ADMINISTRAÇÃO
DE PROPILENOGLICOL, COBALTO E VITAMINA B12 ÀS OVELHAS E
SEUS REFLEXOS SOBRE O PERFIL ELETROFORÉTICO DAS PROTEÍNAS SÉRICAS NAS
SUAS CRIAS
Anne
Grace Silva Siqueira Campos1, José Augusto Bastos Afonso 2,
Carla Lopes de Mendonça3, Rogério Adriano dos Santos1
1Pós-graduandos da Universidade Federal Rural
de Pernambuco, Garanhuns, PE, Brasil. annegracevet@yahoo.com.br
2Médico Veterinário Doutor,
Clínica de Bovinos, Universidade Federal Rural de Pernambuco,
Garanhuns, PE, Brasil.
3Professora Doutora da
Universidade Federal Rural de Pernambuco, Garanhuns, PE, Brasil.
RESUMO
Este
trabalho foi desenvolvido com o objetivo de avaliar a influência da
administração de propilenoglicol, cobalto e vitamina B12,
sobre o perfil eletroforético das proteínas séricas nas ovelhas e
respectivas crias. O estudo foi realizado utilizando-se 18 ovelhas
prenhes que foram divididas em grupos de forma aleatória aos 30 dias
antes da data prevista para o parto, para serem fornecidos os
suplementos até o momento antecedente ao parto. Os grupos foram os
seguintes: Grupo 1 (G1/n=6) Grupo Controle; Grupo 2 (G2/n=6) Grupo
Cobalto e Vitamina B12 (em que foi fornecido 1mg de cobalto
via oral diariamente e 2 mg de vitamina B12 via
intramuscular semanalmente); e Grupo 3 (G3/n=6) Grupo Propilenoglicol
(administração de 30 mL de propilenoglicol via oral diariamente). Com
isso, pôde-se observar que as frações proteicas em sua maioria sofrem
variações com o desenvolvimento etário, em especial as proteínas totais
séricas, albumina, beta-globulina e gama-globulina e o fator
determinante para essas variações foi a ingestão do colostro. Além
disso, não houve influência da ingestão dos componentes pelas ovelhas
sobre o perfil destas variáveis nos borregos.
---------------------
ADMINISTRATION
OF PROPYLENE GLYCOL, COBALT AND VITAMIN B12 TO SHEEP AND ITS
EFFECTS ON THE ELECTROPHORETIC PROFILE OF SERUM PROTEINS OF THE LAMBS
ABSTRACT
This
work was carried out to evaluate the influence of administration of
propilene glycol, cobalt and vitamin B12, on the
electrophoretic profile of serum proteins on sheep and their offspring.
The study was conducted using 18 pregnant ewes which were randomly
divided into groups at 30 days before the date scheduled for delivery
in order to be given supplements until the date preceding the birth.
The groups were as follows: Group 1 (G1/n=6) Control Group; Group 2
(G2/n=6) Cobalt and Vitamin B12 (wich was received 1mg of
cobalt orally daily and 2mg of vitamin B12, intramuscularly
weeckly); and Group 3 (G3/n=6) Propylene Glycol (administration of 30mL
of propylene glycol orally daily). We observed that mosto f the protein
fractions vary with age development, particularly total serum protein,
albumin, beta-globulin and gamma-globulin, and the determinant factor
for these changes is colostrum intake. Furthermore, there was no
influence of intake by sheep of the components studied on the profile
of these variables in lambs.
--------------------
KEYWORDS: colostrum; electrophoresis; metabolic
profile; ovine.
INTRODUÇÃO
Apesar
do reconhecido potencial ovino para a produção de carne na região
Nordeste, ainda existem alguns fatores que são considerados limitantes
para a produção de boas matrizes. Dentre esses fatores destacam-se a
sanidade, o manejo e a nutrição, visto que tanto os excessos quanto a
carência nutricional constituem um entrave ao desenvolvimento dessa
atividade, em função dos distúrbios metabólicos que são gerados,
principalmente os observados em animais em estado gestacional avançado
(AFONSO, 2006).
