Este trabalho ilustra o padrão de
imagens ultrassonográficas sem alterações ecogênicas e de ecotextura do
parênquima, mediastino e túnicas testiculares em bovinos jovens da raça
Nelore. Os testículos de 111 animais foram submetidos ao exame clínico
e ecográfico aos nove, treze e quinze meses de idade. O parênquima
testicular apresentou padrão homogêneo e com baixa ecogenicidade. Houve
correlação positiva entre a idade e a espessura do mediastino
testicular. As túnicas testiculares somente foram individualizadas na
presença de fluido. Tais informações apresentam grande contribuição com
a avaliação andrológica, pois permitem a detecção precoce de desordens
testiculares.
PALAVRAS-CHAVES: Aparelho reprodutor, ecografia, touros Nelore.
ABSTRACT
ULTRASONOGRAPHIC PATTERN OF TESTICULAR PARENCHYMA, MEDIASTINUM,
AND TUNICS IN YOUNG NELLORE BULLS
The aim of the present study was to demonstrate the ultrasonographic
patterns of the testicles parenchyma, mediastinum and tunics in young
Nellore bulls with absence of echogenicity and relative density
changes. Testes of 111 animals underwent clinical and ultrasonographic
evaluation at 9, 13, and 15 months of age. Testicular parenchyma
presented uniform pattern at low echogenicity. Positive correlation was
found between age and testicular mediastinum. Testicular tunics were
distinguished only in presence of fluid. The results of this research
contribute with andrologic evaluation, allowing early detection of
testicular disorders.
KEYWORDS: Echography, Nellore Bulls, reproductive tract.
INTRODUÇÃO
O exame ultrassonográfico dos testículos é um método não invasivo e
rápido (PECHMAN & EILTS, 1987). Assim, é uma valiosa ferramenta
para o complemento da avaliação andrológica e pode ser a técnica de
maior importância em casos de desordens subclínicas. Os resultados de
exame clínico, aliados à análise do sêmen, geralmente são insuficientes
para a obtenção de um diagnóstico preciso quando se está diante de um
animal com queda na fertilidade. A visualização de alterações
patológicas por meio da ultrassonografia pode ser benéfica no
diagnóstico e de fundamental importância na escolha de um tratamento
efetivo.
PECHMAN & EILTS (1987) e ABDEL-RAZEK e ALI (2005) identificaram as
estruturas anatômicas do trato reprodutivo de touros por meio de
ultrassonografia em modo B. Neste tipo de representação, a intensidade
do eco é visibilizada como ponto luminoso no monitor de imagem. Quanto
maior a reflexão da onda sonora, mais intenso o brilho do ponto
luminoso. As diferentes intensidades de brilho determinam, em uma
escala de cinza, diferentes ecogenicidades.
Estruturas anecoicas são aquelas que não refletem a onda sonora.
Portanto, não produzem ecos e são representadas na tela do monitor em
cor preta. Quando a ecogenicidade de duas estruturas é comparada, a
estrutura mais escura é denominada hipoecoica, e a mais brilhante,
hiperecoica. Se as estruturas têm o mesmo grau de brilho, são
consideradas isoecoicas (DROST, 2002).
Segundo PECHMAN & EILTS (1987), o parênquima testicular de touros
adultos é homogêneo e moderadamente ecogênico. O mediastino testicular
é uma estrutura linear de cinco milímetros de largura, com maior
ecogenicidade em relação ao parênquima testicular quando observado no
plano longitudinal, e um ponto ecogênico no centro do parênquima
testicular quando observado no plano transversal. O mediastino
testicular é espesso e facilmente identificado em touros com menos de
dois anos de idade, entretanto, em touros com mais de quatro anos, é
menos definido e mais estreito.
