Este estudo teve como objetivo
determinar a frequência de anticorpos contra o metapneumovírus aviário
(AMPV) em criações, não vacinadas, de frangos de corte e galinhas de
quintal no polo avícola do Estado da Bahia. Coletaram-se 622 amostras
de soro de criações de frangos de corte e 268 amostras de galinhas de
quintal. A sorologia foi realizada por meio do kit comercial de ELISA
indireto. Na análise estatística utilizou-se o teste t de Student com
intervalo de confiança de 95%. Detectaram-se aves soropositivas para o
AMPV tanto nos frangos de corte (144; 23,15%) quanto nas galinhas de
quintal (187; 69,78%) (p = 0,1). Os lotes de frangos de corte tiveram
frequência de anticorpos contra o AMPV de 77,14% e as propriedades de
aves caipiras de 94,12%. No grupo de frangos de corte evidenciaram-se
anticorpos contra o vírus em 66,67% e 33,33% das aves com e sem
sintomas respiratórios, respectivamente. Já nas aves caipiras foram
encontradas frequências elevadas de soropositivas tanto nas aves com
sintomas respiratórios (60,43%) quanto naquelas sem sintomas (39,57%).
Os resultados demonstram que houve infecção pelo vírus nas criações de
frangos de corte e de galinhas de quintal, sugerindo a presença do AMPV
no polo avícola da Bahia.
PALAVRAS-CHAVES: ELISA indireto, frangos de corte, galinhas de quintal, metapneumovírus aviário.
ABSTRACT
FREQUENCY OF ANTIBODIES AGAINST AVIAN METAPNEUMOVIRUS IN CHICKEN INDUSTRIAL AND BACKYARD REARING ON BAHIA´S POULTRY POLE
This study aimed to determine the frequency of antibodies against avian
metapneumovirus (AMPV) in unvaccinated broilers and backyard chicken
reared in the Poultry Production pole of Bahia, Brazil. A total of 622
and 268 serum samples of broilers and backyard chickens were collected,
respectively. Serology was carried out using indirect ELISA and
statistical analysis was performed using Student T, with confidence
interval of 95%. Seropositive poultry were detected in 144 broilers
(23.15%) and in 187 backyard chicken (69.78%). The frequency of
antibodies against AMPV was 77.14% in flocks of broilers and 94.12% in
backyard chicken. In broilers group, antibodies were observed in 66.67%
and 33.33% of poultry with or without respiratory signs, respectively.
In backyard chicken, high frequency of the antibody was found in both
poultry with symptoms (60.43%) and in the asymptomatic ones (39.57%).
Results showed that broilers and backyard chicken had been infected by
the virus, suggesting the presence of AMPV on the Poultry Production
Pole of Bahia.
KEYWORDS: Avian metapneumovirus, backyard chicken, broilers, indirect ELISA.
INTRODUÇÃO
O metapneumovírus aviário (AMPV) vem sendo observado com maior
frequência no sistema intensivo de produção avícola e se destacando
entre os agentes respiratórios de importância para avicultura
industrial, causando perdas econômicas significantes (GAMA
et al.,
2006). É também conhecido como o vírus da rinotraqueíte infecciosa dos
perus (TRT) e em galinhas está associado à síndrome da cabeça inchada
(SCI) (NAYLOR & JONES, 1993).
O AMPV pertence à família
Paramyxoviridae, subfamília
Pneumovirinae, gênero
Metapneumovírus (NJENGA
et al.,
2003). Este vírus tem como hospedeiros naturais perus e galinhas.
Contudo, ele também já foi isolado em aves silvestres como patos
(TOQUIN
et al., 1999), faisões, pombos (GOUGH
et al., 1988), galinha d’angola (PICAULT
et al., 1987) pardais, gaivotas, gansos, andorinhas (SHIN
et al., 2002) e avestruzes (CADMAN
et al., 1994).
