VARIAÇÕES PLASMÁTICAS DE AMINAS VASOATIVAS EM EQUINOS SOB EFEITO DE
SOBRECARGA DE CARBOIDRATOS E ANTI-INFLAMATÓRIOS NÃO ESTEROIDAIS
Renata Sampaio
Costa1, Paulo de Tarso Landgraf Botteon2, Vany Perpétua
Ferraz3, Fabíola de Oliveira Paes Leme4, Rafael Resende
Faleiros5, Geraldo Eleno Silveira Alves5
RESUMO
Vinte
equinos foram submetidos à sobrecarga de carboidratos (SC) e as variações
plasmáticas das concentrações de serotonina (5-HT), putrescina (PUT) e
cadaverina (CAD) foram determinadas por cromatografia gasosa. Após 36h da SC,
os animais foram divididos em quatro grupos (n=5) e receberam, a cada 12h, por
via intravenosa: solução salina 10mL (GC), cetoprofeno 2,2mg/kg (GK),
fenilbutazona 4,4 mg/kg (GF) e flunixina meglumina 1,1 mg/kg (GFM).
Amostras de sangue foram coletadas em intervalos regulares após a SC (0 -
72h). Às 6h após a SC observou-se um
pico nas concentrações de 5-HT, com rápido retorno a valores abaixo dos basais.
Não foram observadas variações nas concentrações de PUT; contudo, as
concentrações de CAD se elevaram às 6h, assim permanecendo (com algumas
variações) até o final do experimento. Conclui-se que a SC induz aumentos
precoces (6h) nas concentrações plasmáticas de 5-HT e CAD. As concentrações
plasmáticas das aminas estudadas não foram alteradas por nenhum dos tratamentos
empregados.
PALAVRAS
CHAVES: aminas vasoativas; anti-inflamatórios não esteroidais; equinos.
PLASMATIC VARIATION OF VASOACTIVE
AMINES IN HORSES UNDER EFFECT OF CARBOHYDRATE OVERLOAD AND NON-STEROIDAL
ANTIINFLAMMATORIES
ABSTRACT
Twenty horses were submitted
to carbohydrate overload (CO) and plasmatic concentrations of the bioactive
amine serotonin (5-HT), putrescin (PUT) and cadaverin (CAD) were determined by
gas chromatography. After 36h of carbohydrate overloading, horses were randomly
distributed into four groups (n=5) and were submitted to four intravenous
treatments every 12 hours. The treatments were as follows: 10ml of saline (GC),
ketoprofen 2.2mg/kg (GK), phenylbutazone 4.4mg/kg (GF), and flunixin meglumine
1.1mg/kg (GFM). Blood samples were collected at regular intervals (0-72h) after
the CO. After 6h, there were peaks in the concentrations of 5-HT, which rapidly
returned to values above the basal standard. No variations of PUT concentrations
were observed; however CAD concentrations increased at 6h, remaining elevated
(with some variation) until the end of the observation period. In conclusion,
CO induced early (6h) increases in plasmatic concentrations of 5-HT and CAD.
Plasmatic concentrations of the amines were not changed by any of the
treatments used.
KEYWORDS: equine; NSAIDs; vasoactives amines.
INTRODUÇÃO
Quando há fornecimento de
quantidades elevadas de substrato fermentável, os microorganismos
Gram-positivos no ceco proliferam-se e produzem ácido lático (GARNER et al.,
1978). A descarboxilação dos aminoácidos resulta em pH baixo, logo, há aumento
da produção de aminas (BEARSON et al., 1997). Algumas aminas produzidas pelas
bactérias podem induzir vasoconstrição devido às suas semelhanças estruturais
com aminas endógenas vasoconstritoras, como as catecolaminas (RANG & DALE,
1991). A laminite aguda tem sido associada a alterações na digestão
fermentativa no ceco, o que resulta em produção de substâncias vasoativas que
afetam a circulação digital (GARNER et al., 1978).
As aminas bioativas (BA) são bases orgânicas
alifáticas (putrescina, cadaverina, espermina, espermidina), alicíclicas
(tiramina, feniletilamina) ou heterocíclicas (histamina, triptamina) (SILLA SANTOS, 1996).