Segundo ABDEL-RAZEK & ALI (2005), o parênquima testicular apresenta
ecogenicidade moderada e o mediastino testicular mostra-se, em plano
longitudinal, como uma linha hiperecogênica no centro da imagem e,
contrariando o que foi dito por PECHMAN & EILTS (1987), a espessura
do mediastino aumenta com a idade. Em uma imagem em plano transversal,
o mediastino aparece como uma estrutura puntiforme hiperecogênica no
centro do parênquima testicular.
Segundo CARDILLI
et al.
(2009), o parênquima testicular de bovinos jovens da raça Nelore é
homogêneo e tem baixa ecogenicidade, e esta última aumenta em proporção
direta com a idade dos animais.
As túnicas do testículo não são identificadas separadamente, a menos
que haja fluido entre elas. Na ausência de fluido, uma única linha
ecogênica brilhante é observada, a qual circunda o testículo e separa o
escroto do parênquima testicular. A camada de fluido entre as túnicas
nunca excede dois milímetros de largura e pode ser um achado normal.
Coleções de fluidos que excedam dois milímetros podem ser anormais
(PECHMAN & EILTS, 1987).
A importância clínica da determinação da diferença de ecogenicidade
entre testículos em diferentes fases da idade animal reside no fato de
que desordens como tumores e processos inflamatórios são tipicamente
hipoecoicos em contraste com a ecogenicidade moderada dos testículos em
animais adultos. Sendo assim, a identificação de tais desordens em
animais pré-púberes é mais difícil, dada a baixa ecogenicidade
testicular (ARGER
et al., 1981; BIRD & ROSENFELD, 1984; EILTS
et al., 1988; LENZ, 1991; HORSTMAN
et al., 1994; SIMON
et al.,
2001). Em testículos de crianças pré-púberes, por exemplo, a baixa
ecogenicidade pode reduzir a identificação de lesões hipoecoicas,
especialmente se o testículo afetado não se encontrar aumentado (HAMM
& FOBBE, 1995). Estes estudos demonstram ainda mais a importância
de se descrever a ecogenicidade e o padrão ultrassonográfico normal do
parênquima testicular de bovinos jovens.
A demanda crescente por animais de genética superior e a
disponibilidade de métodos de aproveitamento do sêmen aumentaram
consideravelmente a responsabilidade durante a avaliação andrológica e
no tratamento de distúrbios reprodutivos. Dessa forma, objetivou-se com
este estudo, contribuir com a avaliação andrológica, determinando-se e
ilustrando-se a ecogenicidade do parênquima testicular e o padrão
ultrassonográfico normal do parênquima, mediastino e túnicas
testiculares em bovinos jovens da raça Nelore.
MATERIAL E MÉTODOS
Realizaram-se exames clínicos e ultrassonográficos em testículos de 111
bovinos da raça Nelore que faziam parte de um mesmo rebanho localizado
na cidade de Sertãozinho, SP (latitude -21º 08’ 16” e longitude
47º 59’ 25”). Os animais foram mantidos durante todo o período de
realização da pesquisa com uma dieta de 14% de proteína bruta e 63 % de
energia.
A avaliação teve início com os animais apresentando nove meses de
idade e repetidas quando estes atingiram, respectivamente, treze e
quinze meses de idade. Os exames ultrassonográficos foram realizados
com um aparelho de ultrassom modelo Pie Medical Scanner 200C,
utilizando-se transdutor linear 8 MHz. Após contensão dos animais em
tronco e aplicação de gel acústico sobre o escroto, realizaram-se
varreduras eletrônicas em planos transversais e longitudinais dos
testículos direito e esquerdo.
As imagens selecionadas foram transferidas diretamente ao computador
por meio do software Echo Image Viewer (EIV). Selecionaram-se, com o
auxílio do software EIV, duas regiões de interesse (RI) em cada plano
de varredura dos testículos direito e esquerdo. Cada RI foi delimitada
por um quadrado de 6,3 mm de lados, localizadas lateral e medialmente
ao mediastino testicular em plano transversal, e no polo ventral e
dorsal do testículo, excluindo-se o mediastino testicular em plano
longitudinal.
