Felipp Silveira Ferreira,¹ Lara Lages
Silveira,¹ Alessandra Castello Costa,¹ Antonio Peixoto Albernaz,²
Claudio Baptista Carvalho³ e André Lacerda Abreu Oliveira²
1. Doutorando em Ciência Animal, Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro , Brasil. E-mail: felipp@uenf.br
2. Professor associado da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Brasil
3. Professor titular da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Brasil.
A oxigenação extracorpórea por
membrana (ECMO) é uma técnica de suporte cardiopulmonar prolongado, que
objetiva auxiliar os pulmões e/ou o coração quando estes apresentam
processos de falência não responsiva aos tratamentos convencionais. Por
não se tratar de um procedimento fisiológico, representa um grande
desafio para a medicina, que busca torná-la um procedimento mais
seguro. Dessa forma, procedeu-se a esta pesquisa objetivando avaliar o
comportamento dos marcadores cardíacos CK e CK-MB de cinco cães
submetidos à ECMO durante três horas. Empregaram-se cães sem raça
definida, de diferentes idades, peso e sexo. Sob manutenção anestésica,
os animais foram submetidos à ECMO por canulação femoral, em um desvio
arteriovenoso (AV). Estabelecido o circuito, mensuraram-se as variáveis
a cada trinta minutos, durante um período de três horas. Os dados foram
analisados estatisticamente com os testes de Anova, Tukey e Correlação
de Pearson, com α=5%. Os resultados apontaram um aumento sérico da CK e
da CK-MB, caracterizando uma lesão muscular ao longo do procedimento.
Os resultados apresentados apontam que a ECMO induziu uma lesão
muscular não cardíaca por mecanismos fisiológicos. Conclui-se que a
ECMO é uma técnica de suporte viável e que não induz lesões miocárdicas
em cães durante um período de três horas.
PALAVRAS-CHAVES: CK, CK-MB, cães, ECMO, fisiologia.
STUDY OF THE BEHAVIOR OF SERIC
CREATINE KINASE (CK) AND CREATINE KINASE–MB (CK-MB) OF DOGS SUBMITTED
TO EXTRACORPOREAL MEMBRANE OXIGENATION (ECMO) FOR THREE HOURS
The extracorporeal membrane
oxygenation (ECMO) is a technique of prolonged cardiopulmonary support,
which aims to help the lungs or the heart when these organs present
failure processes not responsive to conventional treatments. As it is
not a physiological procedure, it represents a major challenge for
medicine, which seeks to make it a safer procedure. Thus, this research
was carried out to determine the course of the cardiac markers CK and
CK-MB of five dogs submitted at ECMO for three hours. Mongrel dogs of
various ages, weight and sex were used. Under anesthesic maintenance,
the animals were subjected to femoral cannulation for ECMO, in an
arterial-venous (AV) deviation. Once the circuit was established, the
variables were measured every thirty minutes for a period of three
hours. The data were statistically analyzed with Anova, Tukey and
Pearson Correlation, with α = 5%. The results showed an increase of
serum CK and CK-MB, characterizing a muscular injury during the
procedure. The results showed that ECMO induced a cardiac muscle injury
by a physiological mechanism. It was concluded that ECMO is a viable
technical support and do not induce myocardial injury in dogs during a
period of three hours.
KEYWORDS: CK, CK-MB, dogs, ECMO, physiology.
INTRODUÇÃO
A oxigenação extracorpórea por membrana – ECMO –, derivada de
extracorporeal membrane oxygenation, é uma técnica de suporte
cardiopulmonar prolongado, empregada para auxiliar o pulmão e/ou o
coração, especialmente de neonatos e crianças, quando estes apresentam
processos de falência não responsiva aos tratamentos convencionais não
invasivos (BARTLETT
et al., 1974; WEBER
et al., 1990; ZWISCHENBERGER
et al., 2000; THAKAR
et al., 2001; MOSCARDINI
et al., 2002; THAKAR
et al., 2002; LIN
et al., 2006; PEEK
et al., 2006; TAMESUE
et al., 2006; KAHN
et al.,
2007). Essa assistência respiratória extracorpórea prolongada deve ser
aplicada a um grupo específico de pacientes em que a insuficiência
respiratória for causada por uma enfermidade potencialmente reversível
(SOUZA & ELIAS, 2006).
