RESUMO
Com este estudo objetivou-se avaliar a viabilidade econômica da
produção de cordeiros cruzados em confinamento, bem como determinar
qual o peso de abate mais rentável. Foram utilizados 53 ovinos, machos
e fêmeas, oriundos de três grupos genéticos diferentes: Santa Inês
(SI), Ile de France x Santa Inês (ISI) e Texel x Santa Inês (TSI).
Agruparam-se os animais em diferentes pesos vivos (PV) para o abate
(30, 35, 40 e 45 Kg). Foram analisados os custos variáveis. O custo
operacional por kg de PV foi de R$ 4,01; R$ 3,58 e R$ 3,38 para SI, ISI
e TSI, respectivamente. Os animais abatidos com 45 kg de PV
apresentaram custo operacional de R$ 3,51/kg de PV produzido, que foi
significativamente menor que os demais grupos. A receita estimada de R$
3,50 por kg de PV, mostra que, no Distrito Federal (DF), a ovinocultura
não é lucrativa. O uso de práticas de manejo para atingir maior índice
de partos duplos pode aumentar a margem de lucro bruta da atividade. O
pagamento pelo peso de carcaça e por qualidade da carne e a busca por
melhores índices de produtividade e melhor conversão alimentar, obtidos
por programas de melhoramento genético, são urgentes para a
sustentabilidade da atividade.
PALAVRAS-CHAVES: Custo variável, peso de abate, raça, rentabilidade.
ABSTRACT
ECONOMIC STUDY OF CROSSBRED FEEDLOT LAMBS SLAUGHTERED AT DIFFERENT WEIGHTS
The purpose of this study was to evaluate the economic viability of
producing crossbred lambs in feedlots, and to determine which slaughter
weight is more profitable. Fifty-three male and female animals
were used, from three different genetic groups: Santa Inês (SI), Ile de
France x Santa Inês (ISI) and Texel x Santa Inês (TSI). The animals
were slaughtered at different body weights (BW) (30, 35, 40 and 45
Kg). Only variable costs were analyzed, as other costs were
presumed to be fixed. The BW operational cost per kg was R$ 4.01, R$
3.58 and R$ 3.38 for SI, ISI and TSI, respectively. The animals
slaughtered with 45 kg BW cost R$ 3.51 per kg of BW produced, which was
significantly lower than other groups. With estimated revenue of R$
3.50 per kg of BW, sheep production in the Federal District (DF) is not
profitable. The use of management practices to increase the
number of twin births may increase the gross profit margin of the
activity. Payment for carcass weight and meat quality as well as
the improvement of productivity indices and better food conversion
obtained by animal breeding programs are urgently needed to guarantee
sheep production profitability.
KEYWORDS: Breed, profitability, slaughter weight, variable costs.
INTRODUÇÃO
A produção de ovinos na região Centro-Oeste cresceu 138% nos últimos
dez anos (INSTITUTO FNP, 2008), com destaque para o Distrito Federal
(DF), onde o crescimento foi de 337%. Mesmo com o aumento da produção
nacional de carne ovina, existe um déficit que, segundo as estimativas,
tende a persistir, pois a demanda ainda é superior à oferta, dando
espaço para as importações (ALMEIDA JÚNIOR
et al., 2004).
Fatores como hábito alimentar e poder aquisitivo exercem grande
influência sobre o consumo de carne ovina. Além disso, o baixo consumo
de carne ovina no Brasil também está relacionado à qualidade do produto
colocado à venda, já que comumente encontram-se no mercado carcaças de
baixa qualidade provenientes de animais velhos. Isso acaba gerando
tabus alimentares entre os consumidores (ALMEIDA JÚNIOR
et al., 2004).
RIBEIRO & MEDEIROS (2006) observaram um crescimento no consumo de
carne ovina no Brasil direcionado para nichos de mercado existentes nas
grandes cidades, onde o poder aquisitivo da população é maior. No
entanto, esses nichos de mercado exigem qualidade, padronização, cortes
especiais e continuidade de abastecimento, exigências muito difíceis de
atender, devido à falta de organização da cadeia produtiva (SILVA
et al., 2006).
