ESTABELECIMENTO DE UM PROTOCOLO DE SOROAGLUTINAÇÃO RÁPIDA (SAR) PARA DETECÇÃO DE ANTICORPOS PARA Salmonella typhimurium EM SUÍNOS
Salmonella typhimurium is
an important agent isolated from cases of human food poisoning in
Brazil. Animal-origin products are the main source of infection, and
pork has been implicated in
Salmonella
transmission to humans. Programs to salmonella monitoring in swine have
been carried out, using bacteriological and serological tests like
ELISA. However, these tests are time-consuming and expensive. The rapid
agglutination test (RAT) is cheaper, faster and easier. Aiming to
standardize RAT to detect anti-salmonella antibodies in swine serum, 60
samples of swine serum were tested. They had previously displayed
positive (30) or negative (30) results in the ELISA test. The results
showed that RAT had sensitivity, specificity, predictive positive value
and predictive negative value equal to 96.7% when non-diluted serum was
tested. Thus, this test can be applied to detect antibodies against
S. typhimurium in swine serum.
KEYWORDS: Antibody, diagnosis, pig, rapid agglutination test,
Salmonella typhimurium.
INTRODUÇÃO
Nas ultimas décadas,
Salmonella
sp. tem sido um dos principais agentes relacionados a surtos de
toxinfecção intestinal em humanos (NADVORNY et. al. 2000). Os alimentos
de origem animal têm sido apontados como os veículos mais importantes
para a salmonelose humana de origem alimentar (JACKSON
et al.,
1991). Segundo MORES & ZANELLA (2006), a salmonelose é a segunda
etiologia mais importante nas infecções alimentares em humanos, e
Salmonella typhimurium tem sido um dos principais sorotipos isolados (HOFER & REIS, 1994; WALL
et al., 1994; DAVIES
et al., 1996; SÃO PAULO, 2005).
Na última década, houve um aumento no número de casos de salmonelose
humana em decorrência do consumo de carne suína contaminada (BERENDS
et al., 1998; MAGNANI
et al., 2000). Sugere-se que isso ocorreu em virtude do aumento na prevalência de
Salmonella na produção, no abate e no processamento da carne desses animais (BORCH
et al., 1996; SWANENBURG
et al., 2001; BESSA
et al., 2004).
Em um trabalho para determinar a prevalência de
Salmonella isolada ao abate de suínos no Rio Grande do Sul, BESSA
et al. (2004) determinaram que os sorovares mais prevalentes foram
Typhimurium (24,3%), seguido por
Agona (19,9%),
Derby (13,2%) e
Bredeney (12%). Este trabalho confirmou dados de outros países (KAMPELMACHER
et al., 1963; DI GUARDO
et al., 1992; KÄSBOHRER
et al., 1997; GANTER
et al., 1998) e do Brasil (PELUFFO
et al., 1946; ZEBRAL
et al., 1974), em que
Salmonella typhimurium foi a mais isolada de suínos sadios.
Dado o aumento do consumo e da produção da carne suína, deveria haver
um maior controle sanitário em todas as etapas de produção, visando à
diminuição do risco para a saúde pública. Por exemplo, SWANENBURG
et al.
(2001) propuseram que o abate de animais provenientes de rebanhos
livres separadamente de rebanhos sororreagentes ou infectados por
Salmonella
poderia ser útil na redução do número de carcaças de suínos
contaminadas após o abate. Para isso, vários métodos vêm sendo
utilizados para o monitoramento de rebanhos, como isolamento do agente
e técnicas sorológicas, como ELISA.
Teoricamente, qualquer técnica sorológica pode ser utilizada como teste
de triagem. Entretanto, a escolha se faz em função de diferentes
propriedades das técnicas, em favor daquelas que são simples, práticas,
rápidas e econômicas (TOMA
et al.,
1999). A maioria das técnicas não pode ser realizada a campo,
decorrendo em maior tempo para a emissão de resultados, prejudicando a
agilidade do processo de monitoria e consequentemente na tomada de
decisões.
Na avicultura industrial, a soroaglutinação rápida é um teste de
triagem utilizado no monitoramento de várias doenças, inclusive
salmoneloses. Segundo WRAY & DAVIES (1994), a soroaglutinaçao
rápida é uma prova simples, prática e pouco dispendiosa. No
entanto, sua prática não é comum na suinocultura e não há antígenos
comerciais disponíveis para
S. typhimurium
no mercado. Nesse sentido, o objetivo do presente estudo foi a
padronização de uma técnica de soroaglutinação rápida (SAR) para
determinar a presença de anticorpos para
Salmonella typhimurium e outras salmonelas paratíficas em soro suíno.
MATERIAL E MÉTODOS
Utilizaram-se sessenta amostras de soros sanguíneos de suínos previamente testados pela técnica de ELISA (KICH
et al., 2003) para a presença de anticorpos para
Salmonella
sp. Dessas, trinta amostras eram provenientes de animais sororreagentes
(positivos) para salmonela e trinta de animais não reagentes. O ponto
de corte proposto para o teste de ELISA é a densidade óptica (DO) de
0,169 (KICH
et al., 2004) e no presente estudo não foram incluídas amostras com reação suspeita no teste de ELISA.
