INTERAÇÃO GENÓTIPO
AMBIENTE EM PROVAS DE GANHO EM PESO DE OVINOS
CONFINADOS E A PASTO
Concepta
Margaret McManus1, Rosana de Paula Branquinho2,
Helder
Louvandini3, Samuel Rezende Paiva4, Bruno Stefano
Dallago5,
Cláudia Damo Bertoli6
Objetivou-se com este trabalho verificar a
existência de interação genótipo ambiente e o desempenho de ovinos
mantidos em confinamento e a pasto. Foram utilizados oitenta e dois
borregos da raça Santa Inês de 75 a 135 dias de idade. O período de
adaptação foi 22 dias. Oriundos de cinco fazendas diferentes, 30
animais permaneceram 112 dias a pasto e 52 animais permaneceram 85 dias
sob regime de confinamento. As características mensuradas nos animais
foram ganho em peso(GP), comprimento do corpo (CC), perímetro torácico
(PT), altura da anca (AA), altura do peito (AP), área de olho de lombo
(AOL) e espessura de gordura por ultrassom (EG), perímetro escrotal
(PE), número ovos/grama de fezes (OPG) e escore corporal (EC). Um índice (IPGP) foi criado incorporando as
características medidas. O software SAS® foi utilizado para as análises
estatísticas. Houve diferença entre os animais para o tipo de teste
(confinamento ou pasto) para as características GP, AOL, EG, PE e IPGP.
Os animais em confinamento apresentaram resultados superiores aos do
pasto para as características de ganho em pesoe inferiores para o IPGP
e PE. A idade dos animais no início do teste não
mostrou influencia sobre a expressão das características. Não houve
evidência de interação genótipo x ambiente para animais da raça Santa
Inês nas provas de ganho em pesoa pasto e em confinamento para as
características avaliadas.
PALAVRAS-CHAVE: área de lombo; avaliação
subjetiva; espessura de gordura; índice; ultrassom.
GENOTYPE-ENVIRONMENT
INTERACTION IN PERFORMANCE TESTS FOR SHEEP IN CONFINEMENT AND ON
PASTURE
ABSTRACT
This
study aimed to verify the existence of genotype–environment interaction
and performance of Santa Inês sheep in confinement and on pasture. Eighty-two Santa Ines lambs at 75-135 days of age
were used. The adaptation period lasted 22 days. Animals were from five
different farms, 30 animals were kept on pasture for 112 days and 52
animals were kept in confinement for 85 days. Animals were evaluated on
weight gain (WG), body length (BL), thoracic perimeter (TP), hip height
(HH), breast height (BH), rib-eye area (REA) and fat thickness (FD)
using ultrasound, and scrotal circumference (SC), worm load (FEC) and
body condition score (CS). An index (FI) was calculated using the
measures taken. The SAS® software was used for
statistical analysis. There was a statistical difference among animals
for type of test (confinement or pasture) for WG, REA, FD, SP as well
as FI. Measures for animals in confinement were generally higher than
for animals on pasture, except for FI and SP. The age at the start of
the test did not influence the expression of characteristics. There was
no evidence found of a genotype–environment interaction for Santa Ines
breed animals in weight gain on pasture and in confinement for the
evaluated characteristics.
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KEYWORDS: fat thickness; index; rib eye area; subjective evaluation;
ultrasound.
Quando a
expressão de determinado genótipo depende do ambiente onde ele é
avaliado dizemos que há interação entre o genótipo e o ambiente
(EUCLIDES FILHO, 1999). Genótipos de raças altamente produtivas podem
não se expressar totalmente em ambientes onde são submetidos a estresse
ambiental. Fatores de estresse ambiental também podem ser
características de interesse na produção animal como tolerância a
carrapatos, endoparasitas, forragem de baixa qualidade e nutrição
altamente variável em termos de quantidade ou qualidade, bem como
temperatura ambiental (MCMANUS et al., 2009).
