradability of CP were observed for CMS-3. The
potential degradability (A) of NDF was equal to the potentially
degradable fraction (B1) in all silages, whose values were 52.3%
(BRS-1501), 57.6% (NPM-1) and 46.6% (CMS-3). CP fraction of pearl
millet silages presented high solubility and CMS-3 silage showed better
quality of this fraction. Low NDF degradabilities were observed for all
silages. According to the findings of this work, the BRS-1501 and CMS-3
silages presented better nutritional value than the NPM-1 due to their
highest effective degradabilities.
KEYWORDS: Nutritive value, roughage, ruminants, supplementation.
INTRODUÇÃO
O milheto é uma forrageira de clima tropical de ciclo anual com grande
potencial para utilização na dieta de ruminantes. Por se tratar de uma
cultura que se desenvolve bem em condições de baixa precipitação
pluviométrica, tem sido utilizada estrategicamente para produção de
silagem em período de safrinha e em regiões com problemas de veranico
ou seca. No Brasil, o milheto ainda é pouco estudado na forma de
silagem, no entanto, alguns trabalhos (ALMEIDA
et al., 1993; GUIMARÃES Jr., 2003; AMARAL
et al.,
2008) têm demonstrado que essa cultura, além de produtiva, origina
silagens de valor nutritivo adequado, podendo ser indicada como opção
para suplementação volumosa.
Na determinação do valor nutritivo de uma forragem, além de sua
composição química, aspectos relacionados à extensão da digestão
potencial e à taxa de fermentação são de grande relevância, uma vez que
esses parâmetros estão diretamente envolvidos no controle do consumo
voluntário (THIAGO, 1994), que, por sua vez, se relaciona com o
desempenho animal. Por meio da técnica
in situ,
é possível estimar parâmetros relacionados à cinética de degradação de
um alimento e de suas frações, em função de períodos de incubação no
rúmen. Trata-se de um método cujos resultados apresentam alta
correlação com os obtidos em experimentos in vivo, é preciso, simples e
rápido para determinar a qualidade de uma forragem. Por isso, tem sido
de grande utilidade na avaliação de alimentos para ruminantes (ØRSKOV
et al., 1980).
O conhecimento da degradabilidade
in situ
dos componentes nutricionais de diferentes genótipos de milheto é
determinante na avaliação dessa forrageira na forma de silagem. Além de
fornecer subsídios para utilização racional do alimento em dietas de
ruminantes, contribui para o programa de melhoramento genético da
cultura no sentido de selecionar e indicar materiais de melhor valor
nutritivo para produção de silagem.
Com este trabalho objetivou-se avaliar e comparar a degradabilidade ruminal
in situ
da matéria seca (MS), da proteína bruta (PB) e da fibra em detergente
neutro (FDN) das silagens de milheto BRS-1501, NPM-1 e CMS-3 em ovinos.
MATERIAL E MÉTODOS
O experimento foi realizado no Departamento de Zootecnia da Escola de
Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo
Horizonte. Utilizaram-se quatro ovinos, canulados no rúmen, castrados,
com peso médio de 35 kg e idade entre 20 e 28 meses. A dieta dos
animais foi composta por feno de Coast-cross (
Cynodon
spp.) à vontade e 300 gramas de concentrado comercial com teores de 20%
de proteína bruta e 82,5% de nutrientes digestíveis totais (NDT).
Administraram-se a água e mistura mineral comercial ad libitum.
Os genótipos de milheto avaliados foram o BRS-1501, NPM-1, e o CMS-3. O
BRS-1501 é uma variedade lançada pela Embrapa Milho e Sorgo, de
polinização aberta, originada por seleção massal de uma população
americana. O NPM-1 (Nebraska Population Millet) é uma população de
polinização aberta oriunda do programa de melhoramento da Universidade
do Nebraska, USA, e o CMS-3 é uma população de polinização aberta do
programa de melhoramento da Embrapa Milho e Sorgo.
As variedades de milheto foram plantadas no campo experimental da
Embrapa Milho e Sorgo, localizada a 19º28’ de latitude sul 44º15’ de
longitude oeste de Greenwich a 732 metros de altitude, no município de
Sete Lagoas, MG. A adubação de plantio foi equivalente a 350 kg/ha de
8-28-16 (NPK) e a de cobertura a 100 kg/ha de ureia, de acordo com as
exigências da cultura.