Por se tratar de um procedimento altamente invasivo, é certo que a
circulação extracorpórea determina alterações no sangue e nos tecidos
perfundidos, gerando um quadro geral de inflamação ou autoagressão.
Inicialmente reconhecida com denominações tais como síndrome
pós-perfusão e/ou pulmão de bomba, passou, posteriormente, a ser
conceituada como reação inflamatória geral do organismo. As
manifestações clínicas se caracterizam por alterações funcionais muito
ou pouco intensas nas funções pulmonares, renais, acúmulo de líquido no
espaço intersticial, febre, leucocitose, vasoconstrição e maior
susceptibilidade a infecções (MORAES
et al., 2001).
Em relação aos achados hemodinâmicos, os resultados observados nos experimentos de TAMESUE
et al. (2006) mostram queda da pressão arterial média. Porém, para INGYINN
et al.
(2004), a hipertensão é uma complicação comum durante e após o desvio,
podendo ter muitos fatores como causas, tais como retenção à
administração inadvertida de fluidos durante o procedimento e estresses
hormonais de adrenalina, noradrenalina e cortisol.
Por tais motivos, os sinais vitais necessitam ser acompanhados a todo o
momento. Nesse contexto, a monitoração hemodinâmica invasiva torna-se
essencial em conjunto com a ECMO, contribuindo com a avaliação da
função cardíaca e volumétrica. A observação dos sinais vitais pode
refletir com certo grau de segurança à função cardiovascular e à
perfusão (GAY
et al., 2005).
Ainda sobre a função cardiovascular, BALASUBRAMANIAN
et al. (2007) descrevem algumas arritmias relacionadas à ECMO após a retirada do paciente do circuito. Já KHAN
et al. (2007) sugerem que o uso da ECMO pode estar associado ao aumento do risco de sangramentos e infartos.
Segundo a literatura, os marcadores cardíacos têm sido empregados
rotineiramente para a detecção dos infartos agudos do miocárdio (ADAMS
et al.,
2007). Desses marcadores, destaca-se a creatinoquinase (CK-NAC), que é
uma enzima utilizada em medicina experimental para quantificar os danos
do músculo cardíaco e da musculatura esquelética. Além disso, pode ser
também um sensível indicador de danos musculares. Para alguns
propósitos clínicos, muitos tipos de células contêm CK com alta
especificidade no músculo esquelético (KANEKO
et al.,
1997). A elevação sérica dessa enzima ocorre em virtude de danos nas
células musculares, resultado de um estresse físico (DUNCAN &
PRASSER, 1986). A outra enzima em questão é a CK-MB, uma isoenzima
híbrida da CK, existente no músculo cardíaco (LOPES
et al., 2005).
Em humanos, a dosagem da CK-MB vem sendo utilizada como principal
método para confirmação ou exclusão de infarto agudo do miocárdio, e
picos de CK-MB podem prever eventos cardíacos desfavoráveis em
populações de alto risco. Porém, CK e CK-MB são pobres marcadores de
danos no miocárdio em cães. A CK-MB é um marcador cardíaco menos
específico que a troponina cardíaca para essa espécie (LOPES
et al., 2005; SANTOS, 2005; DINIZ
et al.,
2007). Durante o evento de hipóxia e necrose de miocárdio, as enzimas
são liberadas para a corrente sanguínea, aumentando consideravelmente
sua concentração plasmática (SANTOS, 2005; DINIZ
et al., 2007).
ETTINGER & FELDMAN (1997) informam que, pelo fato de o infarto do
miocárdio decorrente da oclusão de um ramo importante da artéria
coronária ser evento raro no cão, a CK-MB não é uma enzima
frequentemente solicitada na rotina veterinária, ficando restrita aos
estudos experimentais.
A similaridade morfológica e fisiológica entre o coração dos cães e dos
humanos faz com que os caninos sejam utilizados como modelos
experimentais de afecções cardíacas para humanos. Entretanto, em
relação à CK-MB, sua distribuição é diferente entre essas espécies, uma
vez que, no humanos, a maior concentração dessa enzima ocorre no
ventrículo esquerdo nos humanos e nos cães no ventrículo direito
(SANTOS, 2005).