Nessa
fase, um dos distúrbios mais importantes é a toxemia da prenhez, que é
consequência de um balanço energético negativo durante o período de
transição próximo ao parto (SCHUMBOHM & HARMEYER, 2003) e que se
caracteriza por hipoglicemia, cetose e acidose metabólica, com sintomas
nervosos e digestivos que culminam, frequentemente, com a morte do
animal, particularmente das fêmeas portadoras de dois ou mais fetos
(AFONSO, 2006; SCHUMBOHM & HARMEYER, 2008).
Uma
vez instalado o distúrbio, a administração de cobalto e vitaminas do
complexo B tem sido empregada como forma de auxiliar a recuperação das
pacientes, pois evita maiores complicações (AFONSO, 2006). Por outro
lado, o propilenoglicol, precursor de glicose, tem sido amplamente
utilizado como tratamento único nos casos leves ou pode ser utilizado
como suplemento para terapia mais agressiva nas pacientes severamente
doentes (FONSECA et al., 2003; NIELSEN & INGVARTSEN, 2004).
Levando
em consideração que o animal acometido pela toxemia da prenhez
apresenta diversas alterações no seu metabolismo, o conhecimento do
proteinograma dessas pacientes se faz necessário, visto que esse
procedimento tem se tornado um importante meio auxiliar de diagnóstico
e prognóstico de inúmeras doenças, quando analisado em conjunto com o
quadro clínico dos animais (JAIN, 1993).
Com
base nessa afirmativa, acredita-se que o desequilíbrio nutricional, que
acarreta o surgimento de transtornos metabólicos como a toxemia da
prenhez, possa interferir na quantidade e qualidade do colostro das
ovelhas acometidas e, com isso, possa alterar o proteinograma dos
cordeiros. Todavia, por não se ter conhecimento de relatos científicos
acerca da utilização do propilenoglicol, cobalto e vitamina B12 em
ovelhas da raça Santa Inês no terço final da gestação, com o intuito de
prevenir a toxemia da prenhez, este estudo se propoz a avaliar o
emprego desses componentes e seus reflexos sobre o perfil metabólico
das ovelhas no período final da gestação e no proteinograma das
respectivas crias.
MATERIAL E MÉTODOS
O
estudo foi efetuado de junho a dezembro de 2008, empregando-se 18
ovelhas prenhes da raça Santa Inês, oriundas da Clínica de Bovinos,
Campus Garanhuns – Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e
que se alimentavam de capim elefante (Pennisetum purpureum),
tifton (Cynodom sp), ração concentrada (aproximadamente
400g/animal/dia), sal mineral e água ad libitum.
Aproximadamente 30 dias antes da data prevista para o parto, as ovelhas
foram separadas de maneira aleatória em três grupos e as drogas foram
administradas conforme a seguir: Grupo 1 (G1/n=6):
Grupo Controle; Grupo 2 (G2/n=6): 1mg Cobalto via oral
diariamente e 2mg de Vitamina B12 (Monovin B12
– Bravet) via intramuscular semanalmente; e Grupo 3 (G3/n=6): 30 mL de
propilenoglicol (Propileno Glicol PA - Vetec) via oral
diariamente. Foram utilizados 23 borregos obtidos dos respectivos
grupos das ovelhas, G1/ n= 8, G2/n= 7 e G3/n= 8, entre machos e fêmeas,
acompanhados do nascimento até os 90 dias de idade, sendo esses animais
separados das mães, logo após o nascimento.
Durante
o experimento, os borregos foram criados sob manejo intensivo, em baias
coletivas, suspensas com piso ripado e observados clinicamente,
seguindo as recomendações de GAY (2002). No décimo dia de vida, um
concentrado (Ovinotech®) indicado para borregos e feno de tifton
fornecidos em creep- feeding foram introduzidos
gradativamente.
As
amostras foram colhidas nas ovelhas aproximadamente 30 dias e uma
semana antes da data prevista para o parto, enquanto que nos borregos,
imediatamente após o nascimento às 0h (antes da ingestão do colostro),
6h, 12h, 24h, 48h, 72h, 7 dias, 15 dias, 30 dias, 60 dias e 90 dias.