No Brasil, definiu-se como prioridade o aumento da capacidade produtiva
e, em consequência, o desfrute dos rebanhos ovinos, com o propósito de
atender às necessidades do mercado (BARROS
et al.,
2005). Uma das formas de se aumentar a capacidade produtiva é o uso do
cruzamento de raças especializadas em carne (raças exóticas) com
ovelhas deslanadas (raças naturalizadas). O cruzamento beneficia o uso
da complementaridade entre raças, prática que favorece a conjugação das
características desejáveis de cada uma delas e a exploração da
heterose. Entretanto, são necessárias mais informações sobre a
avaliação de cruzamentos entre diferentes raças de ovinos.
A Santa Inês é a raça ovina de maior expansão no território nacional,
visto que é encontrada em todo o Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste e
Norte do país. É uma raça deslanada que surgiu do cruzamento das raças
Morada Nova, Crioula e Bergamácia (PAIVA
et al.,
2005). Por ser um animal de grande porte e que apresenta boa capacidade
de crescimento e boa produção de leite, a Santa Inês apresenta um
importante potencial para produção de meio-sangue em cruzamentos
industriais (BARROS
et al., 2005).
A Texel é uma raça de origem holandesa, que, em geral, apresenta
animais precoces, caracterizando-se pela produção de carcaças de boa
qualidade e com baixo teor de gordura. De acordo com LANDIM
et al.
(2007), é importante o estudo do cruzamento da Texel com a Santa Inês
para demonstrar a viabilidade da exploração da complementaridade dessas
raças. A Ile de France é considerada raça de duplo propósito, com um
equilíbrio zootécnico orientado 60% para a produção de carne e 40% para
a produção de lã. De acordo com CUNHA
et al.
(2000), essa raça produz crias pesadas ao nascer, com elevado ganho de
peso e elevado peso adulto, o que a torna adequada para o cruzamento
industrial.
Existem vários trabalhos mostrando as alternativas para a produção de carne dos cordeiros, dentre elas o confinamento (OTTO
et al., 1997; MACEDO
et al., 2000; ZUNDT
et al.,
2002). Porém, são escassos os estudos de viabilidade econômica, os
quais são fundamentais para que o criador possa fazer sua opção de
maneira objetiva (ZUNDT
et al.,
2002). O confinamento de cordeiros apresenta uma série de benefícios,
como mais baixa mortalidade dos animais devido à menor incidência de
verminoses e maior controle da parte nutricional (SIQUEIRA
et al.,
1993). Além disso, o confinamento de cordeiros agiliza o retorno do
capital aplicado, permite a produção de carne de qualidade durante todo
o ano e a padronização de carcaças, reduz a idade de abate e
disponibiliza a forragem das pastagens para as demais categorias do
rebanho (PIRES
et al., 2000).
No entanto, as maiores desvantagens se encontram nos altos custos de
produção, principalmente aqueles relacionados à alimentação, que
constitui um fator determinante no aspecto financeiro (OLIVEIRA
et al., 2002).
De acordo com BENDAHAN (2006), aspectos como velocidade de acabamento,
conversão alimentar, qualidade dos animais disponíveis, preço e
qualidade da alimentação e mercado demandador de carne de qualidade
devem ser levados em conta na opção pelo confinamento, para que o
produtor obtenha ganho econômico na atividade. Assim, teve-se
como objetivo do presente estudo avaliar a viabilidade econômica da
produção de cordeiros cruzados em confinamento, além de determinar qual
o peso de abate mais rentável.
MATERIAL E MÉTODOS
Este experimento foi desenvolvido nos anos de 2007 e 2008 no Centro de
Manejo de Ovinos, na Fazenda Água Limpa, da Universidade de Brasília
(UnB), nas proximidades da cidade de Brasília (DF). O clima da região é
do tipo AW pela classificação de Köppen, com temperatura média anual de
21,1°C, tendo 16°C e 34°C como mínima e máxima absolutas,
respectivamente. A precipitação anual média é de 1.578,5 mm e a média
anual de umidade relativa do ar é de 68%.