De qualquer forma, uma vez mensurada, é importante considerar os
valores da CK-MB em relação à CK total, para se determinar se está
realmente aumentada. Ou seja, a porcentagem de CK-MB em relação ao
valor total de CK fornece um dado confiável quando se avalia uma
possível lesão do miocárdio, pois valores aumentados de CK-MB
acompanhados de aumento de CK podem ser resultantes de esforço físico,
por exemplo. Porém, quando se observa aumento de CK-MB não acompanhado
de aumento da CK total, a porcentagem dessa isoenzima fica elevada,
comprovando-se lesão no músculo cardíaco (MELO
et al., 2008).
Dessa forma, pelo fato de a ECMO representar um método altamente
invasivo e não fisiológico, procedeu-se a esta pesquisa, a fim de ser
observado o comportamento das enzimas CK e CK-MB durante um período de
três horas de oxigenação extracorpórea por membrana, objetivando
detectar possíveis alterações cardíacas. Ainda, espera-se que os
resultados observados possam contribuir com o aperfeiçoamento das
técnicas e melhorar as margens de sobrevida dos pacientes submetidos à
ECMO.
MATERIAL E MÉTODOS
Para a presente pesquisa utilizaram-se cinco cães SRD, sem restrição de
sexo e idade, presuntivamente adultos jovens, com peso corporal entre
dez e quinze quilos. Todos os animais foram cedidos pelo Centro de
Controle de Zoonoses de Campos dos Goytacazes, RJ.
Os animais foram admitidos no Hospital Veterinário, onde se realizaram
avaliações clínicas, laboratoriais (hemograma e bioquímica sérica) e
complementares (eletrocardiografia convencional e ecocardiografia em
modo B e M), para a detecção de quaisquer alterações orgânicas. Os
animais enfermos foram descartados do experimento.
Posteriormemte, alocaram-se os animais em gaiolas apropriadas, sendo fornecida alimentação especializada, água
ad libitum. Para seu bem-estar, procedia-se à limpeza dos animais e a banhos de sol.
Os animais foram anestesiados seguindo o mesmo protocolo, constituído de 0,1 mg.kg
-1
de acepromazina (Acepran – Univet S.A., Rua Clímaco Barbosa, 700 –
Cambuci, São Paulo, SP.) por via intravenosa (IV), seguido de 2 mg.kg
-1
de cetamina IV (Ketamina – Agener União Química Farmacêutica Nacional.
Av. dos Bandeirantes, Planalto Paulista, São Paulo, SP.),
posteriormente 7 mg.kg
-1 de lidocaína (Lidovet – Laboratório
Bravet Ltda. Rua Visconde de Santa Cruz, 276 - Engenho Novo, Rio de
Janeiro, RJ.) por via epidural. Fez-se a manutenção anestésica com
isoflurano 2,5% (Isoforine – Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos
Ltda., Rod. Itapira-Lindóia, Km 14, Itapira, SP).
A anticoagulação foi realizada com heparina (Heparin – Cristália
Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda., Rod. Itapira-Lindóia, Km 14,
Itapira, SP.), na dose única de 4mg.kg
-1 IV.
Depois de anestesiados e entubados, os animais foram colocados em
decúbito dorsal e submetidos à ECMO por meio da utilização da técnica
de desvio arteriovenoso, com a retirada do sangue pela artéria femoral
e a reinfusão pela veia femoral. Esse sangue seguia o seguinte trajeto:
artéria femoral, tubo conector, oxigenador de membranas, e, após a
remoção do CO
2 e o recebimento de O
2, o sangue
fluía de volta para o organismo através de outro tubo conector,
chegando à veia femoral. Os animais permaneceram sob ECMO durante 180
minutos, com o oxigenador de membranas “MASTERFLO infant” (Dideco®,
Itália).