A ecogenicidade testicular para cada RI foi determinada automaticamente
pelo software EIV, utilizando-se uma escala que variou do 0% (anecoico)
a 100% (hiperecoico), e analisada pelo método dos quadrados mínimos,
por meio do procedimento General Linear Model (GLM) do programa SAS
(SAS 9.1, SAS Institute, Cary, NC, USA), utilizando-se um modelo que
incluiu os efeitos de touro (1-111), planos (longitudinal e
transversal), testículos (direito e esquerdo), idade e interações entre
esses efeitos. Quando o efeito ou a interação foi significativa pelo
teste F, compararam-se as médias pelo teste de Tukey a 5% de
probabilidade.
A espessura do mediastino testicular, direito e esquerdo, também foi
avaliada aos nove, treze e quinze meses de idade, sempre no plano
longitudinal de varredura, e analisaram-se os dados pelo teste de Tukey
(p<0,05) e também sob a forma de regressão linear da espessura do
mediastino em função do tempo (idade em meses).
As túnicas testiculares foram observadas nas imagens ultrassonográficas
em plano transversal e longitudinal, e o padrão de normalidade foi
descrito.
RESULTADOS
O parênquima testicular, nos três momentos da avaliação ultrassonográfica, mostrou-se homogêneo e com baixa ecogenicidade (
Figura 1).
Os valores médios das ecogenicidades testiculares aos nove, treze e
quinze meses foram, respectivamente, 19,03%, 33,52% e 39,36%. Todos
estes valores são diferentes (p<0,05). Assim, a ecogenicidade do
parênquima testicular aumentou em proporção direta com a idade dos
animais.
O mediastino testicular, em plano longitudinal, apresentou-se como uma
linha hiperecoica no centro do parênquima testicular, com a espessura
variando de 1,3 mm a 5 mm (
Figura 2A). Em plano transversal foi visualizado como um ponto hiperecoico no centro do parênquima testicular (
Figura 2B). Sua identificação tornou-se mais evidente com o avançar da idade, por se tornar a cada momento mais ecogênico.
A espessura média do mediastino testicular aumentou em proporção direta
à idade dos animais. Todavia uma diferença significativa (p<0,05)
foi detectada somente no intervalo de nove aos treze meses (
Tabela 1). A seguinte equação de primeiro grau foi obtida: y= 1,14 + 0,12x com R2 = 0,31.
As túnicas testiculares apresentaram-se ao ultrassom como uma linha
hiperecoica que circundou todo o parênquima testicular em plano
transversal (
Figura 3B).
As túnicas vaginais somente foram diferenciadas quando havia fluido
entre elas, ou seja, a imagem caracterizou-se por uma linha anecoica
entre duas linhas hipercoicas, correspondendo, respectivamente, à
túnica vaginal visceral e à túnica vaginal parietal (
Figura 3A). Tal presença de líquido foi considerada fisiológica e não um processo patológico.
DISCUSSÃO
O parênquima testicular de bovinos jovens da raça Nelore mostrou-se
homogêneo e com baixa ecogenicidade até os quinze meses de idade. Este
padrão de ecogenicidade reforça as afirmativas de que bovinos
pré-púberes, mesmo sendo de raças diferentes da Nelore, apresentam
baixa ecogenicidade testicular quando comparados com animais da mesma
espécie, mas sexualmente maturos (PECHMAN & EILTS, 1987; CHANDOLIA
et al. 1997; ARAVINDAKSHAN
et al., 2000; BRITO
et al., 2004; ABDEL-RAZEK & ALI, 2005).
Segundo CARDILLI
et al.
(2009), o parênquima testicular de bovinos jovens da raça Nelore é
homogêneo e tem baixa ecogenicidade. Esta última aumenta em proporção
direta com a idade dos animais, o que corrobora os resultados
encontrados no presente estudo.