Utilizaram-se 53 ovinos machos e fêmeas, de parto simples e gemelar,
oriundos de três grupos genéticos diferentes, sendo 24 animais da raça
Santa Inês (SI), 21 oriundos do cruzamento das raças Ile de France x
Santa Inês (ILE x SI), e 8 oriundos do cruzamento entre Texel x Santa
Inês (TX x SI). As raças Texel e Ile de France foram utilizadas como
raça paterna.
Ao nascer, os cordeiros foram identificados individualmente, com acesso
livre ao creep-feeding, e permaneceram junto de suas respectivas mães
até atingirem o peso de 18 kg, para o desmame. As pesagens dos
cordeiros foram realizadas semanalmente.
A dieta era constituída de concentrado – composto por milho em grão
(56,14%), farelo de soja (29,57%), farelo de trigo (10,29%) e núcleo
mineral vitamínico (4%) – e volumoso, sendo feno de coast-cross (
Cynodon dactylon (L.) Pers). A dieta, cuja análise bromatológica encontra-se na
Tabela 1, foi fornecida
ad libitum.
A partir da desmama, os animais foram vermifugados e alojados nas áreas
de confinamento. A composição bromatológica dos alimentos (concentrado
e volumoso) usados no confinamento foi semelhante à dos utilizados até
o desmame, pois os ingredientes da dieta se diferenciaram apenas em
relação ao núcleo mineral vitamínico. Baseou-se o fornecimento da dieta
na ingestão de matéria seca (IMS) estimada, que ficou em torno de 3% do
peso vivo (PV) do animal. O concentrado (70% da IMS total) e o feno
(30% da IMS total), foram distribuídos duas vezes ao dia, às 8 e às 16
horas. A pesagem dos animais foi feita semanalmente, assim como a
revisão das quantidades de ração e feno que seriam disponibilizadas. O
abate, por casualização ocorreu quando os animais atingiram os pesos de
30, 35, 40 e 45 kg.
Para a análise de viabilidade econômica do experimento, buscou-se
comparar os tratamentos avaliados. Tendo-se em vista que os custos
fixos nos três tratamentos eram idênticos, teriam que ser considerados,
para fins de comparação, apenas os custos variáveis. Assim, a análise
econômica foi baseada no cálculo da margem bruta, que consiste na
diferença entre a receita bruta e os custos variáveis. De acordo
com BARROS
et al. (2005),
apesar de considerar apenas os custos variáveis, a margem bruta fornece
um indicativo de viabilidade econômica de uma atividade, pois se o
produtor já tem a infraestrutura montada, os custos fixos já existem,
independentemente do uso ou não das instalações. Assim, os custos
variáveis eram os que mais poderiam variar de um tratamento para o
outro e, por isso, formaram, juntamente com a receita bruta, a base
para a análise.
O custo variável foi composto pelos seguintes custos operacionais:
alimentação no creep-feeding e no confinamento dos cordeiros, mão de
obra durante todo o período, alimentação das matrizes e custo
sanitário. Para o levantamento desses gastos, fez-se a cotação dos
preços dos produtos no Distrito Federal, no período de abril a junho de
2008, optando-se pelo menor preço encontrado após a cotação em três
locais diferentes de venda.
O custo operacional relativo ao aspecto sanitário (denominado apenas
custo sanitário) incluiu as despesas com vermífugos, vacinas e outros
medicamentos. Foram denominados desta forma os antibióticos,
anti-inflamatórios e demais medicamentos que, porventura, foram
necessários. O custo estimado destes foi de R$ 0,50 por cordeiro e por
ovelha. O custo sanitário das ovelhas foi considerado durante o período
necessário para a produção de um cordeiro. Os valores estão
discriminados na
Tabela 2, sendo que o gasto foi considerado igual para todos os animais.
A ingestão diária de alimentos pelos cordeiros no creep-feeding foi
estimada em 200 g de concentrado e 100 g de volumoso. A estimativa foi
realizada com base no consumo total diário observado no grupo em
estudo. O custo do concentrado utilizado está demonstrado na
Tabela 3. O custo do feno de coast-cross foi R$ 0,16/kg.
O custo do concentrado utilizado no confinamento está demonstrado na
Tabela 4.