Independente
das condições em que a ovinocultura é praticada há necessidade cada vez
maior de lucratividade, maximizando o retorno dos recursos aplicados
(REIS & LOBO, 1991). O estabelecimento de um sistema de criação
economicamente viável em determinada região requer a escolha de raças
ou variedades que sejam adequadas às condições ambientais locais
(MCMANUS et al., 2011).
Dependendo da
intensidade das interações entre o genótipo e o ambiente, animais com
potencial para rendimentos elevados em um ambiente podem ter
comportamento diferenciado em outro sistema de criação. O animal
considerado adequado para expressar seu potencial genético em
determinado ambiente não será, necessariamente, o mais adequado em
termos produtivos, mas, sim, econômicos. Alguns animais são menos
adaptados ao seu ambiente e tendem a não se reproduzir tão
eficientemente quanto os outros (MARIANTE et al., 2003). Dessa forma,
indivíduos menos adaptados produzem menos descendentes, alterando a
frequência gênica relativa nas gerações seguintes, que tenderão a
apresentar animais melhor adaptados àquele ambiente específico.
Pesquisas
revelam que a seleção praticada nos melhores ambientes, sem ou com
poucos fatores estressores, tende a selecionar genótipos altamente
produtivos (MADALENA, 2007). Em contraste, a seleção em ambientes
adversos leva à seleção de animais menos produtivos, porém mais
adaptados. De acordo com PERTOLDI et al. (2007), há a tendência de as
respostas se associarem negativamente com as médias fenotípicas nos
ambientes de baixa qualidade e positivamente com essas médias, nos
ambientes de alta qualidade.
O objetivo
deste trabalho foi verificar o desempenho e a existência de interação
genótipo x ambiente de ovinos da raça Santa Inês sob regime de
confinamento ou pastagem.
Foram
realizadas duas provas de ganho em pesocom ovinos da raça Santa Inês no
Centro de Manejo de Ovinos da Fazenda Água Limpa da Universidade de
Brasília, no Distrito Federal-DF. As provas foram gerenciadas por um
comitê técnico local, composto de um Responsável Técnico, um
Melhorista, um Nutricionista e um Médico Veterinário. Foram elegíveis
borregos selecionados com base nas características desejadas na
progênie. Aspectos como controle sanitário e ausência de defeitos nos
animais foram verificados pelo comitê técnico local. Os animais
apresentavam idade entre 75 – 135 dias, com diferença máxima de 45 dias
entre os animais de um mesmo grupo. Verificou-se o controle genealógico
dos animais, priorizando os realizados por programas de melhoramento,
além das informações de data de nascimento, tipo de nascimento, peso ao
nascer e regime alimentar em que foi criado o borrego. Os
cordeiros tiveram origem em cinco rebanhos locais, filhos de nove
reprodutores. Destes, oito tiveram filhos nos
dois testes. As normas para os testes centrais em ovinos foram
aprovados numa reunião no Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento (MAPA) em 2002, e estão de acordo com os usados em outros
testes no Brasil.
No período de
dezembro a abril, os animais foram mantidos em confinamento para a
prova de ganho em pesoe alimentados com feno de coast-cross
(Cynodon dactylon (L.) pers.) ad libitum,
sal mineral e 500g de concentrado/animal/dia, constituído de 53% milho
triturado, 30% farelo de soja, 8,4% farelo de girassol, 4,8% farelo de
trigo, e 3,8% de minerais resultando num teor de 14% de proteína bruta
e 72% de NDT, proporcionando um ganho médio de 200 g/animal/dia.
No mesmo
período, os animais foram mantidos a pasto (Panicum maximum
v. Tanzânia), com suplementação de 200g/animal/dia do mesmo
concentrado utilizado no confinamento, porém sem o núcleo mineral, que
foi ofertado em separado (ad libitum), viabilizando
ganho em pesomédio de 110g/animal/dia.
Antes do início
das provas, o comitê técnico local observou as condições sanitárias e
as possíveis principais enfermidades (ectima contagioso, piolhos,
lifadenite caseosa etc.) em todos os animais. Após a inspeção, os
animais foram submetidos às vacinações e everminações estratégicas.