Após a coleta, a proteína total sérica (através da reação de Biureto,
segundo GORNALL et al. (1949) e o perfil eletroforético das proteínas
séricas (gel de agarose) foram determinados em ambos, ovelhas e
borregos.
A
análise estatística utilizada foi a de variância para as variáveis que
apresentaram a média como tendência central. No caso da estatística
resultar significativa (p<0,05), os contrastes entre médias foram
efetuados pelo método de Tukey. Para as variáveis não paramétricas, a
prova de Kruskal-Wallis foi realizada para amostras independentes e a
de Friedman para as amostras dependentes (CURI, 1997).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As proteínas totais séricas (g/dL) obtidas das ovelhas não
apresentaram diferenças significativas (p>0,05) entre os grupos e
nem ao longo dos momentos (Tabela 1), porém, aos 30 dias
antes do parto, os valores desta variável foram mais elevados do que o
mensurado no momento precedente.
A
concentração obtida para as proteínas totais séricas das ovelhas se
assemelhou aos resultados observados por SCHNEIDER et al. (2008), que
encontraram valores de 70,10g/L±1,40 em ovelhas. Além disso, pôde ser
verificado que, apesar da ausência de diferença significativa nos
valores da proteína total sérica das ovelhas dos diferentes grupos
experimentais, houve diminuição nos valores, em relação ao grupo, no
período que precedeu o parto. Isso está de acordo com os dados de
FEITOSA & BIRGEL (2000), que obtiveram valores médios de proteína
total sérica de 7,28g/dL, de 16 a dois dias antes do parto e 6,81g/dL,
no momento do parto, em vacas da raça Holandesa. Esses autores
constataram que os níveis de proteínas séricas de algumas vacas foram
menores nos dias que antecedem o parto, permitindo supor que há desvio
das frações proteicas do sangue para a glândula mamária, quando da
formação do colostro. Esse achado é justificado por JAIN (1993), que,
por meio de estudos realizados em vacas, ovelhas e cabras, afirma que
gestação, parto e lactação podem influenciar as concentrações de
proteína do plasma.
A
observação dessa mesma variável nos borregos não
demonstrou diferença significativa (p>0,05) entre os três grupos
experimentais antes da ingestão do colostro (Tabela 2),
porém, após esse período, observou-se elevação significativa
(P<0,05) nos índices das proteínas totais para todos os grupos
analisados, G1, G2 e G3, que alcançou os valores mais elevados de
6,71g/dL ± 1,51, 5,84g/dL ± 0,95 e 6,96g/dL ± 1,19, respectivamente às
12 horas de vida quando comparado ao momento que antecedeu a ingestão
do colostro. Entretanto, após esse período constatou-se diminuição
gradativa que se manteve estável até os últimos momentos de observação.
Segundo
KANEKO et al. (1997), logo após o nascimento dos ruminantes, os valores
da proteína apresentam-se baixos, em decorrência da quantidade mínima
de globulina e baixos níveis da albumina; no entanto, quando o animal
ingere o colostro, observa-se um aumento das proteínas, como
consequência da absorção dessas imunoglobulinas. Neste trabalho, a
redução observada dos índices da proteína total sérica, ao serem
verificados os altos valores após a ingestão do colostro, foi devida ao
catabolismo dos anticorpos adquiridos passivamente e a estabilização,
refletindo o comportamento das imunoglobulinas ao longo dos momentos
experimentais (PAULETTI et al., 2003).
A
análise dos índices da fração albumina (g/dL), obtidos das ovelhas 30
dias antes do parto e no momento que antecede o mesmo, não demonstrou
diferença significativa (P>0,05) entre os grupos estudados e nem ao
longo dos momentos (Tabela 3).
Com
relação aos valores da fração albumina das ovelhas dos diferentes
grupos experimentais, os resultados encontrados neste estudo foram
semelhantes aos observados em cabras por KANEKO et al. (1997), que
obtiveram valores de 27–39g/L, porém foram menores do que os obtidos
por SANTAROSA (2005), que encontrou valores de 37 ± 5,48g/L, para essa
mesma espécie. As possíveis causas das diferenças podem as metodologias
utilizadas pelos autores ou as diferenças genéticas, de manejo e
alimentação dos animais avaliados. Esses fatores são fontes importantes
de variações nos resultados do proteinograma (CANAVESSI et al., 2000).