Para a análise do custo da alimentação com os cordeiros confinados,
calculou-se a média de peso do animal durante o período que esteve no
confinamento. Esta média foi multiplicada por 2,1%, correspondentes à
ingestão média diária de concentrado, e por 0,9%, relativo à ingestão
média diária de volumoso. Ao final, o custo diário da alimentação foi
multiplicado pela quantidade de dias que o cordeiro permaneceu no
confinamento até atingir o peso de abate. Estimou-se a ingestão de sal
mineral em 8 g/animal/dia, o que está de acordo com SILVA
et al. (2006). O custo médio do sal mineral utilizado foi R$ 1,50/kg.
O custo operacional para manutenção de uma ovelha durante o período
necessário para que ela tenha um parto foi denominado como custo
ovelha. O cálculo desse custo baseou-se no confinamento da ovelha nos
primeiros quinze dias pós-parto e na sua manutenção a pasto no restante
do tempo. A duração do período a pasto foi calculada a partir do número
de dias que o cordeiro permaneceu no creep-feeding (subtraídos os
quinze dias de confinamento pós-parto), adicionados do tempo necessário
para uma gestação (150 dias), mais vinte dias entre o desmame e uma
nova concepção. O período a pasto apresentou uma média de 232 dias. A
duração de todo o período foi, em média, 247 dias.
Considerou-se que durante todo o tempo (tanto no confinamento quanto a
pasto) o fornecimento diário de concentrado seria de 200 g/animal/dia.
O concentrado seria o mesmo utilizado no confinamento dos cordeiros. O
consumo de volumoso estimado foi de 1 kg/ovelha/dia, baseado em uma
ingestão de 2,5% do PV e em uma média de 40 kg de PV da ovelha.
Baseou-se o custo da pastagem nos custos de formação, de R$ 1.010,10, e de manutenção, de R$ 230,52 por ano, por hectare (SILVA
et al.,
2006). Foi considerado um período de vida útil da pastagem de dez anos,
sendo o custo com a formação dividido por esse período, obtendo-se o
custo de R$ 331,53/ha/ano. Estimando-se uma taxa de lotação de quinze
ovelhas por hectare (SILVA
et al., 2006), chegou-se ao custo anual da pastagem de R$ 22,10/ovelha.
A ingestão de sal mineral foi estimada em 10 g/ovelha/dia (SILVA
et al., 2006), o que representou uma despesa de R$ 0,015/dia. O custo sanitário da ovelha (
Tabela 2) está incluído no cálculo do custo ovelha.
A ocupação de mão de obra foi estimada em 2 h/homem/dia para todos os
animais do experimento, o que corresponde ao tempo necessário para o
fornecimento da alimentação aos animais e limpeza das instalações. O
custo operacional com mão de obra foi estimado com base no valor do
salário mínimo vigente (R$ 415,00), acrescido de 40% de encargos
sociais. Essa forma de cálculo está de acordo com a que é utilizada por
BARROS
et al. (2005). O custo
total foi dividido pelo número de animais (53) e multiplicado pelo
tempo que o animal permaneceu em creep e em confinamento. O custo
operacional da mão de obra foi R$ 0,14/cabeça/dia.
Obteve-se a receita bruta a partir da venda dos cordeiros para o abate.
Considerou-se o preço dos animais em R$ 3,50/kg de PV. Esse valor está
de acordo com o praticado durante o ano de 2008 para animais jovens, na
região.
Os dados foram analisados com uso de custos individuais por animal no
experimento. O programa SAS ® foi utilizado para determinar o
efeito de grupo genético, peso de abate e sexo, bem como suas
interações sobre os gastos calculados. Os procedimentos incluíram Proc
GLM (com teste de Tukey a 5%), PRINCOMP e CORR.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
O custo operacional final do creep-feeding por animal não apresentou
diferença significativa entre as raças, o sexo ou o peso de abate (PA).
O custo ovelha está incluído no custo final do creep-feeding e também
não teve diferença significativa. O custo ovelha foi de R$ 41,59, em
média, e representou 38% do custo final de produção do cordeiro. No
caso de parto gemelar, o custo ovelha foi de R$ 20,80/cordeiro, em
média, o que representa apenas 16% do custo final do cordeiro. Isso
pode constituir uma fonte significativa de redução das despesas. No
entanto, BARROS
et al. (2005)
observaram que animais de nascimento simples apresentam maior potencial
de crescimento do que os de nascimento duplo, o que pode influenciar no
custo final dos cordeiros.