Os primeiros relatos da presença do AMPV ocorreram em perus e logo
subsequentemente em galinhas no final dos anos 70, na África do Sul
(BUYS & DU PREEZ, 1980; BUYS
et al.,
1989). Posteriormente, em muitos países europeus, no Japão e nos
Estados Unidos ocorreram relatos da presença do vírus (DROUIN
et al., 1985; WYETH
et al., 1987; COOK
et al., 1988; HAFEZ, 1993; TANAKA
et al., 1995; NAKAMURA
et al., 1997; COOK
et al.,
1999). No Brasil, um estudo sorológico demonstrou a presença de
anticorpos contra AMPV nas principais regiões avícolas brasileiras
(ARNS
et al., 1997). Desde
então, a alta prevalência da infecção por este agente em criações de
frangos de corte tem sido observada nestas regiões (ARNS, 2006).
O diagnóstico sorológico que vem sendo utilizado mais frequentemente
nas infecções pelo AMPV é o ensaio imunoenzimático (ELISA) (GRANT
et al., 1987).
Em plantéis de frangos de corte o AMPV é frequentemente associado à
SCI, que se caracteriza pela presença de um quadro respiratório,
inchaço do seio infraorbital e edema submandibular (SILVA
et al.,
1994). Em reprodutoras e poedeiras comerciais, a enfermidade pode
apresentar, além dos sinais respiratórios, sintomatologia nervosa como
torcicolo, opistótono e falta de coordenação; e queda na produção e
qualidade dos ovos (ARNS
et al.,
2000; RISTON, 2007). Frequentemente os quadros respiratórios são
agravados pela associação do AMPV com infecções secundárias,
principalmente por Escherichia coli (VAN DE ZANDE
et al., 2001).
Os prejuízos econômicos do AMPV sobre a produção decorrem da piora da
conversão alimentar, custo com medicamentos, redução da postura,
diminuição do ganho de peso e aumento das taxas de mortalidade e
condenação de carcaças (O’BRIEN, 1985; GAMA,
et al.,
2006). O controle do AMPV é baseado no emprego de medidas de
biosseguridade e programas de vacinação nas criações avícolas
industriais, além do uso de quimioterápicos no combate às infecções
secundárias (ARNS, 2006).
Observando-se a frequência com que frangos de corte manifestam sintomas
respiratórios e a possibilidade da ocorrência da SCI na região em
estudo, o presente trabalho teve como objetivo determinar a frequência
de anticorpos contra o AMPV em criações não vacinadas de frangos de
corte e galinhas de quintal no polo avícola do Estado da Bahia.
MATERIAL E MÉTODOS
As amostras de soro foram obtidas de criações de frangos de corte, não
vacinados, oriundas de empresas avícolas e de propriedades com criação
de galinhas de quintal, também não vacinadas, localizadas nos
municípios de Conceição da Feira, São Gonçalo dos Campos, Feira de
Santana, Muritiba, Entre Rios, Santo Antônio de Jesus, Conceição do
Coité, Santo Amaro da Purificação, Cícero Dantas, Irará, Governador
Mangabeira e Ribeira do Pombal, pertencentes ao polo avícola do Estado
da Bahia. Foram analisadas 890 amostras, sendo 622 amostras de frangos
de corte de 35 lotes, coletadas no período de maio de 2007 a março de
2009, e 268 amostras de galinhas de quintal em dezessete pequenas
propriedades de abril de 2008 a março de 2009. Foram obtidos soros de
aves de criação comercial com idade entre 30 E 60 dias de vida e de
aves caipiras com idade de quatro meses a três anos.
Coletaram-se as amostras de sangue dos frangos de corte e das galinhas
de quintal através da punção da veia braquial das aves e, após a
retração do coágulo, os soros foram transferidos para tubos tipo
eppendorf devidamente identificados e mantidos congelados a -20ºC até o
processamento.
Em cada uma das propriedades de criações comerciais e caipiras
estudadas foi preenchida uma ficha com informações sobre o histórico
clínico das aves.
Realizaram-se as análises dos soros no Laboratório de Sanidade Avícola
da Bahia (LASAB) da Escola de Medicina Veterinária (EMEV) da
Universidade Federal da Bahia (UFBA).