Ao
serem avaliados os valores de mediana da fração
albumina (g/dL) obtidos dos borregos antes da ingestão do colostro, nos
diferentes grupos experimentais G1, G2 e G3, verificou-se que não houve
diferença significativa (p>0,05) entre os grupos e nem ao longo dos
momentos (Tabela 4). Contudo, após a
ingestão do colostro, observou-se elevação significativa (P<0,05)
nos grupos analisados, G1, G2 e G3, sendo que, em G3, o aumento foi
mais expressivo às 12 horas de vida (3,68g/dL), quando comparado com os
valores no momento que antecede a ingestão do colostro, enquanto que os
grupos G1 e G2 apresentaram os níveis de 3,44g/dL e 3,82g/dL,
respectivamente, aos 90 dias (P<0,05).
Neste
trabalho, a elevação da fração albumina do soro observada nos três
grupos dos cordeiros apresentou poucas variações no decorrer dos
momentos experimentais, sendo que esses achados são corroborados pelos
achados de KANEKO et al. (1997), que afirmaram que essa elevação se
deve ao aumento da ingestão de compostos nitrogenados da dieta, uma vez
que houve a introdução de uma dieta à base de concentrado e volumoso
(feno de tifton) a partir do 10º dia de vida, estimulando a ruminação e
o aproveitamento de componentes nitrogenados a partir do primeiro mês.
Os
valores encontrados para a fração alfa-globulina obtidos das ovelhas 30
dias antes do parto e no momento que antecede o mesmo não diferiram
significativamente (P>0,05) entre os três grupos experimentais nem
ao longo dos momentos (Tabela 5).
A
concentração dos valores médios da fração alfa-globulina das ovelhas
apresentou ampla variação dos valores, o que pode ser explicado pelo
fato de que essa fração é de difícil interpretação, devido
aos seus variados componentes e à sua possibilidade de variação em
condições fisiológicas e nas enfermidades (SIMÕES et al., 2005).
Já
nos borregos, os valores obtidos para essa concentração antes da
ingestão do colostro não apresentaram diferenças significativas
(p>0,05) entre os grupos (Tabela 6). Após esse período,
observou-se elevação não significativa (p>0,05) nos grupos G1 e G2,
que se manteve estável até os últimos momentos. Entretanto, no grupo
G3, esse aumento (0,54g/dL±0,12) foi mais expressivo e significativo
(p<0,05) às 12 horas de vida, quando comparado com os valores no
momento que antecede a ingestão do colostro.
Ao
analisar o comportamento dos grupos estudados ao longo dos momentos,
não foi observada diferença significativa entre os mesmos (p>0,05).
A
alfa-globulina foi a variável em que se notaram menores alterações após
a ingestão do colostro, sendo essa estabilidade explicada pelo fato de
que algumas proteínas de fase aguda, as quais fazem parte da fração
alfa-globulina, elevam-se apenas nos casos de infecções agudas (KANEKO
et al., 1997; COSTA et al., 2007).
Ao
serem analisados os valores médios da fração beta 1 globulina (g/dL)
obtida das ovelhas 30 dias antes do parto nos diferentes grupos
experimentais, G1, G2 e G3, não foi encontrada diferença significativa
(P>0,05) entre os grupos nem ao longo dos momentos quando comparado
ao momento que antecede o parto (Tabela 7),
estando esses dados de acordo com os observados por KEAY & DOXEY
(1984), que citam valores médios em ovelhas saudáveis de 6,1g/L ± 1,54,
obtidos também pelo método de eletroforese em gel de agarose.
Não
foi encontrada diferença significativa (P>0,05) na concentração de
beta 1 globulina (g/dL) antes da ingestão do colostro, nos diferentes
grupos experimentais, G1, G2 e G3, dos borregos (Tabela 8).