O custo operacional do creep-feeding representou 48% do custo final do
cordeiro, sendo em média R$ 62,92/animal. O custo operacional de mão de
obra representou apenas 17% do custo operacional total do creep-feeding
e não apresentou diferença estatística significativa entre os pesos de
abate.
O número de dias em confinamento, o custo do concentrado, o custo do
volumoso e o custo total da alimentação apresentaram diferença
significativa entre os pesos de abate (
Tabela 5).
Animais com maior peso de abate permanecem maior tempo em confinamento,
demandando maior quantidade de alimento. O consumo médio de concentrado
no confinamento foi de 486 g/animal/dia, para o grupo abatido com 30 kg
de PV, e 627 g/animal/dia, para o grupo abatido com 45 kg de PV. A
ingestão de volumoso foi de 208 e 269 g/animal/dia, respectivamente,
para esses grupos.
O sexo também fez diferença nos dias em confinamento. As fêmeas
apresentaram uma média de 155 dias de confinamento, e os machos, de 128
dias, o que está de acordo com ROSA
et al. (2002) e RIBEIRO
et al.
(2001). Os autores afirmam que machos inteiros têm velocidade de
crescimento maior que a dos castrados e estes maior que a das fêmeas.
Esses resultados, no entanto, contradizem os encontrados por CARVALHO
et al. (1999) e CARNEIRO
et al.
(2007). Os primeiros autores, trabalhando com cordeiros (machos e
fêmeas) ¾ Texel ¼ Ideal, concluíram que quanto ao desempenho, consumo e
conversão alimentar, não houve evidência de superioridade de machos
sobre fêmeas. CARNEIRO
et al.
(2007) observaram que o sexo não influenciou (p>0,05) o peso dos
animais. Provavelmente, a idade de abate muito reduzida tenha sido um
fator limitante para que não houvesse diferenças acentuadas em relação
ao desempenho dos animais. Possivelmente, em uma idade mais avançada
haveria maior ação da testosterona, proporcionando benefícios para os
machos inteiros em relação às fêmeas.
O custo operacional final do confinamento apresentou diferenças
significativas de acordo com as raças, os sexos e os pesos de abate. O
mesmo ocorreu com o custo operacional da mão de obra. Isso está
relacionado com a variação da duração do confinamento, pois o custo da
mão de obra se torna mais expressivo conforme aumenta o período em que
o animal está confinado. Os custos finais do confinamento e por
cordeiro também apresentaram diferenças significativas conforme a raça,
o peso de abate e o sexo.
Os custos operacionais do confinamento, por cordeiro (parto simples e
gemelar), por kg de peso vivo (PV) e por kg de carcaça obtidos estão
apresentados na
Tabela 7. O custo por cordeiro de parto gemelar (
Tabela 6)
representa o custo operacional total que o animal teria se fosse
oriundo de um parto gemelar. Este apresentou diferença significativa
conforme o PA, o sexo e a raça. O custo operacional por kg de PV
produzido teve maior diferença entre as raças e os sexos. A diferença
também foi significativa nas interações raça x PA e PA x sexo. O custo
operacional médio encontrado foi de R$ 3,74/kg de PV.
Para o custo do kg de carcaça, apenas as interações raça x PA e PA x
sexo mostraram diferença estatística significativa. Esse fato indica
que a alteração no rendimento da carcaça entre as raças e entre os
sexos compensou o maior custo do kg de PV, pois diminuiu as diferenças
no custo da carcaça produzida. No custo operacional médio do peso vivo
houve diferença significativa entre fêmeas (R$ 3,92/kg de PV) e machos
(R$ 3,57/kg de PV). Já no custo operacional médio da carcaça das
fêmeas, de R$ 7,52/kg, e dos machos, de R$ 7,11/kg, não foi encontrada
diferença significativa.
Os custos operacionais da alimentação e da mão de obra no confinamento
representaram 69% e 29%, respectivamente, do custo operacional final. A
mão de obra e a alimentação são as principais fontes de custos
variáveis, em confinamento.