Triptamina, tiramina e
feniletilamina causam vasoconstrição em artérias e veias digitais in vitro,
devido à estimulação de receptores de serotonina, liberação de noradrenalina ou
pela liberação de serotonina das plaquetas (BAILEY et al., 2000; BAILEY et al.,
2001). A triptamina é considerada a mais potente amina produzida no ceco,
causando vasoconstrição, tanto in vitro
quanto in vivo, por ativar,
diretamente, os receptores de serotonina, com uma evidente seletividade pelas
veias dos dígitos (ELLIOTT et al.,2003).
Estudos prévios demonstraram aumento de triptamina, tiramina e
feniletilamina em animais submetidos à sobrecarga de carboidratos para indução
de laminite (BOTTEON et al. 2008).
Não se conhecem exatamente as
funções da putrescina e cadaverina. Contudo, sabe-se que tais aminas estão
presentes em concentrações elevadas nas células com alto metabolismo e
renovação celular (LIMA & GLORIA, 1999).
Este trabalho visou analisar as variações
plasmáticas das aminas serotonina (5-HT), putrescina (PUT) e cadaverina (CAD)
em equinos sob efeito de sobrecarga de carboidratos e o efeito terapêutico dos
anti-inflamatórios não esteroidais, cetoprofeno, fenilbutazona e flunixina
meglumina, iniciados 36h após a indução da sobrecarga.
MATERIAL E MÉTODOS
Os animais foram divididos,
aleatoriamente, em quatro grupos experimentais (n=5) e, 36h após receberem a
SC, receberam, a cada 12h por via intravenosa e de acordo com o grupo, 10ml de
solução salina[4] (GC); 2,2mg/kg de
cetoprofeno[5] (GK); 4,4mg/kg fenilbutazona[6] (GF); e 1,1mg/kg de
flunixina meglumina[7] (GFM). A veia de
administração utilizada foi a jugular esquerda, preservando-se a direita para a
coleta das amostras de sangue em frascos a vácuo, contendo EDTA[8]. As amostras foram colhidas
antes da sobrecarga de carboidrato, 6 horas após a SC e a cada 12 horas até
completar 72 horas de avaliação, ou seja, as amostras foram colhidas nos tempos
0h, 6h, 12h, 24h, 36h, 48h, 60h e 72h.
Após jejum alimentar e
hídrico de 12h, os animais receberam amido de milho[9]
(20g/kg), segundo modificação do modelo experimental referido por WEISS et al.
(1998). Cada kg de amido foi dissolvido em um litro de água, sendo administrado
via sonda nasogástrica (11mm). Imediatamente após a administração do amido, os
animais voltaram a receber o feno.
Para a extração das aminas
vasoativas, foram utilizadas amostras com 1,5 mL de plasma e foi promovida a
precipitação de proteínas por meio da adição de 100 µl de solução de ácido
trifluoroacético[10] a 10 moL. As amostras foram então centrifugadas[11] a 12.000 rpm, por 15
minutos. Uma alíquota de 0,2 mL do
sobrenadante foi transferida para tubos criogênicos[12],
submetida à liofilização e armazenada em freezer a -20ºC. O material
liofilizado foi ressuspendido em 100 µL de solução de anidrido trifluoroacético/acetonitrila
na proporção de 1:1. Essa solução foi homogeneizada em vórtex e aquecida no
microondas[13] por 3 min. Os derivados
acilados foram secos em linha de nitrogênio e, em seguida, retomados com 50 µL
de acetonitrila marcada com padrão interno[14];
2 µL dessa solução foram colocados no cromatógrafo[15]
para análise.
As condições de operação do
cromatógrafo gasoso foram mantidas a
As concentrações obtidas de
serotonina apresentaram dispersão não normal e não foi possível a transformação
das variáveis; portanto, os dados foram analisados pelo teste de Kruskal-Wallis
com nível de significância de 5%. As médias foram submetidas a comparações
múltiplas pareadas utilizando-se o procedimento de Dunn/ Teste bilateral. Já as
concentrações de putrescina e cadaverina apresentaram dispersão normal e os
dados foram analisados pelo teste de análise de variância e as médias foram
submetidas ao teste de Tukey.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A concentração plasmática de
serotonina (5-HT) apresentou um pico no tempo 6h em todos os grupos analisados
(Tabela 1). Deve-se observar, principalmente, a 5-HT no GK, cuja concentração
no momento 6 h foi estatisticamente superior ao momento 0.