Em contrapartida, após esse período, observou-se elevação nos valores
dessa variável, que foi significativa (P<0,05) e mais expressiva aos
15 dias no grupo G2 (0,97g/dL ± 0,11), quando comparada ao momento 0h,
enquanto nos grupos G1 e G3 a beta 1 globulina foi identificada aos 30
dias, alcançando valores de 0,94g/dL ± 0,07 e 0,99g/dL ± 0,20,
respectivamente. Com isso, ao analisar o comportamento entre os grupos,
foi verificado que existiu diferença significativa (P<0,05) dos
grupos G2 e G3 com o G1 às 6h após a ingestão do colostro, quando G1
apresentou um índice inferior (0,70g/dL ± 0,13); entretanto, nos demais
momentos de avaliação, essas diferenças não foram verificadas.
Após
verificarem a elevação dos índices com a ingestão do colostro, KEAY
& DOXEY (1984) observaram valores mais baixos em cordeiros com
idade de 1 a 3 semanas (5,2g/dL ± 1,94) do que os escontrados nesta
pesquisa. Esse fato é explicado por LEAL et al. (2003) ao afirmar que
ocorrem discretas oscilações com o desenvolvimento etário, provando,
assim, a migração de algumas imunoglobulinas também nesta fração.
Com
relação aos valores médios da fração beta 2 globulina (g/dL) obtida das
ovelhas 30 dias antes do parto nos diferentes grupos experimentais, não
foi encontrada diferença significativa (p>0,05) entre os grupos (Tabela 9). Após esse período, os
valores dessa fração permaneceram estáveis no ante-parto, exceto no
grupo Propilenoglicol, em que foi verificada diminuição (0,43g/dL ±
0,05), que não foi significativa (p>0,05).
Os
índices da fração beta 2 globulina das ovelhas foram semelhantes aos
observados por KANEKO et al. (1997), que encontraram valores de 3,0 –
6,0g/L, sendo essa ampla variação nos índices explicada por SILVA et
al. (2007), que afirmaram que essa fração é de difícil interpretação
devido aos seus variados componentes e à sua possibilidade de variação
em condições fisiológicas e nas enfermidades.
Não
foi encontrada diferença significativa (P>0,05) entre os grupos nos
valores médios da fração beta 2 globulina obtida dos
borregos antes da ingestão do colostro, nos diferentes grupos
experimentais, G1, G2 e G3, (Tabela 10).
Após esse período, observou-se diferença significativa (P<0,05) nos
índices dessa fração nos grupos analisados, quando comparado ao M0h,
permanecendo os valores estáveis até os últimos dias de observação.
Esse aumento foi mais expressivo aos 15 dias de vida no grupo G2 (0,29
±0,14), enquanto que aos 30 dias de vida nos grupos G1 (0,27g/dL ±
0,05) e G3 (0,28g/dL ± 0,12).
Quanto
à elevação dos índices, após a ingestão do colostro, esses valores
permaneceram estáveis até os últimos dias de observação, estando estes
dados de acordo com a afirmação de KANEKO et al. (1997), que citam que
as betas globulinas atingem um valor de concentração sérica elevada
após a ingestão de colostro, sofrendo discretas variações com o
desenvolvimento etário. As oscilações nesses índices podem ser
justificadas pelas migrações de importantes proteínas como componentes
do complemento (C3 e C4), hemopexina, transferrina, ferritina, proteína
C reativa, amilóide A e o fibrinogênio, algumas das quais são proteínas
de fase aguda (KANEKO et al., 1997).
Da
mesma forma, não foram encontradas diferenças
significativas (P>0,05) entre os três grupos e nem ao longo dos
momentos, dos valores médios da fração gama-globulina obtidas das
ovelhas 30 dias antes do parto (Tabela 11),
porém os valores dessa fração tenderam a diminuir na fase do ante-parto
para valores de 1,74g/dL ± 0,38, 1,94g/dL ± 0,45 e 2,05g/dL ± 0,38 nos
grupos G1, G2 e G3, respectivamente.