HAMM & FOBBE (1994) informaram sobre a importância clínica do
conhecimento das diferenças entre as ecogenicidades do parênquima
testicular de crianças e adultos, uma vez que tumores e processos
inflamatórios caracterizam-se por serem hipoecoicos em relação ao
parênquima testicular (ARGER
et al. 1981; BIRD & ROSENFELD, 1984; EILTS
et al., 1988; LENZ, 1991; HORSTMAN
et al., 1994; SIMON
et al.,
2001) e são dificilmente visibilizados em contraste com a baixa
ecogenicidade de testículos de crianças. Esses relatos reforçam a
importância do conhecimento sobre a ecogenicidade e do padrão
ultrassonográfico normal do parênquima testicular em relação à idade
dos animais, principalmente em animais jovens, os quais são o foco
deste estudo.
O mediastino testicular, em plano transversal, apresentou-se como um
ponto hiperecoico no centro do parênquima testicular; e no plano
longitudinal como uma linha hiperecoica variando entre 1,3 mm e 5,0 mm
de espessura. Esta estrutura, por ser mais ecogênica, foi mais
facilmente identificada nos animais com quinze meses de idade. A
espessura do mediastino também aumentou em proporção direta com a idade
dos animais. Estas observações contrariam relatos descritos por PECHMAN
& EILTS (1987), que ao trabalharem com animais
Bos taurus
taurus concluíram que a espessura do mediastino e sua ecogenicidade
diminuem com a idade. Todavia, assemelham-se às afirmativas de
ABDEL-RAZEK & ALI (2005), os quais também avaliaram
Bos taurus taurus. Segundo SISSON (1986) e DYCE
et al.
(1990), os túbulos seminíferos formam no mediastino uma rede, a rede do
testículo (rete testis), logo, com o aumento da idade do animal,
ocorrem importantes e consideráveis mudanças anatômicas nos túbulos
seminíferos, os quais se tornam mais longos e “retorcidos”, aumentam em
diâmetro e formam um lúmen (HAMM & FOBBE, 1995), o que pode
explicar o aumento da espessura do mediastino testicular.
As túnicas somente puderam ser diferenciadas quando havia líquido entre
elas, o que foi descrito por PECHMAN & EILTS (1987) e ABDEL-RAZEK
& ALI (2005). Segundo PECHMAN & EILTS (1987), a presença de
líquido entre as túnicas vaginais parietal e visceral pode ser normal,
porém mais de 2 mm de espessura entre as túnicas pode indicar processo
patológico. Em alguns animais da raça Nelore foi encontrado líquido
entre as túnicas e tal imagem ao ultrassom pôde ser descrita como uma
linha anecoica entre duas linhas hiperecoicas (túnica vaginal parietal
e visceral), sendo que esta presença de líquido foi considerada
fisiológica, já que os testículos apresentavam-se aparentemente normais
à palpação e ao ultrassom.
CONCLUSOES
O parênquima testicular de bovinos jovens da raça Nelore é homogêneo e
com baixa ecogenicidade, aumentando em proporção direta com a idade dos
animais. O mediastino apresenta-se como uma linha hiperecoica no centro
do parênquima, e sua espessura também aumenta em proporção direta com a
idade dos animais. As túnicas testiculares são visualizadas como uma
linha hiperecoica que circunda todo o parênquima, e apenas podem ser
diferenciadas quando da presença de líquido entre elas.
O conhecimento do padrão ultrassonográfico normal do parênquima
testicular de bovinos jovens da raça Nelore permite a detecção precoce
de alterações testiculares e o descarte precoce desses animais para a
reprodução. Dessa forma, o presente trabalho apresenta uma grande
contribuição com a avaliação andrológica de touros.
AGRADECIMENTOS
À FAPESP, pelo apoio financeiro em forma de bolsa de mestrado; ao
Instituto de Zootecnia de Sertãozinho, por ceder os animais; à FCAV
Unesp de Jaboticabal, por permitir a realização desta pesquisa, e aos
criadores Flávio Pereira Aranha e Adriana Salles Zancaner Aranha
(Fazenda da Bela Alvorada), pelo apoio na realização do trabalho.
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