Cem dias após o plantio, as plantas foram cortadas, manualmente, rente
ao solo e reduzidas ao tamanho de partícula de aproximadamente 2,5 cm
em picadeira estacionária. Em seguida, foram ensiladas, sob pisoteio,
em tambores metálicos com capacidade para 200 kg, revestidos
internamente com lona de polietileno e dotados de tampa. Após sessenta
dias de fermentação, procedeu-se à abertura dos silos, e as silagens
foram amostradas, de maneira uniforme, no terço inicial, médio e final
de cada tambor, formando uma amostra composta por genótipo. Da amostra
composta, uma subamostra foi retirada, pré-seca em estufa de ventilação
forçada a 65ºC por 72 horas, e após moagem em tamanho de partícula de 1
mm, utilizada para determinação dos teores de matéria seca (MS) (AOAC,
1995) e de proteína bruta (PB). Para tanto, multiplicou-se o teor de
nitrogênio obtido pelo método de combustão de Dumas em analisador Leco®
FP-528 por 6,25. Os componentes da parede celular fibra em detergente
neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), celulose, hemicelulose e
lignina foram determinados segundo VAN SOEST
et al.
(1991), em aparelho ANKOM200 Fiber Analyser. Utilizou-se outra
subamostra para extração da parte líquida (“suco”) da silagem em prensa
hidráulica Carver, sendo determinados os valores de pH em potenciômetro
de Beckman Expandomatic SS-2 e nitrogênio amoniacal em percentagem do
nitrogênio total (NH3/NT) (AOAC, 1995) (
Tabela 1).
As amostras compostas utilizadas para determinação da degradabilidade
in situ foram pré-secas em estufa de ventilação forçada a 65ºC por 72
horas e, posteriormente, moídas em moinho com peneira de crivos de 5
mm. Utilizaram-se sacos de náilon com porosidade de 50 micras para
incubação. Preencheu-se cada saco com cerca 5 g de silagem, sendo
incubado no rúmen por 6, 12, 24, 48, 72 e 96 horas. A relação média de
amostra por área superficial do saco foi de 17,5 mg/cm². Incubaram-se
as amostras no rúmen, em triplicata, por período de avaliação.
Lavaram-se os sacos de incubação retirados do rúmen após os períodos de
incubação em água corrente até que esta se mostrasse límpida. Para
determinação da fração solúvel (tempo 0), procedeu-se ao mesmo
procedimento, porém sem prévia incubação das amostras no rúmen. Após a
lavagem, os sacos foram secos em estufa de ventilação forçada a ar por
72 horas a 65ºC e, posteriormente, pesados para determinação do
desaparecimento da matéria seca (MS). Realizou-se a moagem dos resíduos
de incubação em moinho com peneira de 1 mm, sendo utilizados para
determinação dos teores de MS, proteína bruta (PB) e fibra em
detergente neutro (FDN), conforme descrito anteriormente. Os teores
dessas frações nas amostras das forrageiras e nos resíduos de
incubação, juntamente com os pesos dos materiais incubados e de seus
resíduos, foram utilizados para os cálculos do desaparecimento das
respectivas frações.
As condições do ambiente ruminal foram avaliadas pela determinação dos
teores de pH e nitrogênio amoniacal (N-NH3) no líquido ruminal dos
carneiros aos 30 minutos, 1, 2, 3, 5, 7 e 9 horas após o fornecimento
da refeição, no primeiro e terceiro dia do período experimental.
Ajustaram-se os dados de desaparecimento dos componentes nutricionais
por regressão não linear por meio do seguinte modelo proposto por
SAMPAIO (1988): p = A - B e-ct, em que: p = porcentagem de degradação
após um tempo (t) de incubação no rúmen; A = degradabilidade potencial;
B = parâmetro sem valor biológico; c = taxa de degradação da fração
potencialmente degradável (B1). Calculou-se a fração B1 pela subtração
da fração solúvel (S) da degradabilidade potencial (A – S).
As degradabilidades efetivas (DE) foram calculadas utilizando-se o seguinte modelo proposto por ØRSKOV & McDONALD (1979):
DE = S + [(B1 * c)/(c + K)], em que: K = taxa fracional de passagem dos
sólidos no rúmen. E os demais parâmetros foram os mesmos descritos
anteriormente. Os valores de k utilizados para o cálculo da DE foram de
2,0, 5,0 e 8,0%/h, de modo a caracterizar animais com baixo, médio e
alto consumo, respectivamente (ARC, 1984).