A grande influência do custo da alimentação (concentrado e forrageiras
conservadas) no custo da carcaça produzida em confinamento foi
observada por MACEDO (1998). Em estudos desenvolvidos por esse autor, o
custo de produção do quilograma da carcaça foi de R$ 2,26 para os
cordeiros em pastagem e de R$ 2,31 para os cordeiros confinados.
A receita bruta teve uma diferença de grande significância conforme os
pesos de abate. Isso é explicado pelo fato de o pagamento ser feito
pelo PV, ou seja, animais com maior peso representam maior receita
bruta. A diferença entre a receita bruta e o custo operacional total
(denominada margem bruta) apresentou diferença significativa de acordo
com a raça, o sexo e a interação PA x sexo (
Tabela 8).
No caso dos animais oriundos de parto gemelar, a margem bruta foi R$
13,71/animal, em média. Essa margem foi significativamente diferente
conforme o sexo e a raça, além da interação PA x sexo. O parto gemelar
apenas aumentou a diferença, apresentando comportamento estatístico
semelhante ao da margem bruta dos animais oriundos de parto simples (
Tabela 7).
A raça e o sexo influenciaram significativamente no custo operacional
do kg de PV e de carcaça produzidos. Os valores foram de R$ 4,01/kg de
PV para o cruzamento com Santa Inês e de R$ 3,38/kg de PV para o
cruzamento com Texel (
Tabela 8).
Esses resultados demonstram a capacidade de redução nos custos de
produção por meio do cruzamento de Santa Inês com Ile de France e
Texel.
Os animais abatidos com 45 kg de PV apresentaram custo operacional de
R$ 3,51/kg de PV produzido, significativamente menor que os demais
grupos (
Tabela 9).
O grupo abatido com 30 kg de PV teve custo de R$ 3,89/kg de PV. O maior
peso de abate está relacionado com aumento da receita bruta e menor
participação dos custos do creep e da ovelha no custo final do cordeiro.
CARDOSO (2008), trabalhando com os mesmos grupos genéticos deste
estudo, observou maior qualidade de carcaça para os animais abatidos
com 35 Kg de PV. Isso demonstra que para o criador fornecer carne de
boa qualidade para o mercado é fundamental o estabelecimento de
sistemas de pagamento pela carne com premiação por qualidade, fazendo
que o peso de melhor qualidade de carcaça se torne o peso de maior
rentabilidade econômica.
BARROS
et al. (2005) avaliaram
a eficiência bioeconômica de cordeiros F1 Dorper x Santa Inês para
produção de carne. Obtiveram um custo operacional de R$ 2,24, R$ 2,20 e
R$ 2,14/kg de PV (respectivamente, para os níveis de concentrado na
dieta de 1,5%, 2,5% e 3,5 % do PV). Então, apesar de se ter um aumento
significativo nos custos totais, com alimentação em níveis mais
elevados de uso de concentrado, a resposta produtiva (aumento da
produção) compensou o aumento de custos, de forma a proporcionar melhor
resultado econômico, ao se optar por usar quantidade mais elevada de
concentrado. No presente estudo foi utilizada a quantidade de 2,1% do
PV de concentrado na dieta, o que pode ter colaborado para o baixo
retorno econômico observado.
ZUNDT
et al. (2002), testando
níveis diferentes de proteína na dieta (12%, 16%, 20% e 24%), chegaram
a um custo médio da carcaça produzida de R$ 2,53/kg. Considerando o
preço médio de comercialização em R$ 4,50, verificou-se retorno
econômico para machos e fêmeas em qualquer um dos níveis de proteína na
dieta utilizados na terminação dos cordeiros; entretanto, o maior
retorno foi conseguido com a dieta contendo 12% PB, que deve ser o
nível recomendado. Este estudo utilizou uma dieta de aproximadamente
14% PB, que, portanto, está bem próximo do nível recomendado. O preço
de comercialização utilizado por ZUNDT
et al. (2002) é maior que o utilizado neste estudo, o que pode ter contribuído para o retorno econômico encontrado.