Os soros foram testados utilizando o teste de imunoadsorção enzimática
(ELISA indireto), através do kit comercial FlockChek* APV (Lab. IDEXX
©) para a avaliação e monitoramento da resposta humoral a partir da
detecção de anticorpos contra o AMPV. Procedeu-se à execução e
interpretação dos testes de acordo com as recomendações do fabricante.
Os resultados foram calculados e interpretados através do programa
xChek ®, em que as densidades ópticas (DO) de cada uma das amostras são
relacionadas com os controles positivos e negativos da placa utilizada,
gerando um índice denominado razão S/P (sample/positive). A razão S/P
determina o ponto de corte, ou seja, o valor de densidade óptica no
teste que determina os soros positivos e negativos. A soropositividade
é estabelecida através de um limite de titulação, sendo considerados
positivos títulos acima de 396 (OWOADE
et al., 2006).
Realizou-se a análise estatística do estudo por meio do programa SPSS
12.0. Os dados foram analisados por meio do teste t de Student. Para o
cálculo, considerou-se o intervalo de confiança de 95%.
RESULTADOS
No presente trabalho, foram encontrados anticorpos contra o
metapneumovírus aviário em 144 frangos de corte e 187 galinhas de
quintal, ambos os grupos não vacinados. Observou-se um maior percentual
de aves soropositivas em criações de galinhas de quintal (69,78%) em
relação aos frangos de corte (23,15%), p=0,1 (
Tabela 1).
Como observado na
Tabela 1,
foram obtidos nos dois grupos do estudo elevados coeficientes de
variação (CV), sugerindo que não houve uniformidade da resposta
imunológica dessas aves diante dos possíveis desafios de campo pelo
AMPV. Ainda assim, o CV do grupo de galinhas de quintal foi menor do
que o de frangos de corte, o que demonstra uma maior homogeneidade no
primeiro grupo.
Os lotes do grupo de frangos de corte tiveram uma frequência de
anticorpos contra o metapneumovírus aviário (77,14%) menor do que as
propriedades de aves caipiras (94,12%) e ambos os grupos apresentaram
uma ou mais amostras de soro positiva (
Tabela 2).
No grupo de criação industrial foram identificados anticorpos contra o
AMPV em 66,67% e 33,33% das aves com e sem relatos de sintomas
respiratórios, respectivamente. Nas cirações de galinhas de quintal
também foram observadas freqüências de títulos tanto nas aves que
apresentavam os sintomas respiratórios (60,43%) quanto naquelas com
ausência destes sintomas (39,57%) (
Figura 1).
DISCUSSÃO
Não existe no Estado da Bahia até o momento um estudo
soroepidemiológico a respeito da presença de anticorpos contra o AMPV,
embora a alta prevalência da infecção por este agente em criações de
frangos de corte já tenha sido observada nas principais regiões
avícolas brasileiras (ARNS, 2006).
Os resultados obtidos neste estudo demonstraram que a infecção pelo
metapneumovírus aviário está presente nas criações, não vacinadas,
industriais e de galinhas de quintal no polo avícola da Bahia, com uma
maior frequência nas criações caipiras do que nas criações de frangos
de corte. Este fato pode ser atribuído à diferença na faixa de idade
das aves nos grupos estudados, observando-se que as aves caipiras
permanecem por mais tempo em contato com o vírus a campo. O emprego de
medidas de biosseguridade, as boas condições de higiene e as práticas
de manejo que fazem parte da rotina das criações comerciais devem
contribuir para esse resultado (AL-ANKARI
et al.,
2004). Já nas criações de aves de fundo de quintal, a ausência de um
controle sanitário eficiente é resultante da falta de manejo efetivo da
criação, da incorporação de aves de condição sanitária desconhecida,
das condições precárias de higiene e limpeza dos abrigos, do sistema de
criação semiextensivo das aves, e da presença de aves de diferentes
idades numa mesma criação, aliada à falta de atenção oficial para esse
segmento (SALES
et al., 2007).