Durante a prova, a cada 15 dias, foi realizado controle de
endoparasitas por exames de fezes (ovos por grama de fezes – OPG) para
avaliar o grau de infecção de cada animal. Também foi feita a contagem
de Strongyloidea, Strongyloides
e Moniezia a cada 15 dias. As
Eimerias
foram classificadas de acordo a sua ocorrência (0 a 4). O
período de adaptação foi de 22 dias. A fase do teste teve duração de 85
dias para o confinamento (n=52) e 112 dias a pasto (n=30).
Os animais
foram avaliados quanto ao ganho em peso(GP), comprimento do corpo (CC),
perímetro torácico (PT), altura da anca (AA), altura do peito (AP),
área de olho de lombo (AOL) e espessura de gordura por ultrassom (EG),
perímetro escrotal (PE), ovos por grama de fezes (OPG) e escore
corporal (EC). Um índice foi criado incorporando
as características medidas e calculado da seguinte forma: IPGP (índice
da prova de ganho de peso) = ganho em pesomédio por dia (40%) + área de
olho de lombo (15%) + perímetro escrotal (10%) + espessura de gordura
(5%) + escore visual (30%). Antes da confecção final dos índices, as
medidas objetivas tiveram ajuste linear para idade.
O escore visual
foi composto pelos escores de conformação (C), precocidade (P),
musculatura (M), tipo racial (TR) e aprumos (A), cada item contribuindo
com 20% do escore visual, representando 6% do IPGP. A escala de escore
visual variou de um a seis, onde seis foi maior grau. Essa escala foi
relativa ao padrão zootécnico do grupo que estava sendo avaliado;
portanto, em todos os grupos os animais receberam notas de 1 a 6,
independente de qualquer comparação absoluta com outro grupo. O escore
visual nota seis representa um animal excelente, 5 – ótimo, 4 – bom, 3
– médio, 2 – inferior e 1 representa um animal muito inferior.
Na avaliação
visual da conformação (C) foram levadas em conta características como
desenvolvimento de massa muscular e quantidade total estimada da porção
comestível da carcaça, valorizando-se aspectos estruturais, dentre eles
o porte e harmonia das características morfofuncionais.
A precocidade
(P) foi avaliada pela capacidade ou grau de deposição precoce de
gordura, buscando animais que atinjam a terminação (acabamento para o
abate) mais cedo. O biótipo do animal também foi analisado. O tipo
longilíneo é alto com pouca profundidade de costela e se caracteriza
como um animal mais tardio (notas mais baixas), enquanto o de estrutura
mediolíneo apresenta-se com boa profundidade de costela, boa massa
muscular, virilha preenchida desde que aliada a um bom desenvolvimento
corporal, definindo o animal mais precoce, recebendo notas mais altas
para esta característica.
A
característica musculatura (M) foi avaliada pela observação de pontos
específicos no animal, como antebraço, membros anterior e posterior e
profundidade da garupa. As notas foram dadas analisando os animais
parados e em movimento. Quando parados, os animais que apresentam os
membros afastados, tanto de frente como por trás mostram musculatura
mais desenvolvida. Quando se deslocam, o movimento dos músculos, que se
contraem e aumentam de volume ritmicamente, delineando sua forma,
diferenciam músculo de gordura, que não tem sustentação e forma
definida. Animais mais musculosos receberam notas mais altas.
O tipo racial
(TR) foi avaliado quanto ao conjunto de atributos raciais preconizados
no padrão oficial da raça Santa Inês (cabeça, pelagem, pigmentação da
pele, entre outras).
Os aprumos
foram avaliados em relação à proporção, direção e articulações dos
membros anteriores e posteriores.
Os dados foram
analisados usando-se o software SAS®, por meio dos procedimentos GLM,
CORR e PRINCOMP. O modelo estatístico utilizado foi:
Yijklm
= Ti + Rj + TRij+ Pl + IITm
+ Eijklm
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