Os
valores observados da fração gama-globulina das ovelhas, mais elevados
aos 30 dias antes do parto comparado ao período que antecede o parto,
estão de acordo com MORAES et al. (1997), que relataram diminuição dos
níveis séricos de imunoglobulinas em 81 vacas da raça Holandesa no
período compreendido entre 14 dias antes do parto até sete dias
pós-parto. Tal afirmativa é justificada por KIDDY et al. (1974) por
haver, nas últimas semanas que antecede o parto, a transferência máxima
de imunoglobulinas da corrente sanguínea para o colostro.
Nos
borregos, não foi encontrada diferença significativa (P>0,05) antes
da ingestão do colostro entre os grupos analisados neste momento (Tabela 12). Após esse período,
observou-se aumento significativo (P<0,05), que foi expressivo às 12
horas de vida nos grupos G2 e G3 (1,04g/dL ± 0,84 e 1,77/dL ± 1,10,
respectivamente), enquanto que no grupo G1 (2,32g/dL ± 1,41) esse
aumento só foi observado às 24h, quando comparado ao M0h. Após esse
aumento, constatou-se diminuição nos valores em todos os grupos, os
quais se tornaram estáveis nos últimos momentos.
Ao
analisar o efeito de momento entre os grupos, observou-se diferença
significativa (P<0,05) entre o G2, que apresentou um valor de
0,79g/dL ± 0,64, inferior aos grupos G1 e G3 (2,01g/dL e 1,17g/dL) às
48h, após a ingestão do colostro.
HALLIDAY
(1978), relata que o valor baixo dessa fração, antes da ingestão do
colostro, se deve ao tipo de a placenta presente nas ovelhas,
denominada sindesmocorial, não permitir a passagem de imunoglobulinas
(macromoléculas) da circulação materna para a fetal. Somente após o
nascimento, com a ingestão do colostro, o borrego vai receber a
proteção necessária aos primeiros momentos de vida (imunização
passiva), até que o organismo adquira a capacidade de produzir, por si
só, os anticorpos, sendo imprescindível a imunização passiva no início
da vida, por meio da absorção, pelas células intestinais das
imunoglobulinas presentes no colostro (TIZARD, 2000; SIMÕES et al.,
2005; NOWAK & POIDRON, 2006).
Após
a ingestão do colostro, o maior índice foi observado entre 12 e 24
horas nos três grupos estudados, corroborando TIZARD (2000), que afirma
que o pico dos níveis de imunoglobulinas no soro é normalmente
alcançado entre 12 e 24 horas após o nascimento. Posteriormente, esses
anticorpos adquiridos passivamente declinam por meio de processos
catabólicos normais, ocorrendo gradativamente a síntese de
imunoglobulinas após estímulos antigênicos. A taxa de redução varia
entre as diferentes classes de imunoglobulinas e o tempo necessário
para declínio a níveis não protetores depende da concentração inicial.
Ao
ser analisada a relação albumina/globulina obtida das
ovelhas 30 dias antes do parto, não foi encontrada diferença
significativa (P>0,05); entretanto, no período que antecede o parto,
observou-se discreta mas não significativa (P> 0,05) elevação desses
índices nos grupos estudados. Diante disso, apesar de haver uma
discreta elevação no momento que antecede o parto em relação aos 30
dias antes do parto, esses valores foram semelhantes ao citado por
KANEKO et al. (1997), que encontraram relação de 1,0 para essa variável
nas ovelhas. O aumento dos valores no período do ante-parto se deve à
diminuição dos valores da fração gama-globulina em relação à albumina,
em virtude da migração das imunoglobulinas para o colostro (KIDDY et
al. 1974).
A
relação albumina/globulina obtida dos borregos antes da ingestão do
colostro, nos diferentes grupos experimentais (G1, G2 e G3) não diferiu
significativamente (P>0,05) entre os grupos. Nos momentos seguintes
à ingestão do colostro foi observada uma diminuição significativa
(P<0,05) nos índices dessa relação nos grupos analisados quando
comparado com o momento M0h, alcançando os valores mais baixos no grupo
G1 (0,93 ± 0,29) às 24h, no G2 (1,45 ± 0,64) às 12h e no G3 (1,18 ±
0,39) às 48h. Após esses momentos, foi
observada elevação dos valores que se mantiveram estável até os 90 dias
de vida dos borregos. Ao analisar o efeito do comportamento entre os
grupos, constatou-se haver diferença significativa (P<0,05) do grupo
G2, que apresentou uma relação maior, com o G1 e G3 entre às 24h e 72h
após a ingestão do colostro.