A
Figura 1
mostra os primeiros dois autovetores que explicaram 83,88% do total de
variação entre as características. O autovetor 1, que explica
50,23% da variação observada entre as características, revela que um
animal abatido mais pesado teve custo operacional por kg de peso vivo e
de carcaça menor, assim como um custo ovelha menor, confirmando o que
foi observado anteriormente. O autovetor 2 demonstra que os grupos com
custos operacionais individuais e dias em confinamento maiores
estiveram relacionados com margem bruta menor, o que deve ser
evitado.
CONCLUSÃO
O cruzamento foi capaz de diminuir significativamente o custo do kg de
PV e de carcaça produzido. O peso de abate mais rentável foi 45 kg de
PV. Com uma receita de R$ 3,50/kg de PV, a ovinocultura não é
lucrativa no DF, já que o custo operacional médio foi de R$ 3,74/kg de
PV. O uso de práticas de manejo para atingir maior índice de partos
duplos pode aumentar a margem de lucro da atividade. O pagamento pelo
peso de carcaça e por qualidade da carne e a busca por melhores índices
de produtividade e melhor conversão alimentar, obtidos por programas de
melhoramento genético, são urgentes para a sustentabilidade da
atividade.
AGRADECIMENTO
Ao CNPq, FINATEC e FAPDF, pelos recursos financeiros e bolsas.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA JR., G. A.; COSTA, C.;
MONTEIRO, A. L. G.; GARCIA, C. A. Qualidade de carne de cordeiros
criados em creep feeding com silagem de grãos úmidos de milho. Revista
Brasileira de Zootecnia, v. 33, n. 4, p. 1.039-1.047, 2004.
BARROS, N. N.; VASCONCELOS, V. R.;
WANDER, A. E.; ARAÚJO, M. R. A. Eficiência bioeconômica de cordeiros F1 Dorper
x Santa Inês para produção de carne. Pesquisa Agropecuária Brasileira,
v. 40, p. 825-831, 2005.
BENDAHAN, A. B. Confinamento de
cordeiros: uma alternativa na ovinocultura. Disponível em:
<http://www.agroline.com.br/artigos/artigo.php?id=304>. Acesso em: 31
jul. 2006.
CARDOSO, M. T. M. Abate sequencial
de ovinos para determinação de peso de abate. 2008. 106 f. Dissertação
(Mestrado em Ciências Animais) – Universidade de Brasília, Faculdade de
Agronomia e Medicina Veterinária. Brasília, 2008. Disponível em:
http://repositorio.bce.unb.br/bitstream/10482/3986/1/2008_MaximilianoTadeuMCardoso.pdf.
Acesso em: 27 out. 2010.
CARNEIRO, P. L. S.; MALHADO, C. H.
M.; JÚNIOR, A. A. O. S.; SILVA, A. G. S.; SANTOS, F. N.; SANTOS, P. F.; PAIVA,
S. R. Desenvolvimento ponderal e diversidade fenotípica entre cruzamentos de
ovinos Dorper com raças locais. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v. 42,
n. 7, p. 991-998, jul. 2007.
CARVALHO, S.; PIRES, C. C.; PERES, J.
R. R.; ZEPPENFELD, C.; WEISS, A. Desempenho de cordeiros machos inteiros,
machos castrados e fêmeas, alimentados em confinamento. Ciência Rural,
v. 29, n. 1, p. 129-133, 1999.
CUNHA,
E. A; SANTOS, L. E.; BUENO, M. S; RODA, D. S.; LEINZ, F. F; RODRIGUES, C. F. C.
Utilização de carneiros de raças de corte para obtenção de cordeiros precoces
para abate em plantéis produtores de lã. Revista Brasileira de Zootecnia,
v. 29, n. 1, p. 243-252, 2000.
INSTITUTO FNP. ANUALPEC:
anuário da pecuária brasileira. 1. ed. São Paulo, 2008. 332 p.
LANDIM, A. V.; MARIANTE, A. S.;
McManus, C. M.; GUGEL, R.; PAIVA, S. R. Características quantitativas da
carcaça, medidas morfométricas e suas correlações em diferentes genótipos de
ovinos. Ciência Animal Brasileira, v. 8, p. 665-676, 2007.