Utilizou-se um delineamento experimental de blocos ao acaso, em esquema
de parcelas subdivididas, em que os animais representaram os blocos, as
silagens as parcelas e os tempos de incubação as subparcelas, conforme
o seguinte modelo estatístico:
Y
ijk = μ + B
i + E
j + BE
ij + T
k + ET
jk + e
ijk; em que: B
i = efeito do bloco i, i = 1, 2, 3, 4; E
j = efeito do genótipo j, j = 1, 2, 3; BE
ij = efeito da interação bloco vs genótipo (erro a); T
k = efeito do tempo de fermentação; k, k = 6, 12, 24, 48, 72, 96; E
tjk = efeito da interação genótipo vs tempo de fermentação; e
ijk = erro tipo b.
Realizaram-se a análise de variância e as equações de regressão para os
desaparecimentos dos componentes nutricionais por meio do programa
Sistema para Análises Estatísticas e Genéticas (SAEG 8.0) (RIBEIRO
JÚNIOR, 2001). As médias foram comparadas empregando-se o teste
Student-Newman-Keuls (SNK) a 5% de significância.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Parâmetros ruminais
Na
Tabela 2 são descritos os valores de pH e nitrogênio amoniacal em mg% do líquido ruminal dos animais experimentais.
O valor médio de pH foi de 6,47, variando de 6,35 após 7 horas a 6,62
após 1 hora do fornecimento da dieta. Esses valores encontram-se numa
faixa que permite um bom desenvolvimento microbiano. Segundo HOBSON
& STEWARD (1997), valores de pH entre 6,0 e 7,0 permitem a presença
de todos os componentes da biomassa microbiana no rúmen (bactérias,
principalmente as celulolíticas, protozoários e fungos) e ótima ação
das enzimas microbianas (LINDBERG, 1985). Os teores médios de
nitrogênio amoniacal oscilaram de 5,95 mg% após nove horas de
fornecimento da dieta até 15,56 mg% uma hora após a refeição. O valor
médio obtido foi de 10,02 mg%, possibilitando uma adequada fermentação
microbiana no rúmen. Segundo VAN SOEST (1994), a concentração mínima
para garantir um processo fermentativo ruminal adequado situa-se por
volta de 10 mg%. Já SATTER & SLYTER (1974) concluíram que 5,0 mg
amônia por 100 mL de fluido ruminal são suficientes para o máximo
crescimento microbiano.
Portanto, com base nos valores de pH e nitrogênio amoniacal observados
no líquido ruminal dos animais utilizados no presente ensaio, pode-se
inferir que as condições ruminais não foram limitantes à fermentação
dos substratos avaliados.
Degradabilidade da matéria seca (MS)
Conforme observado na
Tabela 3,
as silagens avaliadas não diferiram (P>0,05) quanto à
degradabilidade da MS até o período 24 horas de incubação. Após 48
horas, a degradabilidade da MS da silagem do genótipo BRS-1501 foi
superior (P<0,05) à verificada para a silagem do NPM-1. No entanto,
não diferiu significativamente da silagem do CMS-3. Nos períodos de 72
e 96 horas ocorreu uma mudança no comportamento da resposta, em que a
silagem do genótipo CMS-3 passou a ser estatisticamente diferente à do
BRS-1501, porém semelhante (P>0,05) à silagem do NPM-1, que não
apresentou diferença em relação à do BRS-1501. Essa inversão pode ter
sido causada em função das diferenças na estrutura da parede celular
dos genótipos avaliados, principalmente na celulose. Isto porque, com o
avanço do processo de degradação, as proporções dos carboidratos
degradáveis (mono e dissacarídeos, pectina, hemiceluloses não
lignificadas) diminuem e a sua relação com a celulose também,
deixando-a menos cristalina (degradável) (GALLAGHER
et al., 1989).
O efeito do período de fermentação em horas (x) sobre o desaparecimento
da matéria seca (DMS) das silagens de milheto foi descrito pelas
seguintes equações de regressão:
DMS (%) BRS-1501 = -0,0035x2 + 0,6788x + 29,979 (R² = 0,97, P<0,001)
DMS (%) NPM-1 = -0,0021x2 + 0,5043x + 32,185 (R² = 0,96, P<0,001)
DMS (%) CMS-3 = -0,0031x2 + 0,5848x + 32,165 (R² = 0,96, P<0,001).
Os elevados coeficientes de determinação (R²) demonstram que o modelo
quadrático se ajustou adequadamente às curvas de degradação,
evidenciando diferenças significativas ao longo dos períodos de
fermentação (P<0,001).