Nos
borregos, os índices mais elevados e significativos (P<0,05)
observados na relação albumina/globulina do grupo G2 com os grupos G1 e
G3 entre às 24h e 72h é justificado pelos valores mais baixos da
gama-globulina nesses animais após o pico de imunoglobulinas adquiridas
depois da ingestão do colostro, como também é devido à elevação na
fração albumina nesses mesmos grupos e momentos experimentais. Uma
alteração na relação albumina/globulina geralmente é o primeiro sinal
de alteração no perfil proteico normal, estando as maiores variações
fisiológicas ocorrendo ao longo do primeiro mês de vida e sendo o
resultado da flutuação dos dois tipos de proteína (LEAL et al., 2003).
CONCLUSÕES
As
frações proteicas, em sua maioria sofrem, variações com o
desenvolvimento etário, em especial as proteínas totais séricas,
albumina, beta-globulina e gama-globulina. O fator determinante para
essas variações foi a ingestão do colostro. Além disso, não houve
influência da ingestão dos componentes pelas ovelhas sobre o perfil
dessas variáveis nos borregos
REFERÊNCIAS
AFONSO, J. A.B. Toxemia da prenhez. Jornal do Conselho Regional de Medicina Veterinária de
Pernambuco: Veterinária e Zootecnia, v.26. p.7, 2006.
CANAVESSI, A.M.O.; CHIACCHIO, S.B.; SARTORI,
R.; CURY, P. R. Valores do perfil eletroforético das proteínas séricas
de bovinos da raça Nelore (Bos Indicus) criados na
região de Botucatu, São Paulo: Influência dos fatores etários e
sexuais. Arquivos do Instituto Biológico, v.67,
p.9-17, 2000.
COSTA, J. N.; PEIXOTO, A.P.C.; KOHAYAGAWA,
A.; SOUZA, T. S. Proteinograma sérico de bezerras da raça Holandesa do
nascimento aos 150 dias de idade. Revista Brasileira de
Saúde e Produção Animal, v. 8, n.4, p.267-275,
2007.
CURI, P.R. Metodologia e análise
da pesquisa em ciências biológicas. Botucatu: Tipomic, 1997. 263p.
FEITOSA, F.L.F; BIRGEL, E.H. Variação da
concentração de imunoglobulinas G e M, de proteína total e suas frações
eletroforéticas e da atividade da gamaglutamiltransferase no soro
sangüíneo de vacas holandesas, antes e após o parto. Arquivo
Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 52, n.2,
p.111-116, 2000.
FONSECA, L.F.L.; RODRIGUES, P.H.M.; LIMA,
A.P.; LUCCI, C.S.; SANTOS, V. Suplementação de propilenoglicol para
vacas no período peri-parto: efeitos sobre incidência de cetose,
produção leiteira, score corporal e primeiro estro pós-parto. Acta Scientiarum Animal Sciences, v.25,
n.2, p. 177-183, 2003.
GAY C.C. Exame clínico de ovinos e caprinos.
In: Radostits O.M., Joe Mayhew I.G., Houston D.M. Exame
clínico e diagnóstico em veterinária. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2002. cap. 10, p. 140-148.
GORNALL, A.G.; BARDAWILL,
C.J.;DAVID, M.M. Determination of serum protein by means of biuret
reaction. Biological
Chemistry, v.177, 751-66p. 1949.
HALLIDAY R. Immmunity and health
in young lambs. Veterinary Record, v.103, p.489-492,
1978.
JAIN, N.C. Essentials of
veterinary hematology, Philadelphia: Lea & Febiger, 1993. 417p.
KANEKO, J.J.; HARVEY,J.; W.
BRUSS, M: L. Clinical Biochemistry of Domestic Animals. 5.
ed. New York: Academic Press, 1997. 932p.