O aumento da concentração de
serotonina pode ser explicado devido à sobrecarga de carboidratos. Segundo FERNSTROM
& WURTMAN (1971), a ingestão de carboidratos acarreta aumento indireto nas
concentrações do aminoácido precursor da serotonina, o triptofano. Embora não
haja aminoácidos nos carboidratos, quando eles são ingeridos, há liberação de
insulina que causa aumento da concentração de triptofano, logo, há aumento da
produção de serotonina.
A serotonina, ou
5-Hidroxitriptamina (5-HT), é uma amina biogênica conhecida, principalmente,
por seu papel como neurotransmissor. Ela é uma molécula com diversos efeitos no
sistema nervoso central e no periférico, agindo como hormônio, neurotransmissor
etc. A 5-HT possui papel relevante na modulação da motilidade gastrointestinal
e está envolvida na manutenção do tônus vascular periférico, tônus vascular
cerebral, no funcionamento das plaquetas, tendo sido relacionada com a
fisiopatologia de desordens de humor, de comportamento, de apetite, hipertensão
etc. (KANDEL, 2001).
Segundo KANDEL (2001), depressão, manias,
ansiedade, alterações comportamentais, entre outros tipos de desordens, estão
associadas à diminuição da concentração de 5-HT disponível no SNC. Observou-se,
no presente estudo, o aumento da concentração de 5-HT.
Entretanto, pode-se pensar
nos efeitos deletérios causados pelo aumento excessivo de serotonina no
organismo. Sabe-se que a 5-HT possui papel importante na amplificação da
agregação plaquetária. Mesmo não existindo lesão no endotélio, as plaquetas
podem se aderir e promover agregação sobre o endotélio íntegro (ROSENBLUM,
1997; REININGER, et al., 1998), levando à formação de trombos, por exemplo. Em
estudo realizado por PAES LEME et al. (2006), foi observado que a ativação
plaquetária inicia-se 6h após a administração do carboidrato e que os
anti-inflamatórios não-esteroidais reduzem a ativação das plaquetas de equinos in
vivo, sendo que a flunixina meglumina apresenta os melhores resultados.
Os efeitos vasoconstrictores
da 5-HT também são relevantes. Segundo ELLIOTT et al. (2003), a serotonina pode
ser liberada pelas plaquetas ativadas, induzindo vasoconstrição em grandes
artérias, veias e vênulas. Além disso,
ela amplifica a ação de outras substâncias, como noradrenalina, histamina etc.
Aminas como a triptamina, tiramina e feniletilamina, também analisadas no
presente estudo, causam vasoconstrição em artérias e veias digitais in vitro,
pela estimulação de receptores de serotonina ou pela liberação de serotonina
das plaquetas (BAILEY et al., 2000; BAILEY et al., 2001).
Observou-se que no tempo 72h
houve diminuição significativa da concentração de PUT apenas no GC. Esse
resultado pode indicar a possível ação, ainda não esclarecida, dos
anti-inflamatórios sobre as concentrações plasmáticas dessa amina.
Quanto à cadaverina (CAD),
observou-se que as concentrações apresentaram-se instáveis durante os tempos
avaliados (Tabela 3).
Um fato interessante foi
observado ao se analisar o GC. Verificou-se que a concentração de CAD no tempo
72h retornou aos valores basais (tempo 0h) apenas no GC. Tal fato pode ser indicativo de que há
efeitos dos anti-inflamatórios não esteroidais sobre a concentração plasmática
de cadaverina. Para o esclarecimento desse achado, há necessidade de que mais
pesquisas sejam realizadas.
Na literatura consultada,
putrescina e cadaverina foram as aminas de menor citação e ainda não se
conhece, ao certo, suas funções; contudo, sabe-se que estão envolvidas no
processo de proliferação e manutenção da viabilidade celular (COHEN, 1998; LIMA
& GLORIA, 1999).
CONCLUSÃO
Conclui-se
que a sobrecarga de carboidrato induz aumentos precoces (6h) nas concentrações
plasmáticas de serotonina (5-HT) e cadaverina (CAD).
As
concentrações plasmáticas das aminas estudadas (serotonina, putrescina e
cadaverina) não foram alteradas por nenhum dos
tratamentos (cetoprofeno, fenilbutazona e flunixina meglumina).
AGRADECIMENTOS
COMITÊ DE ÉTICA E
BIOSSEGURANÇA
Protocolo de aprovação
CETEA/UFMG: nº 137/2008.
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