AMARAL (2003), avaliando silagens de três genótipos de milheto
confeccionadas em duas idades de corte (70 e 90 dias), observou que em
todos os materiais houve tendência de maiores valores de
desaparecimento da matéria seca próximos às 48 horas de incubação,
embora, ao longo do tempo, ainda estivesse ocorrendo degradação do
material. Os valores médios de degradabilidades da MS das silagens de
milheto nos períodos de 6 e 24 horas de fermentação foram similares aos
obtidos por CARNEIRO
et al.
(2002) para silagens de sorgo (35,3%, 42,8%) e de girassol (30,3%,
43,9%). No entanto, comparando com o mesmo trabalho, as silagens de
milheto apresentaram menores degradabilidades nos períodos de 48, 72 e
96 horas, verificando-se degradabilidades de 63,0%, 75,4%, 84,6% para
silagem de sorgo, e, 62,3%, 65,8%, 66,4% para silagem de girassol,
respectivamente.
Os parâmetros de degradação ruminal das silagens encontram-se na
Tabela 4.
A maior degradabilidade potencial (A) foi obtida para a silagem do
genótipo NPM-1, sendo seguida pelas silagens dos genótipos BRS-1501 e
CMS-3. Quanto às concentrações das frações solúveis (S), as silagens
avaliadas apresentaram valores variando de 26,2% para o BRS-1501 a
28,5% para o CMS-3. Para as frações degradáveis (B1), as silagem do
BRS-1501 e do NPM-1 apresentaram valores próximos e maiores que a
silagem do CMS-3. Com relação às taxas de degradação (c), maiores
valores foram observados para os genótipos CMS-3 e BRS-1501. A silagem
do genótipo NPM-1 apresentou uma baixa taxa de degradação (1,58%/h),
indicando que esse material necessita de mais tempo dentro do rúmen
para que o seu potencial máximo de degradação seja atingido.
Segundo BORGES (1997), as forragens mais digestíveis apresentam valores
altos de “A”, mas necessitam também de altos valores de “c”, para que
alcancem o potencial máximo de degradação em menor tempo. Para SAMPAIO
(1988), os parâmetros A e c são os principais na qualificação de uma
forragem. Um elevado valor de “A” indica um material muito degradável,
ao passo que maior valor de “c” implica menor tempo para o
desaparecimento da fração potencialmente degradável, sendo que
forragens de boa qualidade devem apresentar taxas de degradação
superiores a 2%/h. No presente ensaio, isso foi verificado somente para
as silagens dos genótipos BRS-1501 e CMS-3. AMARAL (2003), avaliando a
degradabilidade ruminal da matéria seca das silagens de três genótipos
de milheto (BRS-1501, BN-1 e Comum) em duas idades de corte (70 e 90
dias), verificou valores maiores para taxas de degradação (3,3% a
3,6%/hora), menores para fração solúvel (10,88% a 15,53%) e valores
similares para fração degradável (39,32% a 41,42%), quando comparados
aos teores médios obtidos no presente experimento. Já SARTI
et al.
(2005) verificaram, para silagem de milho confeccionada com
aproximadamente 90 dias de idade, 79,1% para a fração A, 39,2% para a
fração S, 42,7% para a fração B1 e 3%h de taxa de degradação.
As degradabilidades efetivas (DE) para as taxas de passagem de 2,0%/h,
5,0%/h e 8,0%/h foram de 48,5%, 39,6% e 35,8% para o BRS-1501, 46,3%,
38,1% e 35,0% para o NPM-1 e 47,8%, 40,2% e 36,9% para o CMS-3. Os
valores de DE obtidos para taxa de passagem de 5%/h, característica de
animais de nível médio de produção (ARC, 1984), foram superiores aos
obtidos por AMARAL (2003) para silagens de milheto confeccionadas aos
70 (29,85%) e 90 (26,26%) dias de idade da cultura. Teores superiores
de DE foram verificados por CARNEIRO
et al.
(2002), cujas degradabilidades efetivas foram de 62,3% para silagem de
milho, 57,5% para silagem sorgo e 55,1% para silagem de girassol para a
mesma taxa de passagem. Para a mesma taxa de passagem, valores mais
elevados foram obtidos por PEREIRA (2003) em estudo de silagens de
girassol ensiladas aos 100 (76,48%), 107 (73,59%), 114 (70,48%) e 121
(68,16%) dias. Esses resultados sugerem um melhor valor nutritivo
dessas silagens quando comparadas às silagens de milheto avaliadas. As
diferenças observadas entre silagens de milheto e de outras culturas
podem ser atribuídas a diversos fatores, como cultura e variedades
avaliadas, manejo de corte para ensilagem, condições de clima e de solo
onde os materiais foram cultivados, manejo no estabelecimento, dentre
outros. Tais fontes de variação podem alterar significativamente as
proporções dos nutrientes nas plantas e, por consequência, os
parâmetros de cinética de fermentação ruminal e degradabilidades
efetivas.
