FREQUÊNCIA DE
OCORRÊNCIA DE Giardia sp. E DE Cryptosporidium
spp. EM EQUÍDEOS NATURALMENTE INFECTADOS E ABATIDOS EM UM FRIGORÍFICO
RESUMO
Dentre
os protozoários de maior importância em saúde pública estão Cryptosporidium
spp. e Giardia
sp. pelo potencial zoonótico. Pesquisou-se a frequência de ocorrência
desses
parasitas em equídeos abatidos em um frigorífico no município de
Araguari,
Minas Gerais, durante o período de fevereiro a março de 2008,
correlacionando
com o sexo, espécie e procedência dos animais. Foram coletadas 150
amostras de
fezes, utilizando-se técnicas coproparasitológicas específicas para a
detecção
de Cryptosporidium spp. e Giardia sp.
Os resultados revelaram a
presença de cistos de Giardia sp. em
4 % (6/150) das amostras. A
porcentagem de fêmeas positivas foi 4,23% (3/71) e machos 3,80% (3/79).
Entre
os equídeos a porcentagem de positivos foi 10,53% (2/19) em muares e
3,05%
(4/131) em equinos. Quanto à procedência dos animais positivos por
estados
brasileiros, a frequência foi 16,67% (1/6) na Bahia; 7,69% (1/13) em
Tocantins;
3,61% (3/83) em Minas Gerais e 2,08% (1/48) em Goiás. Oocistos de Cryptosporidium spp. não foram
encontrados em nenhuma das 150 amostras de fezes analisadas. Conclui-se
que é
importante estudar a frequência desses protozoários em equídeos,
acrescentando
dados à literatura, bem como sugerir estudos moleculares para pesquisar
o
genótipo circulante e, desse modo, associar com a epidemiologia desses
protozoários e a saúde pública.
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FREQUENCY
OF OCCURRENCE OF Giardia sp. AND Cryptosporidium
spp. IN EQUIDAE NATURALLY INFECTED AND SLAUGHTERED IN A SLAUGHTER HOUSE
ABSTRACT
INTRODUÇÃO
A
Giardia
sp. possui dois estágios, trofozoíto (forma vegetativa) e cisto (forma
infectante) (LYONS et al., 1991), e pode causar má absorção,
hipersecreção
aniônica e aumento do transito intestinal, resultando em diarreia
(COTTON et
al., 2011). Os equinos também podem apresentar esses sinais, porém a
presença
do cisto nas fezes não indica que os animais estejam doentes (LYONS et
al.,
1991). Outras espécies também são susceptíveis como os animais de
estimação,
ruminantes e animais selvagens. Provavelmente a maioria das infecções
são
assintomáticas (BURET, 2007).
No Brasil, há relato de
eliminação de
cistos de Giardia sp. por equinos do
noroeste e do norte do estado do Paraná, sendo a ocorrência estimada em
21,1%
(26/123) (VARGAS & RIGOLON, 1998). No estado do Rio de Janeiro,
SOUZA et
al. (2009) detectaram cistos de Giardia
apenas em um grupo, em que dois dos 30 equinos estavam parasitados
(6,67%). do
total de 396 amostras individuais, apenas 0,5% dos equinos estudados
estavam
infectados.
Oocistos
de Cryptosporidium
spp. são eliminados nas fezes e quando ingeridos, eliminam os
esporozoítos que
invadem as microvilosidades intestinais (LYONS et al., 1991). Esse
parasito é
reconhecido como um microorganismo patogênico que causa diarreia aquosa
e perda
de peso (JOHNSON et al., 1997).
O
contato direto durante o trabalho ou a recreação
com equídeos infectados por Giardia sp.
e Cryptosporidium spp. podem
constituir uma fonte importante de infecção para seres humanos (TRAUB
et al.,
2005). GOMES et al. (2008) afirmaram que, como os dados ainda são
escassos, é
preciso buscar mais informações a respeito prevalência desses
protozoários na espécie
equina. Neste contexto, o objetivo do trabalho foi verificar a
frequência de
ocorrência de Giardia sp. e
Cryptosporidium spp. em equídeos
abatidos em um frigorífico em Araguari-MG, correlacionando com o sexo,
espécie
e procedência dos animais.
As
fezes colhidas foram transportadas em caixas de
isopor e levadas sob refrigeração para o laboratório de protozoologia
da
Universidade Federal de Uberlândia (UFU) onde foram processadas.
A
técnica de FAUST et al. (1938) foi utilizada para
identificação dos cistos de Giardia sp. sob microscopia ótica
(400X),
sendo realizada no máximo em 24 horas após a colheita. O restante das
amostras
foi armazenado em formalina 10% para posterior realização de esfregaços
de
fezes, fixados com metanol, corados pela técnica de Ziehl-Nielsen
modificada
(HENRIKSEN & POHLENS, 1981), para visualização dos oocistos de Cryptosporidium spp.
Para
análise estatística dos resultados,
utilizou-se o teste binomial para duas proporções (AYRES et al., 2005).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Dos
150 animais analisados para a presença de Giardia sp.,
seis apresentaram cistos nas fezes,
representando 4,0 %. Esse
resultado foi superior aos encontrados por SOUZA et al. (2009), que
observaram
uma positividade de 0,5% (2/396) em equinos naturalmente infectados no
estado
do Rio de Janeiro, e por GOMES et al. (2008), que não observaram cisto
de Giardia sp. nas amostras de fezes de 66
equinos com idade entre dois e 12 anos, estabulados no Jockey Club de
Santa
Maria – RS. HEIN et al. (2012)
verificaram a ocorrência de 3,33% (1/30) de Giardia
sp. em amostras de 30 equinos provenientes da Vila Osternack em
Curitiba-PR.