Nos animais submetidos à oxigenação extracorpórea por membrana,
utilizou-se, ainda, um suporte ventilatório mínimo, com pressão
positiva no final da expiração (PEEP) de 10 cm H
2O e FiO
2
de 21%, concomitantemente à terapia de suporte promovida pela ECMO,
objetivando evitar atelectasias, e as funções dos pulmões sendo
substituídas apenas parcialmente pelo órgão artificial. Nesses animais
também foi administrada dopamina (Cloridrato de Dopamina – Laboratório
Teuto Brasileiro S.A., VP 7-D módulo 11 - Quadra 13 – DAIA, Anápolis,
GO), na dose de 5µg/kg/minuto, em infusão contínua, como suporte
pressórico e inotrópico.
As amostras de sangue venoso foram coletadas por seringas de 3 ml
conectadas a um cateter longo localizado na veia jugular, o qual foi
guiado em direção ao átrio direito. O sangue coletado foi repassado em
frascos siliconizados sem anticoagulante. Estipulou-se em trinta
minutos o intervalo entre as coletas durante três horas, totalizando
sete amostras por animal durante a ECMO. Também se realizou a coleta de
uma amostra de sangue do animal antes da ECMO, para controle,
otalizando oito tempos de coleta durante o período total de
experimentação.
As amostras sanguíneas foram centrifugadas (1.500 g por cinco minutos)
em tempo não superior a uma hora, e o produto sobrenadante foi
aliquotado após a coleta em volume mínimo de 500 µL. Acondicionaram-se
tais amostras em microtubos tipo “Eppendorf”, sendo mantidas sob
refrigeração em refrigerados, à temperatura de -20ºC, para posterior
realização de análises bioquímicas dos itens CK-Total e CK-MB, em
equipamento espectrofotométrico Labmax Plenno, da marca Labtest®,
utilizando-se kits comerciais da mesma marca.
Após o estudo, os animais foram submetidos à eutanásia com administração de tiopental sódico, na dose de 40mg.kg
-1 IV, e cloreto de potássio, na dose de 100mg.kg
-1
IV, respeitando-se princípios éticos do uso de animais de
experimentação. O presente trabalho foi licenciado pelo Comitê de Ética
para Uso de Animais da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy
Ribeiro, sob o registro CEUA-UENF 038/2008.
Anotaram-se os resultados em fichas individuais (oito para cada
animal), sendo as diferenças entre os momentos analisadas com programa
estatístico GraphPad Prism versão 4.03 for Windows (GraphPad Software)
através dos testes One-way ANOVA (Friedman e Kruskal-Wallis) com
pós-teste de comparações múltiplas de Tukey, com α=5%.
Entre as variáveis foi aplicado o teste de Correlação de Pearson, com α=5%.
RESULTADOS E DISCUSSAO
Creatino quinase (CK)
A
Figura 1
apresenta o comportamento da enzima creatino quinase (CK) dos animais
submetidos à ECMO. Pela análise da linha de tendência apresentada,
conclui-se que a CK apresentou uma tendência de aumento ao longo das
três horas de ensaio. Por meio da análise dos valores médios obtidos em
cada momento de avaliação, pode-se perceber que ocorreu um aumento
estatisticamente significativo dos valores da CK ao longo das três
horas de ECMO. Os valores são apresentados na
Tabela 1.
Dessa forma, pode ser observado que ocorreu uma alteração não apenas
estatisticamente significativa no comportamento da CK durante a ECMO,
mas também uma alteração fisiológica, visto que, de acordo com LOPES
et al.
(2005), o aumento da CK, além dos valores de normalidade, pode estar
correlacionado a uma lesão muscular. Ainda segundo os autores, a CK é
um indicador sensível e específico de lesão muscular, o que torna
confiável a caracterização do dano muscular observado durante a ECMO.
Essa caracterização do dano muscular também é proposta por SOUZA &
ELIAS (2006). Esses autores afirmam que, durante a circulação
extracorpórea, a distribuição dos fluxos de sangue para os diversos
órgãos se altera e é diferente da distribuição normal, regulada pelo
próprio organismo. Diante disso, os órgãos mais nobres, como o coração
e o cérebro, recebem fluxos de sangue adequados, enquanto os rins, o
fígado e, sobretudo, as grandes massas musculares recebem fluxos de
sangue insuficientes para as suas necessidades. Em função desse baixo
fluxo de perfusão, produz-se um quadro de hipóxia tecidual que favorece
o dano muscular, caracterizado pelo aumento da CK no presente trabalho.