Degradabilidade da proteína bruta (PB)
Quanto aos valores de desaparecimento médio da proteína bruta (
Tabela 5),
a silagem do genótipo CMS-3 foi a que apresentou maiores valores
(P<0,05) nos períodos de 6 e 12 horas. A silagem do genótipo
BRS-1501, por sua vez, apresentou valores superiores (P<0,05) à do
NPM-1 nesses mesmos períodos. Às 24 e 48 horas, as silagens dos
genótipos CMS-3 e BRS-1501 apresentaram valores semelhantes (P>0,05)
e maiores do que os verificados para a silagem do NPM-1 (P<0,05).
Nos períodos finais de fermentação (72 e 96 horas), a silagem do
genótipo BRS-1501 apresentou maiores valores de desaparecimento médio
da PB, a silagem do NPM -1 os menores e a do CMS-3 valores
intermediários (P<0,05). O desaparecimento médio da PB das silagens
de milheto às 96 horas foi próximo ao obtido por CAMPOS
et al. (2003a) em estudo de silagens de quatro genótipos de sorgo, cujo valor foi 79,4%.
O efeito do período de fermentação em horas (x) sobre o desaparecimento
da proteína bruta (DPB) das silagens de milheto foi descrito pelas
seguintes equações de regressão:
DPB (%) BRS-1501 = - 0,0008x2 + 0,1994x + 67,898 (R² = 0,93, P<0,001)
DPB (%) NPM-1 = - 0,0006x2 + 0,1513x + 66,1 (R² = 0,84, P<0,001)
DPB (%) CMS-3 = - 0,0009x2 + 0,1698x + 69,741 (R² = 0,85, P<0,001).
As equações polinomiais de segunda ordem descreveram adequadamente as
curvas de degradação da PB, sendo verificadas diferenças significativas
(P<0,001) ao longo dos períodos de fermentação.
Os parâmetros de cinética da degradação da PB são demonstrados na
Tabela 6.
O maior potencial de degradação da PB foi observado para a silagem do
genótipo BRS-1501, sendo seguida pelo CMS-3 e NPM-1. Isso não foi
verificado para as as concetrações da fração solúvel da PB e taxas de
degradação, em que o CMS-3 se destacou entre os demais, apresentando
valores de 74,4% e 2,08%/h, respectivamente. Esse resultado mostra que
a fração proteica da silagem do genótipo CMS-3 é mais rapidamente
disponibilizada para o animal, quando comparada às demais silagens. Com
relação às frações potencialmente degradáveis, o BRS-1501 se destacou,
com valor de 15,1%, comparado com o NPM-1 (10,0%) e CMS-3 (5,2%).
PEREIRA (2003), em avaliação das silagens de girassol colhidas em
quatro diferentes épocas de corte (100, 107, 114 e 121 dias após o
plantio), obtiveram valores de “A” variando entre 87,0% e 89,3% e “c”
de 6%/h. Já TOMICH
et al.
(2004), estudando a degradabilidade da proteína bruta para o sorgo,
capim-sudão e capim-elefante Napier, obteve potenciais de degradação da
PB variando entre 87,4% a 96,5% e taxas de degradação da proteína entre
1,46% e 5,55%. GIMENES
et al.
(2006) verificaram potenciais de degradação da PB variando de 74,15% a
78,81% e taxas de degradação dessa fração entre 1,73% a 3,01%,
estudando silagens de milho confeccionadas com inoculantes bacteriano
e/ou enzimático. Os valores de “B1” e “S” para as silagens de milheto
avaliadas no presente experimento foram inversos, quando comparados com
os experimentos de PEREIRA (2003) e TOMICH
et al.
(2004), cujos valores da fração degradável foram sempre menores do que
a fração solúvel, em função da menor solubilidade da PB.
No caso das silagens de milheto, a alta solubilidade da fração proteica
das silagens demonstra que grande parte desse nutriente é
disponibilizada rapidamente para os animais. De acordo com o NRC
(2001), a sincronização nas disponibilidades de nitrogênio e de energia
favorece a utilização dos compostos nitrogenados da dieta e o maior
suprimento de proteína microbiana pós-rúmen.