MACEDO, F. A. F.; SIQUEIRA, E. R. D.;
MARTINS, E. N. Análise econômica da produção de carne de cordeiros sob dois
sistemas de terminação: pastagem e confinamento. Ciência Rural, v. 30,
n. 4, p. 677-680. 2000.
MACEDO, F. A. F.; SIQUEIRA, E. R.;
MARTINS, E. N.; MACEDO, R. M. G. Qualidade de carcaças de cordeiros
Corriedale, Bergamácia x Corriedale e Hampshire Down x Corriedale, terminados
em pastagem e confinamento. Revista Brasileira de Zootecnia, v.
29, n. 5, p. 1.520-1.527, 2000.
OLIVEIRA, M. V. M.; PÉREZ, J. R. O.;
ALVES, E. L.; MARTINS; A. R. V.; LANA; R. P. Rendimento de carcaça, mensurações
e pesos dos cortes comerciais de cordeiros Santa Inês e Bergamácia alimentados
com dejetos de suínos em confinamento. Revista Brasileira de Zootecnia,
v. 31, n. 3, p. 1.451-1.458, 2002.
OTTO, C.; SÁ, J. L.; WOEHL, A. H.;
CASTRO, J. A.; REIFUR, L.; VALENTINI, V. M. Estudo econômico da terminação de
cordeiros a pasto e em confinamento. Revista do Setor de Ciências Agrárias,
v. 16, n. 1-2, p. 223-227, 1997.
PAIVA, S. R.; SILVÉRIO, V. C.; EGITO, A. A.; McMANUS, C. M.; FARIA, D.
A.; MARIANTE, A. S.; CASTRO, S. T. R.; ALBUQUERQUE, M. S. M.; DERGAM, J. A.
Genetic variability of the main Brazilian hair sheep breeds using RAPD-PCR
markers and conservation implications. Pesquisa Agropecuária
Brasileira, v. 40, n. 9, p. 887-893, 2005.
PIRES, C. C.; SILVA, L. F.; SCHLICK,
F. E.; GUERRA, D. P.; BISCAINO, G.; CARNEIRO, R. M. Cria e terminação de
cordeiros confinados. Ciência Rural, v. 30, n. 5, p. 875-880, 2000.
RIBEIRO, E. L. A.; ROCHA, M. A.;
MIZUBUTI, I. Y.; SILVA, L. D. F.; RIBEIRO, H. J. S. S.; MORI, R. M. Carcaça de
borregos Ile de France inteiros ou castrados e Hampshire Down castrados
abatidos aos doze meses de idade. Ciência Rural, v. 31, n. 3, p.
479-482, 2001.
RIBEIRO, J. G. B. L.; MEDEIROS, J. X.
Arranjos organizacionais na cadeia produtiva da carne ovina: um estudo de caso
no Distrito Federal. Cadernos do CEAM, v. 6, p. 107-162, 2006.
ROSA,
G. T.; PIRES, C. C.; SILVA, J. H. S.; MULLER, L. Crescimento de osso, músculo e
gordura dos cortes da carcaça de cordeiros e cordeiras em diferentes métodos de
alimentação. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 31, n. 6, p. 2.283-2.289,
2002.
SILVA, A. V. R.; SANTO, E. E.; PINTO,
B. F.; MARTINS, R. F. S.; LOUVANDINI, H.; ROHR, S. A.; REZENDE, M. J. M.;
MURATA, L. S.; QUEIROZ, É. A. P.; PAIVA, S. R.; GARCIA, J. A. S.; McMANUS, C.
M. Pesos econômicos para características de produção em ovinos no DF. Cadernos
do CEAM (UnB), v. 25, p. 61-82, 2006.
SIQUEIRA,
E. R.; AMARANTE, A. F. T.; FERNANDES, S. Estudo comparativo da recria de
cordeiros em confinamento e pastagem. Revista Veterinária e Zootecnia,
v. 5, p. 17-28, 1993.
ZUNDT, M.; MACEDO, F. A. F.; MARTINS,
E. N.; MEXIA, A. A.; YAMAMOTO, S. M. Desempenho de cordeiros alimentados com
diferentes níveis protéicos. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 31, n.
3, p. 1.307-1.314, 2002.
Protocolado
em: 4 abr. 2009. Aceito em: 23 set. 2010.