Creatino quinase MB (CK-MB)
A
Figura 2
apresenta o comportamento da enzima creatino quinase MB (CK-MB) dos
animais do experimento submetidos à ECMO. Na figura, a análise da linha
de tendência apresentada permite concluir que a CK-MB apresentou uma
tendência de aumento ao longo das três horas de ensaio. Os valores
reais médios para cada momento são descritos na
Tabela 2.
A análise estatística empregada (Anova (α=5%)) não permitiu concluir
uma variação estatisticamente significativa ao longo das três horas de
procedimento.
De acordo com SHARKEY
et al. (1991), SANTOS (2005) e DINIZ
et al.
(2007), a CK-MB é uma isoenzima liberada para o meio extracelular
quando há necrose de miocárdio, sendo um recurso importante para a
detecção de lesão cardíaca. Logo, em cães, seu aumento pode ocorrer
quando há um comprometimento do miocárdio secundário a diversas
situações (como parvovirose, endocardite, dirofilariose e
cardiomiopatia dilatada).
Entretanto, o comportamento de tendência de elevação da CK-MB do
restante dos animais durante a ECMO não pode ser relacionado
diretamente a tal comprometimento miocárdico, uma vez que, dentre
outros motivos, a CK-MB também se encontra presente, em menor
quantidade, em outros tecidos, o que reduz um pouco sua especificidade.
Da mesma forma, os resultados de outras variáveis apresentadas neste
estudo corroboram tal conclusão, como exposto a seguir.
Relação CK versus CK-MB
Segundo MELO
et al. (2008),
embora a CK-MB possa ser considerada um marcador de lesão miocárdica,
esta enzima não deve ser avaliada de forma isolada. Para o autor, é
importante considerar os valores de CK-MB em relação à CK total para se
determinar se a primeira está realmente aumentada. Dessa maneira, um
cálculo de porcentagem de CK-MB em relação ao valor total de CK fornece
um dado mais confiável quando se avalia uma possível lesão do
miocárdio, uma vez que valores aumentados de CK-MB acompanhados de
aumento de CK podem ser resultantes de uma lesão muscular em geral.
Porém, quando se observa aumento de CK-MB não acompanhado de aumento da
CK total, a porcentagem dessa isoenzima fica elevada, comprovando-se
lesão no músculo cardíaco (MELO
et al., 2008).
Embora não exista um parâmetro de normalidade para o percentual de CK-MB em função do valor total de CK em cães, a
Figura 3
apresenta o comportamento dessas duas enzimas ao longo do período a que
os animais foram submetidos à ECMO. De acordo com SHARKEY
et al. (1991) e MELO
et al. (2008), a título de comparação, na espécie humana, esses valores situam-se entre 14% e 25% da CK total.
Como pode ser observado, o comportamento das duas enzimas é semelhante ao longo de todo o experimento, e a
Tabela 3 mostra que as porcentagens de CK-MB em relação a CK em todos os momentos avaliados foram semelhantes.
A
Tabela 3
demonstra, ainda, que, através de uma análise estatística por meio da
Correlação de Pearson “r” (α=5%), o comportamento das duas enzimas foi
similar durante a ECMO, pois apresentou r = 0,9908. Dessa forma,
pode-se concluir que o aumento da CK-MB durante o experimento deveu-se,
propriamente, ao aumento da CK. Por extensão, infere-se que, neste
caso, a CK-MB aumentou em função de um dano muscular geral, e não
miocárdico.
CONCLUSÕES
Diante os resultados apresentados e de seu confrontamento com a
literatura disponível, pode-se concluir que a ECMO induziu uma lesão
muscular evidente, sobretudo em tecidos periféricos, representada pelos
aumentos séricos de CK e CK-MB. Entretanto, com base na mesma
literatura, não se permite concluir que a ECMO tenha induzido lesões
isquêmicas de miocárdio durante o período de três horas, uma vez que o
aumento da CK-MB não ocorreu de forma isolada, e sim em fator de forte
correlação com a CK.
AGRADECIMENTOS
Ao laboratório Terceiro Milênio (Pedra Verde), pela disponibilização do
equipamento espectrofotômétrico para realização dos ensaios
bioquímicos.
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