Portanto, em dietas de ruminantes em que a silagem de milheto constitui
a base volumosa, a utilização de fontes de energia de rápida
degradabilidade ruminal é indicada para maximizar o crescimento
microbiano e favorecer a produtividade do animal. Tal informação é
importante para os nutricionistas, quando da formulação de dietas ou
misturas múltiplas em que a base volumosa é a silagem de milheto.
Quanto ao valor proteico, a silagem do genótipo CMS-3 foi superior às
demais, pois apresentou maiores DE, influenciada pelo aumento da taxa
de passagem, provavelmente, em função das maiores concentrações de
fração solúvel e taxa de degradação desse material. Os valores de
DE obtidos no presente experimento foram inferiores aos
encontrados por PEREIRA (2003), em avaliação de silagens de
girassol, e superiores aos determinados por TOMICH (2003), para as
plantas de sorgo, capim-sudão, cana-de-açúcar e capim-elefante Napier,
e aos valores encontrados por POSSETI
et al. (2005), em avaliação das silagens de milho e girassol, considerando as mesmas taxas de passagem (2,%h, 5%/h, 8%h).
Fibra em detergente neutro (FDN)
Os desaparecimentos médios da FDN das silagens dos genótipos de milheto são apresentados na
Tabela 7.
Durante os períodos de 6 e 12 horas de incubação, as silagens dos
genótipos de milheto não diferiram entre si (P>0,05). No entanto, a
partir de 24 horas, diferenças estatísticas foram verificadas. Nesse
período, a silagem do NPM-1 foi a que apresentou menor degradabilidade
da fração fibrosa, diferindo (P<0,05) do BRS-1501 e CMS-3, que foram
semelhantes entre si (P>0,05). Às 48h, o valor de desaparecimento da
FDN da silagem do genótipo NPM-1 igualou-se estatisticamente à do
CMS-3, porém foi menor (P<0,05) que a do BRS-1501. A partir das 72
horas, a silagem do genótipo BRS-1501 apresentou as maiores
degradabilidades da fração FDN (P<0,05), quando comparada à do NPM-1
e CMS-3, que foram semelhantes estatisticamente entre si.
Os valores de desaparecimento da FDN em silagens de milho, sorgo e
girassol no período de 96 horas foram, respectivamente, 81,5%, 73,2% e
40,7% (CARNEIRO
et al.,
2002). Os menores valores de degradabilidade da FDN em silagens de
milheto podem ser justificados pelos teores elevados de FDN nas
silagens, decorrentes da idade em que a planta foi colhida.
As avaliações de desaparecimento da FDN (DFDN) para um mesmo genótipo
nos diferentes períodos de incubação (x) podem ser descritas pelas
seguintes equações de regressão:
DFDN (%) BRS-1501 = - 0,0048x2 + 0,9418x - 0,3087 (R² = 0,98, P<0,001)
DFDN (%) NPM-1 = - 0,0028x2 + 0,6967x + 0,6215 (R² = 0,96, P<0,001)
DFDN (%) CMS-3 = - 0,0041x2 + 0,7977x + 2,8272 (R² = 0,96, P<0,001).
Os elevados coeficientes de determinação (R²) demonstram que o modelo
quadrático descreveu adequadamente as curvas de degradação,
evidenciando diferenças significativas ao longo dos períodos de
fermentação (P<0,001).
Os potenciais de degradação, as taxas de degradação, frações
degradáveis, os tempos de colonização e as degradabilidades efetivas da
FDN são apresentados na
Tabela 8.
Os potenciais de degradação variaram de 57,6% para a silagem do
genótipo NPM-1 a 46,6% para a silagem do CMS-3. Quanto às taxas de
degradação, as silagens dos genótipos BRS-1501 (2,32%/h) e CMS-3
(2,39%/h) apresentaram valores superiores ao verificado para silagem do
NPM-1 (1,38%/h). A menor taxa de degradação da silagem desse material
pode ser atribuída a características físicas e estruturais da sua
parede celular, capazes de dificultar o acesso microbiano a essa fração
e, consequentemente, sua digestão (VAN SOEST, 1994). Os valores
encontrados para o parâmetro A foram iguais aos verificados para a
fração B1, uma vez que as frações FDN das silagens de milheto não
apresentaram solubilidade em água.
As degradabilidades efetivas para as silagens de milheto nas taxas de
passagem de 2, 5 e 8%/h foram baixas quando comparadas às verificadas
em silagens de outras culturas. Os valores de DE para a silagem do
BRS-1501 foram de 28,1%, 16,6% e 11,7%; 25,4%, 15,1% e 10,5% para o
CMS-3, e 23,5%, 12,5% e 8,5% para o NPM-1, respectivamente, para as
taxas de 2%h, 5%h e 8%/hora. CAMPOS
et al.