Embora
a infecção por Giardia sp. em equinos seja considerada
rara (XIAO & HERD,
1994), a frequência de ocorrência da giardíase estimada no trabalho de
VARGAS
& RIGOLON (1998) foi de 21,1% (26/123), mostrando que essa infecção
é
relativamente comum em equinos da região do noroeste e norte do Paraná.
Outros
estudos no exterior têm revelado a
prevalência de Giardia sp. em 3,2%
dos cavalos utilizados para recreação na Califórnia (JOHNSON et al.,
1997),
4,6% em cavalos e mulas usados como transporte em Nevada, Estados
Unidos
(ATWILL et al., 2000) e 20% em fazendas no Canadá (OLSON et al., 1997).
No
presente estudo, a frequência da infecção por Giardia
sp. foi semelhante em fêmeas
4,23% (3/71) e machos 3,80% (3/79), não havendo diferença estatística
quanto ao
sexo dos animais, corroborando o trabalho de VARGAS & RIGOLON
(1998), que
encontraram positividade em 20,5% das fêmeas e 22,0% dos machos (Tabela
1).
No
presente trabalho, a positividade em muares,
10,53% (2/19), foi maior que nos equinos, 3,05% (4/131),
mas não houve diferença estatística (Tabela 2).
Porém, é um dado
importante,
pois não foi encontrada na literatura brasileira a descrição de cistos
de Giardia sp. em muares.
A
Tabela 3 mostra que a maior
frequência de cisto
de Giardia sp. foi em animais
oriundos do estado da Bahia, apesar de não haver diferenças
estatísticas entre
os demais estados. Dos animais positivos, a frequência foi de 2,08%
(1/48) em
Goiás, 3,61% (3/83)
Os
resultados no presente estudos devem ser
considerados como uma subestimativa, em virtude dos equinos eliminarem
cistos
de Giardia sp. de forma intermitente
(XIAO & HERD, 1994) e da possibilidade de alguns animais se
encontrarem no
período prepatente da infecção (VARGAS & RIGOLON, 1998).
Cerca
de 7% da população humana mundial abriga Giardia sp.
no intestino delgado, mas
pouco se conhece sobre a epidemiologia desse microorganismo, sobretudo
com
referência ao possível papel de outros mamíferos servirem como fonte de
infecção humana. Os cistos de Giardia
sp. são comumente encontrados em fezes de cães, gatos, bovinos, ovinos,
caprinos, lhamas e de outros mamíferos domésticos e selvagens, embora a transmissão cruzada entre os
hospedeiros possa ocorrer, pouco se sabe sobre essa frequência de
ocorrência
(PALMER et al., 2008).
De
acordo com THOMPSON (2004), mais de 50 espécies
de Giardia já foram descritas, mas
atualmente são reconhecidas apenas cinco espécies: G.
duodenalis, G. agilis, G.
muris, G. ardeae e G. psittaci. A espécie G. agilis
parasita anfíbios; G.
muris parasita roedores; G. ardeae
parasita aves; G. psittaci parasita
aves e a espécie G. duodenalis
parasita vários mamíferos domésticos e selvagens, incluindo humanos.
Novos
grupos chamados assemblages foram determinados, sendo
sete para G. duodenalis (A, B, C, D, E, F e G),
cuja taxonomia ainda está em discussão e os cistos são indistinguíveis
morfologicamente, mas podem ser diferenciados molecularmente (THOMPSON
et al.,
2000; CACCIO & RYAN, 2008). Apenas os assemblages
A e B têm sido detectados em humanos e em outros mamíferos, sendo
considerados
potencialmente zoonóticos, havendo necessidade de mais estudos (SPRONG
et al.,
2009).
No
presente estudo, não foram encontrados oocistos
de Cryptosporidium spp. nas 150
amostras de fezes analisadas. Esse resultado corrobora o trabalho de
JOHNSON et
al. (1997), que analisaram 91 amostras fecais e não encontraram cistos
de Giardia sp. e nem oocistos de Cryptosporidium
spp. em equinos de
recreação na Califórnia.
SOUZA
et al. (2009) pesquisaram 396 amostras fecais
de equinos, encontrando oocistos de Cryptosporidium
spp. em três amostras, representando 0,75%, no Rio de Janeiro. Em um
estudo
realizado no Rio Grande do Sul, SILVA et al. (1996) relataram a
ocorrência de
oocistos de Cryptosporidium spp. em
40% das amostras analisadas (n=10). Em outro estudo, GOMES et al.
(2008)
encontraram o parasito em 75% das amostras, sendo este alto índice
justificado
por uma possível contaminação hídrica no Jockey Club
TOSCAN
et al. (2010) compararam a prevalência de Cryptosporidium
spp. em equinos de
tração e em atletas do Jockey Club de Santa Maria (RS) e encontraram
nos 104
animais, 38,5% (20/52) e 80,8% (42/52), respectivamente.
De
acordo com OLSON et al. (1997), a frequência de
infecções de Cryptosporidium spp. em
equinos é pouco conhecida e acredita-se que a maioria dos infectados
sejam
portadores assintomáticos. Para se iniciar estudos epidemiológicos de
infecção
cruzada, seria necessário proceder com a caracterização genotípica de Cryptosporidium spp. e Giardia spp. em
amostras de campo de
animais naturalmente infectados e, assim, sugerir hipóteses para
determinar a
origem dos parasitas, os hospedeiros com importância zoonótica e as
principais
fontes de infecção, tanto para animais quanto para o ser humano,
estabelecendo
medidas preventivas.
AGRADECIMENTOS
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