A presença de frangos de corte soropositivos é de 23,15% na região
estudada, o que está de acordo com dados obtidos na Inglaterra (COOK
et al., 1988) e com o estudo realizado por PERES
et al. (2006) no Estado de Mato Grosso do Sul, onde foram encontrados 18,3% de amostras positivas em frangos de corte. ARNS
et al.,
(1997) demonstraram títulos positivos para a infecção pelo AMPV em 63%
das criações, não vacinadas, de frangos de corte, matrizes pesadas e
poedeiras comerciais, pertencentes aos estados de Pernambuco, Minas
Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, através
da técnica de Elisa para o AMPV.
Já o percentual dos lotes comerciais soropositivos é considerado
elevado (77,14%), demonstrando a presença de uma ou mais aves
sororreagentes para o vírus. PERES
et al. (2006) identificaram lotes com 90,7% de títulos positivos ou suspeitos para o AMPV. Em contrapartida, OWOADE
et al. (2006), em estudo realizado na Nigéria, identificaram somente 30% de lotes de frangos de corte soropositivos.
Os dados do presente estudo diferem dos resultados de DROUAL & WOOLCOCK (1994), TORO
et al. (1998) e BOARO
et al.
(2004), que relataram a ausência de anticorpos contra AMPV em plantéis
de frangos de corte na região Central da Califórnia, na região Central
do Chile e na região do Planalto Médio no Estado do Rio Grande do Sul,
respectivamente.
Logo, na tentativa de eliminar ou reduzir os riscos de infecção pelo
AMPV nos plantéis de frangos de corte no polo avícola da Bahia, um
controle sanitário efetivo para a presença do agente a campo deve ser
implantando, através do emprego de medidas que melhorem as condições de
ambiência, e promovam a limpeza e desinfecção das instalações e a
realização do vazio sanitário nestes plantéis avícolas (COOK, 2000;
GOYAL
et al., 2003).
Identificaram-se neste trabalho altos percentuais de títulos
individuais (69,78%) e propriedades de galinhas de quintal
soropositivas (94,12%) para o AMPV no polo avícola da Bahia. Resultados
semelhantes foram encontrados em estudo realizado na Nigéria por OWOADE
et al. (2006),
identificando-se elevados níveis de anticorpos contra o AMPV em cerca
de 70% de aves caipiras, não vacinadas, e em 65% das criações destas
aves na Nigéria.
A elevada frequência de anticorpos em galinhas de quintal contra o AMPV
evidenciada neste estudo confirma a hipótese de que estas aves foram
infectadas pelo vírus, servindo como reservatório, podendo também ser
utilizadas como sentinelas em determinadas localidades, possibilitando,
dessa maneira, o acompanhamento soroepidemiológico da circulação do
vírus a campo. Programas educacionais para informar os criadores de
aves de quintal sobre noções adequadas de criação e manejo para
melhorar a condição sanitária destas criações são de grande importância
no meio rural. Além de favorecerem o controle do vírus, eles reduzem o
risco da manutenção de agente no ambiente (ALBINO
et al., 2005).
COOK
et al. (1988) afirmaram
que é possível encontrar anticorpos contra o AMPV em aves aparentemente
saudáveis. Esta hipótese foi confirmada neste trabalho, que identificou
títulos de anticorpos contra o AMPV nas aves de criações industriais e
caipiras aparentemente saudáveis. Entretanto, identificaram-se também
aves com sinais respiratórios soropositivas para o vírus, corroborando
os dados obtidos por PERES
et al. (2006) e SILVA
et al., (1994).
Este estudo relata pela primeira vez a evidência sorológica do AMPV no
polo avícola da Bahia em criações, não vacinadas, de frangos de corte e
galinhas de quintal. Os resultados apresentados neste trabalho reforçam
a necessidade do conhecimento sobre a epidemiológica do AMPV na região
estudada, através da realização de pesquisas para a identificação da
amostra circulante do AMPV a campo, por meio do isolamento e
caracterização viral.
CONCLUSÃO
Verificou-se a infecção pelo metapneumovírus aviário nas criações, não
vacinadas, de frangos de corte e galinhas de quintal no polo avícola da
Bahia. A avaliação sorológica das criações comerciais e caipiras
revelou a presença de anticorpos contra o vírus em ambos os grupos
estudados, independente do sistema de criação e das condições
sanitárias.
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Protocolado
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