(2003b) encontraram valores de DE variando de 30,3% a 39,1% para uma
taxa de 2%/h, 17,1%h a 29,4% para uma taxa de 5%/h e de 12,0%h a
25,7%/h para uma taxa de 8%/h em silagens de quarto genótipos de
sorgo. Os baixos valores para DE da FDN em todas as silagens avaliadas
sugerem que a planta deve ser ensilada mais nova.
CONCLUSÕES
A proteína bruta das silagens de milheto apresentou elevada solubilidade e a fração fibrosa baixa degradabilidade.
A silagem do genótipo CMS-3 foi a de melhor qualidade da fração proteica.
Do ponto de vista nutricional, as silagens dos genótipos BRS-1501 e CMS-3 foram superiores à do NPM-1.
REFERÊNCIAS
AGRICULTURAL RESEARCH
COUNCIL - ARC. The nutrient requirements of ruminant livestock. sppl. 1.
Slough: Commonwealth Agricultural Bureaux, 1984. 45 p.
ALMEIDA, E. X.; TCACENCO, F.
A.; STUCKER, H.; GROSS, C. D. Avaliação de cultivares de sorgo, milho, milheto
e teosinto para o vale do Itajaí. Agropecuária Catarinense, v. 6,
n. 3, p. 25-29, 1993.
AMARAL, P. N. C. Silagem
e rolão de milheto em diferentes idades de corte. 2003. 78 f.
Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Universidade Federal de Lavras, Lavras,
MG, 2003.
AMARAL, P. N. C.;
EVANGELISTA, A. R.; SALVADOR, F. M.; PINTO, J. C. Qualidade e valor nutritivo
da silagem de três cultivares de milheto. Ciência Agrotécnica, v. 32, n.
2, p. 611-617, 2008.
ASSOCIATION OF OFFICIAL
ANALYTICAL CHEMISTS – AOAC. Official methods of analysis. 16. ed.
Washington: AOAC, 1995. 2000 p.
BORGES, I. Influência da
dieta na degradabilidade in situ do caroço de algodão integral, e do
bagaço de cana-de-açúcar auto-hidrolisado, na dinâmica da fermentação ruminal e
na cinética sangüínea de ovinos. 130 f. Tese (Doutorado em Ciência Animal)
– UFMG, Belo Horizonte, 1997. Disponível em:
<http://servicos.capes.gov.br/capesdw/resumo.html?idtese=19972332001010042P5>
CAMPOS, W. E. ; SATURNINO,
H. M.; SOUZA, B. M.; BORGES, I. Degradabilidade in situ da silagem de
quatro genótipos doe sorgo com e sem tanino. I - Matéria seca e proteína bruta.
Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 55, n. 2, p.
209-215, 2003a.
CAMPOS, W. E. ; SATURNINO,
H. M.; SOUZA, B. M.; GONÇALVES, L. C.; BORGES, I.; RODRIGUES, J. A. S.;
CARVALHO, A. U.; FERREIRA, P. M. Degradabilidade in situ da silagem de
quatro genótipos doe sorgo com e sem tanino. II - Fibra detergente neutro,
fibra detergente ácido, hemicelulose e celulose. Arquivo Brasileiro de
Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 55, n. 4, p. 450-453, 2003b.
CARNEIRO,
J. C.; OLIVEIRA, E.; SILVA, J. O.; VIANA, A. C.; FERREIRA, J.; BORDONI, C.
Avaliação da degradabilidade in situ da matéria seca e da fibra em
detergente neutro de silagens de milho (Zea mays), sorgo (Sorghum
bicolor) e girassol (Helianthus annuus) In: REUNIÃO ANUAL DA
SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 39., 2002, Recife. Anais...
Recife: SBZ, 2002. CD-ROM. Disponível em: <http://www.sbz.org.br/cds/SBZ2002.rar>
GALLAGHER, I. M.; FRAZER,
M. A.; EVANS, C. S.; ATKEY, P. T.; WOOD, D. A. Ultrastructural
localization of lignocellulose degrading enzymes. In: LEWIS, N. G.; PAICE, M.
G. (Ed.). Plant cell wall polymers: biogenesis and biodegradation. 1.
ed. Washington: American Chemical Society, 1989. p. 426-453.