A técnica de soroaglutinação rápida (SAR) foi adaptada da descrita por CANAL
et al. (2005). Como antígeno utilizou-se uma cepa de
Salmonella typhimurium isolada de fígado de ema (
Rhea americana)
no Rio Grande do Sul e sorotipada pela Fiocruz-RJ. A cepa foi cultivada
em TSA (Tryptic Soy Agar) por 24 horas e após este período, com o
auxílio de um suabe estéril, as colônias foram coletadas e suspendidas
em 2-3 mL de solução salina tamponada com fosfato (PBS). A suspensão
foi homogeneizada e padronizada para a densidade do tubo 2 da escala de
MacFarland. Após, o soro a ser testado foi diluído em PBS na proporção
de 1:10. Misturaram-se 25 µL de suspensão bacteriana e 25 µL de soro
não diluído ou 25 µL de soro diluído sobre uma placa de vidro,
homogeneizando a mistura por cerca de um minuto. Decorrido esse
período, realizou-se a leitura indicando a amostra como positiva ou
negativa pela presença ou ausência de aglutinação, respectivamente.
A determinação da sensibilidade, especificidade, valores preditivos
positivo e negativo, índice kappa e a construção da curva ROC (Receiver
Operator Characteristics) foi realizada utilizando-se o software SPSS
for Windows, versão 12.0.2 (SPSS Inc., Chicago, 2004), tomando o teste
ELISA como padrão. Categorizou-se o índice kappa como sem concordância
(k<0,00) a quase perfeito (0,81<k<1,0) (ABRAIRA, 2000).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
As sessenta amostras foram, inicialmente, testadas pela técnica de SAR
utilizando-se o soro não diluído. Observou-se concordância quase
perfeita entre os resultados obtidos por essa técnica e os resultados
do teste de ELISA (k = 0,933), sendo que apenas duas amostras não
apresentaram concordância de resultado entre os dois testes (
Tabela 1).
Tomando-se o teste ELISA como padrão, determinou-se que a SAR, nessas
condições, possui sensibilidade, especificidade, valor preditivo
positivo e valor preditivo negativo iguais a 96,7%. Esses resultados
indicam um pequeno número tanto de resultados falsos positivos quanto
negativos.
Entretanto, utilizando-se a SAR com os soros na diluição de 1:10,
obteve-se concordância mediana (k = 0,633) nos resultados entre os dois
testes, observando-se apenas vinte amostras reagentes com a SAR (
Tabela 2).
Neste caso, essa técnica apresentou menor sensibilidade (66,7%), valor
preditivo positivo (95,2%) e valor preditivo negativo (74,4%), mantendo
a mesma especificidade (96,7%).
Observou-se que a SAR, quando realizada com soro diluído, gerou um
maior número de resultados falsos negativos, não sendo, portanto,
indicada como um teste de triagem adequado nos casos de infecção por
Salmonella
sp. Isto porque um bom teste de triagem é aquele que fornece um máximo
de resultados corretos e um mínimo de resultados falsos, ou seja,
possui alta sensibilidade e especificidade. Nos testes de triagem com a
finalidade de identificar animais infectados, seria preferível
identificarem-se erroneamente animais sadios como doentes (falsos
positivos) a manterem-se as fontes de infecção (falsos negativos) no
rebanho, indicando a sensibilidade como propriedade desejável em
técnicas diagnósticas de triagem (TOMA
et al., 1999).
MAINAR-JAIME & BARBERA´N (2007) observaram concordância alta
(κ=0,93) entre os resultados da soroaglutinação e ELISA no diagnóstico
de infecção por
Toxoplasma gondii em ovinos, sendo determinada sensibilidade de 92,6% e 95,5%, respectivamente.
Tanto em aves (TAN
et al., 1997; JOUY
et al.,
2005) quanto em suínos (KICH, 2003) o teste de ELISA apresentou alta
sensibilidade, sendo este um método adequado para identificação de
infecção por
Salmonella em rebanhos suínos (NIELSEN
et al., 1995) e aves (JOUY
et al., 2005).
A sensibilidade e a especificidade são atributos intrínsecos do teste.
No entanto, para estimar a validade de um instrumento diagnóstico em
condições operacionais deve ser calculado um indicador denominado valor
preditivo positivo (probabilidade de um caso identificado com um
determinado instrumento de ser de fato positivo), cujo valor varia com
a prevalência (WALDMAN & ROSA, 2009). No presente estudo, a SAR,
tanto com soro bruto quanto diluído, apresentou o mesmo valor preditivo
positivo (95,2%).
A acurácia global ou validade da SAR no diagnóstico presuntivo de infecção por
Salmonella foi de 97,2% (
Figura 1). A área sob a curva ROC mede a probabilidade de concordância entre duas medidas (FLETCHER
et al.,
1996), em que uma área de 50% reflete ausência de força (poder
discriminatório) na relação e uma área de 100% reflete concordância
perfeita (SCHROEDER
et al., 2001).
O teste de ELISA é uma ferramenta que pode e deve ser usada para determinar a infecção por
Salmonella em rebanhos suínos, visando seu controle (KICH
et al.,
2006). Entretanto, com base nos resultados apresentados, verifica-se
que o teste de SAR em soro de suínos para determinar animais
sororreagentes com a
S. typhimurium é válido e, utilizando-se soro suíno bruto (não-diluído), é possível sua realização.
CONCLUSÕES
O protocolo descrito de soroaglutinação rápida que usa antígeno de
Salmonella typhimurium
foi um teste de triagem eficaz para detectar anticorpos em soro de
suínos, apresentando alta sensibilidade, especificidade e valor
preditivo positivo.
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Protocolado
em: 27 abr. 2009. Aceito em: 18 maio
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