KEAY, G.; DOXEY, D.L. Serum
protein values from healthy ewes and lambs of various ages determined
by agarose gel electrophoresis. British Veterinary Journal,
v.140. 85-88p. 1984.
KIDDY, C.A.; McCANN,R.;
MAXWELL,C.; ROCK, C.; PIERCE, C.; BUTLER, J. E. Changes in levels of
immunoglobulins in serum and other body fluids immediately before and
after parturition. Journal
of Dairy Science, v. 54, p.
1325-1327. 1974.
LEAL, M. L. R.; BENESI, F. J.; LISBÔA, J. A.
N.; COELHO, C. S.; MIRANDOLA, R. M. S. Proteinograma sérico de bezerras
sadias, da raça holandesa, no primeiro mês pós-nascimento. Brazilian Journal
of Veterinary Research and Animal Science, v. 40. 138-145p. 2003.
MORAES,M.P.; WEIBLEN, R.; SILVA, A.M.;
TOBIAS, F. L. Evolução da imunidade passive em fêmeas bovinas da raça
Holandesa. Ciência Rural, v. 27, p.435-440, 1997.
NIELSEN, N.I.; INGVARTSEN, K.L.
Propylene glycol for dairy cows. A review of the metabolism of
propylene glycol and its effects on physiological parameters, feed
intake, milk production and risk of ketosis. Animal Feed
Science and Technology, v.115, p.191-213, 2004.
NOWAK, R.; POINDRON, P. From
birth to colostrum: early steps leading to lamb survival. Reproduction
Nutrition Development, v. 46, n.4, p. 431-46, 2006.
PAULETTI, P.; MACHADO NETO, R.;
PACKER, I. U.; D’ARCE, R.D.; BESSI, R. Quality of colostral passive
immunity and pattern of serum protein fluctuation in newborn calves. Scientia Agricola, v.60, n.3, 453-456p, 2003.
SANTAROSA, K.T.; ROCHA E SILVA, R.C.; SILVA,
J.B.A.; SOTO-BLANCO. Valores de referência para o perfil eletroforético
de proteínas séricas em cabras. Archives of
Veterinary Science,
v. 10, n.3, p. 46-48, 2005.
SCHLUMBOHM, C.; HARMEYER, J.
Hypocalcemia reduces endogenous glucose production in hyperketonemic
sheep. Journal
of Dairy Science Association. v.86, p.1953-1962, 2003.
SCHLUMBOHM, C.; HARMEYER, J.
Twin-pregnancy increases susceptibility of ewes to hypoglycaemic stress
and pregnancy toxaemia. Research in Veterinary Science, v. 84, p.286-299, 2008.
SCHNEIDER, A.; SCHWEGLER,E.; GOULART, M.A.;
ROSS,T.B.; RABASSA, V.R.; DEL PINO, A.B.; PFEIFER,L.F.M.; CORRÊA, M.N.
Efeito do jejum e da administração de insulina sobre os parâmetros
metabólicos em ovelhas em confinamento. Acta Scientiae
Veterinarie, v. 36, n.1, p.39-42, 2008.
SILVA, D.F.M.; COSTA, J. N.; ARAÚJO, A. L.;
COSTA NETO, A.O.; ALMEIDA, M.A.O. Proteinograma
sérico de cordeiros mestiços (Santa Inês x Dorper) do nascimento até os
90 dias de idade: efeito do desenvolvimento etário e do monitoramento
da ingestão do colostro. Archives of Veterinary Science,
v.12, (Supl.). Resumo 062, p. 86-87, 2007.
SIMÕES, S. V. D.; COSTA, R. G.; SOUZA, P. M.;
MEDEIROS, A.N.; VILAR, A.L.T. Imunidade passiva, morbidade neonatal e
desempenho de cabritos em diferentes manejos de colostro. Pesquisa
Veterinária Brasileira, v.25, n.4, p. 219-224, 2005.
TIZARD, I.R. Veterinary Immunology. 6 ed. Philadelphia:W.B. Saunders Company, 2000. 482p.
Protocolado em: 14 ago. 2009. Aceito em: 02 maio 2013.