GIMENES, A. L. G.; MIZUBUTI,
I. Y.; MOREIRA, F. B.; PEREIRA, E. S.; RIBEIRO, E. L. A.; MORI, R. M.
Degradabilidade in situ de silagens de milho confeccionadas com
inoculantes bacteriano e/ou enzimático. Acta Scientiarum Animal Sciences,
v. 28, n. 1, p. 11-16, 2006.
GUIMARÃES
Jr., R. Potencial forrageiro, perfil de fermentação e qualidade das silagens
de três genótipos de milheto [Pennisetum glaucum (L). R. Br.].
2003. 44 f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) – Escola de Veterinária,
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, 2003. Disponível em:
<http://servicos.capes.gov.br/capesdw/resumo.html?idtese=200317232001010029P9>
HOBSON, P. N.; STEWART, C.
S. The rumen microbial ecosystem. 1. ed. London: Blackie Academic and
Professional, 1997. 340 p.
LINDBERG, J. E. Estimation
of rumen degradability of feed proteins with the in sacco technique and
various in vitro methods: a review. Acta Agriculturae Scandinavica, suppl.
25, p. 65-97, 1985.
NATIONAL RESEARCH COUNCIL –
NRC. Nutrient requirements of dairy cattle. 7. ed. Washington: National
Academy Press, 2001. 362 p.
ØRSKOV, E. R.; HOVELL, F. D.
B.; MOULD, F. The use of the nylon bag technique for evaluation of feedstuffs. Tropical
Animal Production, v. 5, p. 195-213, 1980.
ØRSKOV, E. R.; McDONALD, J.
The estimation of protein degradability in the rumen from incubation
measurements of feed in weighted according to rate of passage. Journal of
Agricultural Science, v. 92, n. 2,
p. 499-503, 1979.
PEREIRA, L. G. R. Potencial forrageiro da cultura do girassol
(Helianthus annuus L.) para a produção de silagem. 2003, 134 f. Dissertação
(Doutorado em Ciência Animal) – Belo Horizonte, Escola de Veterinária da UFMG,
2003. Disponível em:
<http://servicos.capes.gov.br/capesdw/resumo.html?idtese=200315632001010042P5>
POSSETI, R. A.; FERRARI JR.
E.; BUENO, M. S.; BIANCHINI, D.; LEINZ, F. F.; RODRIGUES, C. F. Parâmetros bromatológicos e fermentativos das
silagens de milho e girassol. Ciência Rural, v. 35, n. 5, p. 1185-1189,
2005.
RIBEIRO JÚNIOR, J. I. Análises
estatísticas no SAEG. Viçosa: UFV, 2001. 301 p.
SAMPAIO, I. B. M. Experimental
designs and modelling techniques in the study of roughage degradation in rumen
and growth of ruminants. 1988. 214 f. Tese (Doutorado em Fisiologia) –
Reading, Univesity of Reading, 1988. Disponível em:
<http://servicos.capes.gov.br/capesdw/resumo.html?idtese=19881832001010029P9>
SARTI, L. L.; JOBIM, C. C.;
BRANCO, A. F.; JACOBS, F. Degradação ruminal da matéria seca, da proteína bruta
e da fração fibra de silagens de milho e de capim-elefante. Ciência Animal
Brasileira, v. 6, n. 1, p. 1-10, 2005.
SATTER, L. D.; SLYTER, L. L.
Effect of ammonia concentration on rumen microbial protein production in
vitro. British Journal of Nutrition, v. 32, n. 7, p. 199-205, 1974.
THIAGO, L. R. L. S.
Utilização da técnica de degradabilidade in situ para avaliação de
forragens e alimentos concentrados. In: SIMPÓSIO INTERNCIONAL DE PRODUÇÃO DE
RUMINANTES, 1994, Maringá. Anais... Maringá: EDUEM, 1994. p. 89-93.
TOMICH, T. R.; RODRIGUES, J.
A. S.; TOMICH, R. G. P.; GONÇALVES, L. C.; BORGES, I. Potencial forrageiro de
híbridos de sorgo com capim-sudão. Arquivo Brasileiro de Medicina
Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v. 56, n. 2, p. 258-263, 2004.
VAN SOEST, P. J. Nutritional
ecology of the ruminant. 2. ed. Ithaca: Cornell University Press, 1994. 476
p.
VAN SOEST, P. J.; ROBERTSON,
J. B.; LEWIS, B. A. Methods for dietary fiber, neutral detergent, and nonstarch
polysaccharides in relation to animal nutrition. Journal of Dairy Science,
v. 74, n. 10, p. 3583-3597, 1991.
Protocolado em: 28 set. 2009.
Aceito em: 23 mar. 2010.